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quarta-feira, 31 de julho de 2019

O REALEJO ESTRIDENTE - Péricles Capanema


20 de dezembro de 2018
♦  Péricles Capanema

Faz anos que das ruas anda quase sumido o realejo, por isso é mais seguro — atenção, jovens! — rápido lembrete. Observado por alguns, o tocador gira a manivela e o ambiente em volta se recreia do som de poucas e repetidas músicas. No Velho Mundo tem mais prestígio a representação; compõe, peça valiosa, paisagens urbanas da cultura popular. O “orgue de Barbarie” [fotos] faz parte da cena pitoresca da Paris sonhada por multidões (lá, sem o irrequieto papagaio tirador da sorte). Uma das explicações para a origem da expressão “órgão de Barbárie” seria a sonoridade tosca do realejo que lembraria, entretanto, os grandes órgãos das catedrais. Entre nós, o realejo e o papagaio por gerações encantaram crianças e seduziram adultos.

Viro a página. Na linguagem comum, realejo tem emprego pejorativo, bastante usado: a repetição monótona de um mesmo tema: “Aquele sujeito é um realejo”.

Entre realejo e avestruz, fico com o primeiro. Diz a lenda (é lenda mesmo), o avestruz enfia a cabeça na areia quando pressente o perigo. À vera, a ave encosta o pescoço e a cabeça no chão, escuta melhor algum predador e fica menos exposta. Contudo, o uso consagrou a frase, diante do perigo, o avestruz enfia a cabeça no chão.

De novo, escolho ser tocador de realejo a fechar os olhos diante do felino que avança contra o avestruz (no caso, todos nós). Vou apenas sublinhar e, quem sabe, ampliar coisas que já disse. “Ideia dita uma só vez, morre inédita”, avisava Nelson Rodrigues.

São duas matérias dos últimos dias. Em 15 de dezembro, Taís Hirata na “Folha de S. Paulo” descreveu novas possibilidades de aplicação de capitais chineses no Brasil em minucioso artigo intitulado “Após investir em energia, chineses miram saneamento básico no Brasil”.

De outro modo, segundo o texto, chineses, melhorando grupos chineses, vão comprar empresas estatais do setor de fornecimento de água e coleta de esgoto (aqui, também, o tratamento de resíduos). Ou comprar obras paralisadas, terminá-las e explorar comercialmente os serviços.

Um dos grupos chineses interessados é o Fosun, gigantesco conglomerado econômico. Segundo informações coletadas na rede (minha maior fonte), tem maioria de capital privado. Um dos proprietários, Guo Guangchang [foto], às vezes chamado de Warren Buffett chinês, faz parte do Conselho Político Consultivo do Povo Chinês, uma espécie de Senado dominado pelo Partido Comunista Chinês. De outro modo, é empresa próxima do governo. Preocupa. A matéria da Folha nada traz da proximidade do grupo com a tirania imperialista de Pequim.

Três outros grupos chineses, informa Taís Hirata, têm interesse em comprar empresas ligadas ao saneamento básico. O primeiro deles é o CCCC (China Communications Construction Company), sociedade anônima, com faturamento anual de aproximadamente 70 bilhões de dólares. É estatal chinesa; de outro modo, está em sintonia com as diretrizes do Partido Comunista Chinês (PCC). Nenhum diretor é indicado sem a anuência do partido. O segundo grupo é o Datang, outra estatal chinesa, com faturamento anual em torno 30 bilhões de dólares. O terceiro grupo é o CGGC (China Gezhouba Group Company Limited), também empresa estatal, com receitas anuais em torno de 15 bilhões de dólares. O artigo nada diz que dos quatro grupos, três pertencem ao governo chinês, de outro modo, agem em sintonia com as diretrizes políticas do Partido Comunista Chinês. Desde há anos, esse é o padrão usual da imprensa brasileira, esconde informações essenciais para o juízo equilibrado e objetivo do leitor.

Deixo para trás as informações do artigo de Tais Hirada, planos para o futuro, e me detenho em editorial do Estadão, 9 de dezembro, intitulado “O peso da China”, análise do presente. Nos primeiros onze meses de 2018, o Brasil acumulou superávit comercial de 51,7 bilhões de dólares. Desse total, 26,2 bilhões de dólares vieram do comércio com a China, 50,7%. Em 2017, 30,7% do saldo comercial vieram das trocas com a China. Dos 220 bilhões exportados nos onze primeiros meses de 2018, 58,8 bilhões foram para a China, 28,8% do total. Constata o editorial: “Só esses números bastariam para mostrar a crescente influência da China sobre a economia brasileira”.

A situação é mais preta: “Há outro aspecto que resulta em laços econômicas mais fortes. É a presença cada vez maior do capital chinês nos investimentos estrangeiros.” Capital chinês (sic!). Desde 2003 até hoje, segundo a Secretaria de Assuntos Internacionais (SEAIN) do Ministério do Planejamento em 269 projetos houve investimentos chineses anunciados e confirmados de 124 bilhões de dólares. Desse total, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China, 87% foram de origem estatal, 13% de origem privada.

Vou, de novo, escrever o que ninguém ou quase ninguém põe no papel com clareza: esses 87% é dinheiro de empresas estatais chinesas, que trabalharão pelos objetivos do PCC, e cujos diretores se alinham sempre com a estratégia do partido. Os 13% restantes, via de regra, são de empresas que acertam o passo com o governo chinês. Não custa lembrar, de momento, a China luta com os Estados Unidos por áreas de influência, situação que está se refletindo em disputas comerciais e, na América Latina, apoia ativamente Cuba, Venezuela e Bolívia.

