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domingo, 17 de abril de 2022

POEMAS CRISTÃOS - Cyro de Mattos

 


Poemas Cristãos

Cyro de Mattos


 

Jesus 

Deus é o crivo   da

Dor no coração. Pétala,

 Que na chaga exsurge.

 

Este Cristo 

É maior que o mundo

este andor feito na dor

dos grandes rumores.

É maior que o mundo

esta luz feita na cruz

dos grandes tremores.

É maior que o mundo

este amor feito no ardor

dos grandes clamores.

Ó peso da terra,

cuspe, chicotada, crivo.

E das chagas flores.

 

Súplica 

 Se te coloquei nesse calvário,

 Coroei com cuspe e escárnio,

Ofendi com agudo cravo,

Nada me disse o teu sangue,

Não te vi olhando-me no alto. 

Vesti com roxo o dia claro,

A mim atendei, ó pai eterno,    

Derramai o teu perdão

No meu coração solitário.

 

Canto de Amor 

E todo este peso

terrestre atendeu

na flor da comunhão,

de braços abertos

clamas como cacto.

E dignos não somos

de olhar este rosto

que pende no amor

do sangue derramado.

E solitários caminhos

da ternura os desviados

na voz de tudo que é perdão.

O canto de amor prossegue

pelos que têm fome e sede,

 carregam o dilema do pacto.

 

 Santa Cruz 

Todo o peso da terra

com ofensa e lenho

aqui deste desterro.

 

      Pedras cor de vinho,

      setas de veneno

      dos que ladram.

 

      Lábios de sede,

      botão que se abre

      na flor do perdão.

 

      Até hoje a oferta,

      a ternura como meta

      jogada na sarjeta.

 

  Sexta-Feira Maior

O sol morre.

turva onda

o mundo em aflição

molha-me de roxo.

Nada valho.

Nada sou de fato.

Prefiro Barrabás,

crucifico o amor,

sem dó e lágrima

dilacero o afeto. 

 

     Soneto da Paixão 

Ao pé do Cristo todas as infâmias,

ao pé do Cristo todas as insônias,

ao pé do Cristo todas as intrigas,

ao pé do Cristo todas as refregas.

 

Ao pé do Cristo todos os sedentos,

ao pé do Cristo todos os famintos,

ao pé do Cristo todos os horrores,

ao pé do Cristo todos os clamores.

 

Ao pé do Cristo todos os insultos,

ao pé do Cristo todos os corruptos,

ao pé do Cristo todos os ladrões,

 

Ao pé do Cristo todas as prisões.

Nessa onda que nos leva como cães,

cura-me, ó Deus de todas as paixões.

 

Calvário 

Na opressão

na perseguição

na aflição

na traição

na depressão

na escuridão

na solidão

na sensação

do cuspe

e do cravo

no coração

ó Senhor meu

dá-me tua mão

 

Poema na Semana Santa  

Tudo é roxo e ofensa e perdão.

A tristeza está nos ares,

já anda pelas veredas

e no perfume dos caminhos.

No ocaso da saudade ao longe,

na flor do cacau que é espinho.

E chega à igreja a procissão.

Tudo é clamor e cruz e paixão

porque uma coroa sensitiva

instalou-se em Itabuna

com fadiga e sede e fome

e escorre suas dores

pelas pedras cor de vinho.

Mas no sábado tudo é verde

e claro sem o roxo e o espinho.

Os sinos repicam na cidade

e um dia novo está nas galhas,

no coro de milhões de passarinhos.


 

Cyro de Mattos é ficcionista e poeta. Da Academia de Letras da Bahia. Possui prêmios importantes no Brasil e exterior. Publicado também por várias editoras europeias.  Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz.

* * *

SANTA PÁSCOA! TENDE CONFIANÇA, POIS “O RESTO VOLTARÁ!”

 


Padre David Francisquini *

 

Depois da crucifixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, para redimir o pecado dos homens e reabrir as portas do Céu, toda a Terra foi coberta por densas trevas, a tristeza e a desolação contagiaram os povos, liquidando com tudo o que restava de ordem. É o que poderíamos esperar depois da ignominiosa morte do Homem-Deus.

