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segunda-feira, 27 de março de 2023

Os olhos de ontem

 José Sarney

 


Sempre tive uma boa memória. Quando falha fico preocupado. Pois não é que esta semana ela me fez uma que quase me leva ao pânico? Felizmente para lembrar tive a ajuda de Tereza Cruvinel, brilhante jornalista a quem nos ligam laços de afeição desde que ela chegou a Brasília.

Era o dia 15 destes idos de março. Eu curtindo uma dor lombar destas que nos levam a só pensar em analgésico. O telefone toca. Atendo. Era Tereza, com toda a sua delicadeza a parabenizar-me: - 'Sarney, depois de outros que tivemos, só ouço falar bem do seu governo. Paz e tranquilidade, crescemos cinco por cento ao ano e nosso salário aumentava todo mês com a maldita da correção monetária. Você trouxe a democracia de volta para nosso País, a transição democrática, a Constituição de 88 - a que mais durou no Brasil sem rupturas?'

Eu respondi: - 'Obrigado, minha querida amiga, mas por que está relembrando coisas passadas?'

- 'Sarney, hoje é quinze de março, faz 38 anos do seu governo?'

Eu nem me lembrava mais e a data ia passando em branco na minha famosa memória. Quase caí de costas.

Passei um raio-X sobre o passado. Logo apareceu a frase que se tornou ensinamento: 'O poder é solitário'. Eu acho que há um exagero, porque o poder não permite solidão. É dia e noite de trabalho, todos carregados de preocupações, avaliações de políticas públicas e perda de amigos. É um terreno movediço de intrigas, uma disputa pessoal a cada metro quadrado, é terreno de ocultas batalhas, das quais o Presidente é o último a desconfiar e saber. E nele há um monstro invisível, escondido na claridade, onipresente em todo espaço: a traição. Lidar com tudo isso é o inferno que permeia o poder, onde transitam os devotos do mandar, dos autoritários e da força. (Não é minha praia).

Quando assumi a Presidência estávamos no mundo do desconhecido e o destino colocava à minha frente o desafio que estava guardado para mim. O General Leônidas fora encarregado de comunicar-me o resultado da dramática noite da cirurgia de Tancredo Neves. Minha resposta foi a mesma que lhe tinha dado antes: - 'Quero assumir junto com o Tancredo que estará restabelecido na próxima semana.' Ele retrucou: - 'Sarney, não crie dificuldades. Foi difícil chegar até aqui. Você assumirá às dez horas da manhã. Boa noite, Presidente!'

Não dormi o resto da noite. Ao dar posse aos ministros comecei dizendo: - 'Estou com os olhos de ontem!' Preso a uma emoção que tinha tudo da visão de uma responsabilidade imensa.

Fazendo uma síntese do governo, tenho o orgulho da oportunidade que o povo me deu de ajudar o meu País, o Continente da América do Sul e o povo brasileiro. Não vou contar espigas de milho, mas o que é fundamental e fica na História.

Para o mundo, eu e Alfonsín, grande estadista e amigo do Brasil, acabamos com a corrida nuclear Brasil e Argentina e fizemos que o nosso Continente fosse o único no mundo livre de armas nucleares. Isso é um exemplo que até hoje não foi seguido. Por proposta minha o Atlântico Sul entre América e África foi declarado Zona de Paz pela ONU. Acabamos com os conflitos regionais na América do Sul. Lançamos as bases do Mercosul.

Para o Brasil, a Democracia, a nova Constituição, o 'Tudo pelo social': seguro-desemprego, programas contra a fome - o do leite, considerado pela Unesco como o melhor programa mundial de combate à fome infantil -; vale-transporte e vale-alimentação; farmácia básica; universalização da saúde com o SUD, transformado em SUS pela Constituinte. Tivemos um crescimento de 99% do PIB. Criei o Ministério da Cultura e a Lei de Incentivo à Cultura; o da Reforma Agrária; o da Irrigação; o da Ciência e Tecnologia - demos mais bolsas de ensino superior do que já tinha sido dado até então -; o Programa Nossa Natureza e o IBAMA. Demarcamos 32 milhões de hectares de terras indígenas. Atingimos, pela primeira vez, o sétimo lugar entre as economias mundiais. Criei a Secretaria do Tesouro, o Siafi, extingui a Conta-Movimento do Banco do Brasil e unifiquei os orçamentos da União.

As Forças Armadas voltaram aos quartéis, com o programa de modernização comandado pelo melhor Ministro do Exército que já tivemos, Leônidas Pires Gonçalves, um dos grandes chefes militares do País. Não tivemos nenhuma crise militar.

Fizemos, sobretudo, a transição para democracia.

Obrigado, Tereza Cruvinel, pela lembrança.

Os Divergentes, 21/03/2023

 

https://www.academia.org.br/artigos/os-olhos-de-ontem

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José Sarney - Sexto ocupante da Cadeira nº 38 da ABL, eleito em 17 de julho de 1980, na sucessão de José Américo de Almeida e recebido em 6 de novembro de 1980 pelo Acadêmico Josué Montello. Recebeu os Acadêmicos Marcos Vinicios Vilaça e Affonso Arinos de Mello Franco.

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domingo, 26 de março de 2023

Rui Barbosa, no centenário do seu falecimento

Celso Lafer



Há cem anos falecia Rui Barbosa. Merece destaque a atualidade de seu legado, que se notabiliza por um fio condutor: 'a formação da esfera pública e a construção institucional da democracia no Brasil', como certeiramente realçou Bolívar Lamounier.

