Vídeo criado a partir de uma faixa do CD "Marcando Uma
Época" gravado em out/2010. Ministério de Música Cristo Luz - Nações
Unidas - Sabará - Minas Gerais Para Contatos: coral.cristoluz@gmail.com
Houve um tempo de um mundo mais colorido, mas com outros
matizes. Eu e meus irmãos éramos crianças e tudo era muito diferente de
hoje. E nele (naquele tempo), a minha mãe nos colocava no banho e dizia:
"Vamos Sair." E então, ela caprichava escolhendo a roupa mais nova e
mandava-nos pentear o cabelo. Geralmente era ao entardecer e íamos, a família
inteira, visitar uma "casa de amigos". E COMO ERA CALOROSO
aquele "chegar de surpresa". Como eu me sentia bem
recebido...
E vale comentar aos mais novos, que nesse tempo que se
chegava era de surpresa mesmo! Pois telefone só tinha fixo, era caro e
praticamente não tinha em nenhuma casa. Carta avisando, só se fosse num local
muito, muito longe. Foi um tempo que televisão era coisa da capital,
e carro então, era um bem acessível a poucos. Mas isso não era problema.
Toda a família ia a pé, alegre e ansiosa pra chegar. As visitas eram
inesperadas, mas no final, tudo "funcionava feito um
reloginho". Lembro-me de ouvir a frase mágica da satisfação pela
visita: "O café está na mesa." E não era só café, tinha
bolo, pão de queijo, queijo fresco, pão de sal, manteiga, doces e até suco de
fruta colhida do pé.
Lembro-me de ouvir palavras que hoje estão em total desuso,
como "Comadre e Compadre". Essas palavras acompanhavam o
senso da felicidade das conversas animadas, e eram a solidez e a
estabilidade que o ambiente exalava. Recordo também da alegria de
recebermos visitas em nossa casa, de ver minha irmã mais velha preparando a
mesa e café.
Bem, esse tempo simplesmente já não existe mais. Foi-se
a época daquela cidadezinha pacata do interior, que todo mundo se conhecia e
que as portas e janelas ficavam abertas o dia todo. Tenho a lamentar é que esse
tempo passou... Foi-se a imagem da cidadezinha, das ruas, do coreto, da praça,
dos jardins e do flamboyant enorme florido. Foi-se também a imagem da menina
brejeira que se debruçava na janela, era ela que sonhei um dia namorar. Só
resta a foto do passado esmaecido na memória de um tempo que no seu bojo traz
uma infinita saudade, e que foi intensamente vivido e que jamais será
esquecido.
Hoje sinto que o meio em que vivo está tentando me
transformar em autodidata da solidão, com Cursos Intensivos de Televisão,
DVD, Netflix, Mídias Sociais ou outros meios de comunicação. Mas, solidão é,
definitivamente, o que eu não quero pra minha vida. Eu prefiro mesmo é
uma conversa "tete-à-tete", à uma mensagem do WhatsApp. Quero manter para o resto de minha vida, o espírito da "visita de
Surpresa". Quero ser alguém que interaja e que seja capaz de
tocar o coração das pessoas. Por isso, sei que bem do fundo do meu
coração, eu tenho uma imensa fome e sede de gente e de vida.
Essa não é a primeira nem tão pouco a última vez que me
referirei a esse assunto, pouco entendido, não só pelas ditas classes sociais,
como também os representantes das etnias!
Com relação aos órgão governamentais, esses estão se lixando
em querer fazer o correto e merecido de direitos iguais. E, assim sendo, sempre
fazem (quando fazem), apenas paliativos e leis retrogradas que, claramente, não
atende as necessidades óbvias!
Minha sólida e grande revolta é com essa forma simples e
simplória usada de acalmar as solicitações principais de oportunizarem os
negros, mestiços, mulatos, sararás, ou sejam, os afrodescendentes, indígenas e
pobres de qualquer cor, utilizam o absurdo de “COTAS” que, com isso, estão nada
mais nada menos, oficializando uma discriminação sórdida, demonstrando que
essas pessoas são realmente inferiores e precisam de favores especiais para
exercerem o que na verdade tem direitos como cidadãos!
Pode-se até aceitar essa migalha, mas, com veemência
continuar lutando para que, em vez de cotas de favorecimentos, sejam dadas
oportunidades iguais, oferecendo boas escolas públicas, cursos qualificados,
atender as necessidades básicas e, com esses itens, deixar que cada um
aproveite as oportunidades e briguem com as mesmas armas para ocupar seus
merecidos espaços.
Sinto bastante que, na atualidade, as associações defensoras
da etnia negra estejam exigindo mais negros nas TVs, nas publicidades, cinema,
teatro, etc., como se isso fosse favores ou consolos. Nada disso representa uma
verdade!
O que se deve é dizer que os afro-brasileiros são tão
humanos e competentes com qualificações para que sejam contratados e expostos
dignamente.
Por essas claras e evidentes razões que expus acima, creio
que com justas lógicas, não devem
aceitar esses favores com características de mendicância!
Jamais parar a luta achando que já ganharam ou estão
ganhando, pois, somente quando houver igualdades de tratamentos é que veremos
que, na verdade, as competências não estão nas cores ou origens humildes!
Três imagens me vieram hoje à memória, duas de uns 20 dias
atrás e outra de há dez ou doze anos. As duas primeiras, se não me engano,
apareceram na internet no mesmo dia. A primeira mostrava o ministro Gilmar
Mendes descendo os degraus da saída do STF. A seu lado, uma moça (ou seria já
uma senhora) cobria-lhe a cabeça com um guarda-chuva. Mas não chovia. A
assistência que ela prestava ao ilustre ministro devia ser para proteger a avantajada
área exposta que ele ostenta na superfície superior da cabeça. Muito sol nessa
área talvez prejudique a atividade cerebral.
