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domingo, 7 de janeiro de 2018

QUANTA FALTA NOS FAZ! - Antonio Nunes de Souza

Quanta falta nos faz!


Talvez, pela falta de hábitos perdidos com o passar do tempo, sem sermos brindados com esse tipo de evento artístico, infelizmente, raramente alguém se lembra de falar sobre o assunto. Estou referindo-me ao teatro!

Para os desmemoriados, ou convenientemente esquecidos, podemos rapidamente lembrar que já tivemos vários grupos de atores e atrizes de destaque, assim como o velho e saudoso Teatro ABC na Praça Camacan (derrubado anos atrás pelo atual prefeito), Teatro Amélia Amado abandonado e destruído pelo tempo, além do teatro do Colégio Ação Fraternal que ainda sobrevive, mas, não sabemos as razões, não apresenta peças teatrais para o pouco público que sabe dar valor às artes!

Temos plena certeza e convicção que a arte da representação, quer seja no teatro, como no cinema e na televisão, expressa uma grande fonte de cultura, não só pela parte representativa, como principalmente, pelas mensagens sociais e políticas que são expelidas através dela.

E isso não é uma ideia nova, ou modismo trata-se de uma arte milenar, que já emocionava milhares de plateias em todo mundo, e até hoje, continua operando com grande admiração e respeitabilidade!
Infelizmente, nos faz grande falta, pois, sem os teatros, obviamente, os grupos vão se dispersando e perdendo a credibilidade em função da paralisação quase completa.

Para não dizermos que estamos abandonados completamente, ainda, em precárias condições e com tamanho mignon para nosso município, contamos com O Centro de Cultura Adonias Filho que, eventualmente, apresenta alguns espetáculos, mas, nem sempre de bom gosto, ou qualidade!

Com essa parceria do Prefeito Fernando Gomes e o nosso Governador Rui, está no ar a promessa da complementação da obra do Teatro, que já tem mais de uma dezena de anos paralisada, simplesmente por falta de vontade política!

É lamentável sim, e nos faz penar de tristeza de ver uma cidade com 250 mil habitantes,  carente de uma casa de espetáculo a altura! Quanta falta nos faz!



Antonio Nunes de Souza, escritor 
Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral@hotmail.com

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“O CAFEZINHO” DA MARÍLIA* – Stela da Silva Soares Góes

O cafezinho da Marília


            Marília Benício dos Santos, a querida Julinha, nos presenteia com seu livro de crônicas – CARROSSEL. Filigrana em termos de pureza, simplicidade e ternura!

            Prefaciando, Lígia Moog diz que a autora “escreve como quem canta”. Eu completaria: como quem canta uma canção de ninar.

            Devagarinho, carinhosamente, Marília vai se pronunciando através de monólogos, reflexões ou diálogos com Deus e as criaturas – sobre vários temas que o dia-a-dia lhe sugere, num estilo descontraído e fluente como águas límpidas de um regato. Em textos breves, coloca, sutilmente,  críticas às injustiças sociais, às vaidades humanas, à hipocrisia e aos preconceitos, com graça e bom humor, com leveza de expressões que nos faz rir e admirar o teor de sabedoria e equilíbrio. Usa a síntese e, muitas vezes, o silêncio, como alavancas propulsoras do nosso pensamento.

            Julinha dá seu recado de amor assumindo-se maravilhosamente como mulher e cristã, nas emoções que descreve ao defrontar-se com pessoas e fatos triviais, perceptíveis só pelo radar privilegiado de sua sensibilidade. Vai destilando o âmago das coisas mais singelas e, num milagre de sua ternura, trazendo para fora luz e sombra, dor e prazer, com que tece o universo místico de CARROSSEL, onde trata, com igual atenção e carinho, o velho e a criança, o mar e o céu, o rico e o pobre, a vida e a morte, o passarinho e o “Cristo Torcido”, o hotel de cinco estrelas e o banco do jardim que ela chama, com muita graça, de “Pensão Estrela”.

            Se o cristianismo fosse ópio, como afirmam os ímpios, ainda assim seria válido, pela saúde espiritual, otimismo e alegria que consegue transmitir.

            Marília:

            “Todos nós temos um rio. Um rio dentro de nós que ninguém percebe, somente Deus”. E, adiante, concluindo – “O mar lembra o infinito. Fomos criados para ser mar. É importante não sufocarmos este rio. O tempo passa, se não deixarmos  o nosso rio transformar-se em mar, chegaremos ao fim da vida, sem ter realizado aquilo que Deus planejou para nós: A alegria de viver”.

            Em outra crônica:

“Seguindo o exemplo da estrela, quero derramar sobre todos tudo de bom que tenho dentro de mim: amor, ternura, alegria, gratidão...”

            E na crônica que ela intitula de Felicidade:

            “Perguntaram ao João, um garoto de sete anos:

            - João, o que é felicidade?

            - Felicidade é o jardim. Felicidade é minha mãe.

            Ao ouvir esta resposta, aqueles jovens deram muitas risadas”.

