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terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A DERROTA DA VOZ ROUCA - Zuenir Ventura

A derrota da voz rouca

Diante da confusão política dominante, uma questão se colocou para os analistas: 2016 já terminou? Não vai terminar? Nem começou? Ou já vai tarde? Honrado por ter tido o “1968 — o ano que não terminou” citado anteontem por três respeitáveis colegas — Cora Rónai, Ancelmo Gois e Ricardo Noblat —, me senti convocado a participar dessa peleja, mas avisando que, ao contrário do que disseram à Cora, não estou escrevendo “2016 — o ano que não começou”. Não teria condições. Se levei 20 anos para fazer o “1968”, precisaria do dobro para dar conta de um ano como o atual, de tempos mais difíceis e complicados, ainda que menos sofridos. De fato, hoje não temos censura, não sofremos tortura, falamos o que queremos, e as vísceras do país estão à mostra. Cheiram mal, mas estão expostas.

Em compensação, naquela época, o maniqueísmo facilitava a visão. O mal não se misturava com o bem e vice-versa, como vem acontecendo, inclusive esta semana no episódio STF x Senado. Naquele momento, o Supremo preferiu a amputação (ministros Victor Nunes Leal, Hermes Lima e Evandro Lins e Silva aposentados pelo AI-5) a fazer acordo com o outro lado, ainda que, agora, sob a alegação de evitar o pior com o agravamento da crise. Nem Eduardo Cunha afrontou tanto o STF quanto Renan Calheiros. Nunca um réu por peculato e alvo de outros 11 processos foi capaz de desafiar o Supremo ao desobedecer à decisão liminar que determinava seu afastamento da presidência da Casa. Não abandonou o cargo nem sequer recebeu o oficial de Justiça com a notificação. Logo depois, vencedor nessa disputa de forças, afirmou cinicamente no discurso da vitória que “decisão do Supremo se cumpre”. Disse isso, sem precisar acrescentar que, claro, quando favorável. Ele criou a necessidade de se usar aspas para “decisão patriótica” do STF. 

Como pertenço à voz rouca das ruas, me guio pelo que leio dos que são bem informados. E assim, por meio deles, descobri que para se chegar a esse acordão, desculpe, a essa “fórmula”, juntaram-se o presidente Temer, senadores do PMDB e do PSDB e os ex-presidentes José Sarney e Fernando Henrique Cardoso para pressionar, desculpe, “convencer” os seis juízes do STF que premiaram a desobediência. E assim foi decretado: para o bem geral da nação, diga ao povo que Renan fica. Mas como são políticos escolados, que sabem com quem estão lidando, tiveram a precaução de evitar que ele chegue à Presidência da República, mesmo que por pouco tempo. Confiar desconfiando.

No final, o juiz Marco Aurélio Mello, autor da liminar, declarou-se “vencido, mas não convencido”. Como, aliás, a voz rouca das ruas.

O Globo, 10/12/2016




Zuenir Ventura - Sétimo ocupante da Cadeira n.º 32 da ABL. Foi eleito no dia 30 de outubro de 2014, na sucessão do Acadêmico Ariano Suassuna, e recebido no dia 6 de março de 2015, pela Acadêmica Cleonice Berardinelli.

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POR AMOR – Antônio Carlos Hygino

Por amor

Recordo-me bem das alvoradas e, com mais nitidez, do por do sol no velho cais banhado pelas águas do Rio Buranhém,  que se mesclavam com as vindas do oceano, separados, o rio e o mar, por um colossal recife em barreira esculpido pela natureza, a desenhar uma das mais belas paisagens por ela criadas. Vejo-me na Ponta de Areia, local próximo ao cais. Na beira da praia, havia a tarifa – ponto de comércio de mariscos -. Ao lado, uma amendoeira antiga cercada por espécie de banco de madeira, meio desforme e rústico, onde as pessoas se reuniam para conversar, jogar dominó, tomar um trago e também confidenciar juras de amor. Próximo dali, na Praia do Cruzeiro, misturam-se pitangueiras, mangabeiras, cajueiros e, na areia branca, os pés de gurus se espalhavam entrelaçados e ofertavam frutos roxeados de sabor inesquecível, sem igual.

