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domingo, 29 de maio de 2022

ITABUNA CENTENÁRIA UM SONETO: Amor Condusse Noi Ad Nada - Paulo Mendes Campos

 


 
Amor Condusse Noi Ad Nada

Paulo Mendes Campos


Quando o olhar adivinhando a vida
Prende-se a outro olhar de criatura
O espaço se converte na moldura
O tempo incide incerto sem medida

As mãos que se procuram ficam presas
Os dedos estreitados lembram garras
Da ave de rapina quando agarra
A carne de outras aves indefesas

A pele encontra a pele e se arrepia
Oprime o peito o peito que estremece
O rosto a outro rosto desafia

A carne entrando a carne se consome
Suspira o corpo todo e desfalece
E triste volta a si com sede e fome.


(Paulo Mendes Campos)

 

Saiba mais: Paulo Mendes Campos – Wikipedia

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (265)

 


Solenidade da Ascensão do Senhor | domingo, 29 de maio de 2022

 

Anúncio do Evangelho (Lc 24,46-53)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.

Vós sereis testemunhas de tudo isso. Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”.

Então Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram. Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria. E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

https://liturgia.cancaonova.com/pb/

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Donizete Ferreira – Sacerdote da Comunidade Canção Nova:


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Ascenção: bênção que se espalha sobre a humanidade

 


Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os” (Lc 24,50) 

Segundo o relato de Lucas, na Ascenção, Jesus “desaparece” em Deus; Ele não se afasta da humanidade, mas continua presente de uma outra maneira: junto com o Pai e o Espírito faz sua “morada” no interior de cada pessoa.

Por isso, Jesus não deixa uma estrutura religiosa organizada (com sua hierarquia, seus ritos, leis, doutrinas...); Ele deixa na terra “testemunhas”, ou seja, aqueles(as) que comunicam a sua experiência de um Deus de bondade e contagiam com seu estilo de vida centrado no modo de agir e viver do próprio Jesus. Serão testemunhas cristificadas, trabalhando por um mundo mais justo e humano.

Mas Jesus conhece bem os seus discípulos; sabe que eles são frágeis e medrosos. Onde encontrarão a audácia para serem testemunhas de alguém que foi crucificado pelo representante do Império e pelos dirigentes do Templo? Jesus tranquiliza-os: “Eu enviarei a vós aquele que Pai prometeu”. Não lhes vai faltar a “força do alto”. O Espírito de Deus os defenderá. 

A “ausência física” de Jesus revelar-se-á, então, como oportunidade para fazer crescer a maturidade de seus seguidores. Ele lhes deixa o dom de seu Espírito que promoverá o crescimento responsável e adulto dos seus. É inspirador recordar isso nesse momento em que parece crescer entre nós o medo à criatividade, a tentação do imobilismo, a petrificação no ritualismo e na doutrina, ou a saudade de um cristianismo pensado para outros tempos e outra cultura.

A festa da Ascenção do Senhor nos recorda que, terminada a presença história de Jesus, vivemos “o tempo do Espírito”, tempo de criatividade e de crescimento responsável no seguimento de Jesus. O Espírito não nos oferece “receitas eternas”. Ele nos dá luz e alento para ir buscando caminhos sempre novos e alternativos para atualizar hoje o modo de ser e agir de Jesus. Assim Ele nos conduz para a verdade completa d’Aquele que sempre se revelou verdadeiro. 

Para expressar graficamente o último desejo de Jesus, o evangelista Lucas descreve a sua partida deste mundo de forma surpreendente: Jesus volta ao Pai levantando as suas mãos e abençoando os seus discípulos. É o seu último gesto. Jesus entra no mistério insondável de Deus e sobre o mundo faz descer a sua bênção. Seus seguidores começam sua peregrinação pelo mundo protegidos por aquela benção com a qual Jesus curava os enfermos, perdoava os pecadores, abençoava e acariciava as crianças...

Bênção atravessa toda a Bíblia, e quer atravessar também nossas vidas. Ela brota do olhar primeiro e amoroso de Deus que, admirado, viu que toda Criação era boa e preciosa. Também nossa missão, confiada pelo Ressuscitado, consiste em recuperar este olhar, esta benção original, sobre nós e sobre a terra; uma bênção que desperta admiração e assombro ao perceber a bondade e beleza no interior daqueles que não são considerados bons e dignos de beleza. 

