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domingo, 29 de setembro de 2019

TRANSFORME-SE EM UM JARRO! - Antonio Nunes de Souza


Nosso poder de concentração mental tem, seguramente, a capacidade de transformar nossos pensamentos, cérebros e corações, dirigindo-nos para os lados e caminhos que mais nos aprazem, enfeitando melhor nossas vidas, ajudando a termos coragem, perseverança, fé e confiança que dias melhores virão!

Parece em princípio, mais uma das normais ladainhas que ouvimos, lemos e vemos espalhadas pelas esquinas, mas, nesse nosso caso, estou atendo-me a chegada da nossa querida “Primavera”, estação das mais belas que, carinhosamente, nos rodeia de lindas flores, embelezando os jardins, ornamentando nossas paisagens e, consequentemente, nos revitalizando para enfrentarmos a convivência brutal dessa vida louca que vivemos, onde, pelas podres atitudes animalescas, cotidianamente, somos transformados em grandes latas de lixo, para, obrigatoriamente, recebermos tristemente os atos e fatos dos mais absurdos possíveis!

Chegamos ao ponto mais crítico de termos que, obrigatoriamente, em nossas salas estarmos assistindo atentados, guerras, decapitações, crimes e roubas, como se essas barbaridades fossem naturais e banais entre os seres humanos. Se, com esforços e tristezas, conseguimos nos capacitar a tolerar por falta de opções tais assuntos, nos fazendo de lixões, por que não, com a chegada da “Primavera”, não nos transformamos em lindos jarros para acolher a grande diversidade de cores das suas belíssimas flores?

Tenhamos todos a consciência e paixão efetiva e afetiva, mostrando ao mundo, ou, mesmo que seja apenas em nossa volta, que podemos, queremos e desejamos um mundo bem melhor, onde exista não só o respeito humano, como também a valorização da natureza!

Transforme-se em um jarro, ou no mínimo uma tulipa, mas, não deixe de acolher as flores que perfumam e enfeitam esse mundo que Deus criou e nos entregou com muito carinho e amor!

Antonio Nunes de Souza, escritor
Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL


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PALAVRA DA SALVAÇÃO (150)


26º Domingo do Tempo Comum – 29/09/2019

Anúncio do Evangelho (Lc 16,19-31)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, Jesus disse aos fariseus: “Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias.
Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas.
Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado.
Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado.
Então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’.
Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. E, além disso, há um grande abismo entre nós; por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’.
O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento’.
Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas, que os escutem!’
O rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter’.
Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos’”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Prof. Felipe Aquino:

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A indiferença cria abismos

“E, além disso, há um grande abismo entre nós”. (Lc 16,26)

O Evangelho deste domingo volta a tratar do tema das riquezas com a parábola do rico Epulón e o pobre Lázaro. Uma parábola desconcertante e inquietante porque nos situa frente a uma cena que sacode o coração, pois concentra, em uma só imagem, a realidade presente em nosso mundo: o abismo entre ricos e pobres. Existe a injustiça, existe a humilhação e a indiferença para com os menos favorecidos; existe o esbanjamento de uns frente à miséria de outros. E isto acontece também entre nós, comunidades e famílias cristãs. 

Há muitos aspectos da riqueza que podem ser injustos e nocivos; mas nesta parábola Jesus critica a indiferença do rico diante do sofrimento do pobre que está próximo, à porta. Jesus nos previne contra essa tendência a evitar que os problemas alheios perturbem nossa “zona de conforto”.

O pobre necessitado não é alguém que possamos escolher; ele aparece junto à porta de nossas vidas...

Assim, pois, estamos diante de um texto duplamente perturbador: ele nos deixa inquietos ante a humilhante situação inicial do pobre, coberto de chagas e com vontade de saciar-se das migalhas que caiam da mesa do rico; e diante do destino último do rico, que gritava para que Lázaro lhe refrescasse a língua porque as chamas o torturavam.

Se tivéssemos que escolher uma palavra que fosse a chave de leitura da parábola deste domingo, essa palavra seria “abismo”. E se pudéssemos nomear a atitude denunciada na mesma parábola, essa seria “indiferença”.

Experimentamos um grande pecado de raiz, que a todos nos envenena: a cultura da indiferença. Questões gerais, comuns a grande número de pessoas, não nos provocam e nem nos movem para além de nossos umbigos. Também os problemas dos outros não nos dizem respeito. E se há fome e sofrimento ao nosso redor, isso não nos inquieta. A maldade, a violência, as mortes, as perseguições e escravidões não nos afetam mais. E vivemos como se nada disso tivesse relação conosco. Não choramos mais as dores do mundo que construímos e ao qual pertencemos. E o caos que enfrentamos em nossa sociedade nos deixa sem horizontes e perspectivas de futuro. Sentindo que tudo vai muito mal, anestesiamos nossa sensibilidade e entramos num estado de apatia e indiferença para com o mundo, as coisas e as pessoas.