A segunda imagem veio de Lisboa. Numa rua comum, à sombra de
uma árvore, sentado numa cadeira, um senhor de terno e gravata lia o jornal
enquanto um engraxate lustrava-lhe os sapatos. Perguntei-me por que alguém
decidira estampar uma imagem tão prosaica. Ao pé da foto, a explicação.
Acontece que aquele pacato senhor era ninguém mais ninguém menos que o Dr.
Marcelo Rabelo, presidente de nossa terra-irmã, a República Portuguesa.
A terceira cena, que presenciei de perto, ocorreu em Madri
lá pelos idos de 2005 ou 2006. Desde 2001, na condição de membro da comissão de
assessoria acadêmica, compareço às reuniões anuais do Clube de Madri, entidade
criada por ex-presidentes e ex-primeiros ministros com o objetivo de apoiar
internacionalmente os regimes democráticos. As reuniões são sempre excelentes.
No ano a que me refiro, quando a sessão já se aproximava do fim, vários dos
ex-mandatários demonstravam certa impaciência, pois tinham voos agendados para
logo depois. Esperavam apenas a leitura e se necessário a discussão da
declaração final da conferência. Tal discussão era geralmente pro forma, mas
eis que, naquele caso, a comissão de redação não fora de todo feliz. Feita a
leitura do documento, três ou quatro membros do Clube suscitaram objeções. Os
sinais de impaciência aumentaram, claro. Eis senão quando o ex-presidente
norte-americano, Sr. Bill Clinton, simplesmente tirou o paletó, foi ao
computador, abriu o arquivo, reescreveu o documento, imprimiu-o e levou-o à
mesa diretora dos trabalhos. Feita a leitura, o texto foi aprovado por
aclamação, a sessão foi encerrada e os impacientes partiram apressadamente.
A
moral da história fica a critério de cada leitor.
Bolívar Lamounier é um sociólogo e cientista político
brasileiro que foi o primeiro diretor-presidente do IDESP, escrevendo
frequentemente para os mais importantes veículos da imprensa brasileira.
Artigo em jornal, na página de opinião, tem compromisso com
fatos, notícias e acontecimentos. Ao menos, para refletir e analisá-los. É
diferente de literatura. Nessa, a primazia absoluta é da linguagem, na
exploração de suas possibilidades, para revelar seu poder latente na busca de
sentido de se estar no mundo. Ou o encantamento e os impasses da dor diante
dele. Carlos Drummond de Andrade, nosso poeta maior, já ensinou: “Não faças
versos sobre acontecimentos./ Não há criação nem morte perante a poesia.”
É nas palavras que a poesia vai buscar sua força e poder.
Sugere ainda o poeta: “Chega mais perto e contempla as palavras./ Cada uma/ tem
mil faces secretas sob a face neutra.”
Mas jornal se faz com fatos. E eles se distribuem por todos
os assuntos do mundo e do nosso tempo. Vão das dificuldades geradas pelo preço
de combustíveis e protestos dos caminhoneiros à festa do casamento real em
Windsor. Da revelação de novas frentes de corrupção no INSS ou na merenda
escolar à escalada irrefreável da violência — da Rocinha à Cidade
Universitária, da execução de Marielle Franco ao bebê baleado no colo da mãe.
Fatos que parecem isolados se arrumam em constelações que lhes dão novos
significados. Passam da pré-campanha eleitoral e das idas e vindas de recursos
e embargos nos tribunais à divulgação dos mais recentes dados numéricos. Volta
e meia, nesse processo, exigem palavras novas.
E elas surgem. Às vezes, em modismos artificiais, “lacrando”
agora e destinados a durar pouco. Outras, na rica e original criação popular de
potência duradoura. Os meios acadêmicos volta e meia trazem ou tentam impor
artificialismos como “empoderamento” — criticado por tantos ouvidos sensíveis e
já acusado de ser um “embutido” vocabular ou perversão linguística.
Estes últimos dias nos brindaram com duas contribuições
interessantes nesse terreno de reapropriação léxica. Novas faces secretas
reveladas sob a face neutra de que falava o poeta, de vocábulos “sós e mudos/
em estado de dicionário.”
Uma delas veio de um órgão que costumamos associar a números
e não às letras. Rapidamente ganhou colunas de analistas e relatórios de
economistas. Mas já o poeta ensinara que “sob a pele das palavras há cifras e códigos”.
O IBGE amplifica o sentido de “desalentados” e mostra que, em quatro anos,
subiu quase 200% o número de brasileiros que desistiram de procurar emprego
porque chegaram à conclusão de que não vão mesmo encontrar nada. Dentro do
estarrecedor descalabro nacional — com seu jovem e crescente contingente
nem-nem, que nem estuda nem trabalha —, ganha visibilidade e nome uma imensa
parcela de nossa população. É urgente buscarmos saídas racionais, num debate
adulto, que não escamoteie os dados e fatos da realidade, nem fique tentando
disfarçá-la com retórica oportunista e vazia, cuja única serventia talvez seja
adiar soluções necessárias e perpetuar benefícios ou privilégios de quem tem
poder.
Outra boa palavra surgida agora, a fazer pensar, brotou na
cobertura do casamento na família real britânica. A noiva não se contenta em
ser classificada como afrodescendente ou negra, como aconteceu com Barack Obama
ao assumir a Presidência americana há alguns anos — sempre a inutilmente tentar
lembrar que sua mãe era branca e seu pai, africano. Mezzo a mezzo... A nova
duquesa de Sussex, intensamente ciente de cada indício simbólico nos mínimos
detalhes da cerimônia, faz questão de se identificar como “birracial”,
assumindo a mistura afro-caucasiana. No Brasil, talvez “multirracial” seja uma
palavra mais verdadeira para nos descrever, ao incorporar indígenas — sem
mistificação, como ainda Drummond aconselhava a recebermos as ordens da vida.
