Nesse tempo, Henrique Alves negociava na “Loja Sempre-Viva”,
na estrada do Banco da Vitória. Já se falava que ele além de corajoso, era
homem duro; quando não gostava das coisas opunha o seu veto “à moda inglesa”.
A “Gazeta
de Ilhéus” publicou como escândalo o bárbaro assassinato de José Grande.
Assassinado, castrado, cortada a língua, retalhado aos pedaços e queimado numa
estufa. O jornal bradava pedindo providências, clamando justiça, sem todavia
anunciar o nome do mandante do crime. Dizia em letras grandes ”O mandante deste
bárbaro crime, deste miserável assassinato, é demasiadamente conhecido, reside
à beira da estrada, é protegido da situação dominante. A polícia precisa punir
esse monstro, que mata, que castra, que tripudia sobre o corpo de sua vítima
vencida, morta”.
Quinze
dias depois da notícia, depois do alarma, apareceu, em Ilhéus, no jornal,
acompanhando José Grande, em pessoa, vivo e fagueiro, Henrique Alves.
Apresentou ao redator Laudelino Pimentel o José Grande, que fora assassinado,
castrado... E explicou o equívoco. José Grande estava foragido no Estreito
d’Água, morando lá. Tinha estado evidentemente em sua fazenda, preso, roçando
um pasto, para pagar uma dívida. À noite fugiu, desapareceu e se não fosse “ter
morrido” tão barbaramente, o teria deixado onde se encontrava no “Estreito
d’Água”...
Em
Tabocas, a luta continuava forte, apaixonada, desassistida do Poder Público
ilheense. Firmino Alves publicou um protesto enérgico no “Jornal de Notícias”,
de Salvador, no qual alegava que, em 1879, quando Tabocas possuía somente oito
casas, seu pai pedira uma escola a Domingos Lopes e este nomeara o Professor
Joaquim Marcelino que foi o primeiro mestre do povoado. Agora solicitava
escolas e nem resposta. Os dominadores de Ilhéus só queriam impostos e
humilhação ao povo.
A resposta
a esse atrevimento não se fez esperar. A residência de Firmino Alves e dos seus
amigos Paulino Vieira Nascimento, Teófano Correia e Lúcio Pereira de Santa Rosa
foram atacadas a tiros de revólver, tendo uma bala quebrado um vidro da janela
da casa de Firmino Alves, considerada um palacete, naquele tempo.
Também os
índios davam investidas, no interior. De Macuco, Cândido Pinto informava que os
índios flecharam uma moça de nome Zenosinda, em cima dos rins, quando lavava
roupa no rio, e que estava mal.
E dias
depois chegava ao distrito a notícia do assassinato de Cândido Pinto apontado
como um dos matadores de João Carlos Hohlenverger, de Ilhéus. Estava Cândido
Pinto sentado depois do jantar na porta com uns amigos que foram à festa do
batizado do seu filho, naquele dia tranquilamente conversando, quando
inesperadamente recebeu um tiro, fechou os olhos e morreu.
Outros
dois novos acontecimentos se registraram em Tabocas, em contraste com os dias
agitados. A chegada de Augusto Juvenal para a agência dos correios, arranjada
por Firmino Alves, através dos amigos de Salvador, e a visita de Bento Berilo
de Oliveira, que examinava as possibilidades da construção da estrada de ferro,
da qual era concessionário.
Rezam as
crônicas que Bento Berilo se espantou de ver tanta gente armada numa terra de
trabalho e de progresso, que naquele tempo possuía um comércio superior ao da
cidade ilheense, registando mais de cento e cinquenta casas comerciais e
seiscentas e cinquenta de morada, com uma população calculada em cinco mil
pessoas. Uma localidade que se projetava a passos acelerados, rumo a um futuro
promissor, com a produção de cem mil sacos de cacau.
(TERRAS DE ITABUNA – Cap. IX)
Carlos Pereira Filho