A própria linguagem eufemística da imprensa (investimento chinês, grupos chineses, capitais da China), que atenua a realidade bruta (dinheiro cujo dono é o governo chinês, longa manus do PCC), é triste indício de que o Brasil já experimenta incipientes reações de protetorado. A esquerda não dá um chiadinho contra a avalanche das estatais chinesas na economia brasileira; ela, agora, silenciosa, mas historicamente tão barulhenta nas diatribes contra o capital estrangeiro. Não adianta fechar os olhos para a realidade. Ela é o realejo estridente, óbvio ululante.



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terça-feira, 30 de julho de 2019

ITABUNA: RUY PÓVOAS EMITE NOTA DE REPÚDIO PELO “DESCONVITE” PARA A INAUGURAÇÃO DO TEATRO



O Professor, escritor e babalorixá, Ruy Póvoas emitiu nota de repúdio pelo “desconvite” que recebeu pra inauguração do Teatro Candinha Dória em Itabuna.
Na nota, um dos ícones da cultura Itabunense, disse que nunca viu e nem ouviu falar de “desconvite”. Veja abaixo o Desconvite recebido por Ruy Póvoas e sua nota de repúdio:


DESconvite do cerimonial oficial do Teatro Municipal Candinha Dória

Prezado Senhor Ruy Povoas , em nome do Prefeito Fernando Gomes, informamos que não foi possível confirmar sua cadeira no dia 26/07/2019, em razão da capacidade do Teatro ser inferior ao número de convidados confirmados. Orientados pelo corpo de Bombeiro que se preocupa sempre com a segurança de todos os cidadãos, lamentamos profundamente a não confirmação de vossa ilustre presença. Diante do exposto informamos que temos disponibilidade para a data 28/07/2019 às 17:00 horas onde será realizado a entrega da Comenda Firmino Alves. Gratos pela compreensão cerimonial oficial do Teatro Municipal Candinha Doria.
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Gente, nunca vi, nem ouvi falar em DESCONVITE. Mas a vida é assim: Quem do pouco se admira corra o mundo que vê mais. Foi necessário que eu vivesse 76 anos para descobrir que DESCONVITE é um lexema que também faz parte do dicionário da “língua” antediluviana da Região Grapiúna.
Eu não sabia que sou uma ameaça, a ponto de ser necessária a intervenção do Corpo de Bombeiros, que instruiu os responsáveis pelo evento a lançar mão do DESCONVITE.


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Comentário: Houve muitos “desconvites”. Aconteceram porque, de repente, o Governador Rui Costa resolveu trazer muito mais gente na sua comitiva. Bem feito para os filhos de Itabuna que dão apoio a um prefeito e um governador que vivem fechando hospitais. O corpo de bombeiros está no seu papel de não recomendar que se coloque pessoas além da capacidade do teatro.(ICAL)

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DOCUMENTÁRIO “ALBERTO DA COSTA E SILVA - FILHO DA ÁFRICA”, QUE EXALTA A TRAJETÓRIA DO HISTORIADOR, EMBAIXADOR E ACADÊMICO, ESTREIA NA ABL

Aos 88 anos, o historiador, embaixador e Acadêmico Alberto da Costa e Silva recebe os produtores Stéphanie Malherbe e Ricardo Vilas para “abrir o livro de sua vida e trajetória”. Com a discrição do diplomata e o humor fino do poeta, Alberto da Costa e Silva fornece neste filme um depoimento único sobre sua carreira, suas viagens a importância da África no Brasil.

Percurso

Acadêmico Alberto da Costa e Silva conta sobre sua infância em Fortaleza, quando ia para a escola montado num carneiro, as brincadeiras com as crianças do bairro e pelo mundo imaginário encarnado por seu pai, o poeta Antônio da Costa e Silva. Relata a força de sua mãe, que trazia a marca das mulheres da sua família.

O documentário também aborda a adolescência no Rio de Janeiro, na Tijuca, onde a família se instala, pois sua mãe acredita que essa mudança propiciaria um futuro melhor para o filho. E trata, ainda, da escolha de Alberto pela carreira diplomática para “vingar seu pai”, que, antes dele, teve seu ingresso recusado na diplomacia. Mas essa escolha também foi justificada por seu gosto pela aventura, pelo desconhecido e pelo distante.

"É uma alegria falar sobre Alberto da Costa e Silva, um homem incomum, singular... Eu diria que é um mestre. Um mestre da cultura, do pensamento... Um mestre da vida."
- Fala da Acadêmica Nélida Piñon para o filme "Alberto da Costa e Silva - Filho da África".

Alberto da Costa e Silva e a África

O Acadêmico Alberto da Costa e Silva é, reconhecidamente, no Brasil, o maior especialista em África, em razão de sua sede insaciável de procurar e entender as raízes do Brasil. Aos 14 anos, sendo um jovem branco e de classe média, tomou um choque ao ler Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, descobrindo que nós, brasileiros, éramos negros. “Mas, então, de onde viemos?” - perguntava-se, pois todos os escritos que encontrava traziam relatos mencionando negros já chegados ao Brasil, como se nascessem no próprio navio negreiro e não tivessem um passado, uma história ou uma cultura por trás de cada um. Era como se a África, de onde vinham, não existisse.
  
Alberto vai pesquisar, sem descanso, a História das Áfricas, porque “sem a África não existiria o Brasil”, tornando-se, assim, um pioneiro no Brasil dos estudos africanos.

O documentário

Além dos depoimentos de Alberto da Costa e Silva, o filme conta com testemunhos de intelectuais e pesquisadores, como Nélida Piñon, Franklin Martins, Muniz Sodré e Lilia Schwarcz, e de artistas, como Haroldo Costa, Nei Lopes e Martinho da Vila.

“Alberto da Costa e Silva - Filho da África” terá sua primeira exibição pública no dia 6 de agosto, às 15h30, no Teatro R. Magalhães Jr., na Academia Brasileira de Letras. O evento contará com a participação do cineasta e Acadêmico Carlos Diegues, que coordena as ações de cinema na ABL. A Entrada é franca, limitada à capacidade do teatro. Faça sua reserva abaixo!