A Oração aos Moços foi seu discurso de paraninfo da turma de 1920 da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde se formou. Foi o seu balanço de 50 anos de trabalho na jurisprudência e de serviços à Nação. Enfatizou que não atuou como 'político fértil em meios e manhas'. Empenhou-se em 'inculcar ao povo os costumes de liberdade e à República as leis do bom governo', que fazem prosperar os Estados, moralizar a sociedade e honrar as nações.

Rui é um paradigma da atuação dos advogados que souberam valer-se do Direito como instrumento da ação política, como observou Afonso Arinos. Na sua práxis, viveu o Direito não como abstração, mas em função do agir. A autonomia de jurista em relação ao poder é um traço marcante da personalidade de Rui, que não colocou o seu saber para acomodar impulsos arbitrários do pragmatismo de governantes ou justificativas de 'razão de estado'.

No início da sua caminhada, teve ativa participação, em parceria com Joaquim Nabuco, na campanha abolicionista. Fulminou 'a legalidade caduca do cativeiro'. Realçou que a questão da escravidão era a questão das questões, a que todas as outras se subordinavam, pois 'encarna em si o começo da solução de todas as demais'. Certeira colocação ainda pendente de encaminhamento, pois a herança da escravidão persiste com a agenda do racismo estrutural.

Lembro os inovadores pareceres sobre o ensino, apresentados na Câmara dos Deputados do Império. Lastreiam-se no papel da educação para o desenvolvimento material e moral do nosso país e dão ênfase à ciência e ao método experimental.

Foi a República que deu a Rui espaço público para, como jurista, senador e nas suas duas campanhas presidenciais, defender a verdade eleitoral, enfrentar a questão social e sustentar o civilismo: 'Civilismo quer dizer ordem civil, ordem jurídica, a saber: governo das leis contraposto ao governo de arbítrio, ao governo da força, ao governo da espada'.

O papel de Rui na feitura da Constituição de 1891 é parte dos seus grandes serviços à Nação. A ele se deve o federalismo, que contrapôs à monarquia unitária e centralizadora.

Devem-se a Rui a criação do Supremo Tribunal Federal e seu papel de guarda da Constituição, com a sustentação de seu 'direito-dever' de conter atos usurpatórios do governo e do Congresso mediante a afirmação da 'lei das leis', que está acima da legislação ordinária.

Rui promoveu a separação da Igreja do Estado e a laicidade consagrada na Constituição de 1891 e nas subsequentes. A laicidade significa que o Estado se dessolidariza de toda e qualquer religião, em função de um muro de separação entre o que cabe a ele e o que cabe à sociedade civil como esfera autônoma para o exercício da liberdade religiosa e de consciência. Num Estado laico, as normas religiosas são conselhos e orientações no âmbito da sociedade civil aos fiéis, e não comandos para toda a sociedade.

Rui, na Oração aos Moços, englobou na missão do advogado a magistratura de uma justiça militante. Protótipo do exercício desta missão foi a pioneira defesa, em 1895, da inocência de Dreyfus, um grande exemplo na França de quebra da 'verdade ante o poder', com a flagrante denegação da justiça, por meio de um processo operado no segredo de um tribunal militar. Entreviu que a verdadeira causa de condenação de Dreyfus foi o antissemitismo, que na França daquele momento vivia 'o espasmo do ódio insaciável'.

O texto de Rui foi escrito na Inglaterra, publicado no Brasil e data de seu período de exílio, a que se viu forçado pelo arbítrio da presidência Floriano Peixoto. Foi, depois, vertido para o francês e circulou na Europa.

Baptista Pereira, seu genro e próximo colaborador, identificou no texto de Rui 'uma autópsia de militarismo', válido para o Brasil de Floriano, que postergou na experiência de vida de Rui a vigência das garantias legais, às quais se dedicou na implantação da República, almejando a construção institucional da democracia em nosso país.

O texto de Rui sobre Dreyfus corrobora a defesa que fez em 1920 sobre o dever da verdade - nos debates, nos atos, no governo, na tribuna, na imprensa - e da transparência do espaço público, pois 'o poder não é um antro, é um tablado. A autoridade não é uma capa, mas um farol. A política não é uma maçonaria, e sim uma liça'. Daí a inaceitabilidade da falsificação e da mentira nas instituições. Desnecessário destacar a vigência da sua mensagem.

Em 1949 Oswald de Andrade sublinhou que Rui tinha a capacidade do sacrifício e sempre soube perder. Por isso, 'como a semente do Evangelho que precisa morrer para frutificar, ele sempre soube morrer pelo dia seguinte do Brasil'. À árvore da liberdade e a construção institucional da democracia estão subjacentes à atualidade do seu legado.

Jornal O Estado de S. Paulo, 19/03/2023

 

 https://www.academia.org.br/artigos/rui-barbosa-no-centenario-do-seu-falecimento

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Celso Lafer - Quinto ocupante da cadeira 14, eleito em 21 de julho de 2006, na sucessão de Miguel Reale, e recebido em 1º de dezembro de 2006 pelo acadêmico Alberto Venancio Filho.

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sábado, 25 de março de 2023

 

Considerações sobre o conto brasileiro           

Cyro de Mattos



Críticos brasileiros e estrangeiros vêm contribuindo com estudos e juízos para definir o conto, mas sua variedade dificulta uma definição satisfatória, bem como a sua expressão que se funde com outras manifestações literárias, como a poesia e o drama. O conto moderno incorpora à estrutura elementos de outras áreas artísticas, recorrendo ao cinema, o teatro, às artes plásticas e à música. Forma de prosa de ficção em páginas breves intercomunica-se com outras manifestações culturais. Convém lembrar que a imprensa e a mídia eletrônica vêm afetando os códigos e os cânones da literatura brasileira nos tempos atuais.