            ... “Ele deu uma grande resposta, talvez tenha ensinado para aqueles jovens que a felicidade não deve ser discutida. A felicidade precisa ser sentida. Às vezes ela está pertinho, mas não a percebemos porque estamos preocupados em procura-la, correndo atrás. Se prestássemos atenção, se ficássemos observando, veríamos a felicidade como João a viu no jardim. As crianças são sensíveis, por isso são felizes.

            ... “Façamos da vida um jardim e seremos felizes, mesmo sabendo que no jardim há espinhos, é que, atrás dos espinhos, há rosas”.

            Assim, Marília nos traz a chave da felicidade que ela conhece, numa bandeja, como quem traz, gentilmente, um cafezinho quente, coado na hora! Nesta hora em que o mundo tanto precisa do calor estimulante de pensamentos puros e honestos! Admitamos que alguém não goste do “cafezinho” servido no CARROSSEL. Será uma pena! Afinal, muitos não gostam e outros, coitados, já não podem tomar café... Mas, que este da Julinha é bom, é! Cheiroso, natural, autêntico, sem as camuflagens que medram por aí, com rótulos de “para exportação”. No CARROSSEL serve-se o “café” da nossa Bahia, preparado por baiana competente que ainda sabe cantar canções de ninar, contar histórias com ternura e rezar com esperança e fé, enquanto a “água” ferve na chaleira...
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*Publicado em “A Tarde”, de 22-01-1985
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Contracapa do Livro ARCO-ÍRIS de Marília Benício dos Santos

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (60)

Solenidade da Epifania do Senhor – Domingo 07/01/2018

Anúncio do Evangelho (Mt 2,1-12)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.

Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.
Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém.
Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. Eles responderam: “Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”.
Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”. Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino.
Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande.
Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra.
Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão sobre a Epifania do Senhor:
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“E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino” (Mt 2,9)

Teilhard de Chardin, paleontólogo jesuíta, manifestou, repetidas vezes, o desejo de que a solenidade da Epifania mudasse de nome, ou ao menos de prefixo. A solenidade de hoje deveria denominar-se “dia-fania” em lugar de “epi-fania”, para ressaltar que festejamos o dia em que Nosso Senhor Jesus Cristo se revela em plena transparência, como fundamento de tudo e de todos, fonte e fim, alfa e ômega.

Teilhard não vê o relato dos Magos como uma “verdade fotogrática”, mas como uma verdade que nos ilumina sobre Aquele que enche o universo com sua presença dinâmica, sobre Aquele que dá sentido à nossa história, tornando-a “diá-fana” (transparente). Porque, neste mistério, não se trata propriamente de uma repentina irrupção de quem é o Salvador, senão muito mais de uma misteriosa e silenciosa “dia-fania”, mediante a qual o recém-nascido em Belém deixa “transparecer” o verdadeiro rosto do Deus misericordioso e compassivo. Nele, Deus se humaniza para também des-velar (tirar o véu) e deixar trans-parecer a verdadeira e divina identidade de cada ser humano, escondida na interioridade de cada um.

Nosso eu profundo é habitado por “magos” e “herodes”: impulsos de vida e impulsos de morte, busca da verdade interior e busca do poder, caminho de “saída de si” e caminho de “auto-centramento”... O Nascimento de Jesus desvela e ilumina nosso interior e nos coloca diante deste desafio: qual dos dois dinamismos nós alimentamos? Qual caminho marca a nossa vida? O caminho dos Magos ou o medo de Herodes?

Continuam acontecendo atualmente as famosas peregrinações que levam a Meca, a Santiago de Compostela, a Jerusalém, a Roma..., mas, na verdade, segundo o evangelho de hoje, a primeira e mais importante de todas é a peregrinação dos Magos que vão até Jesus, guiados pelo canto e pelo chamado de sua Estrela (a Estrela de Deus, a Estrela de cada um).

Os Magos consultavam os astros do céu para compreender o caminho da humanidade na terra.  Examinando os céus, descobriram uma estrela brilhante como nenhuma outra. E ficaram fascinados com o seu fulgor. Deixaram-se conduzir por inquietações e buscas, talvez não oficialmente “religiosas”, mas sim profundamente humanas, que pulsam no interior de cada pessoa; perguntaram, comunicaram o que tinham visto, seguiram adiante em tempos de obscuridade e, como recompensa de sua busca, “encontraram o Menino com Maria sua mãe”.

Foi assim a longa jornada dos Magos, seguindo o caminho que a luz da estrela lhes indicava. E ao final de longa peregrinação chegaram ao lugar procurado. Eles, então, ficaram iluminados, não pela luz da estrela, mas pela luz da criança, pois é na simplicidade e pobreza dela que resplandece a Luz de Deus.

