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quinta-feira, 14 de setembro de 2017

ITABUNA CENTENÁRIA ONTEM: Tarde de Cultura

14/04/2010


ITABUNA CENTENÁRIA  passou esta tarde visitando o Centro de Documentação e Memória Regional- CEDOC, na Uesc.

Lá, fomos muito bem recebidos pela Stela Dalva Teixeira que fazendo jus ao nome que recebeu brilha mesmo sem querer. Ela interrompeu seu trabalho para nos mostrar o acervo, explicando cada detalhe com a impressionante segurança de quem sabe o que fala, não deixando pergunta alguma sem uma resposta completa. Fátima Barros fotografou cada detalhe.

O acervo está sendo organizado e acondicionado em caixas plásticas, em cores diversas, cada cor representando um assunto. Diferentes daquelas caixas de papelão, de difícil limpeza.

Visitamos e fotografamos a galeria de fotos de antigos professores e funcionários da Universidade. Destacamos Valdelice Soares Pinheiro, Raimundo Jerônimo Dias Uchoa, Amilton Inácio Costa, Manoel Simeão Silva, Flávio José Simões Costa, Antonio Fábio Dantas...

Stela Dalva falou-nos também da documentação da antiga USINA VITÓRIA de ilhéus que está sendo transferida de caixas de papelão para  caixas plásticas. Há montanhas de enormes livros  contendo toda as edições do Diário da Tarde de Ilhéus, do Jornal Oficial, do Diário de Itabuna, Tribuna do Cacau, O Intransigente, e outros  antigos jornais de Ilhéus e de  Itabuna. Stela Dalva contou da preocupação do CEDOC com documentos históricos em toda a região que não recebem tratamento adequado, citando exemplo da cidade de Itajuípe, onde, diz, não há nem energia elétrica, no local onde são guardados tais tesouros. Falou sobre o grande número de livros e papeis que não deverão permanecer no acervo e que, infelizmente terão como destino final o lixo já que não existe por enquanto meio de reciclar todo esse material.

Impressionante ouvir Stella discorrer sobre o assunto acervo, sobre todos aqueles documentos que a cercam. Ela vai falando tão naturalmente, interrompendo quando o seu ouvinte faz alguma pergunta ou comentário, momento em que pacientemente abre um parêntese, responde a pergunta, fecha o parêntese e recomeça a falar com voz  num tom ideal, com elegância e, principalmente, com a segurança de quem sabe, de quem é autoridade no assunto. ITABUNA CENTENÁRIA guardou uma frase dita por Stela e que serve para reflexão: “DOCUMENTOS ORGANIZADOS É ACERVO; DOCUMENTO NÃO ORGANIZADOS É DEPÓSITO DE PAPEL.”

ITABUNA CENTENÁRIA ganhou de presente do CEDOC a coleção “CADERNOS DO CEDOC – Publicação do Centro de Documentação e Memória Regional da UESC”, que enriqueceu a sua biblioteca. Também xerocou páginas da monografia História da  Educação:Trajetória do Colégio Estadual de Itabuna 1957 – 1970 de Edna Maria de Souza e Marta Tereza Souto Portella, para uma postagem em Blogs sobre o COLÉGIO ESTADUAL DE ITABUNA.
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Na  visita que fez ao CEDOC, Itabuna Centenária conversou também com o professor João Cordeiro de Andrade, que fez questão de abrir o nosso site e teceu comentários elogiosos sobre os temas postados, reclamou de que não gosta de ser fotografado, mostrou-nos  cadernos com lindas fotos e textos de alguns dos muitos trabalhos que realizou e deu-nos dicas com telefones e endereços de pessoas que são como arquivos vivos que poderão nos fornecer assuntos 100% seguros para postagens. Agradecemos muito a essa figura bela, o professor JOÃO CORDEIRO.
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Na sua visita ao CEDOC, Itabuna Centenária ouviu  o jovem Zidelmar Alves Santos, estudante do curso de História, na UESC que, no CEDOC, trabalha na Transcrição de Documentos da Primeira Metade do Século XIX,  Antigos Livros de Notas dos Cartórios de Ilhéus com  Escrituras de Compra e Venda – Hipotecas – Fiança...  Zidelmar  explicou que esse projeto faz parte do projeto maior que  é intitulado ESTRUTURAS ECONÔMICAS E SOCIAIS DA CAPITANIA DE ILHÉUS , liderado pelo professor Marcelo Henrique Dias. “quando a gente vê Ilhéus nos livros didáticos é como miserável. Porém havia em Ilhéus uma circulação monetária muito intensa”. Ilhéus só aparece depois do cacau. “Enquanto Salvador produzia, Ilhéus criava víveres, sustentava”.


Zidelmar foi convidado por ITABUNA CENTENÁRIA  para, juntamente com seus colegas de curso, se tornarem membros colaboradores e assim postarem  textos, fotos, vídeos falando  sobre o seu Curso de História e sobre o seu trabalho no CEDOC. Ele disse ‘sim’.

Foi uma proveitosa tarde de cultura. Itabuna  Centenária agradece...

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TODA HISTÓRIA TEM DOIS LADOS Por Drauzio Varella

10 setembro 2012

Ouvi e testemunhei tantas histórias de cadeia, carcereiros e presidiários, que um dia resolvi escrevê-las. A decisão foi tomada em 1996, depois de sete anos de trabalho voluntário no Carandiru.

No início, a intenção era publicá-las em algum jornal popular. Imaginei que uma coluna policial escrita por um médico poderia despertar interesse, mas esbarrei num obstáculo formal: como contar o que se passava num presídio daquele tamanho, sem que os leitores fizessem ideia das instalações e da cultura de cada pavilhão?

