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domingo, 3 de março de 2019

OSCAR BENÍCIO DOS SANTOS falando de amizade


  
Nem só a fé move montanha,
A amizade também o faz;
Principalmente se há paz
E nada mesmo a arranha.
Você que cultua o Perdão,
Fala pelo coração:
Perdoando, Deus a ganha!


(As entrelinhas falam mais que o texto vivo)

Oscar Benício dos Santos, 
Poeta
*1926 / +2019


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NA JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE PARÓDIA SACRÍLEGA DA ANUNCIAÇÃO - Luis Sérgio Solimeo


3 de março de 2019
Qual dessas representações (esta acima ou a imagem abaixo) da Anunciação glorifica mais a puríssima Mãe de Deus?

Luis Sérgio Solimeo


          Um espetáculo que não se pode deixar de qualificar como sacrílego realizou-se no dia 27 de janeiro em presença do Papa Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude no Panamá.1 Os atores ridicularizaram o mistério da Anunciação e trataram Nossa Senhora com grande irreverência. Apesar disso, no final da apresentação, o Papa aplaudiu e deu a sua aprovação.22

         Nessa peça burlesca, a Virgem Santíssima é apresentada como “uma jovem normal, uma jovem de hoje”, como a definiu recentemente o Papa Francisco.3 A jovem que interpretou Nossa Senhora usava tênis, calça masculina ajustada e uma blusa folgada de cor azul claro. Sua cabeça estava descoberta, e seu celular à vista. O “anjo Gabriel” foi interpretado por um rapaz com calça, camisa e chapéu brancos, tendo um par de pequenas asas preso às costas.

Qual dessas representações (esta ou a imagem no alto do artigo) da Anunciação glorifica mais a puríssima Mãe de Deus?

         Em uma paródia da Anunciação, o “anjo” diz a “Maria” que ela se tornará mãe por obra do Espírito Santo. Ela se mostra nervosa, quase histérica, e diz que ainda não está casada com José, não está pronta, tem que ir à universidade, tem medo etc. O “anjo” trata de convencê-la, e lhe diz que deveria regozijar-se. Cada vez mais nervosa, ela responde que não pode regozijar-se: “Que dirá José? Que pensará sua mãe quando souber? E os vizinhos?

         Então a mulher começa a cantar que tem medo, se sente despreparada, e outras coisas. O “anjo” a toma pelas mãos, dizendo que ela é a eleita, e ambos começam a dançar. Outras “anjas” bailarinas, descalças, entram rodopiando, com vestes flutuantes, como em qualquer espetáculo teatral obsceno.

         Em seguida, “Gabriel” e as “anjas” bailarinas põem uns óculos carnavalescos, e todos dançam em ronda, cantando em termos semelhantes aos das Escrituras. “Maria” continua a dizer que tem medo, mas logo começa a cantar as palavras do Evangelho, sempre em ritmo pop: “Faça-se a tua vontade”.Em meio a risos, ela toma seu celular e faz uma selfie com “Gabriel”. Outras duas moças sobem ao palco, e dizem que o resto da história é bem conhecido: Jesus veio a nós e nos deu seus ensinamentos.

         Entra depois no palco um time de futebol, representando os 12 Apóstolos, declamando e cantando que têm medo de evangelizar, porque serão perseguidos. Surge então um grupo de “policiais”, e os “apóstolos” fogem. Os “policiais” começam a cantar e bailar loucamente, e depois se vão.

         Os “apóstolos” regressam ao cenário e continuam a cantar e dançar em coreografia, repetindo sempre: “Tenho medo”. Depois de algum tempo dançando e cantando, “Maria” se aproxima deles, segura suas mãos e diz que já falou com “Gabriel”, e tudo funcionará.

         Logo se ouve uma voz forte pelos altofalantes: “Recebe o Espírito Santo, não tenhas medo, regozija-te, e vai evangelizar”. Todos então se ajoelham, levantam-se e começam a cantar junto com as bailarinas “anjas” e “Gabriel”. Em seguida uma dança louca e uma canção, da qual participa “Maria”.

         Quando terminou a paródia sacrílega da Anunciação e Pentecostes, o Papa Francisco fez um gesto de aprovação entusiástica. Depois se levantou e saudou efusivamente os dois atores principais. Se já é extremamente grave a própria presença do Papa em uma apresentação sacrílega como essa, tanto mais sua manifestação de apoio irrestrito.

