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segunda-feira, 13 de agosto de 2018

ABL:ACADÊMICO ANTONIO CARLOS SECCHIN FALA NA ABL SOBRE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE



A Academia Brasileira de Letras dá continuidade ao seu ciclo de conferências do mês de agosto de 2018, intitulado Cadeira 41, com palestra do Acadêmico, ensaísta e poeta Antonio Carlos Secchin. A coordenação será da Acadêmica e escritora Ana Maria Machado. O tema escolhido foi Drummond: poesia e aporia.

Serão fornecidos certificados de frequência.

Secchin adiantou um pequeno resumo do que será sua apresentação: “A rosa do povo (1945) é dos livros mais populares de Carlos Drummond de Andrade, contendo muitos poemas de teor político e de grande comunicabilidade. Um pequeno poema, todavia, surge aparentemente deslocado do conjunto, e enigmático já a partir do título: “Áporo”. Na conferência, esse texto será minuciosamente analisado e inserido no contexto geral da obra, na qual parece soar como peça dissonante, e no contexto literário e social da década de 1940”.

Cadeira 41 terá mais duas palestras, às quintas-feiras, no mesmo local e horário, com os seguintes dias, conferencistas e temas, respectivamente: dia 23, Luís Camargo, Cem anos de “Urupês”, de Monteiro Lobato: o primeiro best-seller nacional; e 30, Hugo de Almeida, Osman Lins, 40 anos depois, mais atual.

O CONFERENCISTA

Antonio Carlos Secchin nasceu no Rio de Janeiro, em 1952. Doutor em letras e professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desde 2004 ocupa a cadeira 19 da Academia Brasileira de Letras.

Poeta e ensaísta, Secchin publicou, entre outras obras, João Cabral: a poesia do menos (1985), Poesia e desordem(1996), Todos os ventos (poemas reunidos, 2002, ganhador dos Prêmios da ABL, da Biblioteca Nacional e do Pen Clube), Escritos sobre poesia & alguma ficção (2003), 50 poemas escolhidos pelo autor (2006), Memórias de um leitor de poesia (2010), Eus & outras (antologia poética, 2013).

A UFRJ publicou, em 2013, o livro Secchin: uma Vida em Letras, com cerca de 90 artigos, ensaios e depoimentos sobre sua atuação nos campos da poesia, do ensaio, da ficção, do magistério e da bibliofilia. Com a obra Desdizer, lançada ano passado, o autor voltou à poesia 15 anos após a publicação de Todos os ventos.

10/08/2018



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VISITA – Ariston Caldas




            Cheguei à casa de seu Raimundo numa manhã ensolarada; a residência dele fica no topo de uma ladeira disfarçada e em frente estende-se uma paisagem que é uma beleza, confrontada com o sair do sol; embaixo, junto à cerca que faz divisória com os cacauais, há uma represa ampla entre arbustos e flores silvestres. Ele, de fala mansa, recebeu-me com olhar tranquilo, sorriso leve; sua calma era de espantar, como se minha presença não fosse, assim, nenhuma novidade.

            Calculei, havia quase 15 anos encontrava-me ausente, distante, andando por este mundo de meu Deus; e ele, agora, somente com a mulher e o filho mais velho. Seu Raimundo nunca deixou a fazenda aonde chegou menino, cresceu, casou-se e, certamente, morrerá, a não ser para assistir missa vez em quando e fazer “fecha” de cacau na cidade. Os outros filhos dele andam espalhados, o mais novo formou-se em medicina e reside em Salvador; a filha casou-se com um paulista e pouco vem à Bahia; outro se meteu com pecuária para as bandas de Minas Gerais, aparece vez em quando.

            Mudanças pessoais em seu Raimundo, quase nenhuma; ainda usa chinelos de couro, cabelo desarrumado caindo sobre a testa um pouco mais ampla; camisão de mangas compridas e óculos de tartaruga num bolso debrunhado, misturados com palhas de milho para cigarro e um canivete antigo; bigode com fios embranquecidos.

            Numa parede da sala, cabide de madeira escura com roupas de campo penduradas, um chapéu de baeta de aba quebrada na frente; embaixo do cabide, umas botinas amarelas com manchas escuras. Dona Antonieta, mulher dele, não se esqueceu das saias rodadas de cós franzido, cabelo liso amarrado em  popa, com uma passadeira de metal. Lembrei-me das feijoadas, dos bolos de aipim, do café torrado na hora: “é donzelo, tome logo”, ela dizia passando-me a xícara fumegando. “E o cafezinho, dona Antonieta, nunca me esqueci”. Ela sorriu entrando para a cozinha, “vou fazer um agora mesmo”. Dona Antonieta está meio-envelhecida, mais gorda ou mais magra, andar preparando-se para ficar lento, os olhos mostrando alguma perda do fulgurante. “Ah, meu filho, tempo bom era aquele!”

            A paisagem verde da fazenda, a curvatura do céu dimensionada com o tamanho do lugar, traziam-me recordações das festas de São João com fogueiras de tronco de jequitibá incendiando; fogos de artifício iluminando as capoeiras; churrasco, milho verde assado, canjica, caças, pescaria.

            Seu Raimundo, forte naquele tempo, era fogoso para tudo isso. Bom no tiro, não perdia uma paca, uma perdiz. Nas festas, todo animado de botinas lustrosas e gravata, forrozava com dona Antonieta, com a filha, com as moças da redondeza. Minha presença  eu sua casa era uma constância ; dava-me bem com toda a família, notadamente com Juanita que casou com o paulista, e com Emanuel que formou-se em medicina.