Do Santo Sepulcro ressurge a primeira claridade de esperança. As almas fiéis que o rodeavam para prestar as últimas homenagens a Nosso Senhor, pressentiam que algo de maravilhoso estava para acontecer. Junto àquela tumba, que aparentemente havia selado a derrota do Divino Redentor, eles presenciaram a glória triunfadora de Sua ressurreição.

Com efeito, como diz São Paulo, se Ele não tivesse ressuscitado, a nossa fé seria vã. Os anjos cantaram “glória a Deus nas alturas”. As trevas se dissiparam. A natureza inteira se rejubilou com a luz emanada daquele Corpo glorioso. Jesus Cristo realmente ressuscitou como triunfador da morte e do pecado. Tendo cumprido a vontade de Deus Pai, reabriu as portas dos céus aos justos.

Apesar de a notícia do enorme prodígio ter corrido como um raio, muitos discípulos ainda andavam tristes com a morte de Cristo — após ter sido entregue à soldadesca romana pelos magistrados e sacerdotes judeus —, pois a alegria da Sua ressurreição não havia ainda inundado os seus corações.

Tinham uma fé incompleta e não conheciam verdadeiramente quem era Jesus. Uns achavam que fosse um profeta com grande poder, que restauraria o reino temporal de Israel. Outros, confusos e perplexos, prestavam atenção nos acontecimentos sem entender o que se passava.

Foi necessário que Cristo morresse e ressuscitasse dos mortos para manifestar que Ele era Deus. Sendo já o terceiro dia de sua morte na Cruz, não havia mais razão para que não se conhecesse tudo o que havia se passado em Jerusalém com o Filho de Deus desde a traição do infame Judas Iscariotes.

Quando as santas mulheres chegaram pela manhã de domingo, não encontraram mais o corpo de Jesus na sepultura. Seguiu-se o anúncio do anjo de que Ele não se encontrava mais lá, mas havia ressuscitado dentre os mortos. O que parecia uma derrota, foi a confirmação na fé dos discípulos — a vitória de Cristo sobre seus inimigos —, e todos creram n’Ele depois de manifestar assim a Sua divindade.

É uma prefigura da paixão que nestes dias de trevas sofre a Santa Igreja, corpo místico de Cristo, contra a qual todos os agentes infernais conspiram e desferem golpes, mas Ela segue com vida plena nos fiéis que depositam suas certezas em Jesus Cristo vencedor e triunfador.

Poucos são os que realmente amam a Santa Igreja e estão dispostos a tudo suportar e resistir em sua honrosa defesa, bem como de tomar a iniciativa da luta a fim de que Ela seja restaurada de modo ainda mais excelente do que foi outrora, sempre segundo a lei e a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas aqueles que têm verdadeira devoção a Nossa Senhora recebem d’Ela o inestimável dom da fé, da pureza, e da bravura para lutar. Deus lhes dará a vitória.

Se correspondermos a esse dom, estaremos juntos daquelas almas privilegiadas que viram, testemunharam e registraram para os pósteros aquele momento, talvez o maior acontecimento da História: Jesus Cristo saindo vitorioso de seu sepulcro. Assim como Nossa Senhora nos deu o exemplo de nunca duvidar, Ela nos ensina e alenta a nunca desanimar nas vias da confiança.

Devemos, portanto, confiar contra todas as aparências em sentido contrário, de que junto d’Ela haveremos de encontrar forças e adquirir a certeza de que o bem não está sepultado para sempre, mas que residuum revertetur — o resto voltará, segundo Isaías. Dos escombros e das cinzas da civilização atual surgirá o Reino de Maria, com o fulgor de Cristo no momento de Sua ressurreição.

Espero que todos os fiéis e leitores tenham uma Santa e feliz Páscoa, na alegria de saber e confiar, com uma confiança sem limites, na promessa de que as portas do inferno jamais prevalecerão contra a Igreja.

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*Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).

 https://www.abim.inf.br/santa-pascoa-tende-confianca-pois-o-resto-voltara/

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (261)



Páscoa do Senhor | domingo, 17 de abril de 2022


Anúncio do Evangelho (Jo 20,1-9)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.

— Glória a vós, Senhor.

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo.

Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”.

Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou.

Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte.

Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou.

De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

http://liturgia.cancaonova.com/pb/

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Donizete Ferreira, Sacerdote da Comunidade Canção Nova:


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O Ressuscitado nos ensina a exercer o "ministério da consolação"

 


+ Na alegria da ressurreição, prepare a oração, criando um clima de profunda intimidade com o Ressuscitado.