A eles se misturavam os pés de cocos de caxandó. Eu era menino e, juntamente com meus amigos, desfrutava daquilo tudo. Adorava ir à tarifa com o meu avô comprar peixe. O preferido dele era Guaricema. Minha avó fazia uma moqueca de Guaricema frita, servida com mangabas, que até hoje guardo na lembrança. Numa dessas idas e vindas à tarifa, ou- vir um marujo, em tom zombador, de deboche, contar ao meu avô o que houvera se passado com “Beijinho”, um pescador, homem do mar. Assim o chamavam porque era de baixa estatura. Seu nome era Benjamim.

Sujeito forte, valente, destemido. Beijinho era pai de Maciel e de Otávio, frutos do seu  casamento com Ana, conhecida por Donana, a mulher de sua vida. Havia duas coisas que realmente amava Ana e o mar. Eram pescadores, mestres na arte de navegar. Não tinham estudo, mas experiência não lhes faltava. Tinham um saveiro batizado de “Marujo”. Da embarcação tiravam o sustento.

O casamento de mais de 40 anos findara com a morte de Donana. A dor da perda da mulher amada,  modificou-lhe complemente a vida. Beijinho não mais saia de casa. Fez-se triste. Nada mais fazia sentido. Desde o passamento, há um ano, a solidão e a tristeza passaram a lhe fazer companhia.

Certo dia, seus filhos convenceram-no a visitar “Marujo”. Estava o saveiro completamente reformado. Convencido pelos filhos resolveu, então, voltar ao mar. O barco foi guarnecido do necessário à finalidade. No dia seguinte, bem cedinho, deixaram o cais. O veleiro rompeu a barra e rasgou o mar. A previsão de retorno era no final da tarde. A depender da pescaria, dormiriam no mar e voltariam no dia seguinte. A pesca era artesanal. 
Não havia instrumentos de navegação, salvo a bússola. Falava mais alto a experiência, até mesmo na localização dos chamados pesqueiros em alto mar.

Naquele dia tudo estava correndo muito bem. Haviam localizado um pesqueiro e farta era a pesca. Animados, resolveram pernoitar. Caía a tarde. As estrelas, ainda meio tímidas, começam a piscar no firmamento. De repente, o tempo se transformou. O vento sul soprava impiedosamente, cujas rajadas violentas despertaram a ira de Netuno, deixando o mar revolto. A natureza chorava em forma de tormenta e seus gritos se revelavam no estrondo estarrecedor dos trovões. Por vezes cuspia labaredas de fogo a iluminar, por breves segundos, o breu da noite.

Em meio a esse cenário, o saveiro desgovernado bailava, ora para a esquerda, ora para a direita, ora para cima, ora para baixo, sem saber ao certo para onde ir. Dentro dele, os homens desesperados, rogavam a Deus a salvação. A chuva apagou as duas lamparinas que se encontram do lado de fora do convés. Tudo ficou turvo. Tateando em busca de uma delas, Beijinho desequilibrou-se e caiu ao mar. Desesperado, mestre Otávio lançou-se ao mar em fúria para socorrer seu velho pai. Seu guia era a intuição. Do saveiro, com uma lanterna, Maciel norteava a Otávio. Os gritos aflitos deram a Otávio a localização de Beijinho. Agarrado ao pai tentava bravamente levá-lo a bordo, mas não conseguia devido não só às circunstâncias, mas à resistência dele em querer morrer no mar. Sem alternativa, deferiu-lhe um soco, vindo ele a desmaiar. Maciel arremessou- lhe uma boia amarrada numa corda. Agarrou-se à boia e puxado por Maciel, finalmente veio a bordo trazendo consigo o pai. Exausto, no convés, agarrado ao seu pai, viu a noite lentamente passar.