INSCRIÇÕES
Garanta sua participação gratuita para esta sessão exclusiva. Lugares limitados.
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segunda-feira, 29 de julho de 2019

COMEÇO A FICAR INTOLERANTE COM OS QUE SE ALEGRAM COM O FRACASSO DO PAÍS


24 de julho de 2019

Por Ives Gandra da Silva Martins*

            Toda manhã, ao ler os jornais, hábito que os mais jovens criticam como próprio da velhice, consumo minha dose de irritação com o desenvolver dos acontecimentos e por ver que a periferia do que é relevante é sempre a matéria de maior destaque nas manchetes jornalísticas.

            Leia-se, por exemplo, o caso do ex-presidente Lula. Toda a defesa daquele ex-mandatário concentra-se em ter, o julgador, conversado de forma inapropriada com os promotores federais, o que, de rigor, não alterou o amplo direito de defesa que lhe foi assegurado durante todo o processo nas quatro instâncias. As provas, todavia, constantes dos autos, que serviram à condenação nas quatro instâncias, não são objeto das manchetes, tendo-se, inclusive, a impressão de que os diálogos criminosamente obtidos e conivente e convenientemente veiculados, se verdadeiros, valeriam mais que o fato material objeto da condenação. Como advogado há 61 anos, sempre entendi que a advocacia não tem sido bem tratada por magistrados, imprensa e população, que não percebem a importância do direito de defesa numa democracia.

            No caso, todavia, o que menos se discute na imprensa é se haveria ou não prova material condenatória, o que levou um juiz, três desembargadores, cinco ministros do STJ e seis do STF a entender que haveria crime na conduta do ex-presidente.
Outra das minhas irritações reside nas turbulências destes primeiros meses. Aspectos positivos não têm repercussão na mídia, como o da maior safra de grãos, o da entrada do capital estrangeiro na casa de quase US$ 100 bilhões, a existência de saldos altos na balança comercial, a inflação abaixo da média estabelecida, a possibilidade de queda dos juros, o fato de as reservas serem superiores a US$ 380 bilhões, o relatório favorável do FMI sobre o estado das contas públicas, o sucesso nas programações de infraestrutura, a assinatura de um acordo emperrado há 20 anos entre Mercosul e União Europeia, o avanço e a liderança entre as nações na defesa dos valores familiares, a manutenção do combate à corrupção, inclusive até no que demonstra, na linguagem popular, ser pé quente, a vitória da seleção brasileira na Copa América, após anos de insucesso internacional. Até a boicotada reforma previdenciária avança.

            Reconheço que a equipe presidencial, sem o traquejo político da anterior, está aprendendo a “andar de bicicleta andando”, mas a busca, da imprensa, por desacertos em cada um dos menores incidentes, que ganham, assim, proporções descomunais, parecem torná-los mais importantes do que alguns dos aspectos relevantíssimos da evolução do país. De longe, para tais caçadores de insucessos, vale mais o que vale menos e vale menos o que vale mais.

            Começo a ficar intolerante com os que se alegram com o fracasso do país e que se vangloriam em ver a nação afundar por força de suas, quase sempre, infundadas críticas.

            Outra das minhas irritações diz respeito à fantástica cobertura que se dá ao crime cibernético. Um gangster digital invade a privacidade das pessoas, regiamente financiado, utiliza-se do sigilo da fonte para que um jornalista, a conta-gotas, vá revelando o produto de seu crime e tal crime e tal parceiro do criminoso são alcandorados pelos que dizem que a mídia vive das más notícias, pois as boas não vendem jornal. De tal maneira, nenhuma cobertura se dá à investigação dos delinquentes da privacidade alheia. Não compartilho da teoria de que os fins justificam os meios, pois gera uma enorme insegurança jurídica, e o ideal de justiça, que é o desiderato maior do Direito, fica pisoteado, transformando-se em uma briga mesquinha pelo poder entre amigos e inimigos.

            Tudo isso para um velho advogado de 84 anos gera desconforto, pois, neste final de vida, percebo que o país terá ainda que evoluir muito para viver a democracia que desde os bancos acadêmicos minha turma almejava para o Brasil.

            “The last but not the least”, impressiona-me a crítica cerrada de determinada imprensa a ter o presidente declarado que não financiará um filme que enaltece a prostituição como meio de vida, por entender que a família é a base da sociedade e o filme ser corrosivo e deletério aos valores da família. Ora, o que o presidente declarou é o que está na Constituição, ao dizer que a família é a base da sociedade (artigo 226 caput) e que os meios de comunicação deverão ser utilizados para a defesa dos valores éticos da família e da sociedade (artigo 221, inciso IV). Não tem o menor sentido gastar dinheiro do povo para divulgar prostituição. É de se lembrar que a queda das grandes civilizações deu-se quando os costumes se deterioraram, com as mulheres prostituindo-se nos templos da Babilônia para conseguirem dotes para seus casamentos, assim como com o relaxamento dos costumes em Atenas, que terminou perdendo a guerra do Peloponeso para Esparta, e com a degradação familiar no Império Romano Ocidental, como Políbio referiu-se em seus escritos. Ora, ao cumprir o que determina a Constituição, valorizando a família — criou, inclusive, uma Secretaria Nacional da Família —, está o governo cumprindo rigorosamente a lei suprema. É preferível gastar dinheiro do povo com a saúde e educação do que com filmes dessa natureza.

