Desde 1999, este projeto divulga poemas de grandes poetas sem erros ou falsas
autorias. Hoje temos uma média de 5 mil visitantes por dia, muitos desses sendo
estudantes e professores.
Não, eu não vou escrever contra a televisão. Não é este meu
propósito quando sentei aqui para redigir este texto.
Esta semana falou-se muito sobre terrorismo, sobre
demências, psicopatas e principalmente sobre a violência. Quem toma sempre a
frente para discutir assuntos dessa estirpe é a mídia. Não vou fazer uma
apologia anti-mídia, pois seria hipócrita e desnecessário, mas queria expor
alguns pontos que noto de incoerência e sensacionalismo.
Um garoto de 23 anos invade uma escola carioca armado com
muita munição, dispara e mata onze crianças, deixa outras tantas feridas e
depois de ser atingido por um disparo de um policial, ele supostamente se mata
na escadaria da escola.
Pessoas se desesperam com a cena. É trágico, é triste e
acima de tudo é novo! Não é comum neste país tropical abençoado por Deus, fatos
como este. Isso é coisa de gringo, aqui a gente tem CPI de tudo quanto é coisa,
aqui a gente tem dinheiro na cueca, morro que desaba, guerra civil do tráfico
de drogas e armas (ainda voltamos a este assunto), contudo não estamos
acostumados a noticiar transtornos sociais que resultam em assassinatos em massa.
Ouvi muita m.... essa semana, muitos entendidos de segurança
pública, muitos mímicos do Freud, muitos alarmistas, enfim, todos precisam
entender ou tentar explicar algo que por si só já é claro o suficiente. O
garoto chegou ao limite dele e surtou, se está certo ou não como podemos saber?
Os assassinatos são crimes, isso é fato, é o que a lei nos diz, os crimes devem
ser julgados e sentenciados. Todavia tantos julgamentos já foram feitos,
inclusive por pessoas públicas formadoras de opinião e muitos nomes já foram
atribuídos ao jovem sem ao menos tentar entender todo o cenário deste drama com
final trágico!
Naquela manhã eu confesso que estava tomando café e
assistindo (a aspirante a Ophra do Brasil) Ana Maria Braga. Mais uma vez ela
estava falando de Bullying para a dona de casa entender. Eu pensei: - Porra,
essa m.... de novo, parece que ela quer é promover o bullying e não tentar
entendê-lo e discutir sobre.
O pensamento mal acabou de ser formulado e já entra uma
repórter desesperada salivando o acontecimento na escola. Ela estava com várias
notícias desencontradas, no começo era o pai de um aluno que estava armado,
depois disse ser traficante, depois um ex-namorado. Foi um tiroteio de
informações e dali por diante se você quisesse ver televisão aberta nacional,
estava condenado ao vômito de informações não depuradas, a jornalistas
histéricos, a plantões segundo a segundo cheios de pleonasmos e redundâncias.
Eu fiquei mal com as primeiras reportagens, mas depois
comecei a prestar atenção no desenho que se fazia ali. Eles estavam se
alimentando do caso, não informando. Chegou ao cúmulo de uma tia da prima do
vizinho de alguma das crianças vítimas do atentado, dar entrevista. E eu vou
querer saber o que a tia da prima do vizinho tem a dizer? Fui saindo do estado
de telespectador para estado de observadora do trabalho midiático.
Dois dias após o acontecimento, até o carteiro que passava
na rua após o incidente era entrevistado:
- Ficou triste agora de entregar cartas, né? Você conhecia
as crianças?
Deprimente!
Hoje domingo, vejo um programa desses que não tem formato
definido e no meio de tudo que empurram goela abaixo do pobre telespectador,
eles querem ser agente de notícias também. Ora, entre mulheres seminuas e
provas com torta na cara, há sempre espaço para a seriedade do jornalismo, não
é mesmo?!
A âncora (ou apresentador ou macaco de auditório, como
preferir) dizia que se as crianças notassem comportamentos estranhos dos
“coleguinhas” que deveriam denunciar, pois ele pode estar escondendo um
transtorno psicológico ou algo do tipo. Eu assistia com a minha mãe que é uma
vítima perfeita dessa mídia maldita e afetada e soltei um puta que pariu bem
sonoro, ela se virou e me perguntou o porquê da blasfêmia, daí começou o
interesse em escrever e desabafar minha angustia e minha tristeza para com essa
fanfarra que fazem em cima das tragédias.