O dia amanheceu. O tempo havia melhorado. Beijinho acordou. Ainda assustado, o mestre Otávio lhe pergunta: “meu pai, por que o senhor dizia aos gritos que queria morrer”? Ao que ele respondeu: “porque não cumpri a jura que fiz a Ana, a mulher que sempre amei e amo, de partir antes dela para esperá-la no céu, na casa de Deus e, num cantinho, revivermos o nosso grande amor”. Em silêncio, atentamente, meu avô a tudo ouviu. Apaixonado por minha avó, não fez qualquer comentário. Pensei comigo como podia àquele homem desdenhar do amor? Afinal, quem nunca quis morrer por amor?

E tenho, até hoje, que só desdenha do amor quem não conhece o amor.

Amar é preciso.

Viver não é preciso.


Sobre o autor:
Antônio Carlos de Souza Hygino
Juiz de Direito titular da 5ª Vara Cível da Comarca de Itabuna – Bahia.



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SOBRE GRATIDÃO – Frases de vários autores

Gratidão


“Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores.” 
Khalil Gibran

“Todos os sentimentos podem conduzir ao amor e à paixão. Todos: o ódio, a compaixão, a indiferença, a veneração, a amizade, o medo e até mesmo o desprezo. Sim, todos os sentimentos... exceto um: a gratidão. A gratidão é uma dívida: todo o homem paga as suas dívidas... mas o amor não é dinheiro.”
Ivan Turgueniev

“Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha.”
Maquiavel

“A gratidão de quem recebe um benefício é bem menor que o prazer daquele de quem o faz.” 
Machado de Assis

“As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo.” 
Epicuro

“Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação da sua dívida.” 
Sêneca

“A gratidão da maioria dos homens não passa de um desejo secreto de receber maiores favores.” 
François La Rochefoucauld

“Os homens apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é um peso e a vingança, um prazer.”
Tácito

“Aprendi que deveríamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo que lhe pedimos.
”William Shakespeare

“A gratidão é um fruto de grande cultura; não se encontra entre gente vulgar.
”Samuel Johnson


FERNANDO. O RETORNO! - Antonio Nunes de Souza

Fernando - O retorno

Imperiosamente, dentro das tramitações da lei, temos que, sem pragas e premonições agourentas, acatar a posse do prefeito eleito, Sr. Fernando Gomes de Oliveira!

Se foi eleito pela quinta vez, temos que reconhecer que ele, para esse povo que sempre o elege, foi um administrador competente, trabalhador, atuante e, mais que tudo isso, um homem que soube agradar a maior parte da comunidade, principalmente o eleitorado de menor poder aquisitivo, onde mora o seu foco maior de votação!

 Como se pode deixar de reconhecer que Fernando Gomes, Fernando Cuma, Fernando Gomes de Oliveira é o maior político da região cacaueira, sendo bastante completo, pois, carrega em sua brilhante carreira eletiva, todas as qualidades de um verdadeiro político: os grandes defeitos e as grandes virtudes; E, assim sendo, simboliza o verdadeiro político brasileiro! Um homem que não satisfaz a todos, mas tem a maioria ao seu lado que, conforme seu guia de campanha, “foram chamá-lo” e ele veio para vencer com uma votação esmagadora!

Resta-nos esperar como será esse penta campeonato, se ele pretende fechar sua última (?) administração com chave de ouro, cumprindo suas atuais e antigas promessas, deixando uma lembrança imponente na comunidade, tratando de todas as necessidades básicas com atenção, solidariedade e civismo!

Seja bem-vindo Fernando, faça essa sociedade, dita organizada, fazer também a parte dela, ajudando no que for preciso e possível, sem ficar acomodada em seus pedestais, fazendo somente queixas e recriminações. Pois, se todos colaborarem, os resultados advirão de imediato, beneficiando a coletividade! Chega de ouvir dessas pessoas a velha e desgastada ladainha “que paga seus impostos e tudo compete ao governo”. Lembrem-se da grande frase dita pelo estadista respeitável John Kennedy, presidente americano:  ”Não olhe o que o governo pode fazer por você. Olhe o que você pode fazer por ele!”

Antonio Nunes de Souza, escritor
Membro da Academia Grapiúna de letras –AGRAL


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