            Concluo estas linhas afirmando que em nenhum momento defendo preferências de magistrados pelos membros do Ministério Público ou desequilíbrio de tratamento entre o parquet e advocacia, como demonstrei no livro que coordenei com Marcos da Costa, intitulado A Importância do Direito de Defesa para a Democracia e a Cidadania, com a colaboração de ilustres advogados e juristas brasileiros. Toda a verdade deve ser apurada. Entendo, todavia, que os brasileiros deveriam dar aos fatos conhecidos a sua devida relevância, sem riscos de manipulação, seja pelos criminosos cibernéticos, seja pelas autoridades dos Três Poderes, pela mídia, por partidos políticos ou pelos formadores de opinião. Só assim poderemos entregar a nossos filhos e netos um país melhor do que o que recebemos de nossos ancestrais.
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*Ives Gandra da Silva Martins é advogado, professor emérito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP e fundador e presidente honorário do Centro de Extensão Universitária do Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS).
Revista Consultor Jurídico, 24 de julho de 2019



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domingo, 28 de julho de 2019

CRISE DE FÉ, CRISE DE COSTUMES - Padre David Francisquini


22 de julho de 2019
Padre David Francisquini*

            A quebra dos valores morais e religiosos ao longo das últimas décadas vem causando não poucos estragos em todos os setores da sociedade, levando-nos a exprobrar em diversas ocasiões o comportamento inescrupuloso de muitos de nossos representantes que ocupam cargos públicos.

            Como já expliquei em outras ocasiões e volto a insistir, a raiz da questão encontra-se na crise de fé que atinge todos os homens deste início de século, na base da qual estão o orgulho e a sensualidade, como apontou o pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira.

            Como essa crise tem como campo de ação o próprio homem com os seus defeitos e vícios decorrentes do pecado original, os quais vêm sendo alimentados artificialmente há mais de meio milênio por meios revolucionários, hoje ela atingiu um clímax. A essa situação podem ser aplicadas as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo quando se referiu ao profeta Isaías:

            “Este povo honra-me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me presta culto; a doutrina que ensina são preceitos humanos” (Mt 5, 5-7). E o divino Mestre chama esse povo de hipócrita exatamente por aparentar em seu coração uma coisa e fazer o contrário. Finge prestar culto a Deus, mas na verdade se ocupa das pequenas vantagens terrenas.

            Ao se jactar de cultuar a Deus, essas pessoas na verdade se encontram bem longe d’Ele, pois seus corações não são retos e não praticam o que é justo diante de Deus. Honram pela boca, exigem de Nosso Senhor sinais e milagres, mas não querem reconhecer a sua divindade, nem recebê-Lo. Ademais, procuram armar traições e ciladas para poder apanhá-Lo em contradição.

            Mas Nosso Senhor desmascarou os fariseus mostrando-lhes o que se passava em seus corações. O que mancha o homem são os homicídios, as glutonarias, os adultérios, a fornicação, as rixas e as contendas, isso é o que mancha o homem; não o que entra bela boca, mas o que sai da boca.

            Não é bem a isso que assistimos nos parlamentos modernos de muitas nações, mais particularmente o nosso parlamento, do qual podemos falar como testemunhas? O Brasil, afundado tanto moral quanto economicamente por malversação do dinheiro público, viveu — talvez anestesiado — uma crise sem precedentes até há pouco.

            É difícil imaginar o nível de degradação moral e religiosa que chegou o nosso Brasil. Creio ter sido obra de uma graça enorme o fato de ele ter acordado dessa letargia e encher-se de indignação diante do comportamento indecoroso, desleal, mentiroso e túmido de malefícios, ódio e rancor de nossos governantes e ir para as ruas exigindo justiça.

            Ainda hoje subsistem alguns remanescentes que nos deixam pasmos em alguns debates ou inquirições no nosso parlamento, como as sabatinas que muitos deputados e senadores fizeram recentemente ao Ministro Sergio Moro, nas quais faltou gravidade e decoro por parte dos inquiridores que se prevaleceram da chamada imunidade parlamentar para provocar, humilhar e ofender alguém que luta por valores morais.

            As ideias revolucionárias e contestatárias proliferaram como pragas e a elas se aplica o que o profeta Isaías vaticinou: “A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá a planta, na qual ele tinha as suas delícias; esperei que praticassem a retidão, e eis que há só iniquidade, e que praticasse a justiça, e eis que somente se ouvem clamores” (Is 5, 7).

            E mais adiante Ele afirma, no versículo 29: “Ai de vós que ao mal chamais bem e ao bem mal, que tomais as trevas por luz e a luz por trevas, que tendo o amargo por doce, e o doce por amargo. Ai de vós que sois sábios aos vossos olhos e segundo vós mesmos, prudentes… Vós que justificais o ímpio pelas dádivas, e aos justos tirais o seu direito”.

            Quem é prudente procura edificar sua casa sobre a rocha firme, que vai enfrentar as tempestades, o transbordamento dos rios e a impetuosidade dos ventos, como alerta Nosso Senhor. O insensato edifica sua casa na areia, “cai a chuva, transbordam os rios, sopram os ventos e investem contra aquela casa, e ela cai e sendo grande a sua ruína” (Mt 10, 27).

            É o que o Brasil viveu nesse longo período de governos da esquerda, que aparelharam a máquina do Estado a serviço de sua ideologia.

            É elucidativo quando Santo Tomás de Aquino diz ter sido o diabo quem edificou sua casa por meio de homens ímpios, na areia. Isto é, na inconstância e na infidelidade de homens carnais, chamados de areia devido à sua esterilidade e por não estarem unidos entre si, mas divididos por uma multidão de opiniões.

            A chuva, diz ele, é o ensinamento que rega o homem e as nuvens são de onde sai a chuva. Alguns são despertados pelo Espírito Santo, são os profetas e os apóstolos; os outros pelo espírito do diabo, são os hereges.

            Os bons ventos são os espíritos de diversas virtudes que operam de maneira invisível no sentido dos homens e os inclinam a operar o bem. Já os maus ventos são os espíritos imundos que levam os homens a operar o mal; os bons rios são os evangelistas e mestres do povo; os rios maus são os homens cheios de espírito imundo e instruídos de verbosidade, das profundezas de cujos corações nascem os erros e as mentiras.