Eu não sou jornalista, alias tenho um respeito enorme pela
profissão. Porém acredito que como profissional você TEM que ser imparcial, ou
então seria um comentarista, um colunista, qualquer coisa que termine com “ista”,
incluindo fascista!
Não vou defender o garoto que entrou atirando na escola. Não
preciso defendê-lo, até porque ele já está morto e o pobre coitado corre o
risco de ser enterrado como indigente. Muitas pessoas comemoram essa situação,
o fato dele não ter ninguém para reconhecê-lo no IML e eu lamento isso
percebendo aí o começo de todo o desastre, esse garoto é tão vítima do
verdadeiro assassino quanto qualquer criança que tenha morrido através das
balas de seu revolver.
As armas que ele tinha em mãos, ele não comprou no
supermercado, ele não ganhou do papai-noel. Essas armas são oriundas do trafico
e do contrabando, vendo esses apresentadores de TV, gritando aos quatro ventos
que o moleque é assassino, covarde e o pior dos seres humanos, indago: será que
este cidadão que é uma figura pública lembra-se disso quando acende seu baseado
ou encara aquela carreira?
Pura demagogia maldita. No fundo todos sustentam o tráfico e
o pior, nós que giramos a manivela que faz a maquina funcionar. Somos todos
escravos das coisas que nos falam via televisão, internet e rádio, fora as
mídias impressas. O garoto era um garoto qualquer, se ele sofreu abusos
psicológicos e físicos, se era gay, se era verde, se roubava, cheirava ou
amava, agora não faz mais diferença, pois não irá trazer nem ele e nem as
crianças que ele matou de volta. Todos os dias crianças morrem, mas talvez
porque sua TV não dê importância para elas, você também não dá.
O que é inaceitável é o
estado critico que se forma com relação ao assassino e o perigo da
generalização. Uma figura publica dizer que as crianças devem se atentar para
comportamentos estranhos dos “coleguinhas” é aterrorizante. Não tem como
classificar um comportamento estranho, o que seria este comportamento estranho?
Com discursos imbecis só se licita mais a intolerância com o diferente, promove
o preconceito (o que é normal para mim pode ser estranho para você) e faz com
que andemos para trás.
A mídia vampiresca, esta que está aí, mais interessada em
entreter dona de casa do que informar. Esta mídia que julga e joga um jovem
como principal culpado de um atentado sem precedentes como este, essa mídia
covarde que não assume a sua culpa dentro deste caos, ela sim deveria ser
julgada e condenada...
Não quero soar como anti-mídia, mesmo soando, de fato mesmo
sendo, não quero cair nessa armadilha que é se posicionar oficialmente contra
algo que é elementar para a construção da comunicação social e com o risco
claro e certo de ser chamada de hipócrita, este é um pequeno manifesto
individual de alguém cansada de ser chamada de burra!
Tenho um compromisso comigo de ser a mudança que eu quero
ver, interminavelmente caminhando para atingir uma comunicação plena, sem
ruídos, de promover um telespectador mais critico, uma mídia mais responsável e
não tão circense.
No momento sinto vergonha e decepção por tudo que leio e
assisto, ao me deparar com esta avalanche de bobagem penso que não há espaço
para verdade enquanto todos se esconderem da responsabilidade que é ter sua
própria opinião, ter realmente uma própria opinião e não uma opinião própria
alienada.
Muitas crianças ainda vão morrer se continuarmos focando no
problema errado, se não for diagnosticado agora o estado psicológico que
estamos vivendo, se não nos atentarmos para as coisas que escutamos e fizermos
uma triagem de informações, seremos como gados conduzidos para o abate!
Parafraseando Howard Beale em Network de 1976:
"I am a HUMAN BEING, God damn it! My life has
VALUE!"
32º Domingo do Tempo Comum - 12 de Novembro de 2017
O noivo está chegando. Ide ao seu encontro.
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus
25,1-13
- Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo,
disse Jesus, a seus discípulos, esta parábola:
O Reino dos Céus é como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de
óleo e saíram ao encontro do noivo.
Cinco delas eram imprevidentes, e as outras cinco eram previdentes.
As imprevidentes pegaram as suas lâmpadas, mas não levaram óleo consigo.
As previdentes, porém, levaram vasilhas com óleo junto com as lâmpadas.
O noivo estava demorando e todas elas acabaram cochilando e dormindo.
No meio da noite, ouviu-se um grito: O noivo está chegando. Ide ao seu
encontro!
