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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

AS MULHERES SÃO FANTÁSTICAS! – Carlos Drummond de Andrade


As mulheres são fantásticas!


A Mulher e o Homem estavam assistindo televisão, quando a mulher disse:

Estou cansada e já é tarde, vou me deitar".

Foi à cozinha fazer uns sanduíches para os filhos para o lanche do dia seguinte na escola, passou uma água nas taças, tirou carne do freezer para o almoço do dia seguinte, confirmou se as caixas dos cereais não estavam vazias, encheu o açucareiro, pôs tigelas e talheres na gaveta e preparou a cafeteira do café para estar pronta para ligar no dia seguinte.

Pôs ainda umas roupas na máquina de lavar, pregou um botão que estava caindo. Guardou umas peças do jogo que ficaram em cima da mesa, e pôs a agenda do telefone no lugar. Regou as plantas, despejou o lixo e pendurou uma toalha para secar. Bocejou, espreguiçou-se, e foi para o quarto. Parou ainda no escritório e escreveu uma nota para o professor do filho, pôs num envelope junto com o dinheiro para pagamento de uma visita de estudo, e apanhou um caderno que estava caído debaixo da cadeira. Assinou um cartão de aniversário para uma amiga, selou o envelope, e fez uma pequena lista para o supermercado. Colocou ambos perto da carteira.

Nessa altura o Homem disse lá da sala:

"Pensei que você tinha ido se deitar".

"Estou a caminho" respondeu ela. Pôs água na tigela do cão e chamou o gato para dentro de casa.
Certificou-se de que as portas estavam fechadas. Espreitou para o quarto de cada um dos filhos, apagou a luz do corredor, pendurou uma camisa, atirou umas meias  para o cesto da roupa suja, e conversou um bocadinho com o mais velho que ainda estava estudando. Já no quarto, acertou o despertador, preparou a roupa para o dia seguinte e arrumou os sapatos. Depois lavou o rosto, passou creme, escovou os dentes e acertou uma unha quebrada. A essa altura, o homem desligou a televisão e disse:

"Vou me deitar!" 

E foi... Sem mais nada!... 


Carlos Drummond de Andrade

* * *

INTERVENÇÃO – Alessandra Vieira


Intervenção


Imagine uma intervenção no morro…
Uma grande intervenção cultural, 
artística, musical, educativa.

Imagine o morro sendo ocupado…
Por vários artistas, músicos, professores, psicólogos,
engenheiros, advogados, médicos e assistentes sociais.

Imagine todos andando armados…
De informação, conhecimentos, 
instrumentos de música, de arte e trabalho.

Militar ia ser só verbo... 
Verbo de agir pra transformar.

Assim como luto… 
Não mais por jovens no caixão lacrado, 
mas como eu luto, tu lutas, nós lutamos!

“Mãos ao alto”… 
Só para agradecer as conquistas!

“Perdeu, perdeu”… 
Porque todos perderam o medo!

No lugar do medo, esperança…
No lugar da inércia, ação...
No lugar do ódio, amor…
No lugar da vingança, ajuda mútua…
No lugar do som dos morteiros, música…

“O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente” ♫ 

Alessandra Vieira

* * *