A indiferença é cruel. Ela edifica uma barreira instransponível entre grupos, classes sociais, ideologias, religiões... Tornamo-nos uma ilha sem vida e triste, negamos a condição criatural de vivermos ao lado dos diferentes, nossos semelhantes. Em nós, a indiferença é sintoma de desumanização. E essa desumanização é tanto prejudicial a nós quanto às outras pessoas. Todo mundo perde. Aos poucos, nos recolhemos em nossos medos, em nossas inseguranças e começamos a acreditar que os diferentes são nossos inimigos. Da indiferença passamos aos discursos fascistas, às práticas fundamentalistas, à segregação... 

“Os cristãos devem ser ilhas de compaixão num mar de indiferença”.

O grau de humanidade (ou de indiferença) de nosso mundo se mede pelo grau de sensibilidade diante da dor humana. E é a compaixão a melhor expressão dessa sensibilidade e humanidade: deixar-nos afetar pelo que acontece – ou seja, ter uma sensibilidade limpa, desbloqueada e vibrante.

Definitivamente, a compaixão é central para sermos humanos. O sofrimento das vítimas nos “descentra” e nos faz “descer com paixão” aos seus pés e nos situar ao lado (a favor) delas. Sempre podemos fazer a “travessia para o outro lado”. Ali é onde se abrem espaços à compaixão.

Esta compaixão não é meramente um sentimento privativo, mas reação “apaixonada” diante das injustiças sangrentas de nosso mundo. Nos sofredores há algo que atrai e convoca, que nos faz sair de dentro de nós mesmos e nos tornar próximos deles; aí reside a origem da solidariedade que suscita uma ação eficaz e um compromisso de vida a favor de quem é vítima de situações injustas.

Não resta dúvida que o sentimento nuclear do evangelho, o eixo ao redor do qual tudo gira, é a compaixão. Na sua missão, Jesus sempre se mostrou um homem compassivo, que revelou um Deus Compaixão e que, como consequência, nos convida a viver essa mesma atitude: “Sede compassivos como vosso Pai é compassivo” (Lc 6,36).

Expressão de fraternidade e vivida como serviço, a compaixão é a capacidade de situar-se no lugar do outro, sentir e sofrer com ele. É provavelmente o máximo sinal de maturidade humana e todas as tradições espirituais reconhecem isso. No budismo, especialmente, se afirma que, enquanto alguém não for capaz de colocar-se no lugar do outro, não poderá alcançar a iluminação.

Se a compaixão constitui a coluna central do evangelho, não causa estranheza que as denúncias mais fortes de Jesus são dirigidas contra a atitude de indiferença. É o que Ele revela na parábola deste domingo, onde a indiferença é retratada na atitude do rico epulón, que não causa dano ao pobre Lázaro, mas é incapaz de abrir a porta de sua casa e deixar-se afetar pela situação miserável dele.

Aqui, a chave de compreensão da parábola é encontrada na expressão “um grande abismo”. Um abismo que, não só se faz intransponível depois da morte, mas que foi alimentado exclusivamente pela indiferença do rico. Não tinha feito mal ao pobre; simplesmente, não tinha visto aquela pessoa necessitada de suas migalhas para saciar sua fome. É esse “não ver” que cria um abismo profundo em nossas relações pessoais, em nossos países e em nosso mundo.

Há uma “massa sobrante” que se torna “invisível” porque nossa sensibilidade está bloqueada ou petrificada, fechando-nos em um caracol egocêntrico e instalando-nos na indiferença, que está na origem das injustiças e violências que diariamente ferem o nosso mundo.

Vivemos tempos de “globalização da indiferença”, ou seja, a indiferença está se convertendo em um fenômeno mundial. É uma mancha de óleo que invadiu todos os ambientes, é um som desagradável que molesta todos os ouvidos, é um comportamento nefasto que se espalhou como pólvora, é um péssimo modo de proceder que se converteu em denominador comum de toda a humanidade.

Nós, seguidores(as) de Jesus, precisamos vigiar se não quisermos cair na tentação da indiferença. Costumeiramente, tendemos ao conformismo. A cultura da indiferença é fortalecida toda vez que deixamos de acreditar que a realidade pode e deve ser diferente. Não podemos nos dar por vencidos acreditando que estamos no fim, que nossas forças já se esgotaram, que não há mais sentido para lutar.

O primeiro convite que nos faz a parábola deste domingo é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. Sempre é tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós o encontra no próprio caminho. Cada vida que se cruza conosco é um dom e merece aceitação, cuidado, amor.

Nesse sentido, “amar é abrir a porta”. 

Texto bíblico:  Lc 16,19-31

Na oração: É possível superar os tempos sombrios que estamos vivendo, não nos deixando dominar pela indiferença, alimentando a capacidade de nos indignar, compadecer e afetar pela situação do outro. Que a dor, a injustiça, a morte, a fome, a mentira, o futuro não nos seja indiferente.
- Quê lugar ocupa a “compaixão” em sua vida interior, em seu compromisso diário, no horizonte de sua vida, nos encontros cotidianos? 

Pe. Adroaldo Palaoro sj



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