24 de janeiro de 2020
Plinio Maria Solimeo
Nosso mundo hedonista e gozador da vida de nada tem maior
temor do que da morte. Só o pensar nela aterroriza-o, estraga todos seus
prazeres. Entretanto, dela ninguém escapa.
Este é o tema que Peter Kwasniewski — escritor católico,
autor, palestrante, editor, publicista e compositor — desenvolve em seu
interessante artigo publicado no Life Site News sob o sugestivo
título: Monges católicos revelam como se preparam para a morte em um
mosteiro.
Kwasniewski [foto ao lado] começa falando com muita
propriedade de uma das pragas de nosso tempo, a tão propalada eutanásia: “Uma
prática antes considerada abominável — na verdade, simplesmente uma forma de
assassinato a sangue frio daqueles que são mais vulneráveis e mais
merecedores de nossa atenção e carinho amorosos — está sendo promovida como a
melhor maneira de ‘tirar alguém de sua miséria’, assim como um cavalo manco ou
um animal de estimação frágil é ‘abatido’ pelo veterinário […]. Em vez de
enfrentarmos a morte como sendo uma passagem purificadora para a vida eterna,
tentamos mercantilizá-la como uma forma final de paliativo”.
Ele
concorda que o medo da morte é natural, pois o próprio Filho de Deus o teve.
Entretanto, escondê-la ou ignorá-la não adianta, além de ir contra o que diz a
Sagrada Escritura: “Pensa nos teus novíssimos e não pecarás
eternamente” (Ecl. 7, 40). Sabemos que os “novíssimos” são as últimas
coisas que irremediavelmente nos acontecerão: a morte, à qual sucederão
o juízo particular e — conforme nós tivermos vivido — o inferno ou
o paraíso para sempre.
Mesmo
quando é irremediável encarar a morte, procura-se tirar dela todo o aspecto
religioso. A eutanásia, por exemplo, é baseada em considerações puramente
materialistas e ateias. A explicação para isso no-la dá o ilustre
escritor: “Sem Deus, a morte não pode ter sentido; sem Cristo, a
morte não pode ter benefício; sem o Espírito Santo, a morte não pode ser
encarada com amor e esperança. Torna-se o grande absurdo, e não a passagem da
vida mortal para a imortal”.
Entre os
monges entrevistados, Dom David, da Abadia de En-Calcat, considerou que o homem
construiu um mundo tão tecnológico, que esse mesmo mundo agora o humilha e o
faz sentir vergonha, numa espécie de complexo de inferioridade. Aduziu que para
a antropologia clássicao homem era o rei e o cume do reino animal, mas que nos
últimos 50 anos ele se tornou insignificante num mundo dominado por ídolos
tecnológicos. Afirma o jornalista: “Dom David diz que a nossa tecnologia
médica se desenvolveu a tal ponto, que prolonga a nossa agonia e nos deixa em
frangalhos. Podemos acabar vendo a nós mesmos e uns aos outros de uma maneira
despersonalizada, como se fôssemos máquinas com partes funcionais ou não
funcionais, em vez de ver a imagem de Deus, que é infinitamente mais preciosa
que a própria vida corporal e qualquer tecnologia que possamos reunir”. Comenta
Diat: “Os leitores podem se surpreender ao saber (embora seja lógico) que
os mosteiros enfrentam os mesmos desafios que os leigos enfrentam no mundo:
cuidados com o fim da vida, remédios para dor, quando levar alguém do hospital
para casa a fim de morrer em sua própria cama” etc.
Como a
morte é o momento mais importante de nossa vida porque sela o nosso destino
eterno, ela o é sobretudo na vida de um monge. Assim, o enfermeiro da conhecida
Abadia de Solesmes disse que aprendeu a “desacelerar” para prestar atenção nos
detalhes no cuidado dos doentes: “Existe o risco de mercantilização do
doente. Devo rezar para manter acordada a força do meu desejo de servir. [O
irmão doente] é Cristo. Quando chegarmos diante de Deus, seremos responsáveis por
nossa caridade para com os mais fracos. Preciso saber como ‘perder meu tempo’
com os doentes. Na vida, dar livremente é essencial. Cristo disse que o homem
que perde a vida a ganha”.
