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segunda-feira, 23 de setembro de 2019

O ESCRITOR JULIO LUDEMIR E O COMUNICADOR RENE SILVA SÃO OS CONVIDADOS DO SEMINÁRIO “BRASIL, BRASIS” DE SETEMBRO NA ABL


Academia Brasileira de Letras dá continuidade à sua série de Seminários “Brasil, brasis” de 2019 com o tema A Ação Cultural Emergente nas Comunidades coordenada pela Acadêmica Ana Maria Machado. Participam da palestra o comunicador Rene Silva e o escritor Julio Ludemir. O coordenador geral dos Seminários “Brasil, brasis” de 2019 é o Acadêmico e professor Domício Proença Filho.

O seminário está programado para o dia 24 de setembro, terça-feira, às 17h30, no Teatro R. Magalhães Jr., Avenida Presidente Wilson, 203 - Castelo, Rio de Janeiro. Entrada franca.
O Seminário “Brasil, brasis”, com entrada franca e transmissão ao vivo pelo Portal da ABL, tem o patrocínio do Bradesco.
Os convidados
Julio Bernardo Ludemir nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criado em Olinda, Pernambuco. Estudou jornalismo, mas nunca concluiu o curso. Tem dez livros publicados, a maioria ambientados nas favelas cariocas. A reportagem “Rim por Rim” foi finalista do Prêmio Jabuti de 2008. É um dos roteiristas de “400 contra um”, que o cineasta Caco de Souza adaptou da autobiografia de William da Silva Lima, um dos criadores do Comando Vermelho.
É um dos idealizadores da FLUP, Festa Literária das Periferias, cuja principal característica é acontecer em favelas cariocas. A iniciativa ganhou o prêmio Faz Diferença de 2012 do jornal O Globo, o Excellence Awards de 2016 da London Book Fair e Retratos da Leitura de 2016 do Instituto Pró-Livro.
É também um dos idealizadores da Batalha do Passinho, que levou para Londres e Nova York. Com os dançarinos do Passinho, criou o espetáculo “Na Batalha”, primeiro grupo de funk a se apresentar no Teatro Municipal do Rio deJaneiro, tema de documentário que estreou em 2016.
Rene Silva, de 25 anos, nasceu na comunidade do Morro do Adeus, uma das 13 favelas que formam hoje o Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
Sua trajetória de empreendedor começou quando era criança. Aos 9 anos vendia doce na porta de sua casa. Com 10, reuniu amigos da escola e juntos decidiram fazer algo pela comunidade onde viviam. Entra para Escola Municipal com 11 anos, cursando a 5ª série, atual 6º ano. Logo se engaja em projetos diferentes no Grêmio Estudantil. Começa a fazer parte do Jornal escolar. Em pouco tempo, cursando a escola em um turno e colaborando com o jornal estudantil em outro, percebe que pode fazer mais. Sempre com olhar atendo para seu entorno, lança em 2005, mídia voltada para a comunidade. No início, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, ainda como um jornal impresso.
Atualmente, Rene Silva dos Santos é presidente da ONG Voz das Comunidades e editor-chefe do Jornal Voz das Comunidades, veículo que circula mensalmente em 15 favelas do Rio de Janeiro. E ao longo de sua carreira, recebeu o prêmio Shorty Awards, considerado o Oscar do twitter pelo The New York Times e Prêmio FAZ DIFERENÇA, do Jornal O GLOBO, Orilaxé, do grupo cultural AfroReggae e o Prêmio ANU da Central Única das Favelas.
18/09/2019


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GOVERNAR PELO BOM EXEMPLO – Péricles Capanema