A palavra “bênção” tem um sentido amplo e direto; procede do termo latino “benedictio” e significa “dizer bem”. Mas, determinados pelo nosso contexto social e político que preza pelo ódio, preconceito, maledicência, “fake news”..., a sensação que temos é que há uma curiosidade viral, uma excitação, um prazer mórbido em “dizer mal”, destruir reputações, emitir juízos moralistas, ferir e excluir o outro que pensa, sente e ama de maneira diferente. Há uma “maledictio” (“mal-dizer”) que paira em todos os meios de comunicação e redes sociais, envenenando relações, rompendo vínculos, criando divisões. E tudo isso emerge da interioridade petrificada das pessoas, alimentando um fúnebre processo de desumanização. O trágico é que essas manifestações de maldição são expressas por quem se confessa seguidor(a) d’Aquele que sempre foi presença visível da Verdade e fonte de perene Benção. Quanta incoerência no seguimento de Jesus Cristo!

“Não há pior patologia que essa dissipação da alma, esse olhar cheio de pré-juizos que nos torna pequenos e amargos, esse juízo que se deixa escravizar pelo defeito e pelo peso da imperfeição e depois não nos deixa sair até que ignoramos a liberdade. Não há exercício mais esterilizante que essa espécie de ressentimento expresso como anátema em relação com a vida, esse totalitarismo da queixa que, sem nos dar conta, nos asfixia, essa incapacidade de romper com a engrenagem da maldição sobre todos e sobre tudo, da qual nem nós mesmos escapamos” (Cardeal Tolentino).

Somos herdeiros(as) de uma benção, herdeiros(as) da doação e da esperança de tantos homens e mulheres que, ao longo da história, aliviaram sofrimento, recobraram dignidades e ajudaram a viver.

Agora, somos nós a geração portadora dessa benção. Presente, passado e futuro.

Como seguidores(as), esquecemo-nos que somos portadores(as) da bênção de Jesus. A nossa primeira tarefa é ser testemunha da Bondade de Deus, manter viva a esperança, não nos rendermos diante do “maledictio”.

Na Igreja de Jesus, temos esquecido que a primeira coisa a se fazer é promover uma “pastoral da bênção”. Temos de nos sentir testemunhas e profetas desse Jesus que passou a sua vida semeando gestos e palavras de bênção, de bondade e de misericórdia. Assim, despertou nas pessoas da Galiléia a esperança no Deus Salvador, abriu um horizonte de sentido. Jesus era uma bênção visível e as pessoas reconheciam isso.

Somos chamados a ser presença de “bênção”. Que todos aqueles que vivem situações de desamparo, de miséria, de desamor, de indefesa, de maldição... possam sentir em nós o prolongamento da Benção do Ressuscitado; possam sentir-se bem acolhidos, bem nomeados, bem olhados, bem-amados.

“Dizer bem”, “bendizer”, “abençoar”, é nossa vocação primordial, porque só isso desperta a consciência de que cada um de nós é portador(a) autorizado(a) de uma indestrutível benção, e esse é o modo de fazer justiça ao maravilhoso milagre que é estar vivos. “Dizer bem” é conectar-nos com aquela verdade mais profunda, que é o puro vínculo na ordem do ser. Sem essa ancoragem compassiva na raiz do nosso ser e no nosso modo cristificado de viver, não chegaremos a compreender verdadeiramente o enorme e misterioso pulsar da própria existência.

Cada um de nós depende – porque a vida é dom e confirmação reiterada do dom – daquilo que a benção desencadeia. Somos um elo na longa corrente de bênçãos; são inúmeras as pessoas que deixaram impregnadas em nosso coração a marca da bênção oblativa, aberta e desafiadora. Crescemos e amadurecemos sob o impulso da “benedictio” daqueles(as) que conviveram ou convivem conosco.

E, por isso, é tão importante buscar a benção, colocar-nos de seu lado luminoso, ativá-la e exercitá-la ao nosso redor. O tempo se ilumina quando nos deslocamos da sombra da “maledictio” e nos re-situamos na órbita da “benedictio”.

Assim se expressa a maravilhosa e antiga bênção irlandesa: “Que o caminho seja brando a teus pés,/ que o vento sopre leve em teus ombros./ Que o sol brilhe em teu rosto sem ferir-te,/ e as chuvas caiam serenas em teus campos./ E até que eu de novo te veja,/ Deus te guarde cada dia na palma de Sua mão”. 

Texto bíblico:  Lc 24,46-53 

Na oração: Todo(a) seguidor(a) de Jesus é “canal” de transmissão de Sua bênção que salva, eleva, exalta a dignidade de cada pessoa.

- Sua presença cotidiana é reveladora de “benedictio” ou “maledictio”, de elogio ou de maledicência, de vibração diante da nobreza do outro ou de queixa amarga?...

 


Pe. Adroaldo Palaoro sj

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2579-ascencao-bencao-que-se-espalha-sobre-a-humanidade

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