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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

DE CANÇÃO NATALINA... - Eglê S Machado

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De canção Natalina...



Que no Natal minha canção

Tenha timbre cristalino

Da paz daquele Menino

De Deus riqueza e feição!...


Eglê S Machado
Academia Grapiúna de Letras-AGRAL



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COMO UMA VELA EM BERLIM - Por Theodore Dalrymple

Como uma vela em Berlim
22 de dezembro de 2016
Por Theodore Dalrymple*

Um instante já foi definido como o tempo entre um sinal de trânsito ficar verde na Cidade do México e a buzina do primeiro carro tocar, mas agora poderá ser definido como o período entre um ataque terrorista numa cidade do Ocidente e a primeira aparição pública de uma vela. Todo ataque terrorista, incluindo o último em Berlim, é imediatamente sucedido por uma exibição pública de velas acesas. É quase como se a população tivesse um estoque delas pronto para esse propósito.

O que eles glorificam com essas velas? Nós estamos todos acostumados às luzes de velas em igrejas católicas, mas Berlim não é uma cidade católica e, como quase todas as capitais ocidentais, não é particularmente devota de qualquer religião. Suas feiras natalinas pertencem mais a uma tradição folclórica do que a uma fé real. É provável, na verdade, que as pessoas cujo primeiro impulso é acender velas tenham orgulho da sua falta de fé religiosa. Por outro lado, alguns deles dizem que não são religiosos, mas espiritualizados.
A razão, eu suponho, que faz com que tantas pessoas se digam espiritualizadas e não religiosas é que ser espiritualizado não impõe qualquer disciplina a elas, ao menos nenhuma que elas não optem por assumir. Ser religioso, por outro lado, implica na obrigação de observar regras e rituais que podem interferir de maneira incômoda na rotina diária. Ser espiritualizado-mas-não-religioso dá a você aquele conforto, aquele sentimento interior, algo como tomar um uísque num dia frio, e reafirma a você que há algo mais na vida – ao menos, algo mais para a sua vida – do que seus olhos podem ver, mas sem ter que interromper de verdade o fluxo do seu dia-a-dia. É a gratificação que vem com a religião sem os inconvenientes da religião. Infelizmente, como toda bebida muito diluída, não tem gosto.

As velas são a manifestação do paganismo moderno, uma sede de transcendência sem qualquer crença para acreditar. Elas são também uma espécie de símbolo de auto-felicitação por nosso temperamento pacífico, já que gente violenta não é muito conhecida por acender velas. Nós não conseguimos, por exemplo, imaginar Gengis Khan acendendo velas pelas almas que partiram (e não que a gente realmente acredite em alma). Mas qual o mal de se acender velas imediatamente após um massacre? Não contribui para o aquecimento global então Gaia não vai ser ferida. É uma maneira de nos expressarmos e auto-expressão é um bem absoluto, assim como falhar na auto-expressão é um mal absoluto.

É algo difícil de provar, mas eu imagino que todas essas velas servem de encorajamento exatamente para as pessoas que cometem os massacres que criam essas manifestações. Nós cortamos as gargantas deles, jogamos caminhões em cima deles e eles acendem velas. Eles não são moralmente superiores como costumam pensar sobre eles mesmos. Pelo contrário, são fracos, débeis, molengas, preguiçosos, vulneráveis, indefesos, covardes, chorões, decadentes. Contra este tipo de gente, estamos destinados a vencer. E não vai demorar.

Os terroristas estão errados, mas eles não são espertos ou grandes pensadores. Se você quer mais ataques terroristas, acenda uma vela.

* Publicado originalmente em City Journal, com tradução de Alexandre Borges
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Fonte: 

BLOG / 

 RODRIGO CONSTANTINO

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LER É PODER - Agenilda Palmeira

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Ler é Poder


           A leitura é talvez o meio mais importante para chegarmos ao conhecimento. Por isso é necessário aprender a ler, mas interessa mais ler em profundidade do que em quantidade. Não é a pergunta: Por que ler? Mas como ler.
            Dominique Mainguenlau, linguista Francês, propõe que os textos possuem, entre outras coisas, uma classificação pragmática (religiosos, políticos, literários, científicos...) e uma genérica (sermão, publicidade impressa, outdoor, reportagem, poema, ofício....), que ele chama respectivamente de “cena englobante” e “cena genérica”. Para cada tipologia textual há um “quadro cênico” que sustenta, em boa medida os processos de significação que dele derivam. Porque não lemos ciência do mesmo modo que ficção, nem lemos uma bula como lemos poemas nem publicidade, como ata e assim em diante.
            Mas além do quadro cênico – cena englobante e genérica, os textos constituem uma “cenografia” . Isto é são constituídos de elementos ( léxicos, estruturais sintáticas típicas, temas, imagens associadas etc.). Dos quais deriva sua cenografia. Os romances, exemplificando, podem ser contados de diversas formas: na forma de um conjunto de cartas trocadas entre aristocratas na França pré-revolução ( Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos), como um jagunço relatando a um interlocutor suas andanças (Grandes Sertões: Veredas, de Guimarães Rosa).
            É bom lembrar que nem todos os gêneros de discurso, elaboram cenografias específicas. Ao elaborar um texto a cenografia emerge, portanto, um tom, já que o processo de leitura de um texto constrói uma voz que se revela na enunciação, que a sustenta e a legitima, e não se restringe aos enunciados orais. A noção de Ethos discursivo, de Dominique é um modo de darmos conta dessa voz que subjaz a textos escritos. Há um laço indissociável entre o que é dito e como é dito. É por isso que o conteúdo dos enunciados e o modo de dizer são mutuamente dependentes e é a partir desta relação que um universo de sentido se constrói em um discurso.
            Por isso diz-se que o Ethos esta na ordem do mostrado e não do dito. A leitura dá sentido às coisas, ao mundo, a vida. Porque ela mobiliza, necessariamente, diversos tipos de saberes e um bom leitor – aquele que sonhamos formar em nossas salas de aula – deve ser capaz de lidar com essas múltiplas faces dos textos.
            Aproveitando a efervescência do momento tomemos como exemplo um português eleitoral. Vejamos a expressão “sociais-democratas” esta é forma usual, mas há quem diga que o plural pode mudar conforme a expressão assuma o papel de derivação imprópria ou conversão, isto é assumindo o papel de substantivo (os sociais-democratas fazem oposição ao governo), sendo adjetivo, somente o último elemento flexionará. Exemplo: São muitas as filosofias socialdemocratas.
            Qual seria o correto: eleições ou eleição? Usar o plural eleições em referência a um processo de votação de cargo público contém, implícita, a ideia de evento múltiplo e grandioso, envolvendo a definição de cargos distintos, como muitas urnas e sessões, muitos eleitores, mesários e representantes partidários, num processo que envolve dois turnos.
            Outra dúvida: abstenção é abstinência? Só numa acepção a palavra “abstenção” é sinônimo de abstinência: na ação de privar-se ou renunciar a algo. O uso mais frequente de abstinência é como restrição de comida, bebida ou sexo. Já abstenção é usada nesse sentido (de privação voluntária), e em particular no de recusa de integrar uma ação, como decisões, ausência de voto eleitoral.


Agenilda Palmeira,  professora  
Membro da Academia Grapiúna de Letras - AGRAL


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