O conto como uma forma de narrar histórias procede de tempos primitivos. A mais antiga expressão da literatura de ficção atravessou séculos para tornar-se leitura prazerosa e/ou crítica do mundo na forma escrita. O interesse insaciável do homem pelas histórias sempre o acompanhou, antes mesmo que ele fizesse armas de pedra como extensão da mão para se defender e sobreviver.

Entre nós, não a narrativa oral, o conto começou a ser cultivado como entidade literária durante o Romantismo. Impregnado dessa escola, estilo ou tendência, foi que surgiu uma vocação autêntica para expressar o conto em textos autônomos, elevando-o à categoria de gênero importante, em sua composição e arte.

Pesquisar a presença e evolução do conto no Brasil terá como momento maior o de encontro com Machado de Assis no século dezenove. O autor de Papéis Avulsos, Páginas Recolhidas e Histórias sem Data praticou a prosa de ficção curta com a mesma mestria dos romances, a narrativa tradicional absorveu o corte vertical na  estrutura para a  interpelação do destino humano,  permitindo a criação de um clima na sondagem da alma em seu instante agudo.

No fim do século dezenove e no princípio do vinte, o conto brasileiro buscou os elementos necessários para representar a vida no espaço geográfico: linguagem, personagens, ação, cenas e costumes, elementos capazes de fixar a paisagem humana e física de um país telúrico. Ao desdobrar na história os elementos do espaço geográfico, o conto dessa época credenciou-se através de uma vertente regional, em que se destacam o paulista Valdomiro Silveira, o gaúcho João Simões Lopes Neto, o mineiro Afonso Arinos e o goiano Hugo de Carvalho Ramos.

Com o Modernismo, que se mostrou primeiro com a poesia e depois com o romance, nacionalizando nossos temas, autores sensíveis e criativos introduziram modificações nos elementos tradicionais do conto. A linguagem deixou de ser convencional, desprezou-se a fabulação acadêmica que fazia com que o ficcionista escondesse o imaginário, mascarando-se em seu relacionamento interior com o mundo. Nesse momento do conto brasileiro, em que a fabulação deixou de acontecer linearmente, sobressaem Mário de Andrade, com a valorização da nota lírica justaposta à dispersão do enredo, e Antônio de Alcântara Machado, transpondo o popular ao nível literário, introduzindo um novo personagem à literatura brasileira, o ítalo-brasileiro. Cabe lembrar antes o impressionista Adelino Magalhães, com o seu jeito de flagrar a vida, focando-a no instante que se esgota em si mesmo, documentando-a numa cena para deixar no leitor aquela impressão que causa pena, solidariedade e riso.

Na evolução do nosso conto, dois caminhos divergentes, próprios da literatura, podem ser visualizados: o do elogio da linguagem com o seu fetichismo e o da economia dos meios expressionais com a linguagem descarnada. Por esses caminhos o Brasil tornou-se, de uns tempos para cá, um país de admiráveis contistas. Lembrando alguns nomes dessa contística maior, na fatura psicológica encontramos Lígia Fagundes Telles, Samuel Rawet, Tânia Faillace; nas localizações geográficas com apelos universalistas, João Guimarães Rosa, Adonias Filho, Bernardo Elis, Caio Porfírio Carneiro  e Ricardo Ramos (na primeira fase), assim como nas aculturações humanísticas dessa tendência, Juarez Barroso, Flávio José Cardozo e João Ubaldo Ribeiro; na propensão alegórica, através de espaços atemporais  intercomunicantes, José J. Veiga, Murilo Rubião e Maria Lysia Corrêa de Araújo; no real captando pedaços de vida, com o autor participando e julgando o mundo no cotidiano violento, de solidão, miséria, medo, sonhos incabíveis, sentimentos perversos, humor de cenas ordinárias que causam espanto, riso e/ou pena, Rubem Fonseca, João Antônio, Dalton Trevisan, Luís Vilela, José Edson Gomes e Wander Piroli; na experimentação da linguagem poética como mergulho na situação existencial do indivíduo, criando a atmosfera no lugar do enredo, Clarice Lispector, Walmir Ayala, Maura Lopes Cançado, Nélida Piñon, Helena Parente Cunha e Elias José.

Alegórico, documental, psicológico, impressionista, supra real, regional de alcance universal, de antecipação na corrente de ficção científica, o conto no Brasil circula hoje em sua dimensão própria, convincente, não como aprendizado para o autor dar o passo mais largo e definitivo de romancista, como muitos concebiam. Críticos apontam que há nesse conto emancipado feito entre nós hoje a inevitável influência de latino-americanos no caminho de ficcionistas jovens, porém, nossos contistas não são mais situados com referências a escritores estrangeiros: Maupassant, Tchecov, Kafka e Mansfield. Consolidado na trajetória ficcional que ilude na síntese, o conto brasileiro contemporâneo circula com a sua marca própria, seu legítimo acento, sua feição eficaz e dinâmica atraente.

Acham os clássicos que conto é aquilo que conta alguma coisa, desenvolvendo-se a história nos momentos tradicionais de princípio, meio e fim. Síntese de emoção aguda, acidente de vida, tensão e concisão no espaço que prevalece sobre o tempo, acham os modernos. Seja como for, encontrará o leitor nas breves páginas do conto atual no Brasil um feixe de observações, o dizer sobre coisas agudas em informações lúcidas. Pelo imaginário, temática pessoal, densidade, linguagem tradicional ou ligada à vanguarda as gradações e variações da condição humana: ternura, sentimentos baixos, humor, conflitos, a máquina do sistema na crueldade de seu absurdo, o dilema da razão a gerar insegurança, abandono, contradições e perplexidades.