Encenação da doutrina do Papa Francisco 
Essa paródia parece ilustrar a doutrina do Papa sobre a Santíssima Virgem Maria. Com efeito, há declarações dele sobre Maria Santíssima que contradizem tudo o que veneramos e encontramos nos Evangelhos, na Tradição e no Magistério da Igreja, bem como no sentimento dos fiéis. Recentemente assinalou que Maria “não nasceu santa”, negando implicitamente o dogma da Imaculada Conceição.4 Suas concepções sobre Nossa Senhora estão resumidas em seu livro-entrevista, ao jornal italiano “Corriere della Sera”:

         “[Uma] jovem normal, uma jovem de hoje… normal, normalmente educada, disposta a se casar, a ter uma família. […] Logo depois de conceber a Jesus, [ela] era ainda uma mulher normal. […] Nada foi excepcional em sua vida, [ela era] uma mãe normal: inclusive em seu matrimônio virginal, casta nesse sinal de virgindade, Maria era normal. Ela trabalhou, fez compras, ajudou a seu Filho, e auxiliou seu esposo. Normal”.5

Bem o contrário de tudo isso é o que nos diz o Papa Pio XII, de saudosa memória, na encíclica Ad Cœli Reginam, de 11 de outubro de 1954, na qual estabelece a festa da Realeza da Santíssima Virgem Maria:

         “Desde os primeiros tempos os cristãos creram, e não sem razão, que Ela, de quem nasceu o Filho do Altíssimo, recebeu privilégios de graça sobre todos os demais seres criados por Deus. […] E quando os cristãos refletiram sobre a conexão íntima que existe entre uma mãe e um filho, reconheceram facilmente a suprema dignidade real da Mãe de Deus”.6

          Nada é mais caro ao coração católico do que a honra da Mãe de Deus, a Amada Filha do Padre Eterno, a Admirável Mãe do Filho de Deus, e a Esposa Fidelíssima do Espírito Santo. O fato de o Papa Francisco tratar de maneira simplista e confusa os temas mais delicados e complexos não elimina, antes aumenta o dano que suas declarações fazem às almas, como as que se referem a Nossa Senhora. Sua maneira confusa, improvisada e contraditória de falar é incompatível com o ensinamento verdadeiro, claro e lógico da Igreja, e com a missão do Papa de confirmar os irmãos na Fé.7

         Ao expressar a nossa indignação pela ofensa feita à Virgem Maria, nossa Mãe Santíssima, nessa paródia teatral da Anunciação e de Pentecostes, apresentada diante do Sumo Pontífice e com o apoio dele, sugerimos a todos os leitores que façam atos de reparação por esse evento.
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Notas:
1. “O sacrilégio é, em geral, a violação ou o tratamento injurioso de um objeto sagrado. Num sentido menos apropriado, qualquer transgressão contra a virtude da religião seria um sacrilégio”. – J. Delany, s.v. “Sacrilege”, The Catholic Encyclopedia, (New York: Robert Appleton Company, 1912). http://www.newadvent.org/cathen/13321a.htm.
2. YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=PqMAmHuufLI (9:33 minutos do vídeo).
3. Papa Francesco: “La Chiesa è popolo, l’élite il peccato”, “Corriere della Sera”, 7-10-18, https://www.corriere.it/cronache/18_ottobre_07/papa-francesco-chiesa-popolo-elite-peccato-2ab8a8ce-ca64-11e8-8417-701d201b7018.shtml. Ver também, Luiz Sérgio Solimeo, “Papa Francisco: o ‘pecado da elite’ e a nova mariologia igualitária” http://www.abim.inf.br/a-nova-mariologia-igualitaria-do-papa-francisco/#.XF7eV1xKiUk
4. No dia 21-12-18, o Papa Francisco declara aos empregados do Vaticano: “Então, quem está feliz no presépio? Nossa Senhora e São José estão cheios de júbilo: olham para o Menino Jesus e sentem-se felizes porque, depois de numerosas preocupações, acolheram esta Prenda de Deus, com tanta fé e tanto amor. ‘Transbordam’ de santidade e, por conseguinte, de alegria. E vós me direis: claro! São Nossa Senhora e São José! Sim, mas não pensemos que foi fácil para eles: não nascemos santos, tornamo-nos, e isto é válido também para eles”.http://w2.vatican.va/content/francesco/es/speeches/2018/december/documents/papa-francesco_20181221_dipendenti-vaticani.html.
5. Papa Francesco: “La Chiesa è popolo, l’élite il peccato,” Corriere della Sera, Oct. 7, 2018, https://www.corriere.it/cronache/18_ottobre_07/papa-francesco-chiesa-popolo-elite-peccato-2ab8a8ce-ca64-11e8-8417-701d201b7018.shtml. Ver também, Luiz Sérgio Solimeo, artigo citado.
6.  Pio XII, Encíclica Sobre a Realeza da Santíssima Virgem Maria, nº 8, http://w2.vatican.va/content/pius-xii/es/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_11101954_ad-caeli-reginam.html.
7. “Confirma teus irmãos na fé” (Lc 22, 32).

