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domingo, 4 de agosto de 2019

AO USUÁRIO DO PLANSERV - Prof.Dr. Modesto Jacobino


"Notícias divulgadas pela imprensa em relação ao nosso PLANSERV, são cada vez mais preocupantes. A última foi o pedido de exoneração da sua coordenadora.

Tenho mais de 40 anos prestando Serviços Médicos aos Usuários do Planserv e nunca presenciei uma crise tão grave como a de agora. Mais de 500 Mil usuários são submetidos a um miserável regime de cotas, algo nunca presenciado sequer na época da Revolução de 64.

É um Sistema de cotas baseado exclusivamente em um número fixado para cada prestador, sem qualquer metodologia científica. Faz de conta que tem e não tem. E o usuário do Planserv está de gaiato nesse navio. O SUS pelo menos todos nós sabemos que não tem.

Não satisfeitos, entregaram a gestão ou algo semelhante para uma empresa que dizem ser de Santa Catarina. Claro que essa empresa ganha dinheiro provavelmente em cima de metas alcançadas, produzidas. E aí surge outro fenômeno pior do que aquele do Sistema de Cotas: trata-se da Liberação de tratamento solicitado pelo Médico Assistente do Usuário do Planserv.

Até recentemente tudo era feito aqui na Bahia, rapidamente. Agora quem faz é a empresa de Santa Catarina. Além da demora para a liberação do mesmo, eis que desponta outro mais grave: a mudança do tratamento solicitado pelo médico Assistente. Ou seja, o Médico Auditor está contraindicando um tratamento e o substituindo por outro. Neste caso específico, sugiro aos Administradores do Planserv que este Médico Auditor assuma o tratamento proposto por ele e arque com as devidas consequências.

De minha parte resta denunciar o mesmo para o Conselho Regional de Medicina da Bahia e para o Conselho Federal de Medicina.

A nossa Classe Médica não pode ficar parada. As Entidades de Classe devem ser mobilizadas.

Os Prestadores de Serviços Médicos ao Planserv unidos em defesa do PLANSERV.

Vamos todos salvar o Planserv.

VAMOS NOS UNIR AOS MAIS DE 500 MIL USUÁRIOS DO PLANSERV.


Prof. DR. Modesto Jacobino
Urologista CRM BAHIA 3987
LITHOCENTER HOSPITAL DIA".


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10 DE AGOSTO: DIA DE JORGE AMADO – Paloma


Clique sobre a foto, para vê-la no tamanho original
(Paris, 1949 – paloma)


            De ministério em ministério, de repartição em repartição, acompanho Pablo Picasso pelas ruas de Paris, no esforço para resolver o problema da estada de Pablo Neruda na França. Trotávamos de déu em déu, o dia é especial para o pintor: Françoise, sua mulher, fora para o hospital com dores de parto. Ele desejava menina, se chamaria Paloma: a Paloma da paz, desenho de Picasso, cobre os muros da cidade na propaganda do I Congresso Mundial dos Partidários da Paz que vai se iniciar no dia seguinte na sala Pleyel.

           Neruda desembarcara em Paris uma semana antes, habilitado com passaporte falso o que o identificava cidadão guatemalteco don Antônio dos anzóis carapuça, de bastos bigodes, adido cultural, qualquer coisa assim. O passaporte lhe fora fornecido por Miguel Anjel Asturias, embaixador da Guatemala na Argentina que, ao atender à necessidade do amigo, punha em jogo o cargo e a carreira. Não hesitara um minuto quando Pablo, fugitivo do Chile onde havia sido expulso do Senado, lhe colocara o problema.

            A princípio conhecida apenas por mim e por Alfredo Varela  - o romancista de El Rio Oscuro, dirigente do pecê argentino  -, por Laurent Casanova  responsável no Bureau Político do pecê francês pelos problemas culturais e pelo movimento da paz, por Louis Aragon e François Leclerc em cujo apartamento estava hospedado, a presença do poeta, secretíssima, logo se tornou segredo de polichinelo. A comitiva de admiradores engordava a cada dia com a chegada para o Congresso de intelectuais latino-americanos: Juan Marinello, Nicholás Guillén, Miguel Otero Silva, Alfredo Gravina, o pintor Venturelli. Passaporte ilegal, Pablo estava impedido de participar do conclave e corria o risco de ser detido e posto fora da França a qualquer momento.