Na sensação de que o mundo é falho, participará, enfim, do mistério do viver sob o trânsito dos humanos, o qual alcança hoje ritmo veloz, que cada vez mais assusta, subversão constante dos valores como premonição do caos, a que o conto como instante de reflexão, testemunho fragmentário do real ou em sua visão metaforizada do mundo, dilatando o micro no macro, tão bem se ajusta. Ainda assim, visto esse estar crítico do ser humano na trama, acena das fissuras a esperança como possibilidade do amor, vocação que o indivíduo é possuidor em sua problemática existencial para aflorar das rupturas e reconstruir o mundo.

A literatura brasileira detém hoje a eficiente autonomia de um gênero que possui joias insuperáveis. Uma das grandes invenções dessa entidade literária no discurso que combina, harmoniosamente, o a forma e o fundo,  a que assistimos hoje, foi levada no Brasil por Dalton Trevisan. Esse mestre da ficção breve na prosa enxuta e atraente, com mais de uma vintena de livros publicados, possui uma maneira de dizer histórias originalíssima   no encalço de fixar os encontros e desencontros de todos os Joões e Marias, de uma Curitiba descida ao chão das pequenas misérias, frustrações, devassidões, fetichismos inúteis.

Nessa causticante comédia humana, povoada de desastres e ressentimentos, temos a expressão admirável de como se pode reconhecer o máximo no mínimo, identificando-o tocado daquelas verdades essenciais que fazem da vida comoção de ínfimos universos corroídos de duro lirismo.

 

Cyro de Mattos é ficcionista e poeta, publicado em Portugal, Itália, França, Alemanha, Espanha, Dinamarca e Estados Unidos. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro das Academias de Letra da Bahia, de Ilhéus e de Itabuna. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz.

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quarta-feira, 22 de março de 2023

Trem Bala - Ana Vilela

O QUE É ANOSOGNOSIA?

 


É o esquecimento temporário,  ou momentâneo, comum em pessoas acima dos 60 anos. Não confundir com Alzheimer. 

No final, do texto a seguir, faça um  esforço, e tente descobrir,  o "C", o "6" e o "N". 

Tudo muito legal para sua memória.

Vamos lá:

Esquecimento temporário, do professor francês Bruno Dubois.

"Se alguém está ciente de seus problemas de memória, ele não tem Alzheimer".

1. Eu esqueço os nomes das famílias ...

2. Não me lembro onde coloco algumas coisas!

A informação está sempre no cérebro, é o "processador" que está em falta. Isso é "anosognosia" ou esquecimento temporário.

Metade das pessoas com 60 anos ou mais apresenta alguns sintomas devidos à idade e não à doença. Os casos mais comuns são:

- esquecendo o nome de uma pessoa,

- indo para um quarto da casa e não lembrando por que estava indo para lá

- uma memória em branco para um título ou ator de filme, atriz,

- uma perda de tempo procurando onde deixamos nossos óculos ou chaves!

Depois de 60 anos, a maioria das pessoas tem essa dificuldade, o que indica que não é uma doença, mas uma característica devido ao passar dos anos.

Muitas pessoas estão preocupadas com esses descuidos, daí a importância da seguinte declaração:

"Aqueles que estão conscientes de serem esquecidos não têm nenhum problema sério de memória."

"Aqueles que sofrem de uma doença de memória ou Alzheimer não estão cientes do que está acontecendo".

 

Agora, para um pequeno teste neurológico:

Use apenas seus olhos.

1- Encontre o C na tabela abaixo!

OOOOOOOOOOOOOOOOOOO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOCOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

 

2- Se você já encontrou o C, em seguida, encontre o 6 na tabela abaixo.

99999999999999999999999999999999999999999999999999

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99999999999999999999999999999999999999999999999999

 

3- Agora, encontre o N na tabela abaixo. Atenção: é um pouco mais difícil!

MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMNMMM

MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

 

Se você passar nesses três testes sem problemas:

- seu cérebro está em perfeita forma!

- está longe de ter qualquer relação com a doença de Alzheimer.

 

(Recebi via WhatsApp – sem menção de autoria)

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domingo, 19 de março de 2023

A História na Travessia de Gerações

Cyro de Mattos


 

              A história caminha e avança na sua travessia através de gerações. Conceito importante da História, pode ser considerado como o ponto  em torno do qual  executa seus movimentos e manifestações. Tal geração afirmar-se-á se conseguir formar uma corrente, movimento ou tendência  de pensamento marcante no progresso social, nos costumes civilizacionais, nas políticas culturais ou na educação literária dos indivíduos. O grau de combatividade de uma geração está naturalmente na dependência do estado atual das coisas  com relação ao momento em que se afirma o desejo coletivo de mudança.

         Seja qual for a importância que se atribua ao tema e ao conceito preconizado, a noção de geração pode levar a pressupor, de modo equivocado,  que as gerações se sucedem de forma horizontal no curso da história. Na verdade pertencem à mesma geração, como é comum,  indivíduos nascidos próximos e dotados de afinidades culturais. Pode ocorrer que indivíduos pertençam a várias gerações numa mesma época. Ou acontecer discrepância  de idade e nem por isso  deixam de situar-se  na mesma geração, como no caso de Machado de Assis,  nascido em 1839, e Aluizio Azevedo, em 1857.