            À direita da casa existe ainda o curral pequeno, agora meio desmantelado, com um mourão no meio, apodrecendo. Lembrei-me do garrote caramuru, de mamilo grande pendido para um lado; da vaca Suana que dava dez litros de leite por dia. Em frente à casa, no terreiro, existe ainda o tamarindeiro, agora menos frondoso, a crosta rachada; embaixo dele, num desafio, o banco todo de madeira fincado no chão limpo entremeado de folhas secas, onde os moradores iam à tardinha para conversas íntimas; vacas leiteiras pastavam vigiadas pelo garrote mugindo e cheirando o vento, de focinho para cima. Nas noites de estio e de luar, encontros para uma prosa, contar estórias, fazer serenata.

            Almocei com seu Raimundo e passamos a tarde conversando sobre cacau, chuva, estiagem, pragas e outros assuntos interessantes para gente do campo. Ele me deu notícia de todos seus familiares distantes. Nosso diálogo, a momentos, desvanecia. A boquinha da noite vinha caindo quando nos despedimos. A represa em frente, como um painel cinza-escuro,  formava uma mancha no meio do gramado verdejante.

            Deixei seu Raimundo em pé, encostado ao gradil da varanda, enrolando um cigarro de palha.


(LINHAS INTERCALADAS – 2ª Edição 2004)
Ariston Caldas
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Ariston Caldas nasceu em Inhambupe, norte da Bahia,  em 15 de dezembro de 1923. Ainda menino, veio para o Sul do estado, primeiro Uruçuca, depois Itabuna. Em 1970 se mudou para Salvador onde residiu por 12 anos. Jornalista de profissão, Ariston trabalhou nos jornais A Tarde, Tribuna da Bahia e Jornal da Bahia e fundou o periódico Terra Nossa, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado da Bahia; em Itabuna foi redator da Folha do Cacau, Tribuna do Cacau, Diário de Itabuna, dentre outros. Foi também diretor da Rádio Jornal.

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DR. HÉLIO MARTINS: RESPOSTA


O Dr. Hélio Martins da comarca de São João del Rei recebeu um convite do deputado Reginaldo Lopes do PT para o lançamento de Lula-2018. A resposta foi estupenda, disse exatamente o que todos deveriam dizer:


"Exmo. Senhor Deputado Reginaldo Lopes, em que pese o profundo respeito que tenho pela atuação parlamentar de V. Exa., não é hora de lutar para salvar pessoas, mas sim o País, atolado no caos econômico, na recessão, no desemprego, na violência e na vergonha internacional onde agentes políticos e públicos protagonizam o maior caso de corrupção de que se tem notícia na história da humanidade.
Quero, como tantos outros brasileiros com capacidade de discernimento e compreensão, que se faça justiça!

Que todos aqueles que se apropriaram de recursos públicos paguem por tão grave crime, além de devolver o que indevida e criminosamente levaram, privando o cidadão de saúde, educação, segurança, infraestrutura dentre outros. Todos, indistintamente, como republicanamente deve ocorrer, sejam do PT, do PMDB, do PSDB ou de qualquer outro partido político devem responder pelos crimes cometidos. Lugar de ladrão é na cadeia!

Lula foi processado, julgado e condenado no primeiro processo, sob a égide dos princípios constitucionais do devido processo legal e da ampla defesa.

Sou juiz de primeira instância, ou de piso, como gostam de dizer. Juiz de carreira, com muito orgulho! Submetido, como em todos os concursos públicos para membros da Magistratura e do Ministério Público, a provas de conhecimento de elevadíssimo nível de dificuldade, além de exames psicológicos, e rigorosa investigação social. Aqui não tem princípio de presunção de inocência não, senhor Deputado. Qualquer “derrapada”  na vida social tira o candidato do certame. Não somos escolhidos por agentes políticos. Somos independentes, como manda a Constituição. A Magistratura e o Ministério Público brasileiro, a que me refiro, merecem, pois, absoluto respeito!

Desta forma, falar em “golpe” e envolver o judiciário nesta trama é, no mínimo menosprezar inteligência das pessoas.

Me causa total estranheza ver V. Exa. se referir às “elites” como posto em seu texto. Afinal o PT se aliou às “elites” para alcançar o poder. Foram integrantes da ala da “elite” mais elevada deste país que proporcionaram o desvio de dinheiro público em benéfico não só do partido, mas daqueles que já estão condenados ou sendo processados. Basta verificar as doações para campanhas eleitorais passadas.
Então a “elite” que abastece de recursos, é a mesma elite “golpista”? Não há uma gritante incoerência na sua proposição? Não há uma incoerência ideológica por parte daqueles agentes políticos e públicos já condenados ou processados, que pregam distribuição de renda, mas se enriquecem à custa do trabalho alheio das “elites” através do achaque? Este comportamento é moralmente aceitável? Para mim isso tem uma definição: bandidagem! 

Desculpe-me a franqueza, senhor Deputado, mas Lula, assim como aqueles que já estão condenados e aqueles que estão sendo processados, não estão nem aí para o Estado Democrático! De fato querem poder. Só poder. Poder eterno sobre tudo e todos. E poder a todo custo é sinônimo de tirania! Basta! Basta! Basta!

Quem conhece realmente história  sabe muito bem que os criminosos anistiados do passado, não praticaram ações violentas em nome de democracia, mas para impor o regime que entendiam ideologicamente adequado. Ditadura! Igualmente ditadura!

Ainda que compreenda seu alinhamento político partidário, senhor Deputado, não se permita, em homenagem à sua história de vida, descer ao nível da excrescência das mentiras deslavadas, como as protagonizadas publicamente pelo ex-presidente Lula, e tantos outros, desprovidos de dignidade e decoro, sustentando o insustentável.

Desejo ao senhor e sua família um 2018 abençoado. 

Que sua luta seja de fato  pelo povo e não por pessoas!"


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