          De autoridade a autoridade, Picasso encaminha a solução, eu o acompanho, sou de pouca ajuda, mas faço-lhe companhia. De meia em meia hora entramos num bistrô, Picasso telefona para o hospital, pede notícias da parturiente, fica sabendo que Françoise ainda não deu à luz. Numa dessas vezes, porém, a pergunta é acolhida com hosanas: nascera a menina Paloma, a mãe passa bem, Picasso exulta.

            Ora, o problema de Neruda, àquela hora, estava praticamente resolvido, restavam detalhes finais, deles eu poderia me encarregar sozinho. Vai ver tua filha e tua mulher, propus, Picasso recusou: só quando terminar. O Ministério do Interior e o Quai d’Orsay encontraram por fim  a solução: Pablo deixaria a França de carro, a polícia da fronteira estaria avisada para não criar problema, voltaria assim que tivesse passaporte em ordem.

            Na suíça, onde La Hormiga* o aguardava, um ex-cônsul do Chile, admirador incondicional, prolongara velho passaporte chileno que Delia trouxera de Santiago. O ex-cônsul, aposentado, guardara os timbres e os carimbos, poderiam ser de utilidade um dia, foram. Assim o poeta regressou a Paris não mais na pele de don Antônio dos anzóis carapuça e, sim, na do chileno Naftali Ricardo Reyes, seu nome verdadeiro. Ainda não oficializara o pseudônimo, o que fez quando retornou ao Chile: nem Antônio dos bigodes, nem Naftali Reyes, para sempre Pablo Neruda, poeta e militante.

            Picasso cuidou do caso até vê-lo completamente resolvido, me encarreguei da viagem, designei guarda-costas, dois jovens comunas brasileiros no gozo de bolsas de estudo em Paris, Paulo Rodrigues e Alberto Castiel, levaram o bigodudo don Antônio à Suíça, trouxeram Delia e Pablo para a França, ele de passaporte legal e sem bigodes.

            De volta ao hotel contei a Zélia as andanças do dia, os telefonemas de Picasso para o hospital, o nascimento de Paloma.

            - Se um dia tivermos uma filha ela se chamará Paloma - Decide Zélia, arrebatada.

            O caso se deu em 1949, nossa Paloma nasceu e 1951. Até parece de propósito, a sementinha foi posta em Varsóvia durante o II Congresso Mundial dos Partidários da Paz, a paloma de Picasso nos muros da cidade, inspiradora.


* La Hormiga, apelido de Delia del Carril, na época mulher de Neruda.

(NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM)
Jorge Amado
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            “Nada mais cansativo, mais estafante, mais terrível do que as reuniões ditas sociais, coquetéis, recepções, jantares, festinhas, outras chatices semelhantes.
             A obrigação de ser inteligente, os convidados esperando as frases de efeito, a profundeza, o brilho do escritor: é de lascar. Fico apavorado se não tenho jeito de escapar, como ser inteligente ao fim da tarde ou na mesa de jantar de cerimônia, com gravata e paletó? Emburreço por completo, dá-me aquela inibição, emudeço, perco o dom da fala, ainda mais parvo do que no dia-a-dia.”

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JORGE AMADO - Quinto ocupante da Cadeira 23 da ABL, eleito em 6 de abril de 1961, na sucessão de Otávio Mangabeira e recebido pelo Acadêmico Raimundo Magalhães Júnior em 17 de julho de 1961. Recebeu os Acadêmicos Adonias Filho e Dias Gomes.