Então as dez jovens se levantaram e prepararam as lâmpadas.
As imprevidentes disseram às previdentes: Dai-nos um pouco de óleo, porque
nossas lâmpadas estão se apagando.
As previdentes responderam: De modo nenhum, porque o óleo pode ser insuficiente
para nós e para vós. É melhor irdes comprar aos vendedores'.
Enquanto elas foram comprar óleo, o noivo chegou, e as que estavam preparadas entraram
com ele para a festa de casamento. E a porta se fechou.
Por fim, chegaram também as outras jovens e disseram: Senhor! Senhor! Abre-nos
a porta!
Ele, porém, respondeu: Em verdade eu vos digo: Não vos conheço!
Portanto, ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora.
Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão de Dom Alberto Taveira Corrêa:
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O Azeite da vida que se
consome iluminando
“As previdentes levaram vasilhas com azeite junto com as
lâmpadas” (Mt 25,4)
Os textos destes últimos domingos do ano litúrgico nos
convidam a velar, a estar preparados, a viver despertos. Deus não nos espera no
final do caminho para nos submeter a um juízo; Ele está dentro de nós todos os
instantes de nossa vida, inspirando-nos, para que possamos viver com mais
plenitude e sentido. Interpretar a parábola deste domingo(32º Dom TC) no
sentido de que devemos estar preparados para o dia da morte é falsificar o
evangelho. Esperar passivamente uma vinda futura de Jesus não tem sentido, pois
Ele já disse a seus discípulos: “Eu estarei convosco todos os dias, até o fim
do mundo”.
A parábola não está centrada no fim, mas na inutilidade de
uma espera que não é acompanhada de uma atitude de amor e de serviço. As
lâmpadas devem estar sempre acesas; se esperamos para prepará-las no último
momento, perderemos a oportunidade de entrar para a festa de casamento.
A ideia que muitas vezes temos de uma vida futura esvazia a
vida presente até o ponto de reduzi-la a uma incômoda “sala de espera”. A
preocupação pelo “mais além” nos impede assumir com mais intensidade o tempo
que nos cabe viver. A vida presente tem pleno sentido por si mesma. O que
projetamos para o futuro já está acontecendo aqui e agora, e está ao nosso
alcance; aqui e agora podemos viver a eternidade, já que podemos nos conectar
com o que há de Deus em nós; aqui e agora podemos alcançar nossa plenitude,
porque sendo morada de Deus, temos tudo ao alcance da mão.
A “chave de leitura” da parábola “das dez virgens” está na
falta de azeite para que as lâmpadas possam permanecer acesas. O relato é
tirado da vida cotidiana. Depois de um ano ou mais de noivado, celebrava-se a
festa de casamento, que consistia em conduzir a noiva à casa do noivo, onde
acontecia o banquete. Esta cerimônia não tinha um caráter religioso. O noivo,
acompanhado de seus amigos e parentes, ia à casa da noiva para buscá-la e
conduzi-la à sua própria casa; na casa da noiva, encontravam-se suas amigas que
a acompanhariam no trajeto e participariam da festa. Todos estes rituais
começavam com o pôr-do-sol e avançavam noite adentro, daí a necessidade das
lâmpadas para poder caminhar.
A importância do relato não está no noivo, nem na noiva, nem
sequem nas acompanhantes. O que o relato destaca é a luz. A luz é mais
importante porque o que determina a entrada no banquete é que as jovens tenham
as lâmpadas acesas. Uma acompanhante sem luz não tinha como fazer parte no
cortejo nupcial. Pois bem, para que uma lamparina consiga iluminar é preciso
ter azeite. Aqui está o ponto chave. O importante é a luz, mas o que é preciso
para alimentá-la é o azeite.
Que é o azeite que alimenta a lamparina? São as reservas
insondáveis de potencialidades criativas, de recursos inspiradores, de
dinamismos vitais, de forças latentes, de energias sadias, de desejos
oblativos... presentes nas profundezas do coração humano, e que o impulsionam a
viver em sintonia com tudo o que acontece ao seu redor; o azeite é constituído
pelas riquezas do próprio ser, as beatitudes originais, as intuições, os
valores... que alimentam a autonomia, a autoria, a criatividade, a iniciativa,
o espírito de busca, a capacidade de sonhar... Trata-se do “tesouro do ser”,
conservado em sua mensagem essencial, e que pode tornar-se a energia que
alimenta a luz da vida, a sabedoria da própria existência; o azeite é tudo
aquilo que é nutriente, fecundo, iluminante... e que se expressa como contínua
fonte de renovação; azeite é vida interior expansiva que se revela e que se
consome nos encontros, na interação e na comunhão com os outros...; em resumo,
azeite é o que há de mais divino no interior de cada um, que precisa ser
descoberto, reconhecido e ativado para tornar-se luz.
