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domingo, 3 de setembro de 2017

ITABUNA CENTENÁRIA: UM POEMA – Rima - Geraldo Maia

RIMA


Obrigado por me receber sem me julgar ou desmerecer 

obrigado por me poemar só com palavras 
feitas para o sim
obrigado por aceitar meu sim no coito do meu não 
e quando digo não é para aceitar a contradição 
a contraluz que raciocina com o meu coração 
obrigado pelo que me ensina esses teus dizeres 
versos de explosão como convém à carícia 
e quando me avisa já perdi o salto 
estou do outro lado que você me vê 
do lado contrário aí bem ao teu lado 
longe de você 
e quando disparo todo o arsenal 
do bem e do mal você sorri e canta 
e tua palavra então me sustenta em ti 
só para ouvir tua delicadeza 
que ventura mil dizer o que sentiu 
essa tua surpresa 
chega em poesia do jeito que ferve 
e quando me escreve é tanta entranha 
teu poço me serve o que me reserva 
o sabor da seiva escorre da pétala 
flor tão generosa em doar-se apenas 
dar-se assim tão plena sem pensar ou pena 
sem pesar nem tema que te amar é risco 
gravado no ritmo do teu coração 
e te amar convicto de que não há desperdício 
quando o amor é riso e rí tão cruel 
uma face afia o tom do mel e a outra fia o dom de fel 
amacia a máscara de doer a carícia no calor do grito 
rompe com o granito no fio da ventania 
e teu encantamento me dispara o tempo e faz para sempre 
a infinita dor arder até provocar 
o riso que tremeu depois de esmagar 
a sombra com algemas de medo 
e todo o teu segredo é poder sorrir 
mesmo quando estou bem longe de ti 
assim como um barco 
que o cais profana 
nada o detém 
a não ser a sina insana de te amar 
a sede incandescente de sorver teu colo 
a lua que devora o grão de teu ódio 
o grão debulhado de tua memória 
e que o poema traduz como se fosse rima 
de amanhecer com abraço 
de perdão com silêncio 
de barulho de trem como se pudesse 
abafar 
a longa agonia da viagem 
com saudade

 
Geraldo Maia, poeta
Estudou Jornalismo na instituição de ensino PUC-RIO (incompleto)
Estudou na instituição de ensino ESCOLA DE TEATRO DA UFBA
Coordenou Livro, Leitura e literatura na empresa Fundação Pedro Calmon
Trabalha na empresa Folha Notícias,
Filho de Itabuna/BA/BRASIL, reside em Louveira /SP.

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ITABUNA CENTENÁRIA REFLETINDO - O plantador de árvores

O plantador de árvores


Um rei seguia pela estrada com sua comitiva, quando viu um homem velho plantando uma arvorezinha. 
Achou aquela atitude muito estranha, já que a árvore demoraria em crescer e, quando pudesse dar frutos, o velho, na certa, não estaria mais lá para aproveitar. E então, o rei perguntou ao velho plantador de árvores por que insistia numa tarefa tão inútil. Ao que o homem respondeu:


– Fico feliz em plantar, mesmo não sendo eu quem vai colher. Não estamos aproveitando hoje as árvores que foram plantadas há muitos anos? Plantar é o que importa. Não o colher. 


O rei considerou sábia a atitude do homem e, comovido, entregou um saco com muitas moedas de ouro como prêmio à sabedoria do plantador de árvores.

E ele agradeceu assim: – Viu como são as coisas? Eu mal acabei de plantar e já estou colhendo frutos valiosos.


“O plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória. Por isso, tenha cuidado com o que planta.”