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (142)


18º Domingo do Tempo Comum – 04/08/2019

Anúncio do Evangelho (Lc 12,13-21)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”.
Jesus respondeu: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?”
E disse-lhes: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”.
E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’.
Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!’
Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Roger Araújo:

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O Ego perdido nos celeiros

“Atenção! Tomai cuidado com todo tipo de ganância” Lc 12,15)

No caminho para Jerusalém, por entre incidentes, encontros e palavras que aquecem a viagem, o evangelista Lucas aproveita dos diferentes episódios para nos revelar como Jesus vai formando seus (suas) discípulos(as) no verdadeiro seguimento. No domingo passado, aprendemos a orar com Jesus; no próximo domingo, seremos motivados a alimentar uma atitude de vigilância frente às responsabilidades que nos são confiadas; neste domingo, o evangelho ensina a nos preservar das falsas seguranças, que consistem em acumular bens materiais para si mesmo, em vez de compartilhá-los com os outros. 

A questão que nos é colocada é a seguinte: queremos nos tornar ricos de celeiros ou de coração?

O relato tem duas partes: na primeira, Jesus se nega a ser árbitro em um conflito de herança; na segunda, Ele nos adverte do risco de centrar nossa vida em buscar segurança nos bens terrenos, distanciando-nos do verdadeiro sentido de nossa existência. 

Expandir a verdadeira Vida não depende de ter mais ou menos, mas de ser. 

Se o primeiro objetivo de todo ser humano é ativar ao máximo sua humanidade e o evangelho nos diz que ter mais não nos faz mais humanos, a conclusão é muito simples: a posse de bens de qualquer tipo, não pode ser o objetivo último de nenhum ser humano. A armadilha de nossa sociedade de consumo está nisso: quanto maior capacidade de satisfazer necessidades nós temos, maior número de novas necessidades despertamos; com isso, não há possibilidade alguma de marcar um limite. Já os antigos santos padres diziam que o objetivo da vida não é aumentar as necessidades, mas fazer com que essas diminuam cada dia que passa. Esse seria o sentido inspirador da vida, ou seja, vida descentrada, oblativa, aberta...

É muito difícil manter um equilíbrio nesta matéria. Não há nada de mal buscar nível melhor de vida. Deus nos dotou de inteligência para que sejamos previsores. Prever o futuro é uma das qualidades próprias do ser humano. Jesus não está criticando a previsão, nem o empenho por uma vida mais digna. Critica, sim, que façamos isso de uma maneira egoísta, afastando-nos de nossa verdadeira meta como seres humanos. Alimentar necessidades é estar centrado em si mesmo, nutrindo o próprio “ego”. 

A parábola deste domingo revela que a cobiça nos incapacita para viver uma vida mais humana. Cobiçar é desejar com ânsia aquilo que dá sensação de segurança ao nosso “ego”. O rico da parábola não se dá conta de que vive fechado em si mesmo, prisioneiro de uma lógica que o desumaniza, esvaziando-o de toda dignidade. Só vive para acumular, armazenar e aumentar seu bem-estar material. Só se preocupa em encher seus celeiros e dedicar-se à boa vida; não está no seu horizonte que os outros também precisam se alimentar. Só vive para alimentar seu instinto de posse: “meus celeiros”, “meu trigo”, “meus bens”. Não percebe que seu “ego” apodrece em meio aos vastos celeiros.

O homem insensato do evangelho vive para “inflar seu ego”. Contudo, o ego não é o seu verdadeiro “eu”, não é ele. É uma falsa imagem de si mesmo. É a ilusão de que ele é um indivíduo separado, independente, isolado e autônomo. Seja qual for a imagem que cada um tem de si, todos, efetivamente, fazem parte de um universo imenso, em que tudo é interdependente e tudo está intimamente ligado entre si. Todas as divisões, conflitos e rivalidades entres os seres humanos nascem da ilusão de um “ego” que se sente separado e independente dos outros e da natureza. 

O “eu ensimesmado” tende a ser depredador e exigente; quer toda a realidade a seu serviço. Então, tudo fica desfocado, tudo se desvia, tudo se perverte, porque falta aquela atitude “reverente”, ou seja, viver na alteridade diante do Deus da Vida, das suas criaturas e diante dos outros...

