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sexta-feira, 31 de março de 2017

A LISTA FECHADA DO CONGRESSO BRASILEIRO – Eduardo Affonso

(Como vai funcionar o voto em lista fechada na prática)



"- Garçom, me veja o cardápio, por favor.

- Nós não trabalhamos mais com cardápio, senhor.

- Vocês usam uma tabuleta, você me fala os pratos?

- Não, senhor, trabalhamos agora com lista fechada.

- Como assim, "lista fechada"?

- O senhor escolhe o restaurante (no caso, escolheu o nosso), e o nosso gerente escolhe o que o senhor vai comer.

- E o que é que eu ganho com isso?

- O senhor não precisa perder tempo escolhendo.

- Mas como vou saber o que vou comer?

- O senhor come o que o gerente achar que o senhor deve comer.

- Mas baseado em quê, se ele não sabe do que eu gosto.

- Baseado nos critérios dele.

- Que são...

- Ele pode querer que sejam os pratos mais caros. Ou os que usam ingredientes que estão com prazo de validade perto de vencer. Ou os que já estão prontos. Ou os que dão menos trabalho. Isso não cabe ao senhor decidir.

- Então eu me sento e...

- Senta, come o que o gerente quiser, e paga a conta.

- E se eu não gostar do prato?

- Nós não trabalhamos com essa possibilidade, senhor. Gostando ou não, vai pagar a conta do mesmo jeito.

- Bem, acho que vou então para outro restaurante...

- Todos agora trabalham assim, senhor.

- Mas quem decidiu isso?

- O Sindicato dos Donos dos Restaurantes.

- Pois então eu não vou mais comer fora. Vou comer em casa.

- Não tem problema, senhor. Posso trazer a conta?

- Que conta? Não vou comer nada...

- A do Fundo Suprapartidário dos Restaurantes. Comendo aqui ou em casa, o senhor tem que financiar os restaurantes.

- Por que é que eu tenho que financiar vocês?

- Porque se não financiar por bem, nós vamos conseguir o financiamento de outra forma, que é assaltando o senhor - um método também conhecido como Caixa Registradora Dois. O senhor pagar diretamente é muito mais civilizado, não acha?

- E quem me garante que eu pagando vocês não vão me assaltar do mesmo jeito?

- Ninguém, senhor. Ah, não aceitamos cartão. E os 10% são obrigatórios...”


Essa é uma das propostas da Reforma Política dos seus nobres representantes no congresso... A Lista Fechada.


Eduardo Affonso

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CAIPORA - Marília Benício dos Santos

Caipora


          No meu tempo de criança, vivia apavorada com a caipora que, na época, era cantada e decantada.
Costumávamos passar as férias na Fazenda Guanabara. Esta fazenda foi a primeira que papai adquiriu. Era muito bonita. Para nós, crianças, era o pequeno Eldorado. É minha recordação mais remota. Lembro-me que a casa era branca, tinha na frente uma varanda com grade de madeira em toda ela. Ali ficávamos vendo o gado ser conduzido ao curral, os trabalhadores voltando do serviço e o trem passar.
  
          Hoje, a Guanabara pertence a Oscar e a Iara. Eles conseguiram, com os recursos atuais, torná-la mais atraente e mais bonita. Fui passar o dia com eles e gozar um pouco daquela tranquilidade. Não existe mais nada da minha infância, nem podia. Mas o ar, o céu, as árvores, estão todos ali com a mesma disposição para acolher-me. Deitei-me numa linda rede armada na varanda e comecei a olhar as coisas em volta de mim: os pássaros cantando, um beija-flor a pousar de flor em flor, saboreando todo o seu encanto,  as galinhas d’água no ribeirão ao lado, coberto de baronesa, pareciam dançar ao som do coaxar dos sapos. E eu ali assistindo àquele espetáculo que a natureza me oferecia. Mas terminei dormindo um sono tranquilo, mas profundo. E sonhei: que o trem ia passar, estava apitando, cheguei a ouvir o seu apito “PI...u...ii...pi...u...ii... café com pão, bolacha não, café com pão, bolacha não...” No sonho, repetia-se a façanha da infância: saía correndo com os meus irmãos para ver o trem passar. Podíamos vê-lo da varanda. Mas só era válido se corrêssemos até a cancela. Na descida da ladeira, escorreguei e caí. – Coisa que sempre acontecia em minha infância! – Com o susto, - que pena! – acordei. Foi mesmo um azar. Estava tão gostoso!
  
          Continuei sonhando acordada. Era noite de lua cheia, todos nós sentados na varanda para ouvir histórias. Naquela noite, João Peixe, um dos trabalhadores contava-nos a história da caipora. Ouvíamos o relato com prazer e pavor ao mesmo tempo. Como sempre não ouvi o final. Lembro-me que as últimas palavras que consegui ouvir de João Peixe foram: “a caipora enganou e a menina se perdeu no mato”.

          Quando acordei no dia seguinte, estava triste e desapontada porque não ouvi o resto da história e também porque não consegui, mais uma vez, dormir na rede da sala. Dirceu ganhou novamente. Fui fazer queixa a papai e ele me disse: “Hoje você dorme na rede. Vamos comigo lá na roça?” Chamei Dina e acompanhamos papai.

           - Será que vocês acertam ir até em casa? – perguntou papai.

           - Sim, acertamos.

           - É só seguir o caminho em frente.

          Não me lembro bem o que íamos buscar. Mas fomos contentes, ouvindo os grilos cantar e olhando os cacaueiros carregados. É muito bonito andar numa fazenda de cacau! O fruto do cacaueiro se espalha por todo o seu caule. Há cacau de várias cores: verde, amarelo, azul, vermelho e, quando marcado pela podridão, pardo, preto. Seguíamos o caminho sem perdê-los de vista. Quando chegamos ao topo da ladeira, o caminho se bifurcava. E agora? Qual o caminho a seguir? Optamos por um que, infelizmente, não era o verdadeiro.
  
