ITABUNA CENTENÁRIA UM SONETO: Amor Condusse Noi Ad Nada - Paulo Mendes Campos
Paulo Mendes Campos
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Solenidade da Ascensão do Senhor | domingo, 29 de maio de 2022
Anúncio do Evangelho (Lc
24,46-53)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de
Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: “Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos
mortos ao terceiro dia e no seu nome serão anunciados a conversão e o
perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.
Vós sereis testemunhas de tudo
isso. Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu. Por isso,
permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”.
Então Jesus levou-os para fora,
até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os
abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram. Em
seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria. E estavam sempre no
Templo, bendizendo a Deus.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
https://liturgia.cancaonova.com/pb/
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Donizete
Ferreira – Sacerdote da Comunidade Canção Nova:
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Ascenção: bênção que
se espalha sobre a humanidade
Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali
ergueu as mãos e abençoou-os” (Lc 24,50)
Segundo o relato de Lucas, na Ascenção, Jesus “desaparece” em
Deus; Ele não se afasta da humanidade, mas continua presente de uma outra
maneira: junto com o Pai e o Espírito faz sua “morada” no interior de cada
pessoa.
Por isso, Jesus não deixa uma estrutura religiosa organizada
(com sua hierarquia, seus ritos, leis, doutrinas...); Ele deixa na terra
“testemunhas”, ou seja, aqueles(as) que comunicam a sua experiência de um Deus
de bondade e contagiam com seu estilo de vida centrado no modo de agir e viver
do próprio Jesus. Serão testemunhas cristificadas, trabalhando por um mundo
mais justo e humano.
Mas Jesus conhece bem os seus discípulos; sabe que eles são
frágeis e medrosos. Onde encontrarão a audácia para serem testemunhas de alguém
que foi crucificado pelo representante do Império e pelos dirigentes do Templo?
Jesus tranquiliza-os: “Eu enviarei a vós aquele que Pai prometeu”. Não
lhes vai faltar a “força do alto”. O Espírito de Deus os defenderá.
A “ausência física” de Jesus revelar-se-á, então, como
oportunidade para fazer crescer a maturidade de seus seguidores. Ele lhes deixa
o dom de seu Espírito que promoverá o crescimento responsável e adulto dos
seus. É inspirador recordar isso nesse momento em que parece crescer entre nós
o medo à criatividade, a tentação do imobilismo, a petrificação no ritualismo e
na doutrina, ou a saudade de um cristianismo pensado para outros tempos e outra
cultura.
A festa da Ascenção do Senhor nos
recorda que, terminada a presença história de Jesus, vivemos “o tempo do
Espírito”, tempo de criatividade e de crescimento responsável no seguimento de
Jesus. O Espírito não nos oferece “receitas eternas”. Ele nos dá luz e alento
para ir buscando caminhos sempre novos e alternativos para atualizar hoje o
modo de ser e agir de Jesus. Assim Ele nos conduz para a verdade completa
d’Aquele que sempre se revelou verdadeiro.
Para expressar graficamente o último desejo de Jesus, o
evangelista Lucas descreve a sua partida deste mundo de forma surpreendente:
Jesus volta ao Pai levantando as suas mãos e abençoando os
seus discípulos. É o seu último gesto. Jesus entra no mistério insondável de
Deus e sobre o mundo faz descer a sua bênção. Seus seguidores começam sua
peregrinação pelo mundo protegidos por aquela benção com a qual Jesus curava os
enfermos, perdoava os pecadores, abençoava e acariciava as crianças...
A Bênção atravessa toda a Bíblia, e quer
atravessar também nossas vidas. Ela brota do olhar primeiro e amoroso de Deus
que, admirado, viu que toda Criação era boa e preciosa. Também nossa
missão, confiada pelo Ressuscitado, consiste em recuperar este olhar, esta
benção original, sobre nós e sobre a terra; uma bênção que desperta admiração e
assombro ao perceber a bondade e beleza no interior daqueles que não são
considerados bons e dignos de beleza.