22 de setembro de 2019

·    Péricles Capanema

Como pai e mãe educam os filhos? Começo por um dos fundamentos, o que interessa no caso. A preparação para a vida entre os homens apresenta marcantes traços comuns com o modo de, por exemplo, a onça e outros animais prepararem os filhotes para a sobrevivência. Pela imitação, lei da natureza; outro jeito, pela força do exemplo. Gradualmente, ensina-os a se defender dos perigos, a caçar, a procurar abrigos. E o homem é mamífero, guiado pela razão.
De igual maneira, enorme papel tem a imitação na educação infantil. Forma o caráter o bom exemplo dos superiores, no caso, os mais naturais e imediatos, os pais. No ambiente da família, o filho em especial imita o pai, a filha em particular a mãe, ambos movidos fortemente pela admiração. Nada mais normal que, aperfeiçoando a imitação, buscando padrões de comportamento, o filho idealize os pais, para ele causa, modelos, mestres e regentes. E assim tantas vezes, para bem formar o filho, pais e mães ocultam vícios e má conduta — exemplo corrente, os fumantes. Se não são, pelo menos precisam ser visto como sendo modelos. A educação pela imitação admirativa repercute desde a mais tenra infância até a extrema ancianidade. Qualquer desarranjo em tal processo traumatiza, deixa sequelas vida afora. Depois na educação temos os ambientes familiares, sociais, rodas de amigos, a escola. E então se avulta o papel do professor.
Mas não pretendo falar de pedagogia do infante. Meu assunto é outro, governo — pedagogia adulta. Sei, uma tem relação com a outra. Vamos lá. O Estado existe para a promoção do bem comum (o bonum commune da Escolástica). João XXIII na “Pacem in Terris” lembrou esta verdade, hoje tão esquecida, em palavras precisas: [A] realização do bem comum constitui a própria razão de ser dos poderes públicos”. Emerge a pergunta: o que é o bem comum? Volto a João XXIII: “o conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana”.
Destaco o enunciado desenvolvimento integral da personalidade humana. Integral. Para tal crescimento, contam fatores materiais, contam sobretudo fatores morais. E aqui entra o papel de formador do governante. Na mais funda raiz, a obrigação do decoro, bem como a chamada liturgia do cargo e a sujeição ao cerimonial se assentam na contribuição ao bem comum advinda do bom exemplo do governante. Em decorrência, a lesão ao bem comum que seu mau exemplo acarreta. E a congruência da punição a tal conduta. Expressão de tal verdade temos no artigo 9º da lei 1079 de 10/4/1950 que tipifica como crime de responsabilidade “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”. O que pode levar à perda do cargo.
Na vida de uma nação todo esse edifício se apoia na noção idônea de bem comum. A ideia de bem comum sem simplismos, rica, multifacetada, abarcando toda a realidade, que incorpora com discernimento os fatores morais, intelectuais, psicológicos e materiais é pressuposto da democracia autêntica, da saudável participação popular, do governo realmente voltado para os interesses populares e nacionais. Sem tal concepção, tornam-se desnaturadas as noções de democracia, participação e governo; funcionam mal as instituições e se escancaram as portas para a demagogia.

Fato ilustrativo, em 25 de agosto de 1928 o presidente Washington Luís [foto ao lado] inaugurou a Rio-Petrópolis, a primeira rodovia asfaltada no Brasil, e na ocasião pronunciou frase que se tornou célebre: “Governar é abrir estradas”. Parece, nem ele julgava que governar se reduz essencialmente a abrir estradas. Mas a afirmação simplista ficou no anedotário político. Exagerando, puxando a corda para o outro lado se poderia dizer: “Governar é dar bom exemplo”. Nem um, nem outro. Governar é promover o bem comum, simples assim, fazer estradas e dar bom exemplo forma parte do todo.

Também a ideia correta de representatividade tem relação com o bem comum. A promoção do bem comum supõe via de regra que a nação se faça representar pelo que tem de mais expressivo. É parte da exemplaridade própria às funções públicas — probidade, decoro, brilho. Nunca ali deveria estadear o extravagante, excêntrico e estapafúrdio. No Brasil, cada vez mais, pecamos aqui, todos sabem.

Por que tratei hoje do tema? As reflexões brotaram ao ler entrevista recente de Dom Rafael de Orleans e Bragança e ali o príncipe dizia: “Fomos ensinados desde pequenos a ser vistos como exemplos”. Amplio o tema na mesma direção e fecho com episódio talvez um tanto legendário, ligado ao que se poderia chamar com alguma liberdade o bem comum das almas (a salus animarum). São Francisco de Assis [quadro ao lado] certa vez convidou um jovem do convento para acompanhá-lo em pregação. Caminharam em conversa animada até o povoado. Percorreram as ruas, cumprimentaram pessoas, uma prosinha aqui e ali; para os transeuntes ensinamento vivo de simplicidade, desapego e espírito sobrenatural. Na tardinha retornaram à residência. O moço recordou a São Francisco, haviam esquecido a pregação. Respondeu o santo mais ou menos assim: “Enquanto andávamos, era uma pregação o que fazíamos. Nossas vestes, nosso porte, revelavam que servíamos a Deus. Pregamos sermão mais tocante do que se tivéssemos falado na praça, exortando o povo à santidade”.


Verba moventexempla trahunt (Palavras comovem, exemplos arrastam). Faz muita falta o arrastão do bom exemplo. Ajudaria o bem comum, facilitaria o apostolado.

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