Fonte: Site Gotas de Paz
(Autor não mencionado)


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PALAVRA DA SALVAÇÃO (42)

22º Domingo do Tempo Comum - 03/09/2017

Anúncio do Evangelho (Mt 16,21-27)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia.
Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo, dizendo: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!”
Jesus, porém, voltou-se para Pedro e disse: “Vai para longe, Satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!”
Então Jesus disse aos discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la.
De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida? Porque o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta”.
— Palavra da salvação.
— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Wanderson Cintra:

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Caminho da Cruz, caminho do esvaziamento do "ego"


 “Quem quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga”. (Mt 16,24)


O seguimento de Jesus implica um descentramento, um esvaziamento do “nosso próprio amor, querer e interesse” (S. Inácio). Para poder viver o Evangelho de uma maneira inspirada, deveríamos deixar ressoar profundamente em nós essa expressão tão forte de Jesus: “renunciar a si mesmo” para poder viver com mais plenitude e transparência.

Isto não significa que Jesus tenha tomado um caminho dolorista, no qual se valoriza a dor por si mesma. Pelo contrário, Jesus vive a sabedoria da vida de onde brota a felicidade. Não vive para o “ego”, pois este busca sempre seu interesse e comodidade, mas vive ancorado naquela identidade profunda, na qual permite que a Vida flua através de si mesmo, numa atitude de aceitação ou de sintonia sábia com o Pai.

A “renúncia a si mesmo” não é um exercício de masoquismo, não é mutilar-se, nem buscar sacrifícios, nem anular-se..., Mas é descer até “o dinamismo de vida” (a força germinadora) que pulsa no próprio coração, ansioso de plenitude, de vida e de amor; é a maneira mais profunda de realização.

“Renunciar a si mesmo” é deixar de se identificar com a tirania das mensagens de nossos pequenos “egos”, que se refletem em nossa própria linguagem e autoimagem. A imagem tornou-se uma espécie de absoluto em nossa sociedade. A ela servimos e por ela somos determinados. “Renunciar a si mesmo” é um conselho sábio: significa despertar-se da ilusão e do engano, deixar de girar em torno de um suposto “eu” que não existe, para viver a comunhão com todos e com tudo e agir assim de um modo mais coerente. Aqui o “si mesmo” faz referência ao nosso falso “eu”, aquilo que, iludidos, acreditamos ser: o “eu” que busca poder, prestígio, riqueza... O desapego do falso eu é imprescindível para poder entrar no caminho que Jesus propõe.

Aquele que não é capaz de superar o “ego” e não deixar de se preocupar com seu individualismo (centralidade em si mesmo), frustra toda sua existência; mas, aquele que, superando o egocentrismo, descobre seu verdadeiro ser “des-centrado” e atua em consequência, vivendo uma entrega aos outros, alcançará sua verdadeira plenitude humana. Trata-se de um ponto chave do ensinamento de Jesus, ou seja, o convite a entrar na lógica do dom, do descentramento do eu, da entrega gratuita, da superação da mera reciprocidade.

É a lógica aberta pelo Reinado de Deus, que alarga o horizonte da vida humana, enriquece as possibilidades de atuação e aumenta a criatividade no serviço. A lógica do dom implica deixar-se conduzir por Deus, conhecido através de Jesus, que é entrega de vida, misericórdia, perdão, amor infinito.

Nossa verdadeira identidade não é constituída pelos pequenos “egos” que acreditamos ser. Precisamos despertar dessa ilusão e entrar em contato com nosso verdadeiro Eu, nosso Ser e, a partir dele, olhar a vida, olhar nossa atividade e olhar os outros, a fim de viver em sintonia com quem somos em profundidade. É esse o modo de “ganhar a vida”.

Precisamos des-velar (tirar o véu) de nossos “pequenos eus”, detectar e reconhecer seus dinamismos sombrios e atrofiadores, para podermos caminhar, com mais naturalidade e leveza, para além de nós mesmos. Do contrário, eles travarão nossa vida de uma maneira tirânica.