            O que se passa no Brasil ocorre mais ou menos em todas as nações, que se encontram na mesma encruzilhada. Por outro lado, também há uma minoria grande que reage para colocar o Brasil nos trilhos. No fundo dos corações nasce uma esperança, uma certeza da vitória dos bons, porque existe a promessa de Nosso Senhor de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja.

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* Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).


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PALAVRA DA SALVAÇÃO (141)


17º Domingo do Tempo Comum – 28/07/2019

Anúncio do Evangelho (Lc 11,1-13)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.

Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”.
Jesus respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’”.
E Jesus acrescentou: “Se um de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães, porque um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’, e se o outro responder lá de dentro: ‘Não me incomodes! Já tranquei a porta, e meus filhos e eu já estamos deitados; não me posso levantar para te dar os pães’; eu vos declaro: mesmo que o outro não se levante para dá-los porque é seu amigo, vai levantar-se ao menos por causa da impertinência dele e lhe dará quanto for necessário.
Portanto, eu vos digo: pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá.
Será que algum de vós, que é pai, se o filho lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!”

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Paulo Ricardo:

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Jesus nos ensina a orar

“Jesus estava orando num certo lugar” (Lc 11,1)

 Nos Evangelhos encontramos várias passagens nas quais Jesus é apresentado orando no silêncio da noite, em profunda e prolongada comunhão com o Pai. Em geral, a oração solitária de Jesus precede ou segue a algum acontecimento muito importante. A sua solidão não é vazia; está habitada pela intimidade com o Pai, pelo sonho do Reino, pelos rostos dos prediletos do Reino: os pecadores, os pobres, os doentes, os oprimidos... 

Quando Jesus parece estar mais afastado deles é quando na realidade está em mais profunda comunhão com eles; quando aparentemente está mais solitário é quando Ele se revela mais solidário. Por isso, toda forma de oração, toda forma de relacionamento com Deus que não leva ao serviço concreto do Projeto do Pai, não é a oração do discípulo de Jesus, é uma oração alienada. Uma oração que não se traduz em compromisso com a justiça do Reino, que não se traduz em serviço aos mais necessitados, não é de fato dirigida ao Deus de Jesus. 

Para Jesus, a oração não só fazia parte da vida: ela era a sua vida. Em cada instante, vivia em profunda sintonia na presença de Deus, seu Pai. Jesus não esconde nada ao Pai. As suas alegrias e dores, as suas esperanças e as suas noites foram sempre partilhadas com o Pai. 

Na experiência de Jesus, Deus é “Aquele que está aí como um Pai” que cuida de seus filhos e filhas, que tem um coração sensível aos nossos sofrimentos, que seu olhar repousa sobre nossos problemas e seu ouvido é atento aos nossos clamores. Jesus, o artista da madeira, soube “tornear” hábeis palavras para expressar essa profunda intimidade entre o ser humano e Deus. É isso que encontramos na oração do “Pai-Nosso”, que o evangelho deste domingo nos apresenta na versão de Lucas. O novo está justamente no modo como as pessoas devem se relacionar com Deus: “Quando orardes, dizei: Pai!” É uma relação nova e inédita. Os(as) seguidores(as) de Jesus não são somente amigos(as), são filhos(as) de Deus, que é Pai. 

A principal oração cristã não se reduz a um conjunto de pedidos, mas é a expressão de uma relação confiante e filial. Essa é a originalidade de Jesus. O apelo direto ao Pai não é comum na tradição judaica. Jamais palavras simples tiveram tanta profundidade. Jamais um texto tão pequeno foi tão revolucionário. Com efeito, a oração do Pai-Nosso é a mais clara e mais expressiva síntese que temos da mensagem de Jesus. Ela não é uma fórmula a ser decorada, mas um projeto de vida cujas atitudes levam a uma assimilação progressiva da filiação e da fraternidade. Com o discípulo Filipe, nós também podemos dizer: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta” (Jo 14,8).

É significativo que, no espaço de uma prece tão sóbria como é o Pai-Nosso, Jesus deseja reconduzir o coração orante à sua essência: o próprio Pai. O ser humano é alvo do amor carinhoso de Deus-Pai, cujo nome ele conhece e guarda no coração. Podemos dizer que o objetivo da oração é colocar-nos no Pai, inscrever-nos no seu coração: “eu sou no Pai, existo no Pai”. 

A oração cristã é aquela que se desenvolve seguindo os passos de Jesus e, aí, orar é viver, com todas as nossas forças, com todo o nosso afeto e com toda a nossa realidade, na presença de Deus. Nesse sentido, a oração não pode ser um compartimento do dia, um pequeno nicho que preenchemos com pensamentos e fórmulas piedosas. 

Clamar “Abba, Pai” significa ser e estar diante d’Aquele que nos convida a um diálogo sem censuras, de sentir-nos envolvidos por inteiro e continuamente por uma presença providente, com uma atenção vigilante. Não se trata de oferecer a Deus alguns pensamentos, mas colocar em suas mãos toda a nossa vida, tudo o que somos e experimentamos. Tal oração pede uma conversão de atitude, porque a verdadeira oração cristã descentra-nos de nós mesmos e orienta-nos para Deus, de modo que tudo o que passamos a desejar é a vontade de Deus, o dom do seu amor compassivo.

Ao rezar o Pai-Nosso, vamos percebendo que Jesus transforma todas as nossas questões em desejos e nossos desejos em oração. Tudo está dito aí, mas tudo resta a viver. É agora que começa o movimento da vida, não apenas a prece, mas a encarnação da prece; não apenas o desejo, mas a realização dos grandes desejos. E realizar todos os desejos que o Pai-Nosso exprime é nos tornar aquilo que somos chamados a ser, é nos tornar realmente humanos e realmente divinos.