Já abandonamos o rico termo “favela” por “comunidade”,
palavra que acentua laços importantes e força coletiva, mas traz perdas
conceituais, ao relegar ao esquecimento uma série de conquistas culturais e um
tecido histórico substancial, em prol de terminologia mais abstrata, mais
ligada a uma classificação de capilaridade social americana. Já estamos fazendo
campanhas para substituir a palavra “escravo” por “escravizado”, como se o
número maior de sílabas e o aspecto de particípio passado, ao se afastar do
substantivo concreto, mudasse o horror, o sofrimento e a vergonha do sistema
escravocrata que nos fez como país e a que foram submetidos povos inteiros no
correr da História. E assim seguimos, mesmo desalentados e multirraciais, a
patrulhar palavras, discutindo o supérfluo e acessório, e deixando de encarar o
essencial.
Pode parecer uma bobagem, mas acho que, se conseguirmos nos
pensar como birraciais e multirraciais, estaremos mais próximos de ver quem
somos e entender o imenso valor que tem essa identidade, os caminhos que ela
pode nos abrir em meio às dobras do racismo persistente. Mais uma vez, com
Drummond, podemos constatar que há calma e frescura na superfície intacta das
palavras. “Com seu poder de palavra/ e seu poder de silêncio”.
Ana Maria Machado - Sexta ocupante da Cadeira nº 1 da ABL,
eleita em 24 de abril de 2003, na sucessão de Evandro Lins e Silva e recebida
em 29 de agosto de 2003 pelo acadêmico Tarcísio Padilha. Presidiu a Academia
Brasileira de Letras em 2012 e 2013.
No espaço de poucos dias tivemos três grandes perdas. No dia
14, morreu o escritor Tom Wolfe. Seu refinamento, visão conservadora e
elegância, além da forma como retratava a hipocrisia e vaidade das elites
“progressistas”, deixarão saudades. Seu “radical chic” foi influência direta em
meu Esquerda Caviar, enquanto seus divertidos ataques aos modismos da “arte”
contemporânea me renderam boas risadas.
Um de seus últimos livros, Sangue nas Veias fala do
caldeirão étnico e cultural repleto de latino-americanos e com poucos
americanos “legítimos” em Miami. Morando há três anos nesse ambiente, tenho que
constatar que Tom Wolfe é cruel na medida certa com nossas elites vaidosas e
abobalhadas. Mesmo com todas as suas qualidades, de “América Latina que deu
certo”, convenhamos: Miami, com uma das maiores quantidades de “breguice” por
metro quadrado, é um prato cheio para o autor tripudiar dessa classe de nouveau
riche, não é mesmo?
A segunda grande perda foi do historiador Richard Pipes, que
faleceu no dia 17. Sua especialidade era a história russa, e isso lhe deu uma
visão privilegiada do comunismo. Em Propriedade e Liberdade, Pipes resume bem o
problema: “A história da Rússia oferece um excelente exemplo do papel que a
propriedade desempenha no desenvolvimento dos direitos civis e políticos,
demonstrando como a sua ausência torna possível a manutenção de um governo
arbitrário e despótico”. Abolir a propriedade privada? Eis o caminho do
inferno!
Richard Pipes conclui que “a experiência da Rússia indica
que a liberdade não pode ser legislada; ela precisa crescer gradualmente, em
forte associação com a propriedade e a lei”. Infelizmente para os russos, a
propriedade privada nunca fincou suas raízes por lá, onde o poder sempre esteve
arbitrariamente concentrado no Estado. Parece um país que conhecemos bem.
Por fim, morreu no dia 23 o escritor Philip Roth. Gosto
muito de seu estilo, da força de suas palavras, sempre econômicas. Também sou
atravessado pelo tema recorrente de seus livros: o poder de estrago do
imprevisível, a mudança repentina na vida das pessoas por acontecimentos
inesperados, o encontro com o “real”, como diria um psicanalista, as
contingências do destino. Tudo parece certinho, ordenado, bem ao gosto de um
típico obsessivo, quando de repente o mundo desaba, o chão desaparece, tudo
fica nebuloso. É angustiante. Mas é realista. É a vida.
E por isso mesmo temos que valorizar a nossa, reconhecendo,
com humildade, que não estamos em seu total controle, e que a precariedade de
nossa existência é a norma, o que nos demanda coragem e fé. A morte, afinal,
chega para todos, e quase sempre sem aviso. Importa, porém, aquilo que fica. No
caso desses três gigantes, uma incrível obra como legado.
"Na superfície da Terra, exatamente agora, há guerras e
violência e tudo parece negro.
Mas, simultaneamente, algo silencioso, calmo e oculto
está acontecendo e certas pessoas estão sendo chamadas por uma Luz mais
elevada.
Uma revolução silenciosa está se instalando de dentro para
fora. De baixo para cima.
É uma operação global. Uma conspiração espiritual.
Há células dessa operação em cada nação do planeta.
Vocês não vão nos assistir na TV, nem ouvir nossas palavras
nos rádios e nem ler sobre nós nos jornais.
Não buscamos a glória. Não usamos uniformes.
Nós chegamos em diversas formas e tamanhos diferentes.
Temos costumes e cores diferentes.
A maioria trabalha anonimamente.
Silenciosamente trabalhamos fora de cena, em cada
cultura e lugar do mundo. Nas grandes e pequenas cidades, em suas
montanhas e vales. Nas fazendas, vilas, tribos e ilhas remotas. Você talvez
cruze conosco nas ruas. E nem perceba...
Seguimos disfarçados. Ficamos atrás da cena. E não nos
importamos com quem ganha os louros do resultado, e sim, que se realize o
trabalho.
De vez em quando nos encontramos pelas ruas. Trocamos
olhares de reconhecimento e seguimos nosso caminho.
Durante o dia muitos se disfarçam em seus empregos normais.
Mas a noite, por trás de nossas aparências, o verdadeiro trabalho se inicia.