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (120)


8º Domingo do Tempo Comum – 03/03/2019

Anúncio do Evangelho (Lc 6,39-45)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, Jesus contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco?
Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre.
Por que vês o cisco que está no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho?
Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando não percebes a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.
Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem uvas de plantas espinhosas.
O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Roger Araújo:
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Coração Divinizado

“O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração” (Lc 6,45)

A antropologia bíblica considera o coração como o interior do ser humano em um sentido muito mais amplo que o das línguas latinas, que evocam a vida afetiva, a sede dos sentimentos... O coração é o centro de nosso ser, o nosso cerne mais íntimo, o coração do coração, que consiste, sobretudo, no lugar do encontro com Deus.

 “O sentido de nossa vida não é outro que a busca deste lugar do coração” (Olivier Clément). Ou seja, no centro de nós mesmos, unificando nosso ser, está o coração, o “cofre” onde se guarda/oculta o que é mais nobre em nós. Por isso Jesus dava tanta importância ao coração: “a boca fala daquilo que o coração está cheio” (Lc. 6,45); “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt. 5,8).

É no “coração”  que as forças vitais se acham disponíveis para ajudar a pessoa a crescer dia-a-dia, tornando-a aquilo para o qual foi chamada a ser. Trata-se da dimensão mais verdadeira de si, a sede das decisões vitais, o lugar das riquezas pessoais, onde ela vive o melhor de si mesma, onde se encontram os dinamismos do seu crescimento, de onde partem as suas aspirações e desejos fundamentais, onde percebe as dimensões do Absoluto e do Infinito da sua vida.

O coração do ser humano é a própria fonte de sua personalidade consciente, inteligente e livre. É o lugar de suas escolhas decisivas, da lei não escrita e da ação misteriosa de Deus. Trata-se do centro existencial que permite à pessoa orientar-se como um todo e plenamente em direção a Deus e ao bem. No coração está gravada a imagem divina oculta, “o homem de coração oculto” (1Pd. 3,4). S. Serafim de Sarov o denomina “o altar de Deus”.

Aqueles que descem às profundidades do seu interior ficam fascinados pelo esplendor daquilo que contemplam. O coração de cada um está habitado de sonhos de vida, de futuro, de projetos; aqui, todo ser humano sente-se seduzido pelo que é verdadeiro, bom e belo; busca ardentemente a pacificação, a unificação interior, a harmonia com tudo e com todos...; sente ressoar o chamado da verdade, o magnetismo do amor, da plenitude; sente-se atraído por um desejo irreprimível de autotranscedência...

Por ser livre e responsável, o ser humano é capaz de decisões e de realizações, de ser artífice de seu destino e de sua história. Ele sente por dentro o impulso para a expansão de si; ele escuta por dentro o chamado a viver e a viver em plenitude. Nesse sentido, o “coração” é, de nossa parte, o espaço divino por excelência. “Só o amor pode adentrar-se no Deus que é amor”. Assim, a descoberta do próprio ser profundo  aproxima cada um do autor da vida: Deus.

É no coração, “última solidão do ser”, que a pessoa se decide por Deus e a Ele adere. Aqui Deus marca “encontro” com cada um. “Deus é mais íntimo a cada um de nós do que nós mesmos” (S. Agostinho). Chegar ao lugar do coração é dom de Deus: “Eu lhes darei um coração para conhecer-me; saberão que eu sou o senhor. Eles serão meu povo e eu serei seu Deus; eles se converterão a mim com todo seu coração” (Jer. 24,7). Eis o “lugar” onde poderemos estar em segurança, profundamente repousados.