O “Abba” de Jesus não é um Deus insensível e impassível, mas um Pai solidário, que quebra distâncias e se faz íntimo dos seus filhos e filhas. Não é um Deus que imprime culpa e controla comportamentos, mas um pai apaixonado que deseja ardentemente ser conhecido e criar vínculos de amor. Aos cuidados deste Deus-Pai o ser humano pode confiar, sentir-se filho. “Abba” significa, portanto, “Deus-está-em-nosso-meio”, encontra-se junto aos seus, com misericórdia, bondade, ternura. Nessa oração, nenhum miserável foi excluído, nenhum errante foi rejeitado, nem sacrifício foi pedido, nenhum dogma proclamado, nenhuma lei estabelecida. Ela é pura visibilização do Amor. E basta! 

Ao dizer “Abba”, Jesus dirigia-se a Deus como uma criança a seu pai, com a mesma simplicidade íntima, o mesmo abandono confiante. Esta expressão revela, ao mesmo tempo, o segredo da relação íntima de Jesus com o Pai e a manifestação perfeita do mistério de sua missão. A expressão “Abba” é a prece da criancinha que balbucia tentando dizer a palavra “pai”, a prece não articulada que ainda pertence ao silêncio, ao Inefável.

É a primeira expressão do desejo do outro, quando o outro é chamado através do seu balbuciar.

É a primeira expressão de confiança do bebê em relação ao seu pai ou à sua mãe. 

O “Pai-Nosso” é este balbuciar interior, que se volta para o Infinito, para o Absoluto, e que nenhuma palavra pode expressar. É uma palavra anterior à palavra “pai” e à palavra “mãe”.  É o desejo que vem da criança e que se reconhece no olhar do pai ou da mãe como um ser amado, porque uma relação particular foi estabelecida. Na expressão “Abba” há simplicidade demais, espontaneidade demais e muita inocência. Estas qualidades de coração e de inocência é necessário que as encontremos quando recitamos o Pai-Nosso.

O mais importante é estar à escuta desse desejo profundo e silencioso da “criança divina” que habita cada um de nós. 

Texto bíblico:  Lc 11,1-13 

Na oração: deter-se na contemplação desta dupla dimensão do ministério de Jesus, que revela o mais profundo da sua vida: a oração e a ação, a solidão e a solidariedade, a intimidade mais profunda com o Pai e o engajamento mais radical no serviço aos necessitados. Em Jesus, estas duas dimensões são vividas não só como complementares, mas como necessariamente referidas uma à outra.

- Pedir a Jesus que Ele nos ensine a orar ao Pai como Ele orava; penetrar um pouco na intimidade da oração d’Ele. Na nossa oração podemos nos apropriar de algumas orações ou palavras de Jesus que aflorarem espontaneamente à nossa memória e convertê-las em nossa própria oração, fazendo com que elas saiam do nosso coração.

Podemos também rezar a partir do coração de Jesus a oração que Ele nos ensinou, e que Ele mesmo rezou melhor que ninguém: “Abba, Pai!”

Pe. Adroaldo Palaoro sj


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sábado, 27 de julho de 2019

TERRAS DE ITABUNA: ITABUNA MODERNA – Carlos Pereira Filho


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Itabuna Moderna

            Itabuna moderna é a que vemos, rodeada de prestígio econômico, social e político, sendo sede de uma Secretaria de Governo, ocupada, justamente, por um dos seus velhos obreiros, o Dr. Gileno Amado, que ainda brilha como astro de primeira grandeza.

            É a cidade, eixo da região do cacau e da pecuária. Centraliza o maior movimento das terras do Sul e do Sudoeste baiano. É como se fosse o coração da terra do cacau e do gado. Em comércio, em cacau e pecuária, seu avanço, como ressaltamos, se demonstrou espetacular. Uma síntese rápida mostra o que escrevemos, quando registramos que algumas dezenas de aviões cruzam os céus e pousam no seu campo; os seus transportes terrestres conduzem mais de 900 mil pessoas por ano; as suas 180 escolas de cursos elementares e superiores, com 15 mil alunos; as suas rendas municipais chegam a 80 milhões de cruzeiros; a sua população alcança 100 mil; a sua justiça togada é considerada e respeitada; o seu serviço bancário eficiente; e o seu serviço de assistência social hospitalar um dos melhores do País. Ao lado de tudo isso, de fortunas que produzem trezentos mil sacos de cacau, criam trezentas mil cabeças de gado e mais de cento e cinquenta mil de outras espécies; o progresso marcha a passo acelerado, com indústrias que aparecem, e os prédios que surgem em quantidade e o aspecto, não mais de uma cidade do interior, e sim de uma pequena metrópole que se ergue e na cúpula desta movimentação a evolução da cultura, da socialização, do sentido de bem-estar, da tranquilidade pública.

            Seu capitalismo perdeu, em grande parte, a fórmula ortodoxa e se inclina para ajustar-se à realidade do século que vive. O trabalhador não tem o que deveria possuir de assistência, de conforto, de amparo financeiro que dê para uma existência compatível com a dignidade do ser humano. Mas não é também um pária, um marginal, um ente desprezível, um animal de trabalho. Uma nova mentalidade se espalha, e tende a dominar, amoldando, convencendo o espírito do fazendeiro que beneficia as suas instalações, as residências dos trabalhadores e paga o salário mínimo. Melhor não se apresenta este problema pela falta de orientação, de uma política mais objetiva, mas socializante dos governantes nacionais, responsáveis pelo nível de vida do povo, nas cidades e nos campos. Não conhecemos por este País, onde temos palmilhado, maior avanço e mais rápido no atendimento das reivindicações dos assalariados , se compararmos o trabalhador do presente com o do início do século, ou mesmo anterior ao ciclo da primeira guerra.

            Quão diferente é esta Itabuna de hoje, de Tabocas do passado ou daquele povoado que surgiu com Militão Francisco de Oliveira, Firmino Alves, Maximiano Oliveira, e outros, à margem do Cachoeira, no lugar Marimbeta.