O “ego inflado” se transforma em centro autônomo: fundamento, farol e vigia de toda a realidade. Com isso, o ser humano perde a dimensão de ser criatura. A “dependência” para com o Criador é sentida como ameaça à capacidade de decisão sobre a própria vida. O ego não tem consistência própria: é uma construção mental e uma identidade transitória e, portanto, parasitária. Para subsistir – para ter uma sensação de existir -, necessita aferrar-se a qualquer “objeto” que o alimente: tudo o que seja ter, poder ou aparentar. Vive para ter e acumular, para conseguir poder e impor-se, para figurar e destacar. Em tudo isso acredita encontrar segurança, estabilidade e, em definitiva, consistência. 

Quando nos sentimos genuinamente movidos por sentimentos de compaixão para com as pessoas necessitadas, quando ativamos o espírito solidário, quando compartilhamos agradecidamente tudo o que somos e temos, então é o nosso “verdadeiro eu” que está se manifestando. Quando reconhecemos um momento de honestidade e sinceridade no nosso desejo de conhecer a verdade acerca de nós mesmos ou do sentido de nossa vida, esse é o nosso verdadeiro eu. Nos momentos em que agimos com uma coragem e valentia inexplicáveis e fora do normal, isso também brota de um impulso que provém das profundezas do nosso próprio ser.

Quando começamos a sentir uma grande gratidão pelos inúmeros dons que a vida nos oferece, podemos ter a certeza de que isso não provém do nosso ego. O ego é completamente incapaz de sentir gratidão. Sentir uma gratidão imensa por todos os dons e graças que recebemos é um sentimento que brota do mais profundo do nosso coração.

Se, alguma vez, já experimentamos a alegria tranquila de deixar de lado nosso ego, fazendo alguma coisa pelos outros, sem receber qualquer recompensa ou agradecimento, e sem que ninguém o saiba, então entramos em contato com o nosso “eu mais original e divino”. E quando nos sentimos invadidos por uma onda de assombro e deslumbramento, quer dizer que estamos deixando o nosso verdadeiro eu se expandir. 

No centro da mensagem de Jesus encontramos a revelação de Deus como Pai e a proclamação da igualdade e da fraternidade de todos os seres humanos. A criação de uma comunidade onde o compartilhar substitua a acumulação, e que se apresente como alternativa àquilo que o mundo propõe, configura-se como uma das propostas mestras na proclamação do Reino de Deus. Contra a tendência de querer apropriar-nos de tudo como busca de segurança e como defesa hostil diante dos outros, Jesus nos convida a viver a partilha, como abertura aos outros e como possibilidade para a criação da “nova comunidade”, que se constitui como alternativa frente às relações interpessoais fundadas na acumulação e no consumismo.

Na partilha, a primitiva tendência egoísta e agressiva dá lugar a uma atitude aberta, acolhedora e benevolente frente ao outro. Além disso, onde há partilha, há superabundância. Dito positivamente: trata-se de um convite a ir mais além do ego e descobrir nossa verdadeira identidade, aquela “identidade compartilhada”, na qual o próprio Jesus se encontrava.

A verdadeira riqueza é investir numa única fortuna: a do amor, a do favorecimento da vida, a do descentramento de si mesmo em favor do serviço ao outro, o das obras em favor dos mais pobres e desfavorecidos. Isso é “ser rico para Deus”. 

Texto bíblico:  Lc 12,13-21

Na oração: Não permaneça na superficialidade do teu ego; desça mais ao fundo de ti mesmo e descobrirás a harmonia. Teu verdadeiro ser é paz, é mansidão, é bondade. Vai mais além de teu falso ser!

Empenha-te em deslanchar teu verdadeiro ser: mais oblativo e solidário.

Dentro de ti está a plenitude, está a felicidade no viver descentrado. Descubra-a!

Pe. Adroaldo Palaoro sj


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