Dom Olivier, monge da Abadia de Cîteaux, fala
filosoficamente sobre a preparação diária para a morte: “A morte mais
difícil é a pequena morte diária, quando estamos perfeitamente saudáveis. Na
vida, passamos de uma morte para outra; elas nos preparam para o fim último.
Poucas mortes do ego se tornam grandes e permitem uma boa morte”.
Diat comenta que na abadia de Mondayes e conta a história de
um velho soldado da Segunda Guerra Mundial que se tornou monge ali. Quando ele
estava muito doente no hospital, o abade de seu mosteiro foi ministrar-lhe os
últimos ritos a fim de prepará-lo para a morte. Quando terminou a cerimônia, o
Superior inusitadamente abriu uma garrafa de champanhe, e ambos beberam um
brinde à morte. Dois dias depois, o veterano soldado e monge, trazido de volta
ao seu mosteiro, entregava em paz sua alma a Deus. Conclui Diat: “Uma
comunidade completa se compõe de vivos e mortos”.
Um monge da
Abadia de Fontgombault, mosteiro beneditino de observância totalmente
tradicional, afirmou o que se pode aplicar a todo mundo, e não só aos
religiosos: “Quanto mais forte a vida sobrenatural, maior a familiaridade
com a vida após a morte, e mais simples a morte”. “A tradição católica
enfatizou há muito esse mesmo ponto: se desejamos ter uma morte santa, devemos
construir os hábitos em nossas vidas que entrarão em jogo em nossa hora de
maior necessidade. A morte, nesse sentido, não passa de um momento final de um
processo que a antecede e se prepara por muito tempo. Aqueles que acham ‘injusto’
que o destino eterno de uma pessoa dependa unicamente do estado da alma no
momento da morte, não estão pensando corretamente: não veem a verdade de que
‘como um homem vive, ele morre’”.
Também
monge de Fontgombault, Dom Pateau, afirma que “a tecnologia nos domina até
os momentos finais”. “Deus deve nos forçar a aproveitar esse tempo: Ele
diz: ‘Basta’, quando o homem moderno responderia prontamente: ‘Não tenho
tempo’. Estaríamos prontos para perder o ponto alto desta vida. O homem se
tornou escravo. Do mesmo modo, ele não tem mais tempo para si e para Deus. A
falta é cruel. Ele não tem tempo para morrer porque não tem tempo para viver.
Por sua parte, o monge concorda em perder todo o seu tempo para Deus. A vida
monástica é feliz; a morte monástica também é”.
O autor
conclui considerando como a morte é vista pelos cartuxos, os mais austeros e
inacessíveis de todos os religiosos. Um deles lhe diz: “Passo metade da
minha vida pensando na vida eterna. Ela é o pano de fundo constante que reveste
toda a minha existência […]. Devemos amar esta porta que nos permitirá conhecer
o Pai”. Depois acrescenta: “Não é a porta que eu estou esperando, mas o
que está do outro lado dela. Não estou esperando pela morte, mas pela Vida”.
Diat comenta que se diz correntemente dos cartuxos que
eles “fazem santos”, “mas não promovem suas causas”, porque todos devem
tender à santidade. E narra o caso de um irmão leigo cartuxo que em meados do
século XVII começou a praticar muitos milagres em sua sepultura, ameaçando
tornar o mosteiro um lugar de peregrinação, com todos os inconvenientes
inerentes a isso. O prior então, para cortar o mal pela raiz, dirigiu-se ao
falecido monge e lhe disse: “Em nome da santa obediência, eu vos proíbo de
fazer milagres”. A partir de então os fenômenos extraordinários cessaram.
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Fonte: https://www.lifesitenews.com/blogs/catholic-monks-reveal-how-they-prepare-for-death-in-a-monastery
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