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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

ACADÊMICO E ECONOMISTA EDMAR BACHA FAZ A QUARTA PALESTRA DO CICLO DE CONFERÊNCIAS “O QUE FALTA AO BRASIL?”


O economista, sócio fundador e diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças e Acadêmico Edmar Lisboa Bacha é o palestrante convidado da quarta conferência do ciclo O que falta ao Brasil? O tema a ser abordado é Porque ficamos para trás. O ciclo tem como coordenadora a Acadêmica e escritora Rosiska Darcy de Oliveira. O evento está programado para o dia 22 de agosto, quinta-feira, às 17h30min, no Teatro R. Magalhães Jr. (Avenida Presidente Wilson, 203, Castelo, Rio de Janeiro). Entrada franca.

A Acadêmica e escritora Ana Maria Machado é a coordenadora geral dos Ciclos de Conferências de 2019.

Os Ciclos de Conferências, com transmissão ao vivo pelo Portal da ABL, têm o patrocínio da Light.

Serão fornecidos certificados de frequência.
O ciclo terá mais uma conferência no mês de agosto, no mesmo local e horário: Um futuro pior que o passado? Reflexões na antevéspera do bicentenário da Independência, com o diplomata Rubens Ricupero, quinta-feira, dia 29.

O Acadêmico

Edmar Lisboa Bacha é sócio fundador e diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, um think tank no Rio de Janeiro, e também membro da Academia Brasileira de Ciências.

Formou-se em economia pela Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG. É um dos primeiros economistas brasileiros com doutorado no exterior, pela Universidade de Yale, em 1968.

Em 1974, publicou uma fábula sobre o reino de Belíndia, junção de Bélgica com Índia, que se tornou desde então uma imagem recorrente do Brasil.

Integrou a equipe econômica que dominou a hiperinflação com o Plano Real, em 1994.

Foi presidente do BNDES e do IBGE, e professor em diversas universidades brasileiras e americanas. No setor privado, foi consultor sênior do Banco Itaú BBA e presidente da Associação Nacional de Bancos de Investimento.

Autor de 12 livros, organizou 18 livros sobre temas econômicos, políticos e sociais do Brasil e da América Latina. Publicou também cerca de 200 artigos em periódicos especializados e, aproximadamente, 100 artigos em órgãos da imprensa.

Seu último livro autoral é Belíndia 2.0: Fábulas e Ensaios sobre o País dos Contrastes (Civilização Brasileira, 2012). O último livro que organizou é A Crise Fiscal e Monetária Brasileira (Civilização Brasileira, 2016). Ambos foram agraciados com o Prêmio Jabuti.

Livro em sua homenagem, com o título De Belíndia ao Real: Ensaios em Homenagem a Edmar Bacha, com textos apresentados por colegas e ex-alunos em seminário na Casa das Garças, será publicado ainda este ano pela Civilização Brasileira.

Leitura complementar

Para consultar mais materiais como os citados, acesse o link abaixo e visite os "Levantamentos bibliográficos" realizados para este evento.


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AMANTES - Ariston Caldas


          Chegou em casa de Dulce no início da noite. A casa estava fechada e tinha uma lâmpada acesa refletindo claridade por um vidro amarelo da porta da frente, realçando pequenas manchas cor de ferrugem. A rua estava escura e deserta, sem um pé de pessoa.

            - Dulce! Dulce!  - ele chamou assim. Instante depois a luz se apagou, mas tudo continuou em silêncio.

            Quando era menino, acordou assustado altas horas da noite sentindo os olhos como se estivessem grudados de goma, com sensação de quem não sabe onde está. O telhado era preto, as paredes eram pretas e nem uma réstia aparecia pela cumeeira, provavelmente era noite de escuro. O jeito foi gritar, assustando o pai e a mãe que dormiam num quarto ao lado.

            Mas Dulce não sentia medo. Ela teria apagado a lâmpada, indo sozinha deitar-se na cama, pensando coisas à esmo, no escuro.

            - Será que ela está sozinha? -  indagou-se de súbito com pensamento vadio. Sentiu ciúme e voltou a chamá-la. Numa casa em frente um sujeito barbudo abriu uma janela e tornou a fechá-la. Estaria curioso ou incomodado.

            Lembrou de um vizinho de cara redonda e esparrada que morava parede-meia e se parecia com um ajudante de caminhão que conhecera na infância. Já o vira conversando com Dulce no passeio e na conversa o sujeito apalpava um braço dela. Lembrou que os quintais das duas casas eram separados por um muro baixo que tinha ao lado um pé de Pitanga e, em cima, uns jarros com flores amarelas.

            Teria ouvido pisadas dentro da casa que continuava escura como Breu. Nem podia entrar para a varanda, toda lacrada a cadeado. Impaciente, afastou-se até uma esquina próxima e ficou de olho para um lado, para outro, confuso e nervoso. Voltou e chamou novamente, quase gritando. Aí ouviu ruídos na fechadura. Era Dulce destrancando a porta:

            - Ô, gente! - Ela falou meio assustada.

            - Está surda! - Exclamou ele.

            - Tava tomando banho - acrescentou Dulce.

            - Por que apagou a luz? - Fui me deitar - concluiu ela, contrafeita, trancando a porta que rangeu sutilmente. A cabeça dele perturbava-se a cada instante cheia de interrogações. Pensou novamente no sujeito da cara redonda quem residia ao lado. O muro que separava os dois quintais passou-lhe outra vez pelo juízo, queimando-lhe o miolo. Entrou para o quarto. Na cama, um cobertor desordenado, dois travesseiros desalinhados e uma toalha de rosto pendurada na cabeceira. “Alguém teria escapulido pela porta dos fundos” – maldou, rebuscando imagens criadas por sua imaginação embaralhada cheia de cismas. Observou a posição dos objetos, dos móveis. Tudo no lugar de costume. Pensou farejar os panos da cama, mas passou um rabo de olho para Dulce e acanhou-se. Apalpou um braço dela - estava quente e enxuto. “Ela não tomou banho agora coisa nenhuma. Está mentindo”. Admitiu, já irritado. O vizinho da cara redonda voltou a infernizá-lo pulando o muro baixo e cheio de flores, sustentando com uma mão o cós da calça despencando. Foi ao sanitário e viu bem que o piso do banheiro estava enxuto. “Ninguém tomou banho agora por aqui. Mulher é bicho do capeta!” – resmungou. Ao sair do sanitário, cravou um olhar duro para Dulce, mirando-lhe de cima a baixo. Aí o telefone tocou. Dulce atendeu dando-lhe as costas e falando muito baixo, não lhe permitindo ouvir coisa nenhuma. Depois, mordeu o lábio inferior, apertou o olho e desligou o aparelho.

            Sem mais questionar nada com ela nem a inquirir sobre coisa alguma, voltou para o quarto e deitou-se de papo para cima, jogando um braço encolhido sobre a testa.

            Passou o resto da noite sem pregar um olho, virando-se de um lado para o outro, cheio de maldade e de dúvidas. Ao amanhecer tirou uma madorna e sonhou com o sujeito da cara redonda pulando o muro do quintal.

            - Pilantra! - gritou, atordoado, já sentado no meio da cama. Dulce, de sono solto, mexeu-se de leve e ressonou profundamente, virando-se para a parede.

            - Porra! -  Acrescentou ele, já perfeitamente acordado.


(LINHAS INTERCALADAS – 2ª Edição 2004)
Ariston Caldas.

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