Os Magos retornaram, depois, a seus países, agora convertidos em portadores da Nova Luz. O encontro com o Senhor os transformou. Todo encontro com Jesus era e é um encontro que transforma radicalmente. Alguns encontros são fundantes, são como uma pedra angular sobre a qual podemos começar a construir algo novo; outros encontros reavivam e ativam os fundamentos de nossa vida.
Hoje também estamos vendo sinais. Em nossas vidas sempre há alguma estrela que nos guia até Belém. Podemos nos assustar e permanecer paralisados, olhando as estrelas, mas os sinais não nos são dados para ficarmos pasmados, mas para nos deixar interpelar e responder. Algumas vezes nos convidarão à interioridade e outras nos mobilizarão a fazer caminho, mas sempre nos tirando da acomodação e nos abrindo horizontes. Os sinais nos comprometem e nos dinamizam. Precisamos ler e interpretar para onde as “estrelas”, que aparecem no horizonte da vida, nos conduzem.

Esta é a Grande Peregrinação que os profetas haviam prometido, como um caminho que leva para a Nova Jerusalém da Paz e da vida. Mas, segundo o evangelho de Mateus, essa Peregrinação da Luz não leva a Jerusalém (cidade dominada pelo Rei Herodes e pelos sacerdotes cumplices da morte), mas a Belém, que é a “Casa do Pão”, a “Casa da Lua”, pois alimenta e ilumina homens e mulheres que, na noite da existência, buscam um sentido para a própria vida. Por isso, uma peregrinação que continua sempre aberta.

Esta é também a nossa peregrinação em direção à nossa Belém interior; a vida mesma é entendida como caminho de desvelamento de nossa verdadeira identidade e de descoberta da nossa própria verdade (o que é mais divino em nós). No encontro com Aquele que é a Luz e que ilumina todo ser humano, ativa-se a “faísca de luz” que todos levamos em nosso coração.

Epifania, portanto, é a festa da “estrela de Deus”, que não só ilumina o caminho da humanidade; ela é a grande Festa de Iniciação, de “descobrimento da própria luz”, ou seja, da Luz do Deus de Jesus em nossa própria vida.  Por isso, no sentido mais profundo, todos somos “phos-phoros” (fós-foro) ou “phos-phorantes”, portadores de luz, lamparinas de Deus neste mundo envolto em trevas; cada um de nós é uma estrela de Deus no imenso mar de constelações. Somos luz de Deus, porque Deus é nossa luz, a lâmpada de sete luzes que é a única Luz de verdade em nossa existência.

Por isso, Epifania não é só hoje, epifania é sempre, é nossa vida. Frente ao Rei Herodes e frente a todos os Reis e Sacerdotes do poder estabelecido, que só buscam o domínio sobre os outros (que são capazes de matar, porque não tem outra riqueza), emergem, no relato de Mateus, os “magos e magas”, que realizam o caminho de iniciação, que os leva à verdade de sua própria vida, a verdade do Deus dos pobres, a verdade de Belém.

Todos somos “magos-magas”, homens e mulheres que buscam a Deus, em gratuidade, em reverência, em constante surpresa... Por isso, desde a Idade Média, os Magos aparecem como sinal de reverência amorosa, no caminho de iniciação que temos de fazer para o encontro de nossa verdade original. A Estrela dos magos é o mesmo Jesus, cuja luz brotou em Belém, para iluminar, a partir dali, a todos os homens e mulheres. Por isso, os magos nos ajudam a descobrir Aquele que é a Luz, para que, a partir do encontro com Ele, nós mesmos sejamos luz, sejamos Cristo, feito epifania (manifestação) e diafania (transparência) de Deus na terra. Nós somos os “magos e as magas”, milhares de homens e mulheres de luz, estrelas de Deus espalhadas pela imensidão do universo do Criador.

O presente dos magos (ouro, incenso e mirra) é nossa própria vida, que se faz dom de Deus, para nós mesmos e para os demais. Somos ouro, o de maior valor, mas não em forma de capital monetário para comprar e vender, mas como beleza da vida que se faz dom-presente para ser compartilhado. Somos incenso, o melhor odor do Natal, o perfume mais precioso, para exalar santidade, amor, compaixão… em meio a um ambiente fétido de morte e exclusão. Somos mirra, unguento do amor, como o que usavam os noivos, unguento da vida com o qual se despedia dos mortos, esperando a ressurreição. 
Nossa vida mesma é um presente que viemos oferecer a Deus e aos outros, no transcurso da noite luminosa de nossa existência, dirigida para Jesus.

Texto bíblico:  Mt 2,1-12

Na oração: O relato dos Magos nos convida a ir ao encontro do ano novo por outro caminho. Depois do encontro com o Menino Jesus, não deveríamos regressar à nossa terra pelo mesmo caminho pelo qual viemos. Transitar por um caminho novo é que deveria caracterizar o começo deste novo ano. E esta mudança de estratégia deveria ser criativa, buscando alternativas desconhecidas e novas para enfrentar os desafios que a realidade na qual vivemos nos apresenta. A criatividade não está em dizer ou fazer coisas raras ou extraordinárias, mas em saber dizer e fazer o mesmo com outra motivação, com outra inspiração, de maneira que o resultado seja sempre melhor.

Somos chamados a reler muitas vezes nossas vidas, à luz das experiências que tivemos, e tomarmos consciência de que cada encontro nos vai configurando, até chegarmos a uma identificação mais profunda com Jesus.

Pe. Adroaldo Palaro sj


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