Um coração que vibra harmoniosamente, de modo coerente, “com ondas de frequência elevada”, nos permite perceber a realidade de um modo igualmente harmonioso; sua energia radiante, transmissora de paz, de quietude, de confiança, de abertura, alcança os outros, tornando possível o sonho da unidade entre nós e aqueles que estão ao nosso redor.

Para os antigos monges, o contrário desta abertura de coração é a “sklerokardia”, ou seja, a “dureza de coração”, que impede a entrada em si mesmo e o encontro com os outros e com Deus. O coração pode palpitar ao ritmo da soberba ou da humildade, do amor ou do ódio, do egoísmo ou da generosidade. E está cheio de mesclas: de trigo e de joio.

Quando nosso coração está “fechado”, nossos olhos não veem, nossos ouvidos não ouvem, nossos braços e pés se atrofiam e não se movimentam em direção ao outro; vivemos voltados sobre nós mesmos, insensíveis à admiração e à ação de graças. Quando nosso coração está “fechado”, em nossa vida não há mais compaixão e passamos a viver indiferentes à violência e injustiça que destroem a felicidade de tantas pessoas. Vivemos separados da vida, desconectados. Uma fronteira invisível nos separa do Espírito de Deus que tudo dinamiza e inspira; é impossível sentir a vida como Jesus sentia.

A viagem para a própria interioridade, para a terra sagrada do coração, necessita de um hábil discernimento para conhecer as armadilhas e os “inimigos” que aparecem ao longo do percurso.

Quando, numa visão mais profunda de nós mesmos e do mundo, nos vemos como criaturas que surgem do amor de Deus, e quando essa visão é fruto de uma vivência interior e transbordante, começa a brotar no coração humano um movimento de unificação para Deus. Esse movimento é feito de confiança, de canto, de amor, de entrega, de serviço...

Por ser imagem de Deus, e porque “Deus é Amor”, o coração do ser humano é capaz do melhor: tem dada por Deus como dom da Criação, a potencialidade de amar aos outros com o mesmo amor com que Deus lhe ama, ou seja, com um amor gratuito e generoso. Mas, por ser uma imagem ofuscada pela limitação e pela fragilidade, o coração humano é também capaz do pior: de negar sua origem e sair ao encontro com a realidade a partir de suas potencialidades  necrófilas (forças de morte); de viver dando as costas a Deus e distorcendo a imagem essencial de seu Criador; de se preocupar com o “cisco” no olho do outro, assumindo atitudes intolerantes e julgadoras...

Quando nosso coração está centrado em Deus, ou seja, quando ele se percebe que vem d’Ele, vive para Ele e para Ele retorna, tudo está em seu lugar, tudo vai bem. É “árvore boa que dá bons frutos”. As “coisas” não são obstáculos, e as pessoas muito menos. Nem sequer o nosso próprio e ambíguo “eu” é tentação.

Até nossos instintos mais primários ficam integrados nessa corrente de amor recebido e amor entregue. Mas quando se produz um descentramento do coração, dá-se um corte com a Fonte e, portanto, com seu destino; quando o coração é presa do “diá-bolos” (aquele que desune, que divide), então tudo começa a desandar: o “eu” inflado se converte num depredador; os instintos básicos se transformam em obsessões; a vida fica fragmentada e dispersa. Tudo se petrifica. O coração torna-se “oxidado”, pois seus impulsos oblativos não são ativados. “Não se colhem figos de espinheiros, nem uvas de plantas espinhosas”. É a deriva do coração humano, a inversão de sua vocação mais profunda. 

Faz-se urgente reconectar-se com a Fonte, onde o coração é continuamente gerado, sustentado, alimentado pelo amor de Deus que o irriga, que o restaura. O coração profundo pode estar desprezado, adormecido, fechado, mas não pode morrer.

Texto bíblico:  Lc 6,39-45 

Na Oração: A oração é o caminho interior que faz você chegar até o seu próprio “eu original”, aquele lugar santo, intocável, onde reside não só o lado mais positivo de você mesmo, mas o próprio Deus. Este é o nível da graça, da gratuidade, da abundância, onde você é chamado a mergulhar no silêncio, à escuta de todo o seu ser.

- Nas profundezas do seu coração, acolha, escute e reconheça o murmúrio da voz de Deus, que, como um rio calmo e ao mesmo tempo vivaz, o(a) acompanha, da nascente ao mar aberto. 

Pe. Adroaldo Palaoro sj


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