+ Suplique a Deus o dom da alegria com Cristo Ressuscitado; que a experiência da Ressurreição o(a) impulsione a viver com mais intensidade em comunhão com toda a humanidade e toda a Criação.

+ Antes de “entrar em contemplação”, repasse os “pontos” seguintes:

 

Mestre Crucificado, Mestre Ressuscitado. O ensinamento de Jesus revelou-se inseparável de sua vida; em outras palavras, Ele ensinou com sua vida. Certamente, Jesus ensinou com parábolas, com gestos ousados... Mas, no final, o que educa de verdade é sua própria vida de Mestre amigo, terapeuta, compassivo, crucificado, ressuscitado... Por isso, não basta dizer que o ensinamento de Jesus “segue adiante”, mas que devemos acrescentar: Jesus mesmo, ressuscitado por Deus, é o autêntico educador.

Os relatos de suas Aparições nos revelam como Ele foi reconstruindo as pessoas, amigas e amigos, quebrados(as) pelo fracasso, pela tristeza, pela decepção... Jesus os(as) ressuscitou por dentro, despertando a vida bloqueada e abrindo o horizonte da missão. 

“Olhar o ofício de consolar que Cristo nosso Senhor exerce” (EE. 224). S. Inácio utiliza esta expressão quando apresenta, na 4ª Semana dos Exercícios, a contemplação das aparições do Ressuscitado.

Consolar é o que define a ação do Ressuscitado, transformando a situação dos seus discípulos e discípulas: a tristeza se converte numa alegria contagiosa, o medo em valentia e audácia, a negação de Jesus em profissão de fé e martírio... Não se trata de um ato pontual senão de um “ofício” , que definirá para sempre a atividade de seu Espírito no mundo.

Nas cenas evangélicas das aparições, o efeito da presença do Ressuscitado sobre os discípulos e discípulas termina sempre em reconhecimento, em chamado e envio, em restauração de uma vocação e missão.

Jesus ressuscitado exerce sobre eles(elas) um original “ofício de consolar”, cujo efeito é iluminar o caminho pelo qual, em seu nome e com Ele, eles e elas hão de percorrer. O “ofício de consolar” é a marca do Ressuscitado, é força recriadora e reconstrutora de vidas despedaçadas. Jesus “ressuscita” cada um dos seus amigos e amigas, ativando neles(as) o sentido da vida, reconstruindo os laços comunitários rompidos, e sobretudo, oferecendo solo firme a quem estava sem chão, sem direção... 

O verbo “consolar” tem, no hebraico, um sentido mais amplo e forte que nas línguas latinas, porque, muito mais que animar a alguém abatido, expressa a ação eficaz de conseguir com que desapareçam os motivos de seu abatimento. Neste sentido, consolar não é tão somente acompanhar senão, também, inclui a ação de dar esperança, uma esperança fundada, capaz de produzir uma mudança radical no estado de ânimo do outro.

Nos relatos das aparições de Jesus Ressuscitado, esta experiência de ficar consolado aparece muito evidente, porque passa-se da angústia do túmulo vazio à consolação na presença d’Aquele que vive; é a passagem da ausência desconcertante à presença significativa.

O Ressuscitado se aproxima como Presença viva que comunica Vida: deixa-se ver, caminha, fala, interpela, corrige, anima, transmite paz e alegria. Em uma palavra, presenteia seu Espírito.

Sua maneira de se fazer presente é pessoal, personalizante, identificadora: dizer o nome, suscitar recordações e experiências comuns, fazer vislumbrar projetos de futuro.

Outra vez Jesus recria a comunidade que, depois da Paixão, estava se desintegrando; e seus discípulos experimentam novamente o chamado e o envio, a serem testemunhas e cúmplices do Espírito, porque vivem a certeza existencial de que o Crucificado é o Ressuscitado, que a morte foi vencida, que Deus está constituído como Senhor.

Em meio à dor, os(as) discípulos(as) aprendem a confiar em Deus e a não se deixar levar pela tristeza.

alegria não começa quando acabam as dores; a alegria é uma opção de vida, expressão da confiança em Deus, que torna possível enfrentar o sofrimento com esperança. A alegria não suprime o sofrimento, mas lhe dá sentido. A alegria não desconhece o sofrimento, senão que o enfrenta com confiança. 