Alguns que conhecem o trabalho nos chamam de "O
Exército da Consciência".
Lentamente estamos construindo um novo mundo, com o poder de
nossos corações e mentes.
Seguimos com alegria e paixão. Nossas ordens nos
chegam da Inteligência Espiritual e Central.
Estamos jogando bombas suaves de amor sem que ninguém note:
poemas, abraços, músicas, fotos, filmes, palavras carinhosas, meditações
e preces , danças, ativismo social, sites , blogs, atos de bondades. O mundo
precisa de amor!
Expressamo-nos de uma forma única e pessoal, com
nossos talentos e dons. Sendo a mudança que queremos ver no mundo. Essa é a
força que move nossos corações.
Sabemos que essa é a única forma de conseguir realizar a
transformação.
Sabemos que no silêncio e humildade teremos o poder de todos
os oceanos juntos.
Nosso trabalho é lento e meticuloso. Como na formação
das montanhas.
O amor será a religião do século XXI. Sem
pré-requisitos de grau de educação. Sem requisitar um conhecimento
excepcional para a sua compreensão.
Porque nasce da inteligência do coração, escondida pela
eternidade no pulso evolucionário de todo ser humano.
Seja a mudança que quer ver acontecer no mundo. Ninguém pode
fazer esse trabalho por você.
Nós estamos recrutando. Talvez você se junte a nós ou talvez
já tenha se unido.
“Qual a
origem dos sonhos? Coisa do espírito ou cópia do que vemos acordados?”.
Indagava-se assim preocupado com uns sonhos, noites a fio,com Zulmira, vizinha separada do marido.
Vinte e cinco janeiros, como a própria gostava de dizer referindo-se à sua
idade.
Ora, ele a
via muitas vezes todo dia – quando saía para o trabalho, na volta, à noite, na
janela, sentada no passeio, perneando pela vizinhança. Uma estampa de um metro
e setenta, seios robustos,pernas
conformes,corpo esbelto;de rosto, uma travessura. Para ele, tudo
assim espetacular.
Dera de
vista com Zulmira ainda no tempo do marido. “Mulher porreta!”. Teria pensado de
olho duro para a moça que nem se dera conta do espanto dele. Viam-se, depois,
vez em quando, um passando pelo outro, ela de braço dado com o marido,
escurinho sisudo, bem vestido, de óculos e chapéu. O que mais o impressionava
agora eram os sonhos com Zulmira, toda noite entre paisagens, lugares
desconhecidos, carinho e intimidade.
Havia lido
num autor russo que o sonho é obra do córtex, membrana superficial do cérebro
que grava tudo o que vemos, com maior ou menor intensidade – paisagens, pessoas
e objetos, mesmo através de TV, foto, cinema.
Lembrava
que via Zulmira todo dia. Não via também, outras pessoas? Por que sonhava
somente com ela? Um mistério.
Agora, bem
que podia sonhar à vontade, pois Zulmira estava solteira, desimpedida. Pensou
fazer-lhe uma proposta escrita, antes mesmo dela esfriar a cabeça por causa da
separação.Fez-lhe um bilhete, letra
tremida, palavras açucaradas sugerindo um encontro, tal lugar, às tantas horas.
Assinou embaixo, nome completo para evitar dúvidas.
Passou a
noite sem pregar um olho, nem madorna para os sonhos, nervoso entre
perspectivas. Sim ou não? Lembrava-se dos sonhos, dos cenários em que Zulmira
devera haver-se gravado toda em seu córtex. Por que nos sonhos ela o tratava
com tanta intimidade? Na vida real não ocorria assim, era Zulmira alheia, mesmo
agora sozinha, sem o marido escurinho chamado Marcelo, parece que da Silva,
ciumento, de óculos e chapéu, caixa de um banco. Tinha remota esperança de uma
resposta, sim ou não? Confiava no ímã que acreditava ter sobre as mulheres.
À noite,
quando voltava da rua, passava rente à casa de Zulmira, via as vidraças de uma
janela larga refletindo a claridade. “Deve estar acordada, certamente
assistindo televisão ou lendo revista, de roupa íntima para dormir”. Lembrava
novamente dos sonhos, sentia um desejo feroz pela mulher. Será que o bilhete
teria resposta? E se o mesmo não fora entregue! A portadora, mulatinha de sua
intimidade, era uma menina séria.
Passaram-se três dias sem resposta e sem os sonhos com Zulmira. O seu
córtex estaria cansado de expectativa. Ela estaria preocupada com a separação.
Como dizem que tudo tem dia certo, a resposta chegou. Quase uns rabiscos:
“Quando voltar passe por aqui. A porta estará encostada”.
Nem acreditou, leu outra vez, repetiu.
Zulmira, agora, podia decidir o que quisesse, era uma mulher desimpedida. Se
satisfação endoidasse, ele ficaria maluco. Quase voltava da rua antes do
horário de costume, ponderou e decidiu-se pela hora normal de chegar em casa.
Noitinha
aproximou-se da residência de Zulmira, subiu à calçada, chegou rente à porta
somente encostada, empurrando-a, sutil, trêmulo, quase com medo, obcecado, e
entrou.
Agora,
frente a frente com Zulmira, sem saber como iniciar conversa ante a mulher de
seus sonhos. “Pronto, meu amor”, falou assim, abafado, olho duro para ela de
risinho frio, certamente surpresa com a aparecença dele, coisa de gente
aventureira. Diálogo curto, olhares de banda, interrogativos. A cama agora
seria o destino. O quarto, estranho para ele, turvo, diferente dos cenários dos
sonhos; televisor ligado, pisca-pisca refletindo nas paredes.
Depois, o
cheiro do corpode Zulmira, diferente do
perfume imaginado nos sonhos. As mãos dela, agora, nem eram macias e,
finalmente, a frieza entre os dois.
