25/maio/18
Três imagens me vieram hoje à memória, duas de uns 20 dias
atrás e outra de há dez ou doze anos. As duas primeiras, se não me engano,
apareceram na internet no mesmo dia. A primeira mostrava o ministro Gilmar
Mendes descendo os degraus da saída do STF. A seu lado, uma moça (ou seria já
uma senhora) cobria-lhe a cabeça com um guarda-chuva. Mas não chovia. A
assistência que ela prestava ao ilustre ministro devia ser para proteger a avantajada
área exposta que ele ostenta na superfície superior da cabeça. Muito sol nessa
área talvez prejudique a atividade cerebral.
A segunda imagem veio de Lisboa. Numa rua comum, à sombra de
uma árvore, sentado numa cadeira, um senhor de terno e gravata lia o jornal
enquanto um engraxate lustrava-lhe os sapatos. Perguntei-me por que alguém
decidira estampar uma imagem tão prosaica. Ao pé da foto, a explicação.
Acontece que aquele pacato senhor era ninguém mais ninguém menos que o Dr.
Marcelo Rabelo, presidente de nossa terra-irmã, a República Portuguesa.
A terceira cena, que presenciei de perto, ocorreu em Madri
lá pelos idos de 2005 ou 2006. Desde 2001, na condição de membro da comissão de
assessoria acadêmica, compareço às reuniões anuais do Clube de Madri, entidade
criada por ex-presidentes e ex-primeiros ministros com o objetivo de apoiar
internacionalmente os regimes democráticos. As reuniões são sempre excelentes.
No ano a que me refiro, quando a sessão já se aproximava do fim, vários dos
ex-mandatários demonstravam certa impaciência, pois tinham voos agendados para
logo depois. Esperavam apenas a leitura e se necessário a discussão da
declaração final da conferência. Tal discussão era geralmente pro forma, mas
eis que, naquele caso, a comissão de redação não fora de todo feliz. Feita a
leitura do documento, três ou quatro membros do Clube suscitaram objeções. Os
sinais de impaciência aumentaram, claro. Eis senão quando o ex-presidente
norte-americano, Sr. Bill Clinton, simplesmente tirou o paletó, foi ao
computador, abriu o arquivo, reescreveu o documento, imprimiu-o e levou-o à
mesa diretora dos trabalhos. Feita a leitura, o texto foi aprovado por
aclamação, a sessão foi encerrada e os impacientes partiram apressadamente.
A
moral da história fica a critério de cada leitor.
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Bolívar Lamounier é um sociólogo e cientista político
brasileiro que foi o primeiro diretor-presidente do IDESP, escrevendo
frequentemente para os mais importantes veículos da imprensa brasileira.
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