           Quando um homem nasce, se vê numa circunstância concreta, em que tem de viver e que é social em uma de suas dimensões, por consequência  histórica. Nos passos de Ortega e Gasset, o filósofo Julián Marias admite  que  a geração não é um conceito biológico e sim histórico porque decisivo não é  a idade biológica que cada homem tem, mas, sim,  sua inserção numa determinada dimensão de mundo. Não se desprezando o fator biológico,  releva-se    a importância do ser histórico correspondendo ao seu lugar e à sua época. Geração seria  um conjunto de indivíduos  pertencente a vários grupos de idade ou não, portadores de conteúdo determinado e cujas atividades, anseios,  tendências, perspectivas  e alcances norteiam-se no sentido de uma afirmação, que é a  sua afirmação geracional.

          

          Conforme Julián Marias:


 O homem está vinculado a uma circunstância determinada, a um aqui e um agora em que lhe coube viver. Sua historicidade é um modo de cativeiro ou servidão; ser é ser isto e não aquilo, viver é estar numa circunstância e nela fazer determinadas  coisas com exclusão de todas as outras. Mas, como no homem atuam as demais circunstâncias em que já esteve e tudo aquilo que lhe aconteceu e que ele fez, só quando se conhece isto  se pode tomar posse de si mesmo, se é dono de si mesmo e por conseguinte se é livre. O homem se evade de sua historicidade mediante  a história como saber, isto é, se afirmando radicalmente nela.”

          

           Adiante, ele acrescenta:

 

          “A história permite ao homem transmigrar hermeneuticamente de sua circunstância para outras, e dessa maneira as fazer suas; só com a história toma inteiramente posse de si mesmo e sai da estreiteza de sua circunstancialidade e das interpretações tradicionais recebidas, para alcançar a própria realidade, além de todas as interpretações. Só com a razão histórica – com a razão que é a própria história – pode o homem dar a razão de si mesmo e projetar livremente sua vida pessoal, a partir de sua realidade originária e irredutível. A história, o órganon da autenticidade. (Introdução à filosofia, p. 342).

 

            A geração seria assim  a unidade concreta da cronologia histórica autêntica.

            Pelo exposto, a realização da vida nos remete a duas faixas  de questões: o horizonte histórico de nosso viver e o fundo pessoal de nós mesmos, configurado pelo fato da vocação. É a travessia com a nossa vocação, idêntica aos que pertencem ao grupo de indivíduos, que incide em nossa afirmação e faz da vida humana individual um acréscimo importantíssimo em nosso destino de seres gregários, entre o pensamento e o sentimento, atributos que são pertencentes a nós mesmos.  

           Na travessia de gerações baianas não se pode deixar de ser considerada a Geração Revista da Bahia. Sucedeu à fulgurante geração de Glauber Rocha, o fundador do Cinema Novo. A órbita de atuação da Geração Revista da Bahia foi a literatura e outros campos do conhecimento humano, como o cinema e as artes plásticas.  

            Com a dispersão da talentosa geração de Glauber Rocha, em 1964, outras gerações iriam despontar nos meios culturais de Salvador. A chamada Geração Revista da Bahia acontece nessa épocados de 1960. Seus jovens integrantes já demonstravam ser possuidores de certo instrumental crítico para a discussão dos temas literários e culturais.

            Este articulista fez parte da Geração Revista da Bahia, ao lado de  Alberto Silva, Marcos Santarrita, Ildásio Tavares, Ricardo Cruz, Adelmo Oliveira, Oleone Coelho Fontes, Fernando Batinga, Fernando Kraychete, o desenhista Nacif Ganem e o artista plástico Francisco Liberato, entre outros. Todos nós, iniciantes no fazer literário e na divulgação da cultura,  liderados pelo crítico e poeta Carlos Falck, o guru espiritual  do grupo, pretendíamos deixar nossa  impressão digital  no contexto literário e cultural da época. Alguns, como Ildasio Tavares e Marcos Santarrita, romperam tempos depois as fronteiras estaduais porque de fato elaboraram  uma obra significativa  no corpo do Brasil literário.   

          Geração Revista da Bahia. Levava esse nome porque o corpo redacional da  Revista da Bahia, órgão cultural da Imprensa Oficial, era formado pelos jornalistas Alberto Silva e Marcos Santarrita. A revista emprestava seu nome para denominar uma geração de promissores escritores e protagonistas culturais. Recebia em suas páginas colaborações desses novíssimos  intelectuais, contistas, poetas, ensaístas e desenhistas,  que tinham nos ombros o peso de susbstituir a  inquietante geração de Glauber Rocha,  a qual   havia sido dispersa pelo regime  militar de 64.  Era tarefa difícílima a de  uma geração constituída de jovens intelectuais substituir com o mesmo brilho aquela outra liderada pelo criador do Cinema Novo, que deixou pontos elevados na progressão da vida cultural de Salvador de Bahia.   

            Sempre com o apoio dos dois diretores da Imprensa Oficial, Germano Machado e José Curvelo, a Revista da Bahia foi para os artistas da geração 60, segundo Juarez Paraíso, responsável pela direção artística, o que significou os cinco números da revista Cadernos da Bahia, 1948, 1952, para os primeiros modernistas. Com Juarez Paraíso, a revista passou a ter um planejamento gráfico mais solto e moderno. Os números que foram lançados sob a sua responsabilidade artística foram enriquecidos com reproduções e ilustrações dos artistas Antônio Rebouças, Jamison Pedra, Hansen Bahia, Ângelo Roberto, Edsoleda Santos, Nacif Ganem, Manoel Araújo, Leonardo Alencar, Henrique Oswald, Riolan Coutinho, Edízio Coelho, Betty King, Francisco Liberato, Calazans Neto, Juarez Paraíso, José Maria, Sílvio Robatto, Genaro de Carvalho, Carlos Bastos, Raimundo Oliveira e outros.

