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quinta-feira, 19 de setembro de 2019

BEM-VINDO AO SÉCULO XXI – Jhanis Saadi

"Bem-vindo ao século XXI

Aqui o sexo é livre e o amor se tornou um bolso cheio de notas.

Onde perder o celular é pior do que perder os teus valores. Onde a moda é fumar e beber, e se não fizer isso, você está obsoleto. Onde o banheiro se tornou estúdio para fotos e a igreja, o lugar perfeito para check in.

Século XXI, onde homens e mulheres temem uma gravidez muito mais que HIV. Onde o serviço de entrega de pizza chega mais rápido do que a ambulância.

Onde as pessoas morrem de medo de terroristas e criminosos muito mais do que temem a Deus. Onde as roupas decidem o valor de uma pessoa e ter dinheiro é mais importante do que ter amigos ou até mesmo família.

Século XXI, onde as crianças são capazes de desistir dos seus pais pelo seu amor virtual. Onde os pais esquecem de reunir a família à mesa para um jantar harmonioso, conversando sobre o dia a dia pois estão entretidos no seu trabalho ou celular.

Onde homens e mulheres muitas vezes, só querem relacionamentos sem obrigações e seu único 'compromisso' se torna posar para fotos e postar nas redes sociais jurando amor eterno. Onde o amor se tornou público ou uma peça de teatro.

Onde o mais popular ou o mais seguido com mais curtidas em fotos é aquele que aparenta esbanjar felicidade; aquele que posta fotos em lugares legais e badalados rodeados por 'amizades vazias' com 'amores incertos' e 'famílias desunidas'.

Onde as pessoas se esqueceram de cuidar do espírito, da alma vazia e resolveram cuidar e cultuar os seus corpos. Onde vale mais uma lipoaspiração para ter o corpo desejado do 'mundo artístico' do que um diploma universitário.

Onde uma foto na academia tem muito mais curtidas do que uma foto estudando ou praticando boas ações.

Século XXI, aqui você só sobrevive se jogar com a 'razão', e você é destruído se agir com o teu coração!"


Jhanis Saadi 




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RETROCESSO NA INGLATERRA – Péricles Capanema


17 de setembro de 2019
Péricles Capanema

Não vou tratar aqui do imbróglio Brexit. Deixo suas ameaças e incompreensões para eventual outro artigo. O caso pode provocar enorme retrocesso em várias frentes. É de outra regressão, menos imediata, certamente mais funda, o que esmiúço nas linhas abaixo.

Antígua e Barbuda, Austrália, Belize, Barbados, Canadá, Granada, Jamaica, Nova Zelândia, Papua Nova Guiné, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Ilhas Salomão, Bahamas, Tuvalu. British Commonwealth. O Reino Unido é composto de quatro nações, Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda do Norte. Inglaterra, Gales e Escócia formam a Grã-Bretanha. Também British Commonwealth. Constituem todos, repito, a British Commonwealth, cuja tradução, entre várias, poderia ser comunidade das nações britânicas. Têm um só chefe de Estado, a rainha Elisabeth II. Ligados por vários laços construídos pacientemente ao longo das centúrias, esses países constituem uma liga de mútuos bons ofícios, abertura e benevolência recíprocas. Um pouco distante, olhando para a mesma direção, encontram-se Estados Unidos, Índia, Paquistão. De tal comunidade de povos, ligados por tantos laços, e ressalto, os do afeto, consideração e respeito, advêm enormes vantagens comerciais mútuas, facilidades de viagens, de estudos, proteção militar, tanta coisa mais.

Bandeiras dos países-membros da British Commonwealth
No centro, uma pequena ilha, poucas riquezas naturais, governada por séculos com espantosa continuidade operosa. A realidade empurra o observador a se inclinar diante do senso político extraordinário ali incrustado senso de governo que faz lembrar, e quem sabe os supera, os romanos das idades clássicas.

Senatus Populusque Romanus — o Senado e o Povo Romano. Chamo a atenção agora para a palavra Senatus. E para a realidade, conselho formado por pater famílias, os chefes das famílias patrícias. Depois a ela volto.

Os primeiros-ministros de cinco membros da Commonwealth de 1944 em uma Conferência da Commonwealth. Churchill no centro.