Na
primeira tentativa ele falhou inibido com a inquietação dela, com a respiração
apressada, desajeito nos movimentos. Sentiu-se sufocado, calor subindo, nervos
esticados. Relutou até às tantas, inutilmente. Saiu cabisbaixo, quase pedindo
desculpa, certo que não era aquela a Zulmira gravada em seu córtex.
Na noite
seguinte os sonhos voltaram, devolvendo-lhe a felicidade. Extravasou-se por
inteiro, realizando tudo o que não conseguira ao vivo deitado com Zulmira.
Foram divulgados os números finais da pantomina eleitoral da
Venezuela, reeleito o boçal ditador Nicolás Maduro [na foto ao lado, votando em
si mesmo] com quase 70% dos votos válidos, participação de 46% do
eleitorado, fraude e intimidação generalizadas. Na tragédia, tem culpa o
governo brasileiro. O chavismo medrou no país vizinho com dinheiro da Odebrecht
(de fato, propina decorrente de contratos superfaturados), marqueteiros ligados
ao PT e patrocínio de Lula e Dilma.
Estivesse o PT ainda no poder, Brasília seria um dos apoios
vergonhosos da situação venezuelana. Com efeito, a reeleição vem sendo
celebrada pelas linhas auxiliares do PT, como PC do B, entre os partidos, e
Guilherme Boulos, entre os políticos. O PC do B em nota intitulada “Vitória
retumbante do povo venezuelano” trombeteou: “O Partido Comunista do
Brasil regozija-se com o povo venezuelano, o Partido Socialista Unido da
Venezuela (PSUV), o Partido Comunista da Venezuela (PCV) e demais forças
políticas que comandaram a batalha”. Boulos, o candidato do PSOL à Presidência,
apoiado entre outros por frei Beto, declarou: “Maduro foi eleito
democraticamente, Cuba não é ditadura e impeachment foi golpe”.
Além da satisfação da esquerda brasileira, por vezes
evidenciada em silêncio revelador, em outras ocasiões com desfaçatez ruidosa,
na América Latina não faltou a Maduro o esperado endosso enfático de Cuba e
Bolívia. Em resumo, Maduro tem esteios fortes na América Latina. Na cena
internacional, o Irã, a China e a Rússia defenderam a farsa venezuelana.
Interessam especialmente Rússia e China. São os dois grandes
apoios à tirania chavista. Sem eles, dificilmente Maduro se manteria no poder.
O governo de Vladimir Putin atacou a oposição proveniente do exterior: “Lamentamos
que nessas eleições, além dos dois tradicionais participantes — o povo e os
candidatos — existiu também um terceiro participante: os governos que
abertamente pediram boicote ao voto”, declarou Alexander Schetinin, diretor do
Departamento de América Latina da chancelaria russa. Com descaramento
completou: “As eleições foram realizadas e o resultado tem caráter
irreversível: dois terços dos votos foram para Nicolás Maduro”. Esconde
escandalosamente a fraude, a pressão do aparato chavista, o garrote aos
opositores.
A China foi na mesma direção: “As partes envolvidas
devem respeitar a decisão do povo venezuelano”, disse o porta-voz da
chancelaria chinesa, Lu Kang. Para Pequim, disputas sobre o resultado devem ser
resolvidas nos tribunais. Deixa de lado o fato óbvio: os tribunais foram
transformados em marionetes do chavismo.
É um passo a mais da descarada e inescrupulosa ingerência
russa e chinesa nos negócios da América Latina. Daqui a algum tempo vai ficar
patente a ainda agora secreta contrapartida recebida — nesses meses de
isolamento venezuelano —, por russos e chineses em troca de tal apoio. Com toda
probabilidade, lastreadas em contratos, promessas de gigantescas vantagens
relacionadas com a exploração do petróleo. A Venezuela detém as maiores
reservas provadas do mundo. Para comparação, segundo dados recentes, tem 297
bilhões de barris, a Rússia, 60 bilhões, a China, 16 bilhões. O Brasil, 25
bilhões. (1 barril equivale a 159 litros). A aliança disfarçada, mas efetiva,
com Rússia e China dá sobrevida a um governo cujo coletivismo delirante [o
chamado socialismo do século XXI] destruiu o país. É rota de maus auspícios, no
fim dela a Venezuela despencará para a condição de protetorado inconfessado.
Médicos venezuelanos protestando, pois os pacientes morrem
em hospitais por falta de medicamentos
Generalizada e enérgica tem sido a reação oficial ao regime
venezuelano. Foi tão ampla a repulsa aos métodos chavistas, que a oposição
inclui importantes políticos socialistas, como Felipe González e Ricardo Lagos,
cuja inércia escandalizaria seguidores seus. Por exemplo, em documento também
firmado pelos dois, 23 ex-presidentes e ex-primeiros-ministros ibero-americanos
apelam à comunidade internacional para que não reconheça a “farsa eleitoral” na
Venezuela. Pedem ainda que os países chamem seus embaixadores, aumentem
sanções, congelem ativos provenientes do crime e da corrupção do governo.
Reclamam a seguir a suspensão da Venezuela da OEA, sugerem que Estados membros
do Estatuto de Roma levem à Corte Penal Internacional o relatório sobre os
crimes de lesa-humanidade da ditadura de Nicolás Maduro preparado pela
Secretaria Geral da OEA. Denunciam ainda “sequelas de mortos pela
violência criminosa desbordada, fome, migração maciça, endividamento ilimitado,
falência, hiperinflação, fatos sem paralelos e sem precedentes na história do
mundo”.
Lech Walesa, ex-presidente da Polônia foi mais duro: “A
Venezuela está sequestrada por um grupo de neotraficantes e terroristas. Mais
cedo ou mais tarde será preciso uma intervenção de forças coligadas para
preservar a paz na região”.