Para sair do impasse, achei que seria melhor preparar um texto no qual pegaria pela mão um visitante imaginário e o apresentaria à cadeia e a seus personagens. A escolha me obrigou a voltar aos pavilhões que eu supunha conhecer bem, para analisá-los com o olhar do escritor.

No decorrer desse processo, em que mergulhei mais fundo na intimidade da prisão, percebi que o material reunido poderia se transformar num livro.

Estação Carandiru foi lançado pela Companhia das Letras três anos mais tarde — em junho de 1999.

Na livraria em que aconteceu o lançamento, os amigos formaram uma longa fila para os autógrafos. Quando um senhor de fisionomia vagamente conhecida me estendeu um exemplar para receber a dedicatória, fui invadido por uma sensação de desconforto inexplicável. Antes que conseguisse reconhecê-lo, ele se identificou:

— Muito prazer, doutor, sou o coronel Ubiratan.

Fiquei gelado. Era o militar que comandara o massacre do pavilhão Nove, descrito no último capítulo do livro com base em depoimentos dos sobreviventes.

Só me tranquilizei quando ele me apresentou a moça que o acompanhava. Se fosse para me agredir, não viria com a filha nem teria sido simpático e respeitoso como foi.

No sábado seguinte, como de hábito, acordei cedo e fui tomar café com os três jornais que assinamos em casa, um dos poucos momentos de silêncio e calma na semana agitada. Levei um susto: o livro era destaque de primeira página nos três periódicos. Nos cadernos de cultura havia matérias extensas, fotos, resenhas literárias e reportagens sobre a Casa de Detenção.

Os 10 mil exemplares da primeira edição se esgotaram em poucos dias. Em dezembro daquele ano, recebi dois prêmios Jabuti de literatura (o de melhor livro na categoria não ficção e o de melhor livro do ano), que me fizeram sentir como quem acerta em cheio na loteria ao comprar seu primeiro bilhete.

De um dia para outro virei figura pública. Aturdido por tantas solicitações, foi difícil preservar a rotina de cancerologista com pacientes graves, sem tempo nem disponibilidade para aceitar os convites para palestras, debates e entrevistas que chegavam do país inteiro.

Estação Carandiru permaneceu quatro anos consecutivos em primeiro lugar na lista dos mais vendidos. Baseado no livro, um amigo querido que havia sido meu paciente, o cineasta Hector Babenco, fez um filme que levou mais de 4 milhões de pessoas ao cinema e foi visto por um número incalculável de telespectadores em exibições na tv. Carandiru foi selecionado pelo Festival de Cannes para disputar a Palma de Ouro.

Na época, minha experiência jornalística estava limitada a uma coluna médica na revista Carta Capital e a vinhetas educativas sobre saúde apresentadas nas rádios Jovem Pan, Trianon e 89FM, trabalho iniciado em 1985 a pedido e sob orientação do saudoso radialista Fernando Vieira de Melo.
Poucos meses depois do lançamento de Estação Carandiru, fui convidado para escrever uma coluna aos sábados na Folha de S.Paulo, hoje publicada também em outros jornais.

No mês seguinte, o jornalista Luiz Nascimento me convidou para apresentar uma série sobre o corpo humano no Fantástico, da tv Globo, com imagens filmadas pela bbc.
Foi a primeira de mais de vinte séries sobre saúde que eu faria na televisão, programas de conteúdo educativo que ganharam abrangência nacional.

Com disciplina, tenho conseguido organizar essas atividades sem deixar que interfiram no atendimento dos pacientes de quem cuido no Hospital Sírio-Libanês e na clínica, trabalho que consome pelo menos dois terços de meu tempo.

Nesses anos escrevi vários livros e continuei a coordenar o projeto de pesquisas da Unip (Universidade Paulista) sobre plantas medicinais, conduzido na região do rio Negro, na imensidão amazônica em que volta e meia me refugio e que tanto contrasta com a claustrofobia dos espaços nas prisões.

Sei que essa trajetória começou a ser trilhada lá atrás, quando eu era estudante e dava aula em salas com mais de trezentos alunos no Curso Objetivo, ou quando organizava campanhas nas rádios para alertar sobre os riscos da aids, mas foi no contato com a massa carcerária do Carandiru que amadureceram e tomaram forma duas habilidades que dificilmente se materializariam, não fosse a experiência ali vivida: a de educar pelos meios de comunicação e a de escrever histórias.

O trabalho despretensioso com os presos iniciado em 1989, para satisfazer a curiosidade que sempre tive pelo que acontece atrás das grades, abriu perspectivas de realização pessoal com as quais eu nem sonhava, tornou minha vida mais vibrante e produtiva, e mudou meu destino de maneira irreversível. Quando alguém me elogia pelos anos de trabalho voluntário nos presídios, fico até sem graça: recebi muito mais do que fui capaz de dar.

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Drauzio Varella nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em medicina pela USP, foi voluntário na Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru) por treze anos e hoje atende na Penitenciária Feminina da Capital.



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AMANHECER - Wagner Albertsson

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AMANHECER
   
ROMPE O DIA LÁ NA MATA.
ANTES DE SURGIR O SOL,
OS PÁSSAROS CANTAM MAIS UMA VEZ
A BELA MELODIA DA VIDA.
O RATO DO CAMPO PASSA CÉLERE
EM BUSCA DE ALIMENTO,
ENQUANTO A VELHA SERPENTE DORME
EMBRIAGADA PELO FRIO DA MANHÃ.
O CHEIRO GOSTOSO
DA NATUREZA,
DILUÍDO PELO ORVALHO,
ME DIZ QUE DEUS
É ESPERANÇA, ALEGRIA E RENOVAÇÃO.
NÃO HÁ PECADO NA NATUREZA.
SÓ... PERFEIÇÃO!

WAGNER ALBERTSSON

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