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sexta-feira, 2 de março de 2018

DE PAI PARA FILHO: O GOLEIRO LELETA E SUA HISTÓRIA


Por Edônio Alves

Desta feita, mais uma vez amparado pela relação literatura e futebol, vamos destrinçar aqui a história de uma grande homenagem, tecida pelas malhas da ficção. O autor deste conto de futebol é Cyro de Matos, um experiente escritor que tem no jogo de bola aos pés uma das chaves de sua literatura abrangente e multifacetada. A análise que fizemos do seu texto, abaixo, visa tão somente apresentar ao apreciador deste blog (porque uma análise literária mais abrangente não caberia nesse espaço) a perícia que alguns escritores do tema têm ao jogar com a palavra como se bola elas fossem. Boa leitura!

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O goleiro Leleta

Esta é uma narrativa simplória sobre futebol, o que não quer dizer desprovida de tom dramático e certo lirismo às vezes bucólico, às vezes elegíaco, que derrama seus efeitos sobre o leitor. O motivo do texto é contar uma situação humana particular vivida por entre um clima que mistura festa e alegria com pesar e tristeza. E em meio a tudo isso, o flagrar-se a universalidade do futebol enquanto motivo de sociabilidade humana presente nas mais diferentes culturas e nos mais distantes e longínquos rincões do mundo.

O bucolismo do texto é responsável por apresentar ao leitor essa faceta ubíqua da facilidade do jogo de bola em servir de fator de congraçamento universal entre os homens estejam onde eles estiverem. Trinta blocos-parágrafos de texto, quem sabe figurando os trinta anos de existência do Expressinho de Burburinho do Paraíso, clube de um lugarejo cerca de vinte quilômetros perto de Rio Claro, cidade onde se desenrola a história, são usados pelo narrador para contar um dia na sua vida e na vida de Leleta, o goleiro do time em apreço, que ao evitar um gol defendendo um pênalti em favor do adversário, dá o primeiro título ao clube fundado pelo seu pai, logo no dia em que ele morreu.

Depois de apresentar o lócus dos maiores atrativos da gente pacata dos dois lugarejos ­ em que se desenrola a história, nos dois blocos-textos que seguem:

“Em Rio Claro existe uma praça com jardim. A bandinha toca valsas, choros e marchas no coreto, aos domingos pela manhã. O cinema foi instalado no salão atrás da feirinha. O padroeiro da cidade é Santo Antônio, sua pequena igreja foi construída numa colina e é avistada de qualquer parte da cidade. Os fiéis chegam até à igreja depois de subirem uma escadaria com muitos degraus”.

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“Burburinho do Paraíso (…) é bastante falado por causa da feira que funciona na pracinha onde o trem faz uma parada antes de seguir para o fim da linha, nas imediações do vilarejo de Serra Grande. O movimento é intenso em Burburinho do Paraíso aos sábados. A feira tem tudo que se possa imaginar. (…) Os moradores de Burburinho do Paraíso dizem que ali é que é lugar de viver. Ora essa, é um lugar mais bonito que Rio Claro. Nem se pode comparar” -, 

o narrador desce propriamente às coisas do futebol sugerindo ligeiramente o clima de rivalidade entre as duas localidades. É esse clima que vai servindo de pano de fundo para se descortinar, através de uma prosa escorreita e leve, emocionalmente envolvente e psicologicamente empatizante, o dia triste de Leleta, vivido na mais esfuziante alegria, com a conquista do título de campeão pelo clube fundado pelo seu pai e no qual era ídolo da torcida.

“Quando se discute futebol em Rio Claro, na praça ou em outro lugar, o torcedor do São José Futebol Clube, sem esconder certo orgulho na voz, diz que o seu time é o mais querido na cidade. É o que tem mais torcida e mais títulos de campeão, entre os filiados à Liga Amadora de Futebol de Rio Claro”.