Estados Unidos, União Europeia, países da América Latina
tomaram medidas severas contra o governo venezuelano. Mike Pence,
vice-presidente dos Estados Unidos, em nota oficial afirmou: “A eleição na
Venezuela foi uma impostura. O resultado ilegítimo deste processo fraudulento é
um novo golpe contra a altiva tradição democrática da Venezuela. Todos os dias
milhares de venezuelanos fogem da opressão brutal e da torturante pobreza”.
14000% é a inflação estimada em 2018. Queda estimada do PIB
em 2018, 15%, quinto ano de recessão. Por que não cai o regime? Deixo de lado a
reação internacional, poderia ser mais efetiva.
Lembro outros fatores, a brutal
repressão interna inspirada por agentes do serviço secreto cubano, vantagens
escandalosas conferidas ao alto oficialato das Forças Armadas (forma de compra
e chantagem) e o apoio da China e da Rússia. Importa sobretudo agora ter em
vista o último ponto, atalho para a servidão. Antecipa situações que outros
países da América Latina poderão viver. O Brasil também poderá passar por um
martírio prolongado, caminhamos na beira do abismo.
Solenidade da Santíssima Trindade – Domingo, 27/05/2018
Anúncio do Evangelho (Mt 28,16-20)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, os onze discípulos foram para a
Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado.
Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim
alguns duvidaram. Então Jesus aproximou-se e falou: “Toda a autoridade me
foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus
todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu
estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.
Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Paulo
Ricardo:
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Trindade: "Deus é plural"
“...batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo” (Mt 28,19)
A Igreja celebra, neste domingo, a Festa da Trindade, cume e
compêndio de todas as festas do ano: do Deus que é Pai, é Filho e é Espírito.
Assim, a festa de hoje vem plenificar o tempo pascal, como
uma espécie de “síntese”. Síntese, não intelectual, mas “misterial”, ou seja,
celebração de nossa participação no fluxo amoroso das pessoas divinas; pois
a SS. Trindade não é uma questão especulativa, é, sobretudo, uma
experiência de um Deus amoroso.
A liturgia nos convoca a viver a experiência do Deus
“comunhão de Pessoas”; para isso, ela nos convida a fazer uma viagem ao
interior de Deus, como vida de amor que se revela na história da humanidade,
vida entendida como Pai, Filho e Espírito Santo.
A imensa maioria dos cristãos não sabe que, ao adorar a Deus
como Trindade, está confessando que Deus, em sua intimidade mais profunda, é só
amor, acolhida, ternura, misericórdia. Essa viagem ao coração da Trindade
culmina na grande comunhão humana, pois o Deus Pai, Filho e Espírito integra no
amor todos os povos da terra. Dessa forma, a viagem ao interior de Deus se
converte em movimento ao exterior, no encontro expansivo com todos os homens e
mulheres. Quanto mais mergulhemos em Deus, comunidade de Amor, mais poderemos
expandir-nos em solidariedade, amor e justiça para com todas as pessoas, porque
o interior de Deus é princípio de reconciliação e unidade (na diversidade) de
todos os povos e raças do mundo.
Foi-nos dito que o dogma da Trindade é o mais importante de
nossa fé católica; no entanto, a imensa maioria dos cristãos não consegue
compreender o que ele quer dizer. Com a Trindade, nós cristãos não queremos
“multiplicar” Deus. O que queremos é expressar a experiência singular de que
Deus é comunhão e não solidão. “No princípio está a comunhão dos TRÊS e não a
solidão do UM” (L. Boff).
Aproximar-nos do Deus de Jesus é descobrir a Trindade. E em
cada um de nós a Trindade deixa-se refletir. Nossa vida deveria ser um espelho
que em todo momento refletisse o mistério da Trindade. O grande ensinamento da
Trindade é que só vivemos, se convivemos.
Viver a experiência do Deus Trino implica saber com-viver;
fomos feitos para o encontro e a comunicação. Estamos, portanto, falando de uma
única realidade que é relação. Deus-Trindade é a relacionalidade por
excelência; Deus só existe como ser em relação; Deus é só relação, porque Deus
é so amor. “No princípio está a relação” (G. Bachelard). E sendo Deus
essencialmente relação, não poderia permanecer fechado n’Ele mesmo; num
gesto de pura gratuidade, essa relação se manifesta como transbordamento
de vida, chamando toda a Criação à existência e convidando a
humanidade a entrar no fluxo dessa relação trinitária.
Mas, para nos aproximar do Deus comunhão de Pessoas, temos
de superar o ídolo ao qual nos apegamos. Sim, o “falso deus” identificado com
um ser poderoso que se manifesta como um déspota, um tirano destruidor, um
ditador arbitrário; um ser onipotente que ameaça nossa pequena e limitada
liberdade. É muito difícil abandonar-nos a alguém infinitamente poderoso.
Parece mais fácil desconfiar, ser cautelosos e salvaguardar nossa
independência.
Mas Deus Trindade é um mistério de Amor. E sua onipotência é
a onipotência de quem só é amor, ternura insondável e infinita. É o amor de
Deus que é onipotente. E sempre que esquecemos isso e saímos do fluxo do amor,
nós fabricamos um Deus falso, uma espécie de ídolo que não existe. A Trindade
não é uma verdade para crer mas uma presença a ser acolhida, uma experiência a
ser vivida.
Uma profunda experiência da mensagem cristã será sempre uma
aproximação ao mistério Trinitário.
A festa da Trindade deve nos libertar do “Deus Ser todo
poderoso” e empapar-nos do Deus Ágape que nos identifica com Ele. A imagem do
“Deus todo poderoso” não expressa bem a experiência do “Deus trino”. Deus é
amor e só amor. Só na medida que amemos, poderemos conhecer a Deus. Esta é
talvez a conversão que muitos cristãos mais precisam: fazer a passagem de um
Deus considerado como Poder a um Deus adorado alegremente como Amor.