            Itabuna moderna é o mais acentuado espetáculo de crescimento, de desenvolvimento, de organização na região do cacau. Cidade encantadora, com o seu casario em destaque, na linha de construções novíssimas, com o seu comércio em prosperidade, com as suas luzes à noite coloridas em anúncios luminosos, com as suas morenas, as mais belas, por certo, das terras do cacau e os seus clubes sociais que orgulham uma civilização.

            Onde se encontram, para onde foram os seus pioneiros, como Olinto Leone, Henrique Alves, Firmino Alves, Tertuliano Guedes de Pinho, Tourinho da Farmácia, Dr. Ápio Lopes, Dr. Soares Lopes, Mares de Sousa, e Carlos Sousa?

            Passaram, morreram. O tempo os acabou, o tempo os desterrou, o tempo os esqueceu. Somente o tempo não venceu Itabuna. Ao contrário, tem dado a Itabuna a grandeza, a imponência, a fama. Parece que é uma filha dileta dele, que cria com carinho, com orgulho, com zelo, como Dona Senhora constrói, pedra a pedra, a Catedral de Itabuna.

            Ao contemplarmos os cinquenta anos de existência de Itabuna cidade, ao analisarmos o que fez o seu povo, o que construíram os seus administradores, pensamos nas responsabilidades que pesam sob os seus novos dirigentes.

            Encontraram eles uma terra cultivada, produtora, enriquecida, transformada em cidade importante, em eixo rodoviário, tudo isto feito num espaço de cinquenta anos, data passada da sua elevação a cidade, data em que Itabuna começou a sentir os efeitos dos seus bons destinos, com a autonomia conquistada.

            Tudo indica que continuarão a grande obra, tudo afirma que seguirão o curso desse grande rio que se avoluma em civilização, em progresso e prosperidade.

            Ai daquele que tentar destruir, sequer impedir a marcha favorável dos acontecimentos que vêm sendo impulsionados pela seiva fecunda de uma terra abençoada e impelida pelo sangue fervente dos seus obreiros.



(TERRAS DE ITABUNA Cap. XXX)
Carlos Pereira Filho
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"TERRAS DE ITABUNA"

          Li com avidez e sumo interesse as noventa e nove folhas datilografadas, onde o jornalista Carlos Pereira Filho retrata em belo colorido, a imagem vida deste Município. Trabalho de fôlego, escorreito quanto ao vernáculo e feliz na escolha de pessoas e fatos que de modo mais estreito e direto formaram o amálgama de nossa vida, como elementos substanciosos à sua estática e dinâmica.

            O Objetivo a que se propõem o ilustre escritor, nessa colaboração valiosa as nossas letras e valiosíssima para as comemorações de nossos 50 hinário, é fielmente colimado em “Terras de Itabuna”. É interessante constatar se o que enriquece de ouro a nossa história, que a nossa formação socioeconômica “tem a coerência e a vitalidade da linha seguida pelos construtores de nossa pátria, sempre em luta por um Brasil melhor”.

            Em Cada linha das belas páginas desse magistral trabalho de real história, amenizada pela ficção, vê-se, com garbo, a grandiosa silhueta da alma itabunense, nos versos de Olavo Bilac lembrados pelo autor:

“Cada passada tua era um caminho aberto
Cada pouso mudado, uma nova conquista
Teu pé, como de um deus, fecundava o deserto”.

            Personalidade definida Desde o primeiro pulsar de sua vida bandeirante, o povo de Itabuna cresceu bastante, sabe o que quer e sabe para onde vai; ama demasiadamente a terra que tratava com suor de seu rosto, e, por isso, suores e lutas formaram sempre o dínamo de seu grandioso progresso, admirável não é estrutura da nacionalidade brasileira.

          “Terras de Itabuna” enche-nos De orgulho e deve ser lido com o mesmo carinho que devotamos ao glorioso passado, o mesmo interesse que dispensamos ao porvir.

            Em 2. III . 1960.

                                                               Pe. NESTOR PASSOS
                                                        Diretor da Secretaria de                                                                    Educação e Cultura de Itabuna


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sexta-feira, 26 de julho de 2019

EX-INSTITUTO RIO BRANCO, ATUAL INSTITUTO CHE GUEVARA

Com essa gritaria da bandidagem contra a indicação de Eduardo Bolsonaro para cargo diplomático nos EUA, mais pessoas se informaram sobre o Instituto Rio Branco, outrora ambiente de aceitação e formação de nossa elite intelectual.

As pessoas estão descobrindo que o Instituto Rio Branco foi transformado, após quatro governos consecutivos da máfia esquerdista, em Instituto Che Guevara para formação de vagabundos lulalivristas e maduristas, que saem de lá disfarçados de diplomatas.

É deprimente ver um Instituto que formou alguém como José Guilherme Merquior ter uma turma de formandos, por exemplo, que escolheu a psolista Marielle Franco como patrona.

Pensem bem: o que esperar de um bando de mentes infectadas que se reúnem e escolhem um factoide esquerdista como patrona? Porém, o aparelhamento do Ex-Instituto Rio Branco não se resume ao "acidente" desses apaixonados pelo "símbolo" Marielle.

Para acomodar os militantes esquerdistas, durante quatro governos a máfia foi destruindo o Instituto. Entre outras coisas, substituíram provas dissertativas em inglês e francês por provas com "múltiplas escolhas", para os retardados conseguirem admissão e depois gritarem dentro do Instituto: "Marielle Vive"; "Lula, guerreiro do Brasil"; "Em defesa da nossa 'soberania' ".

Para transformar o Instituto Rio Branco em Instituto Che Guevara, os mafiosos também atacaram os sólidos planos de carreira que caracterizavam a instituição; e em muitos documentos trocaram o exigente e justo “obrigatória fluência total em inglês e espanhol" para o relativo "desejável conhecimentos de inglês e espanhol".