          Considerando a idade biológica e afinidades culturais, o  elenco de intelectuais que formava a  Geração Revista da Bahia  pode ser ampliado  com os nomes de Luís Carbogini Quaglia, louvado contista do mar, Maria da Conceição Paranhos, poeta e ensaísta, Fernando Ramos e Guido Guerra, promissores romancistas,  José de Oliveira Falcón, o poeta de Canudos,  os cineastas Orlando Sena e Olney São Paulo e  o poeta Capinan.                                                                                                                                                       

            Na visão do ensaísta Cid Seixas, o mais importante lançamento de poesia na Bahia, no período compreendido entre 1964 e 1974, aconteceu com o livro ABC-reobtido, de Maria da Conceição Paranhos. O discurso da jovem poeta, com bases em pesquisa e   atualização estética, rejeitava os limites de certa retórica ornamental. Outro jovem intelectual baiano que desponta nas letras daquele período é Guido Guerra. Escritor de formação jornalística, ele trazia para a sua prosa de ficção os atritos e rupturas do homem cotidiano.

                A geração Revista da Bahia enfraqueceu com a ida de Alberto Silva, moderno crítico de cinema  e jornalista de um texto primoroso, para o Rio de Janeiro, em 1967, e logo a seguir a de Marcos Santarrita. Junta-se a isso o falecimento de Carlos Falk. Fui  para Itabuna onde exerceria a advocacia durante muitos anos. Permaneceram  em Salvador aquelas outras jovens vozes vocacionadas  para fazer da vida um consistente projeto literário e cultural.  

             Os sobreviventes da Geração Revista da Bahia dispersos,  sem contar com a força aglutinadora de Carlos Falck, presenças importantes de Alberto Silva e Marcos Santarrita,  já não tinham a mesma motivação para se encontrar  na Biblioteca Pública, localizada na Praça Tomé de Sousa,  nos botecos e bares da Rua da Ajuda, durante noites de sábado, na livraria Civilização Brasileira, na rua Chile, em final de tarde,  por onde toda a cidade passava na semana. 

            Quando então se discutia as questões de literatura atual, muitas vezes com veemência,  em torno de Kafka, Sartre, Brecht, Pessoa, Proust,  Joyce e Faulkner. Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Adonias Filho. Drummond, Jorge de Lima e Cecília Meireles. Era questionada a problemática social do indivíduo através do pensamento de Ortega y Gasset, Marx e Lukacs. A geopolítica do Brasil através dos estudos de Josué de Castro, a formação da família patriarcal brasileira com Gilberto Freire ou a evolução política do Brasil sob o método dialético marxista de Caio Prado Junior.

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Cyro de Mattos é ficcionista e poeta, publicado em Portugal, Itália, França, Alemanha, Espanha, Dinamarca e Estados Unidos. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro das Academias de Letra da Bahia, de Ilhéus e de Itabuna. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz.

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sábado, 18 de março de 2023

O JARDIM DA PREFEITURA 

Por: Cláudio Apê Alves Freire.


 


Hoje, acordei mais nostálgico como de costume, retrocedi aos anos 60 e me deixei estar no jardim da antiga prefeitura de Itabuna: o famigerado Jardim da Prefeitura! 

Naqueles anos dourados, quando ainda adolescente, aquela legendária praça, era o point da juventude, onde tudo acontecia alusivo à paquera e modismos da época. Os dias de sábado e domingo, no turno da noite, funcionavam como uma apoteose dos acontecimentos semanais.

Entretanto, a preparação para aqueles momentos encantadores e prolíferos, já que muitos frequentadores constituíram famílias a partir dali, tinha seu start já na enfadonha segunda-feira, como se fosse um ritual.

 A expectativa era gradativa, à medida que os finais de semana se aproximavam. Preliminarmente, era preciso ter a “mina” já em vista. E, em caso de reciprocidade da garota, se desse mole ou bola, conforme terminologia da época, nada de titubear logo na abordagem, o papo tinha que ser fluente e interessante, para não ser tachado de porre. Para isso, ensaios eram fundamentais, a fim de se evitar vexames de última hora e expor a temida timidez. A aparência, também não podia ficar em segundo plano. As diretrizes e bases da paquera sempre preconizavam roupas da moda. Por exemplo: uma calça Lee, comprada na“ Ilha dos Ratos” em Salvador ou mesmo uma Topeka comprada nas Casas Sales ou em J.Rihan (de jovens e bons artigos) ,  combinadas com uma camisa de anarruga e uma botinha Calhambeque; caíam muito bem.  Perfume, sim, sempre ao gosto do usuário, podia ser o “Lancaster” ou a “English Lavander”.  Enfim, tudo tinha que ser criteriosamente programado, já que a concorrência era sempre acirrada, principalmente com os playboys oriundos de outras plagas, como Ilhéus, Salvador ou do sul do País.

Mas, voltemos ao nosso cenário, Jardim da Prefeitura. Conforme dito, nos finais de semana, o desfile, sempre em círculos horários ou anti-horários, de acordo com o flerte, começava pontualmente às 20 horas e terminava, para as moiçolas sob rigorosas vigilâncias dos pais, impreterivelmente, às 22 horas, sob pena de serem submetidas à “brados retumbantes” e castigos pela desobediência. Para aqueles mais libertos, que podiam ultrapassar o horário “regulamentar” ou quando soltavam o “Homem nu” na praça, conforme de praxe, eram disponibilizadas duas emblemáticas programações as quais, às vezes, adentravam a madrugada do dia subsequente. 