Um salto para a História contemporânea. Corria 1937. Winston Churchill, então no ostracismo, carreira encerrada, tudo o indicava, pois era rejeitado no seu partido devido à oposição feroz que fazia ao nazismo e a seu armamentismo, foi convidado para ir à embaixada alemã em 21 de maio, onde o esperava o embaixador Joachim von Ribbentrop, depois ministro do Exterior do Terceiro Reich. Foi-lhe apresentada a proposta de um pacto entre a Alemanha nazista e a Inglaterra. O político inglês a rejeitou prontamente. Então Ribbentrop virou as costas bruscamente e disse: “Sendo assim, não há saída. A guerra é inevitável. Hitler está resolvido. Nada o deterá, nada nos deterá”. Winston Churchill, calmo, disse ao chefe nazista mais ou menos o seguinte: “Não subestime a Inglaterra e de modo especial não a julgue pelas atitudes do presente governo. Ela é muito inteligente. Se vocês nos afundam em outra grande guerra, ela coligará o mundo inteiro contra vocês, como fez na última vez”. Ribbentrop redarguiu: “A Inglaterra pode ser muito inteligente, mas desta vez não coligará o mundo inteiro contra nós”. Churchill foi embora. Veio a guerra, a Inglaterra coligou o mundo contra Hitler, venceu-a, é o mesmo senso político em atividade.

Em 1955, a Rainha Elisabeth II com Winston Churchill no centro

As realidades políticas duradouras estão enraizadas em realidades sociais, delas recebem a seiva. A classe política inglesa em boa medida é reflexo da vida, no campo e na cidade, de famílias que em graus muito diferentes marcaram a história inglesa. Winston Churchill era desse meio. E mesmo os políticos que dali não vieram respiraram tais ares, moldam seu comportamento pelos valores e costumes que pautam as relações entre esposos, filhos, parentela e conhecidos das famílias antigas do Reino Unido. É valor social, para ficar por aqui, de enorme valia. Mais precisamente, tem enorme função social. A Câmara dos Comuns, a Câmara dos Lordes, a própria realeza, sem essa realidade humana que as embasa, seriam corpos de vida anêmica. Têm elas na Inglaterra papel análogo ao Senado romano.

A Rainha na abertura do Parlamento, em 2014

Embora já não se possa falar em sociedade de ordens, referir-se ao fato em comento apenas como sociedade de classes seria apressado, superficial e deformante. À vera, ainda permanece no ar o perfume da sociedade de ordens, continua tendo vitalidade o senso do bem comum, não morreram comportamentos que tiveram seu auge nas épocas de esplendor da cavalaria cristã. Com tais balizas, a benéfica mobilidade social, para cima e para baixo, assimilações e decadências, respeitam a estabilidade, fazem-se enfim sem lesar o bem comum. Estou escondendo os possíveis abusos, deformações, favoritismos injustificáveis? Não, apenas não os estou colocando no quadro para que o essencial seja visto em primeiro lugar. Do mesmo modo que faria ao analisar a situação do bombeiro, de evidente relevância social, sem de início aludir a profissionais corruptos, relapsos e omissos.

Por que coloquei no título retrocesso na Inglaterra? Para não deixar passar batida uma involução, um sintoma dela aponto no próximo parágrafo, que pode, com o tempo, perenizar fossilização regressiva, tantas vezes característica de sociedades igualitárias.

A Editora Debrett publica desde 1769 um anuário, hoje intitulado Peerage and Baronetage, [na foto a edição deste ano — a última], espécie de almanaque da nobreza e aristocracia inglesas. Todos os títulos ali constantes têm sua história, muito deles de grande ressonância, significam a justo título muito no mundo saxão, mas não representam a essência do fenômeno (são dele reflexo) que aqui coloco na lupa: o miolo é o cultivo amoroso da excelência, no caso, a social, por boa parte do público. Isso é motor do avanço em qualquer sociedade.

Informa Vivian Oswald no jornal “Globo”, a edição impressa de 2019 do Peerage and Baronetage, a 150º, será a última. Razão decisiva, o álbum de dois volumes dá prejuízo. São muito altos os custos de produção, distribuição e estocagem do artístico e informativo trabalho, capa de couro, cerca de três mil páginas. A publicação continua na internet, com consulta paga. A propósito, esta última edição, preço promocional, sai por 405 libras.

Em resumo, parece, o público já não se interessa o suficiente para ser lucrativo manter em circulação um dos símbolos da grandeza da Inglaterra. Acostumou-se com horizontes mais acanhados, em que aparece menos a atração pela excelência, no caso, um marco do apreço pela perfeição social. É rota para o atraso, fenômeno que pode ter efeitos mais fundos que o imbróglio Brexit.



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