A palavra “bênção” tem um sentido amplo e direto;
procede do termo latino “benedictio” e significa “dizer
bem”. Mas, determinados pelo nosso contexto social e político que
preza pelo ódio, preconceito, maledicência, “fake news”..., a sensação que
temos é que há uma curiosidade viral, uma excitação, um prazer mórbido em
“dizer mal”, destruir reputações, emitir juízos moralistas, ferir e excluir o
outro que pensa, sente e ama de maneira diferente. Há uma “maledictio” (“mal-dizer”)
que paira em todos os meios de comunicação e redes sociais, envenenando
relações, rompendo vínculos, criando divisões. E tudo isso emerge da
interioridade petrificada das pessoas, alimentando um fúnebre processo de
desumanização. O trágico é que essas manifestações de maldição são expressas
por quem se confessa seguidor(a) d’Aquele que sempre foi presença visível da
Verdade e fonte de perene Benção. Quanta incoerência no seguimento de Jesus
Cristo!
“Não há pior patologia que essa dissipação da alma, esse
olhar cheio de pré-juizos que nos torna pequenos e amargos, esse juízo que se
deixa escravizar pelo defeito e pelo peso da imperfeição e depois não nos deixa
sair até que ignoramos a liberdade. Não há exercício mais esterilizante que
essa espécie de ressentimento expresso como anátema em relação com a vida, esse
totalitarismo da queixa que, sem nos dar conta, nos asfixia, essa incapacidade
de romper com a engrenagem da maldição sobre todos e sobre tudo, da qual nem
nós mesmos escapamos” (Cardeal Tolentino).
Somos herdeiros(as) de uma benção, herdeiros(as) da doação e
da esperança de tantos homens e mulheres que, ao longo da história, aliviaram
sofrimento, recobraram dignidades e ajudaram a viver.
Agora, somos nós a geração portadora dessa benção. Presente,
passado e futuro.
Como seguidores(as), esquecemo-nos que somos portadores(as)
da bênção de Jesus. A nossa primeira tarefa é ser testemunha da
Bondade de Deus, manter viva a esperança, não nos rendermos diante do “maledictio”.
Na Igreja de Jesus, temos esquecido que a primeira coisa a
se fazer é promover uma “pastoral da bênção”. Temos de nos sentir testemunhas e
profetas desse Jesus que passou a sua vida semeando gestos e palavras de
bênção, de bondade e de misericórdia. Assim, despertou nas pessoas da Galiléia
a esperança no Deus Salvador, abriu um horizonte de sentido. Jesus era uma
bênção visível e as pessoas reconheciam isso.
Somos chamados a ser presença de “bênção”. Que todos aqueles
que vivem situações de desamparo, de miséria, de desamor, de indefesa, de
maldição... possam sentir em nós o prolongamento da Benção do Ressuscitado;
possam sentir-se bem acolhidos, bem nomeados, bem olhados, bem-amados.
“Dizer bem”, “bendizer”, “abençoar”, é
nossa vocação primordial, porque só isso desperta a consciência de que cada um
de nós é portador(a) autorizado(a) de uma indestrutível benção, e esse é o modo
de fazer justiça ao maravilhoso milagre que é estar vivos. “Dizer bem” é
conectar-nos com aquela verdade mais profunda, que é o puro vínculo na ordem do
ser. Sem essa ancoragem compassiva na raiz do nosso ser e no nosso modo
cristificado de viver, não chegaremos a compreender verdadeiramente o enorme e
misterioso pulsar da própria existência.
Cada um de nós depende – porque a vida é dom e confirmação
reiterada do dom – daquilo que a benção desencadeia. Somos um elo na longa
corrente de bênçãos; são inúmeras as pessoas que deixaram impregnadas em nosso
coração a marca da bênção oblativa, aberta e desafiadora. Crescemos e amadurecemos
sob o impulso da “benedictio” daqueles(as) que conviveram ou convivem conosco.
E, por isso, é tão importante buscar a benção, colocar-nos
de seu lado luminoso, ativá-la e exercitá-la ao nosso redor. O tempo se ilumina
quando nos deslocamos da sombra da “maledictio” e nos re-situamos na órbita da
“benedictio”.
Assim se expressa a maravilhosa e antiga bênção
irlandesa: “Que o caminho seja brando a teus pés,/ que o vento
sopre leve em teus ombros./ Que o sol brilhe em teu rosto sem ferir-te,/ e as
chuvas caiam serenas em teus campos./ E até que eu de novo te veja,/ Deus te
guarde cada dia na palma de Sua mão”.
Texto bíblico: Lc 24,46-53
Na oração: Todo(a) seguidor(a) de Jesus é
“canal” de transmissão de Sua bênção que salva, eleva,
exalta a dignidade de cada pessoa.
- Sua presença cotidiana é reveladora de “benedictio” ou
“maledictio”, de elogio ou de maledicência, de vibração diante da nobreza do
outro ou de queixa amarga?...
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