No entanto, só quem vive a partir das raízes do próprio ser,
só quem tem acesso à própria interioridade, descobre a presença do azeite que
pode ser ativado para dar um novo significado e sentido à própria vida. É isso
que a parábola do evangelho de hoje nos alerta: é preciso estar desperto e
sintonizado com o azeite interior para poder alimentar a luz da vida e
corresponder às vozes surpreendentes que vão surgindo.
“No meio da noite ouviu-se um grito: eis que chega o noivo!
Saí ao seu encontro”.
É uma convocação urgente a sair do sono da distração e da
trivialidade que talvez nos tem aprisionado, durante muito tempo, àquilo que é
acessório e que nos provoca a viver à espera do essencial, atraídos por um
impulso que nos move por dentro, ou seja, o desejo de vida plena.
Com os distraídos não se pode ir muito longe; dizendo
melhor; distraídos são que vivem do momento e não pensam no depois. Seduzidos
por estímulos ambientais, envolvidos por apelos vindos de fora, cativados pelas
luzes artificiais, os distraídos perdem a direção da fonte provedora de azeite
em seu interior; dormem e acordam sem luz em suas vidas.. Quem anda distraído,
disperso e surfando na superfície de si mesmo, acaba perdendo as grandes
oportunidades que a vida lhe oferece. Por isso, ser “sensato” é viver com
sentido, atento e desperto às surpresas da vida. Para quem está desperto, sua
vida interior torna-se uma fonte inesgotável de energia, de dinamismo e
criatividade. Assim se entende porque as jovens prudentes não compartilhem o
azeite com as imprudentes. Não se trata de egoísmo: é que a lâmpada não pode
arder com o azeite do outro. A chama, à qual se refere a parábola, não pode ser
acesa com o azeite comprado ou emprestado.
Sabemos que o azeite só ilumina quando se consome. Nossa
vida revela pleno sentido e alcança seu fim quando desaparecemos,
consumindo-nos no serviço aos outros. Quando a chama da vida está acesa, cresce
em nós a consciência de que somos luz na medida em que nos gastamos na nobre
missão de iluminar nosso entorno, até chegarmos a ser cera derretida.
Vivemos imersos num oceano de luz; carregamos dentro a força
da luz. Ela sempre está aí, disponível; basta abrir-nos a ela com a disposição
de acolhê-la e de fazer as transformações que ela inspira. A Luz é força
fecundante, princípio ativo, condição indispensável para que haja vida. Somos
luz quando expandimos nosso verdadeiro ser, ou seja, quando transcendemos e
vamos mais além, desbloqueando as ricas possibilidades e recursos presentes em
nosso interior. O que há de luz em nosso interior pode chegar aos outros
através das obras. Toda ação realizada com amor e compaixão, é luz.
Encantam-nos os cristãos antenados que, cada dia, alimentam
sua fé, sua esperança com pequenas coisas, com pequenos detalhes e gestos de
amor carregados de luz; cada dia, aprofundam um pouco mais na experiência do
Evangelho, mantendo sempre suas lâmpadas acesas, atentos à passagem e às
pegadas de Deus por suas vidas; e, sobretudo, carregam sempre reservas de
azeite para acolher com alegria a chegada surpresa d’Aquele que sempre está
vindo ao seu encontro.
Encantam-nos os cristãos comprometidos que sabem que o
azeite se consome, a fé se debilita, a esperança se apaga e amor atrofia quando
não são alimentados com o azeite sempre novo em reserva nos seus corações.
Texto bíblico: Mt 25,1-13
Na oração: Dentro de ti deves descobrir o azeite. Se o
descobres, dará luz que alumiará teus passos. Essa chama, se é autêntica, não
pode se ocultar, pois iluminará também os outros, ativando neles a luz ainda
escondida.
Tens que descobrir teu próprio azeite; ninguém pode te
emprestá-lo, porque é tua própria vida.
Toda a vida se move de dentro para fora. Azeite que se
consome na nobre missão de iluminar.
- Qual é o “azeite original” de teu interior, que inspira
tua vida e te move a ser presença iluminante?