A primeira, para os que tinham carro, era sintonizar a Rádio Mundial do Rio de Janeiro e ouvir a todo volume o programa intitulado, “Ritmos de Boite”, apresentado pelo precocemente falecido DJ Newton Alvarenga Duarte , o Big Boy. No programa, o DJ apresentava os sucessos de cantores e famosas bandas da época, como: Johnny Rivers, George Benson, Scott McKenzie, Beatles, Rolling Stones, The Mamas and The Papas, Herman’s Hermits , The Cowsills e outros.

A segunda programação, após o desfile do jardim, era a domingueira dançante do Itabuna Clube. Nesta, ao som dos conjuntos (como se chamava à época) Lord Ritmos, Os Grapsons e Joel Carlos, os casais se exibiam na dança dos mais diversos ritmos. Entre esses pares, destacavam-se os irmãos Humberto e Simone Netto, dando “calientes” shows nas músicas caribenhas; os irmãos Biró e Vera Apê, nos twist; Duduca Paixão e as mais diversas parceiras, no rock n’roll; e, Ceiça Sá e Gilsinho Rodrigues, nos boleros deslizados no bem cuidado salão encerado com cera Parquetina. Tudo isso ocorria, sob o vigilante olhar do rigoroso gerente do clube o Sr. Jacinto, que ao vestir algumas calças pouco compatíveis com a sua compleição física, ficava numa dúvida atroz: não sabia se reclamava dos casais que dançavam excessivamente coladinhos ou se ajeitava, as suas frouxas calças, colocando-as no prumo devido. Verdadeiro dilema, coitado!

Hoje em dia, apesar da praça ainda existir (Praça Olinto Leone), os points para esses fins mudaram de localização, principalmente com o advento do shopping center aliado às mudanças comportamentais dos jovens dos tempos modernos.

Entretanto, os programas citados, assim como outros (cinemas, teatros, piscinas do GTC e as lindas praias da vizinha cidade de Ilhéus) da então progressista cidade de Itabuna dos anos 60, preenchiam o tempo e os anseios dos jovens da terra, sem nada dever às grandes metrópoles do Brasil. Daí, a imensa saudade que todos os atores juvenis sentem daquela época de plena e irrestrita felicidade. Por isso é perfeitamente justificável esse meu acesso nostálgico neste dia, por saber que tudo alusivo àqueles tempos dourados, se iniciava na querida e saudosa praça do JARDIM DA PREFEITURA.

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quinta-feira, 16 de março de 2023

NOTA DE UTILIDADE PÚBLICA  


Depois dos 60 anos, pode-se experimentar muitos tipos de doenças.

- Mas, o que mais me preocupa é a doença de Alzheimer.

- Não apenas porque eu não poderia cuidar de mim mesmo, mas,  porque isso causaria muitos inconvenientes para os membros da minha família.

- Um amigo médico ensinou a outro amigo, um exercício com a língua que é eficaz para reduzir o aparecimento da doença de Alzheimer, e esse exercício também é útil para reduzir e melhorar:

1 - Peso corporal

2 - Hipertensão

3 - Coágulo sanguíneo no cérebro

4 - Asma

5 - Miopia

6 - Zumbido no ouvido

7 - Infecção na garganta

8 - Infecção do ombro / pescoço

9 - Insônia

 

Os movimentos são muito simples e fáceis de aprender. Todas as manhãs, quando você lavar o rosto, na frente de um espelho, faça o seguinte exercício:

- Estique a língua e mova-a para a direita e depois para a esquerda por 10 vezes seguidas.

- Desde que ele começou a exercitar sua língua diariamente, houve uma melhora na retenção de seu cérebro.

- Sua mente ficou clara e produtiva, e outras melhorias aconteceram

- 1 Ver melhor de longe

- 2 Sem tonturas

- 3 Maior bem-estar geral

- 4 Melhor digestão

- 5 Pouca gripe 

- 6 Ele se sente mais forte e mais ágil.

 Notas:

- O exercício da língua ajuda a controlar e prevenir a doença de Alzheimer.

A pesquisa médica descobriu que o exercício tem uma conexão com o grande cérebro.

Quando nosso corpo se torna velho e fraco, o primeiro sinal que aparece é que a nossa língua fica rígida, por isso tendemos a mordê-la.

- Ao exercitar a sua língua, você estimulará o seu cérebro.

Cada pessoa que recebe este boletim informativo deve repassar, para  ajudar a combater a doença de Alzheimer e melhorar qualidade de vida das pessoas e acabar com tremores nas mãos e pernas.

 

Vivendo e aprendendo. Compartilhe!

(Recebi via WhatsApp, sem menção de autoria)

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O espelho biseautê

Ignácio de Loyola Brandão

 


Para Paulo Caruso, amigo de uma vida. Abri o e-mail de Raquel Naveira, escritora mato-grossense, veio uma poética crônica. Ela, assim que publica na sua terra, envia aos amigos. Fui atraído pela frase: 'Restaurou a antiga penteadeira, com o espelho de cristal bisotado e a banqueta de couro, que ficava no quarto dela, a sua mãe'. Bisotado. Há quanto, quanto tempo não lia, sentia, esta palavra?

