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quarta-feira, 17 de julho de 2019

ITABUNA CENTENÁRIA UM SONETO: Guilherme de Almeida - Soneto


Soneto 
  
Hoje – voltas-me o rosto se a teu lado passo; 
E eu baixo os meus olhos se te avisto;
E assim fazemos, como se com isto
Pudéssemos varrer nosso passado.

Passo, esquecido de ter de te olhar, coitado!
Vais – coitada! esquecida de que existo,
Como se nunca tu me houvesses visto,
Como se eu sempre não te houvesse amado!

Se acaso sem querer nos entrevemos,
Se, quando passo, teu olhar me alcança,
Se os meus olhos te alcançam quando vais ...

Ah! só Deus sabe e só nós dois sabemos!
Resta-nos sempre a pálida lembrança
Daqueles tempos que não voltam mais!


(GUILHERME DE ALMEIDA)
Messidor, XXVII

.......
GUILHERME DE ALMEIDA

            Poeta da moderna geração, nascido em Campinas em  24/7/1890, membro da Academia Brasileira de Letras (Cadeira 
nº 15). Publicou diversos livros de poesias, dentre os quais: Nós (1929), Livro das horas (1929), Messidor (1919), Livro das horas de Soror Dolores (1920), Era uma vez (1922), A frauta que eu perdi (1924), Natalika (1924), Poesias escolhidas (1931), Você (1931).

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ITABUNA CENTENÁRIA SORRINDO: SÃO JORGE – Nelson Gallo


           Aconteceu há muito tempo. Montado no seu cavalo de estimação, o homem trotava pela estrada de Itajuípe para Itabuna quando encontrou um amigo andando a pé em sentido inverso. Cumprimentaram-se, depois o homem que seguia a pé indagou do outro para onde se jogava.

             - Vou à Ilhéus.

             - E ainda espera chegar hoje?

             - Com esse cavalinho não preciso nem que São Jorge me ajude prá chegar antes das sete da noite - respondeu o cavaleiro.

            Cumprimentaram-se e cada qual seguiu o seu caminho. Menos de cem metros depois o cavalo caiu, jogando o cavaleiro no chão. O homem levantou-se, sacudiu a roupa e, esfregou a perna contundida, depois se ajoelhou na estrada e rezou:

            Meu São Jorge, eu só tava pilheriando. Será que vosmincê é assim tão mardoso que se zanga com quarqué pilherinha boba que a gente faz?

            Montou novamente e, durante o resto da viagem, a todos que lhe perguntavam para onde ia ele respondia:

            Pra Ilhéus, se São Jorge quiser...


(O SORRISO DO CACAU)
Nelson Gallo

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