Em nosso uso habitual, a palavra “consolação” e o verbo “consolar” apontam para um profundo e rico significado: revelam um tipo de proximidade e comunhão com o outro capaz de lhe transmitir compreensão, alento, acolhida, impulso... ou seja, uma transmissão de energia que desperte nele suas próprias capacidades de reação diante de uma situação de tristeza, de fracasso, de desespero ou sofrimento...

Nos Exercícios Espirituais de S. Inácio, consolação e consolar são a linguagem e ação de Deus no ser humano, comunicação do Criador com a criatura, iniciativa de Deus que, quando é recebida com agradecimento e pureza, isto é, como dom gratuito e como escuta disponível, nunca deixam a pessoa consolada no mesmo lugar ou situação onde estava antes.

consolação de Deus é sempre dinamizadora daquilo que é mais divino no ser humano.

Por ser manifestação da comunicação do Espírito de Deus ao espírito humano, gera sempre na pessoa, amor, alegria, fé, entusiasmo..., e desemboca sempre na missão

Deus nos consola para que possamos consolar.

Na consolação, Deus nos chama a ser seus colaboradores. A consolação que recebemos do Senhor não nos é dada tendo em vista um desfrute narcisista e fechado deste dom espiritual, mas tem a finalidade de capacitar-nos para o “ministério da consolação”.

É um dom para a missão; se alguém se apropria dela como coisa pessoal, morre.

Dessa consolação de Deus, da qual nós mesmos e nosso mundo tanto necessitamos, somos chamados a fazer-nos receptores e mediadores.

Trata-se de uma consolação que é pura graça, que não está ao alcance de nossa mão dá-la a nós mesmos, nem dá-la aos outros, mas da qual podemos ser agradecidamente receptores e gratuitamente mediadores. Com isso, a consolação pode estender-se a outros muitos rincões da existência humana.

É tempo de autocompreender-nos e atuar frente aos outros como enviados a exercer ativamente o “ofício de consolar”, tendo sempre presente que a consolação verdadeira pertence somente ao Espírito, já que não é outra coisa que a gratuita autocomunicação do Deus trinitário à humanidade.

É Ele mesmo quem deseja compartilhar conosco este ofício, o ofício de consolar

Consolação e “ofício de consolar” nascem e vem precedidas pela experiência de uma alegria pura e totalmente desinteressada pelo Senhor. Alegria interna e verdadeira que procede e provoca a missão.

Nada mobiliza tanto como o agradecimento e nada revela tanto o agradecimento como a alegria pura pelo bem do outro. A gratuidade é o habitat natural da consolação e do consolado.

Todos somos chamados a prolongar este “ofício de consolar” de Jesus; a experiência da Ressurreição nos move a “descer” junto à realidade do outro (seus dramas, fracassos, perda de sentido da vida...) e exercer este ministério humanizador, ou seja, ministério entre iguais, “vida que desperta outra vida”.

É vida plenificada, iluminada, integrada... pela experiência de encontro com o Ressuscitado e que flui em direção à vida bloqueada, necrosada... ativando-a, despertando-a...

É movimento expansivo da vida.

Assim como a consolação é o canal privilegiado pelo qual Deus se comunica e atua em nós, o ofício do consolo” é o canal por onde flui a vida. 

Textos bíblicos:  Jo 20,11-18    Lc 24,13-35 

Na oração: faça “memória” das experiências de consolação, suscitadas pela Graça de Deus ao longo desta Quaresma

- Recorde pessoas que foram “presenças consoladoras” em sua vida.

- Traga à memória situações em que você foi o(a) mediador(a) da consolação de Deus. 

Iluminar a madrugada e tecer liberdade, nutrir a vida de compaixão e amizade, celebrá-la e oferecê-la de verdade, orar... Esse é o movimento de Ressurreição? É isto que o evangelista João quer destacar quando escreve que Madalena “saiu correndo”, que Pedro e João “corriam juntos”?

Que a Páscoa seja um tempo de movimento e cada um(a) discirna para onde correr!

Um Santo Tempo Pascal e todos e todas!


Pe. Adroaldo Palaoro sj

17.04.22

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2555-o-ressuscitado-nos-ensina-a-exercer-o-ministerio-da-consolacao

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