Felizes aqueles que descobrem que a Trindade não é um mistério
incompreensível, mas a cotidiana experiência do Amor, a partir de uma vida
encarnada em nossa história, com um respiro, um ânimo e uma paixão especial por
continuar vivendo cada dia com os mesmos sentimentos de Jesus, junto a tantas
pessoas que trabalham por outro mundo mais fraterno, justo e solidário. A
Trindade é o espelho que nos mostra como devemos ser e viver à luz da “melhor
Comunidade”.
Ora, tal Mistério fonte de todo ser, constitui o modelo
ideal de todo e qualquer convívio humano. Somos feitos à “imagem e semelhança
da Trindade”. Trazemos em nós impulsos de comunhão. Sempre que
construirmos relações pessoais e sociais que facilitem a circulação da vida, a
comunhão de diferentes à base da igualdade, estaremos tornando visível um pouco
do mistério íntimo de Deus.
Deus quer inserir-nos nesta sua comunhão eterna, como no-lo
disse Jesus: “Que todos sejam um como Tu, Pai, estás em mim, e eu em Ti. Que
eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que Tu me enviaste” (Jo.
17,21).
Portanto, Trindade é a glória de Deus que se expressa na
vida da humanidade; é o Amor mútuo, a comunhão pessoal, de Palavra (Filho) e de
Afeto (Espírito Santo) que sustenta as relações entre os seres humanos. Assim é
a Trindade na terra: quando todos compartilham a vida e se amam. Não crê na
Trindade quem simplesmente professa que há “em Deus três pessoas”, ou quem faz
mecanicamente o sinal da Cruz, mas aquele que vive o impulso e a expansão do
Amor Redentor, que se expressa como compaixão, reconciliação e compromisso.
Crer na Trindade é amar de um modo ativo, como dizia S. Agostinho. Contempla-se
a Trindade ali onde nos amamos e nos comprometemos com a libertação do próximo.
Estamos envolvidos pelo mesmo movimento do Amor sem fim que parte do Pai, passa
pelo filho e se consuma no Espírito. Só quem tem coração solidário adora um
Deus Trinitário, pois no compromisso libertador torna-se visível a presença
trinitária.
Texto bíblico: Mt 28,16-20
Na oração: Como homem e como mulher trazemos uma força
interior que nos faz “sair de nós mesmos” e criar laços, construir
fraternidade, fortalecer a comunhão.
Fomos criados “à imagem e semelhança” do Deus Trindade,
comunhão de Pessoas. (Pai-Filho-Espírito Santo). Quanto mais unidos somos, por
causa do amor que circula entre nós, mais nos parecemos com o Deus Trindade.
- Em quê aspectos concretos de sua vida se manifesta o
mistério do Deus trinitário como amor e vida?
- Como poderia abrir-se mais à ação do Espírito da Verdade
em sua vida, para que o(a) leve a um conhecimento existencial e atualizado do
Evangelho de Jesus?
- Com quais iniciativas concretas você poderia contar para
que sua comunidade cristã seja cada dia mais imagem da comunidade de amor
infinito que é a Trindade divina?
- Quais diferenças estão criando divisões e intolerâncias em
sua comunidade? Quais elementos da vida comunitária são fatores de união,
fazendo-os crescer como irmãos(ãs) e fortalecendo a missão evangelizadora?
- Sua comunidade é sinal e instrumento de salvação de Deus
Trindade, através da iniciativa do amor (Pai), da entrega radical (Filho) e da
abertura à novidade dos caminhos de Deus (Espírito)?
Um país não vai para o brejo de um momento para o outro —
como se viesse andando na estradinha, qual vaca, cruzasse uma cancela e, de
repente, saísse do barro firme e embrenhasse pela lama.
Um país vai para o brejo aos poucos, construindo a sua
desgraça ponto por ponto, um tanto de corrupção aqui, um tanto de demagogia
ali, safadeza e impunidade de mãos dadas.
Há sinais constantes de perigo, há abundantes evidências de
crime por toda a parte, mas a sociedade dá de ombros, vencida pela inércia e
pela audácia dos canalhas.
Aquelas alegres viagens do então governador Sérgio Cabral,
por exemplo, aquele constante ir e vir de helicópteros. Aquela paixão do Lula
pelos jatinhos. Aquelas comitivas imensas da Dilma, hospedando-se em hotéis de
luxo. Aquele aeroporto do Aécio, tão bem localizado. Aqueles jantares do Cunha.
Aqueles planos de saúde, aqueles auxílios moradia, aqueles carros oficiais.
Aquelas frotas sempre renovadas, sem que se saiba direito o que acontece com as
antigas. Aqueles votos secretos. Aquelas verbas para “exercício do mandato”.
Aquelas obras que não acabam nunca. Aqueles estádios da Copa. Aqueles
superfaturamentos.
Aquelas residências oficiais. Aquelas ajudas de custo.
Aquelas aposentadorias. Aquelas vigas da perimetral. Aquelas diretorias da
Petrobras.
A lista não acaba.
Um país vai para o brejo quando políticos lutam por cargos
em secretarias e ministérios não porque tenham qualquer relação com a área, mas
porque secretarias e ministérios têm verbas — e isso é noticiado como fato
corriqueiro da vida pública.
Um país vai para o brejo quando representantes do povo
deixam de ser povo assim que são eleitos, quando se criam castas intocáveis no
serviço público, quando esses brâmanes acreditam que não precisam prestar
contas a ninguém — e isso é aceito como normal por todo mundo.
Um país vai para o brejo quando as suas escolas e os seus
hospitais públicos são igualmente ruins, e quando os seus cidadãos perdem a
segurança para andar nas ruas, seja por medo de bandido, seja por medo de
polícia.
Um país vai para o brejo quando não protege os seus
cidadãos, não paga aos seus servidores, esfola quem tem contracheque e dá
isenção fiscal a quem não precisa.