É saudável reconhecer esses “eus” e dialogar com eles, pois de outra forma eles se fixarão em nós como rigidez ou nos transformarão em fanáticos. Rigidez e fanatismo, dureza e intolerância, legalismo e moralismo... indicam a existência de “eus” inflados que atrofiam nossa existência. A afirmação de Jesus, portanto, nos faz descobrir que por detrás do “renunciar-se a si mesmo” pulsa o desejo de desprender-se do “ego desumano” para poder expandir a vida em direção a uma ousada criatividade. O caminho da fidelidade até a Cruz vai quebrando toda falsa pretensão do “ego”, expandindo nossa vida na direção do serviço e da entrega radical.

Morrer “com Jesus” na Cruz é morrer ao próprio “ego”, para que o “eu oblativo” possa ressuscitar para uma vida nova.

Todos os caminhos autênticos de espiritualidade começam por um esvaziamento do ego, uma renúncia a si mesmo, não para negar-se como pessoa, mas, pelo, contrário, para crescer ao recuperar a verdadeira identidade na totalidade. Quando “eu me perco”, me encontro, quando “meu eu diminui”, descubro que faço parte de algo maior, que pertenço a Deus.
A vida não deve ser corroída pela tirania do egoísmo mesquinho: vida é encontro, interação, comunhão... Aquele que quer salvar seu “ego”, perde a Vida, porque se isola numa estreita jaula ou se perde em um labirinto de inevitável sofrimento e, em último termo, de vazio e sem-sentido. Uma existência egocentrada, embora aparentemente satisfatória para o “ego” (inclusive até “ganhar o mundo inteiro”), não pode evitar uma sensação de profunda insatisfação.

A morte do falso eu é a condição para que a verdadeira Vida se liberte. É preciso passar pela morte do que é terreno, caduco, transitório (paixões, apegos desordenados...) para deixar emergir a vida interior, a vida divina, a vida de Deus em nós. Ao descobrir a armadilha desse “ego” atrofiador, ao deixar de nos identificar com ele, a primeira coisa que experimentamos é uma sensação de amplitude, onde sentimos que nosso coração se expande e descobrimos que o horizonte é, na realidade, infinito.

Uma das manifestações da sociedade narcisista na qual o “eu” tornou-se a instituição máxima e o eixo do universo é a chamada cultura do “selfie”. Sociologicamente isso pode revelar a obsessão pelo protagonismo e pela sacralização do eu.

O que vale na cultura do "self" é o modo como nos apresentamos. Na imagem nos recriamos conforme nosso “self”, isto é, mostramos aquilo que acreditamos ser o nosso "eu". A imagem precisa ser perfeita, pouco importa a maneira como ela foi feita, tampouco, as circunstâncias da construção dela. Por isso, “tomar a Cruz” é uma imagem que quebra e esvazia toda pretensão de autoafirmação do eu.

É um momento doloroso pois a pessoa resiste e pode encher-se de angústias e medos ao perder o falso ponto de apoio sobre eu autônomo, impassível centrado em si mesmo. E teme o pior: perder-se, diluir-se. Somos continuamente bombardeados de afirmações sobre a necessidade de um Eu forte e integrado. O encontro com Cruz elimina o narcisismo, desmascara a prepotência e nos devolve à vida cotidiana (tempo, casa, profissão, conversação) como o único lugar no qual podemos nos encontrar com a nossa própria verdade.

“Do eu des-centrado ao eu enraizado no seguimento de Jesus”: este é o movimento de vida plena.

Textos bíblicos:  Mt 16,21-27

Na oração: Aprenda a morrer aos próprios interesses mesquinhos para que os outros vivam. Há na vida muitas coisas – pequenas ou imensas – que vão morrendo e nascendo de novo, diferentes, melhores, reconciliadas...
Não permaneças na superficialidade do ego; desce mais ao fundo de ti mesmo e descobrirás a harmonia.
Teu verdadeiro ser é paz, é mansidão, é bondade. Vá mais além de teu falso ser!

Pe. Adroaldo Palaoro sj
Campinas-SP

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