Vi dona Maria do Rosário, diante da penteadeira - também se dizia psyché - com espelho bisotado, às vezes chamado de bisotê. Depois, Fanny Marracini ensinaria que em francês é biseauté. O que significava? Por mais que olhasse para o espelho, não entendia, só via mamãe feliz. Papai me dizia, 'não sei o que é, mas sua mãe quando se senta na penteadeira, fica tão bonita'. Seria o biseautê? Mas o que era aquilo?

Perguntava, não respondiam. Desconfiei que não soubessem, ou fosse coisa que criança não podia saber. Quantas vezes eu entrava na sala, todos murmuravam 'tem criança' e se calavam.

Custava me explicarem o que era biseautê? Ou bisotado? Essa coisa que fazia mamãe bonita, feliz quando saía para o cinema, para a reza na matriz, para uma festa? Mal ela saía, eu ia para o quarto e ficava a olhar para o espelho, para meu rosto, a fim de saber se eu estava mudado, era mais bonito. Não, não estava, era feio. Esquisito, me condenavam.

Um dia, percebi que na margem do espelho havia um pequena região diferente. Um mínimo rebaixo. Chanfrado, disse vovô Vital. Quando me olhei nele, me vi bonito. Somente naquela moldura. Assim descobri o que era biseautê. Beleza. Cada vez que entrava no quarto, me olhava naquele estreito território, onde eu era bonito. Seria o mesmo com mamãe?

Um dia, vi mamãe pentear o cabelo, passar ruge, apanhar uma bola de vidro com quatro letras, Coty, passar o perfume, meu pai entrou: 'Você está mais linda do que nunca!'. Seria também aquele perfume?

Um dia, dia mais horrível, a funcionária que ajudava na faxina deixou cair o cabo do escovão que dava brilho no assoalho, e o espelho partiu-se em mil. A dor de mamãe. 'Meu espelho, me fazia tão linda.' Ajudei a pegar os cacos, encontrei pedaços do bisotado. E se eu guardasse um pedacinho dele, poderia mudar minha cara quando estivesse sozinho? Mudando a cara, as meninas da classe sorririam para mim, afilhado dono do bar me daria um naco do lanche dela, tão apetitoso. Um dia, a professora leu minha redação, chamava-se composição, e disse: 'Nota cem. A melhor redação do ano. Quero que todo mundo leia para saber como se faz'. Tirei meu espelho do bolso, olhei, ouvi: 'Você é o menino mais bonito da classe', dito pela Neuce, irmã da professora Lourdes.


É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE 'ZERO' E 'NÃO VERÁS PAÍS NENHUM'.

O Estado de S. Paulo, 12/03/2023

 

https://www.academia.org.br/academicos/ignacio-de-loyola-brandao

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Ignácio de Loyola Brandão - Décimo ocupante da Cadeira 11 da ABL, eleito em 14 de março de 2019 na sucessão do Acadêmico Helio Jaguaribe.

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terça-feira, 14 de março de 2023

ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: 14 DE MARÇO - DIA DE CASTRO ALVES

NAVIO NEGREIRO

Tragédia no mar



I

’Estamos em pleno mar. Doido no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm, cansam
Como turba de infantes inquieta.

’Estamos em pleno mar. Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro…
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro.

’Estamos em pleno mar. Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes…
Qual dos dois é o céu? qual o oceano?

’Estamos em pleno mar. Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas.

Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode Nesta hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar, em cima — o firmamento!
E no mar e no céu — a imensidade!

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!

Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia…
………………………………………………….

Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doido cometa!

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviatã do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.

II

Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
Às vagas que deixa após.

Do espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!

O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!

Os marinheiros Helenos,
Que a vaga iônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu,
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu!

III

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais, inda mais, não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí? Que quadro de amarguras!
Que canto funeral!  Que tétricas figuras!
Que cena infame e vil! Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

IV

Era um sonho dantesco… o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros, estalar de açoite,
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar.

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente…
E da ronda fantástica a serpente
Faz doidas espirais …
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos, o chicote estala.
E voam mais e mais.

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!”

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doidas espirais…
Qual um sonho dantesco as sombras voam!
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!

V

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus?
Ó mar, por que não apagas
Com a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa…
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!…

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus…
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão…

São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe… bem longe vêm…
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N’alma — lágrimas e fel…
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.

Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis…
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus …
… Adeus, ó choça do monte,
… Adeus, palmeiras da fonte,
… Adeus, amores, adeus!

Depois, o areal extenso…
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos… desertos só…
E a fome, o cansaço, a sede…
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai pra não mais se erguer!…
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas da amplidão!
Hoje… o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar…
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder…
Hoje… cúmulo de maldade,
Nem são livres pra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoite… Irrisão!…

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro… ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?
Ó mar, por que não apagas
Com a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

VI

E existe um povo que a bandeira empresta
Pra cobrir tanta infâmia e cobardia!
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa… chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança…
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

 

Antonio de Castro Alves, natural de Cabaceiras, Estado da Bahia, nasceu em 14/03/1847 e faleceu aos 24 anos em 06/07/1871. Suas poesias, quase todas elas do mais espontâneo lirismo, foram enfeixadas num volume que denominou Espumas Flutuantes, cuja primeira edição saiu em 1870. Deixou ainda A Cachoeira de Paulo Afonso em 1876. Deste mesmo ano é o drama histórico Gonzaga ou a Revolução de Minas. Suas obras completas foram editadas em 1921 e contam inúmera reedições, sendo possivelmente o mais lido dos nossos poetas Juntamente com Tobias Barreto inaugurou uma nova fase na poesia brasileira – o condoreirismo.

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