Todavia, há que se registrar, é precisamente esse contraste de uma cidade maior com um time melhor que prepara e potencializa, ao nível da narrativa, o impacto dramático do título de campeão, conseguido pelo Expressinho de Burburinho do Paraíso e vivido por Leleta, justamente no dia em que este perde seu pai:

“Quem esteve com o goleiro Leleta antes de começar o jogo ficou admirado de sua passiva tristeza. Ele explicou que queria jogar aquela partida de qualquer maneira porque nada mais adiantava fazer. ´(…) Essa é uma hora que chega pra todos nós`, observou, com seu jeito simples. Mas não ia ser um acontecimento difícil daquele que ia tirar a sua tranquilidade e impedir que defendesse as cores do Expressinho de Burburinho do Paraíso”.

Consta, como se sabe, que o jogo houve e que o Expressinho de Burburinho do Paraíso foi campeão sobre o São José Futebol Clube, para a alegria e a tristeza do seu goleiro Leleta. E consta também que é típico do futebol o assentar-se sobre certos paradoxos de fundação, como o de separar para unir, o de perder pra ganhar, por exemplo; e aqui, o de sorrir para chorar, como conta Cyro de Matos nesta narrativa sob este aspecto bastante exemplar.

“Tudo era só festa na arquibancada e na geral. A torcida do Expressinho de Burburinho do Paraíso vibrava e cantava. Torcedores abraçavam-se. No gramado, um menino, que tinha Leleta como seu maior ídolo e depois viria a escrever esta história, viu quando o goleiro pegou a bola com as mãos sujas e aninhou-a no peito, como se estivesse tentando abafar uma dor que vinha pulsando dentro dele. (…) Geralmente, o goleiro atirava a bola ou sua camisa para o velho Neco no meio dos torcedores, onde sempre gostava de ficar, quando o Expressinho de Burburinho do Paraíso ganhava uma partida importante”.

Esta partida era particularmente importante, mas este não é o fim de tudo porque ainda consta que, então, o goleiro Leleta chorou muito só  – muito só -, debaixo do gol.

PARA SABER MAIS:

O conto O goleiro Leleta, analisado acima, integra a coletânea de história curtas organizada pelo autor, intitulada Contos brasileiros de futebol, publicada pela editora LGE, de Brasília, em 2005, e o livro O Goleiro Leleta e Outras Fascinantes Histórias de Futebol, Prêmio Adolfo Aizen da União Brasileira de Escritores, Rio de Janeiro,  Editora Saraiva, São Paulo, 2009.


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VENEZUELA: igrejas sem hóstias para a Comunhão


28 de Fevereiro de 2018
Paulo Roberto Campos
         

           
A derrocada da Venezuela, fruto da implantação do regime bolivariano-comunista — que os governos petistas queriam reproduzir no Brasil, nunca é suficiente insistir — trouxe à cena não somente um grande êxodo, centenas de milhares de venezuelanos fugindo da fome, mas também famílias procurando comida no lixo, outras comendo carne de cachorro, mercados com as prateleiras vazias, farmácias e hospitais sem remédios, crianças morrendo de desnutrição, pais que entregam os filhos para adoção por não terem como sustenta-los, inflação astronômica etc. etc.

          Na outrora prospérrima Venezuela, o descalabro não para aí. Ele atingiu o inimaginável: os jornais noticiam que em várias igrejas do país não há distribuição da Sagrada Eucaristia durante a Missa por falta de hóstias! Ou seja, não há farinha para produzi-las e assim os fiéis católicos ficam sem a comunhão.
       
            O Vaticano — cujo atual Secretário de Estado foi durante vários anos Núncio em Caracas — não tem conhecimento dessa calamidade? Não escutou nada, não viu nada e não fala nada? Sobretudo, não condena os ditadores Fidel castristas que estão transformando a nação venezuelana numa Cuba de extrema miséria espiritual e material?

Rezemos pela pobre, infeliz e castigada Venezuela. Lembrando a parábola do “Filho pródigo” do Evangelho, posso afirmar que ela está literalmente comendo as bolotas dos porcos. Quando regressará à casa materna da Virgem de Coromoto, sua tão bondosa e querida Padroeira? Não estará Ela muito esquecida? Nossa Senhora poderá obter de seu Divino Filho a solução para todos os problemas, desde que os venezuelanos se voltem para sua Padroeira com verdadeiro arrependimento, com o coração contrito e humilhado.


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