Em estágios menos ou mais graves, todas as instituições importantes do Brasil continuam em processos de cubanização, os quais precisam ser interrompidos.
São esses cubanizadores que são contra o Brasil ter um fortíssimo aliado em Washington.


(Recebi via WhatsApp, sem menção de autoria)

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quinta-feira, 25 de julho de 2019

AGONIA DA PALMEIRA – Luiz Gonzaga Dias


Agonia da Palmeira


Sob o terno olhar da companheira,
Que lhe segue a agonia, vigilante,
À luz do sol, a imperial palmeira,
Agoniza soberba e vacilante.

Parece olhar bem longe a cordilheira ...
O venerável tronco de gigante.
Admirando a paisagem derradeira,
Na eminência da queda a cada instante ...

Iguais na idade, ao beijo das procelas,
Receberam carícias das estrelas,
E os madrigais que o Zéfiro transporta.

Hoje, das frondes uma só farfalha!
Um leque só não solidão... Mortalha,
Sombra e epitáfio à companheira morta!

.................
A Última Palmeira
     Era um par de palmeiras imperiais...


Desafiaram juntas, a idade e as procelas,
Unidos pelo solo e pelo igual destino.
Refletiram nos colmos resplendor de estrelas,
O calor do verão, o orvalho matutino.

Altaneiras fidalgas, verdejantes belas,
Recebiam da brisa o beijo vespertino,
Ou venciam intempéries ... Com saudades delas,
Na paisagem vazia, inda hoje, chora o sino...

A primeira tombou. Na evocação sentida,
Olhar perdido ao longe, num adeus distante,
Murchas, palmas que a mágoa feneceu.

O tronco esguio, ereto, corpo de gigante,
Quando o inverno chegou, tinha fronde pendida,
quando a brisa voltou, a outra morreu!


(IMAGENS MUTILADAS - 1963)
Luiz Gonzaga Dias



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MODERNIZAÇÃO ESVAZIOU DE ECLESIÁSTICOS A IGREJA CATÓLICA


25 de julho de 2019

Depois de 500 anos de vida consagrada, o convento do Socorro de Sevilha fecha suas portas

Na era pós-conciliar, foi assombroso na Espanha o número de apostasias sacerdotais, mosteiros fechados e seminários abandonados.
Em 2018 foram ordenados apenas 135 padres, quando na década de 60 eram mais de 8.000 por ano.
Em regiões rurais, um único padre deve cuidar de uma dezena de cidades.
Laura Lara, historiadora das religiões, aponta que uma causa relevante para essa decadência foi a laicização da Igreja, pois a dimensão sobrenatural foi abafada.
Marqueteiros bem pagos tentam atrair jovens com sedutores slogans, mas as vocações sinceras procuram os seminários e conventos com disciplina e doutrina tradicionais, onde se formam almas que combatem as insídias do mundo, demônio e carne. Esses pressagiam uma renovação da Igreja, soprada pela graça de Jesus Cristo e a mediação universal de Nossa Senhora.


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quarta-feira, 24 de julho de 2019

DIPLOMATA E PROFESSOR GELSON FONSECA FAZ NA ABL A PALESTRA DE ENCERRAMENTO DO CICLO SOBRE O BARÃO DO RIO BRANCO


O diplomata e professor Gelson Fonseca faz na Academia Brasileira de Letras a terceira e última palestra do ciclo de conferências Legado de Rio Branco: interpretações e atualidade, sob coordenação do Acadêmico e jornalista Merval Pereira. O evento está programado para o dia 25 de julho, quinta-feira, às 17h30min, no Teatro R. Magalhães Jr. (Avenida Presidente Wilson, 203, Castelo, Rio de Janeiro), com o tema Rio Branco: a persistência de um novo paradigma para a política externa. Entrada franca.

A Acadêmica e escritora Ana Maria Machado é a coordenadora geral dos Ciclos de Conferências de 2019.

Serão fornecidos certificados de frequência.

O CONFERENCISTA

Gelson Fonseca, diplomata e professor, é graduado em Ciências Jurídicas (1969) pela Universidade do Estado da Guanabara (RJ), mestre em Assuntos Latino-Americanos pela Georgetown University (EUA) e doutor em Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Em 1995, foi Presidente da Fundação Alexandre de Gusmão (encarregada de pesquisa, seminários e publicações do Itamaraty). Professor do Instituto Rio Branco e da Pós-Graduação em Relações Internacionais da UERJ e membro do Conselho Editorial da Revista Política Externa (Editora Paz e Terra). Gelson Fonseca é autor de diversos livros e artigos sobre Teoria das Relações Internacionais e Política Externa Brasileira, com ênfase na atuação multilateral do Brasil.

Em 1999, foi nomeado Embaixador do Brasil na ONU; Em 2002, Chefe de Delegação da 9ª Sessão da Comissão Preparatória para o Tribunal Penal Internacional em Nova York; Em 2003, Embaixador do Brasil em Santiago; Em 2006, Cônsul-Geral do Brasil em Madri; De 2009 a 2013, Inspetor Geral do Serviço Exterior no Ministério das Relações Exteriores; De 2013 a 2016, Cônsul-Geral do Brasil no Porto, Portugal; Atualmente é diretor do Centro de História e Documentação Diplomática da Fundação Alexandre de Gusmão, no Rio de Janeiro

Leitura complementar
A Biblioteca Rodolfo Garcia disponibiliza seu acervo para pequisa e leitura de obras relacionadas ao tema desta conferência, como "O Pragmatismo responsável na visão da Diplomacia e da Academia", "Rio Branco e a memória Nacional" e "Rio Branco entre livros e velhos mapas".
Para consultar mais materiais como os citados, acesse o link abaixo e visite os "Levantamentos bibliográficos" realizados para este evento.
11/07/2019



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