Um país vai para o brejo quando os seus poderosos têm
direito a foro privilegiado.
Um país vai para o brejo quando se divide, e quando os seus
habitantes passam a se odiar uns aos outros; um país vai para o brejo quando
despenca nos índices de educação, mas a sua população nem repara porque está
muito ocupada se ofendendo mutuamente nas redes sociais.
Enquanto isso tem gente nas ruas estourando fogos pelos
times de futebol!
Clique sobre as fotos, para vê-las no tamanho original
O Projeto Oxe: literatura baiana contemporânea participará,
entre os dias 28 e 30 de maio, da I Mostra de arte e cultura do IFBA. Em sua
primeira edição, o evento traz o tema "Baianidades Possíveis" e
receberá, nos três dias apresentações de vários municípios do estado onde estão
instalados campi do IFBA.
Com o intuito de visibilizar institucionalmente projetos
culturais e artísticos desenvolvidos nos 23 campi do Instituto, localizados na
capital e interior da Bahia, o evento foi idealizada e organizada pela
Pro-reitoria de extensão e contou com a participação de bolsistas, técnicos e
docentes.
O Oxe apresentará dois recitais Oxe: palavra mapeada, que
articula recitação de trechos de autores e autoras baianas com projeção de
videomapping e música e Rabiscos revelados, que apresenta produções dos
integrantes do projeto após curso de criação literária.
Respectivamente, os espetáculos serão apresentados no palco
do auditório Dois de Julho e o pátio externo da Reitoria do IFBA, localizada no
bairro do Canela, em Salvador.
Para saber mais sobre o evento, clique e veja a programação.
É um momento de não rara dificuldade, querida Ivelise,
colegas e familiares de Nelson Pereira dos Santos, porque se espera que o
Presidente cumpra o rito, pronuncie poucas palavras, corifeu de um coro
antigo, que traduza, quanto possível, o sentimento da Casa, dos companheiros e
de quantos se reúnem em torno da figura luminosa de Nelson Pereira dos Santos.
Querida Ivelise, somos testemunhas de seu amor a Nelson,
vivido de modo intenso, de parte a parte, e cuidadoso. Prova desses atributos
consolidou-se na travessia recente, cheia de desafios, dolorosa, partilhada
pela família, tornada pelo afeto algo mais leve.
Meu caro Nelson, a emoção não tem métrica, estamos cercados
de lágrimas-nuvens, saudade, comoção. Ao mesmo tempo, tristes e feridos, mas
consolados, na dimensão fraterna que organiza a presente cerimônia de adeus.
Não se contava com a sua morte. Certas pessoas não deviam partir, sobretudo em
momentos ásperos da História.
Como disse Tarkovsky, o cineasta esculpe o tempo. Nelson
Pereira dos Santos, ao cinzelar imagens vigorosas de nossa identidade, quando o
Brasil ainda mal se conhecia, deu protagonismo à cidade, como conversamos Ana
Maria Machado e eu, cidade multiforme, dando início a um diálogo raro de uma
cidade nada transitiva, alvejada pela desigualdade.
Nelson teve a ousadia não apenas de denunciar, mas de criar
uma estética da denúncia, humanista, corajosa, que transcendesse leituras fundamentalistas.
A desigualdade nítida. Uma estética para compreendê-la e uma ética para
denunciá-la: instância permanente de emancipação.
À direita de Nélson, nesta sala dos poetas românticos,
encontra-se Castro Alves. A cadeira de Nelson não é uma contradição no
adjetivo. Nelson e Castro Alves possuem não raras convergências, sob uma
perspectiva generosa, batendo-se para o fim de modos assimétricos, contra a
injustiça, no cinema e na praça, que é do povo, integra e não separa, sob uma
ótica republicana incontornável.
Nelson amou como poucos a cultura popular, antes que muitos
percebessem essa riqueza. Criou imagens antológicas, que até hoje povoam nossas
retinas. A sua obra não pertence a seu autor, é propriedade de nossa gente e do
futuro. O autor viverá para sempre. Esse ‘escultor do tempo’ está de
viagem e leva um amuleto, no dia da festa popular de São Jorge, a poucos passos
daqui, onde o povo se reconhece, nos terreiros e igrejas. “O amuleto de Ogum” é
um filme que todos conhecem, todos celebram, porque é um símbolo de nosso amigo
Nelson, um amuleto de partes dispersas que se integram a partir de uma obra
generosa, de um olhar temperado e produtivo, dedicado ao povo brasileiro.
Querido Nelson, é difícil falar de você sem perder o fio de
uma razão, conter as lágrimas. Ouço de algum canto da sala a sua gargalhada tão
sonora, tão independente, salvo-conduto por tantos e diversos territórios que
você atravessou sem se fixar. Uma ode à sua independência. Em todos os espaços,
você jamais negociou a sua verdade, simples e altivo, suave e
corajoso.
Nelson foi um poeta da luz, esculpiu na luz a “forma mentis”
de chegar ao Brasil. Imagino desde já suas conversas intermináveis, sem
maiores cerimônias, como o reencontro de irmãos, entre Rossellini e De Sica,
Leon Hirszmann e Joaquim Pedro de Andrade.
Mas o meu coração, Nelson, vai com você. Sem mágoa, seu
coração, isento de rancores e das paixões tristes. Aceite, Nelson, a saudade de
todos, dos que viveram e dos que estão para chegar ao mundo. Você é nosso, enquanto
houver Brasil, enquanto houver defesa da arte e inquietação para integrar as
partes dispersas da República.
Marco Lucchesi - Sétimo ocupante da cadeira nº 15 da ABL,
eleito em 3 de março de 2011, na sucessão de Pe. Fernando Bastos de Ávila, foi
recebido em 20 de maio de 2011 pelo Acadêmico Tarcísio Padilha. Foi eleito
Presidente da ABL para o exercício de 2018.