           - Julinha, a caipora nos enganou. Estamos perdidas.

          E Dina começou a gritar apavorada. Quando verifiquei que ela estava com razão, gritei mais ainda:

          - Papai! Paa...paa...iii...

          Cada vez ficávamos mais apavoradas e gritávamos mais. O nosso medo aumentou quando vimos um calango muito grande que, assustado com os nossos gritos, saiu correndo por entre as folhas do cacau.
  
          Felizmente, os nossos gritos chegaram até papai que veio ao nosso encontro.

          - O que vocês vieram fazer aqui?

           - Foi a caipora que nos enganou.

          - Qual caipora! Caipora não existe.

          - Existe, sim. João Peixe ontem contou que ela...

          - Esta história de João Peixe é bobagem. Vocês não devem ter medo. Vamos para casa...

           - Tia, você quer coca-cola?

          Outra vez fui despertada de meus sonhos.

          - Paulinho, você não se acanha de oferecer-me coca-cola aqui, em plena natureza?

          - Então, um suco de caju?

          Maravilhoso! Um suco de caju, sim. Vá buscar rápido.

          Enquanto esperava o suco de caju, olhando o céu muito azul que parecia encontrar-se com as folhas verdes da mata, refletia sobre aquele fato ocorrido na minha infância quando, desesperada, gritei por papai. E, como por encanto, ele apareceu. Como o bom pastor atrás da ovelhinha perdida.

          É tão bom pensar que existe Aquele Pastor que está sempre atento precisando apenas ser solicitado!

          - Tia, o seu suco.

           - Obrigada, Paulinho!

           - Obrigada, meu Deus!


 (ARCO-ÍRIS)

Marília Benício dos Santos


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CONEXÃO DIVINA - Mírian Warttusch

Conexão  Divina 




Seja alma e coração, aqui agora a falar! 
Iluminai-nos, meu Deus, hora santa para orar.

Meus lábios fazem a prece, coração acelerado…

Tudo que eu possa pedir, seja por certo alcançado.

Eu só quero alçar minh'alma, iluminada a voar,

Para encontrar-te, meu Deus, Universo a rebrilhar.

Tanto mais eu me aproximo, das estrelas de meu Deus,

Tanto mais, tenho a certeza, são elas mistérios Teus.

Via Láctea efervescendo, em caracóis estelares,

Façais vir a mesma luz, caindo nos nossos lares.

Sejamos abençoados, como amigos, como irmãos,

Estejamos sempre juntos, nesta hora de oração.

Deus está aqui presente, em tamanha Onipotência,

Só a fé pode explicar - contradiz toda a ciência.

Alma e corações unidos, tanta luz ninguém já viu!

Cintila nos nossos olhos, no nosso peito explodiu! 


Mírian Warttusch

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ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - Música de Câmara: "Villa-Lobos - 130 anos"

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“Música de Câmara na ABL” de abril apresenta concerto com o Quarteto Radamés Gnattali


A Academia Brasileira de Letras dá início à sua série “Música de Câmara na ABL” de 2017, sob coordenação do Acadêmico Marco Lucchesi, com concerto do Quarteto Radamés Gnattali (Carla Rincón, violino; Andréia Carizzi, violino; Marco Catto, viola; e Hugo Pilger, violoncelo), intitulado “Villa-Lobos – 130 anos”. O espetáculo está programado para o dia 6 de abril, quinta-feira, às 12h30min, no Teatro R. Magalhães Jr., na Avenida Presidente Wilson 203. Entrada franca.

Na oportunidade, o grupo estará comemorando os 130 anos de nascimento do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), apresentando as aberturas dos 17 quartetos escritos por ele ao longo de sua vida: “Condensar a obra para quarteto de cordas do maestro em um concerto é tentar fazer da Floresta Amazônica um bonsai, somente possível com um extenso conhecimento e cuidado nessa escolha, tarefa para o único grupo brasileiro a gravar a obra em DVD e Blu-Ray e a executar sua integral ao vivo na América do Sul”, garantem os produtores da série.

PROGRAMA – O melhor de Villa-Lobos: Quarteto n° 1 Opus 50 (1915) II - Brincadeira (Allegretto scherzando) Quarteto n° 3 Opus 56 (1916) II - Molto Vivo Quarteto n° 5 (1931) III – Andantino – tempo giusto e ben ritmado Quarteto n° 7 (1942) III - Scherzo (Allegro Vivace) Quarteto n° 9 (1945) I – Allegro Quarteto n° 11 (1947) III - Adagio Quarteto n° 13 (1951) III - Adagio Quarteto n° 14 (1953) IV - Molto Allegro Quarteto n° 15 (1954) II – Moderato Quarteto n° 16 (1955) II - Molto Andante (quasi Adagio) Quarteto n° 17 (1957) IV - Allegro Vivace (con fuoco).

Saiba mais

Vencedor dos prêmios Rumos Itaú 2007 e XIII Prêmio Carlos Gomes como melhor conjunto de câmara do Brasil em 2009, indicado para o Grammy Latino 2012, Prêmio da Música Brasileira 2013 e Prêmio de Cultura do Governo do Rio de Janeiro 2012-2013, o Quarteto Radamés Gnattali despontou como o primeiro no mundo a gravar em DVD e BluRay os 17 Quartetos de Cordas do compositor. No âmbito educacional, gravou 13 programas para a televisão dedicados aos quartetos de Heitor Villa-Lobos e realiza o projeto Brasil de Tuhu, levando a música do compositor brasileiro às crianças de escolas públicas do Brasil.

30/03/2017



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