Michel Temer aguardará o Supremo definir a relatoria da
operação Lava Jato
O presidente da República, Michel Temer, informou neste
sábado (21) que irá escolher o novo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal),
posto deixado após a morte
de Teori Zavascki, somente depois que a corte definir a relatoria da
Operação Lava Jato.
"Só depois do relator", disse o presidente ao ser
questionado por um jornalista.
Temer fez um pronunciamento breve no velório de Teori
Zavascki, que acontece na sede do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da
4ª Região) em Porto Alegre.
Pelo regimento do STF, a escolha de um relator para
substituir o ministro, que morreu num desastre aéreo na quinta-feira (19), pode
se dar por sorteio entre os ministros da mesma turma ou por consenso entre o
plenário do tribunal.
Rodrigo Souza/Futura Press/Estadão Conteúdo
Cortejo acompanha chegada do corpo do ministro do STF, Teori
Zavascki
Homenagem
Minutos antes, Temer prestou homenagem a Teori e foi
fotografado ao lado do caixão. Depois de deixar o velório, o presidente se
dirigiu à sala de imprensa, onde declarou: "É uma perda lamentável para o
país. O ministro Teori é um homem de bem. O país precisa cada vez mais de
homens com competência moral e profissional como a do ministro Teori. Que Deus
o conserve também em nossa memória e na memória dos brasileiros como exemplo a
ser seguido."
Temer chegou à sede do TRF por volta de 13h20. Depois de
abraçar um dos filhos do ministro, Francisco, o presidente fez o sinal da cruz
e postou-se ao lado do caixão, ficando alguns minutos em silêncio.
Minutos antes da chegada do presidente, a ministra Cármen
Lúcia, presidente do STF, deixou o local onde se realiza o velório de Zavascki.
Oficialmente, ela se deslocou para o hotel onde está hospedada para descansar.
Temer e Cármen Lúcia não se encontraram no velório.
O presidente estava acompanhado dos ministros Eliseu
Padilha, da Casa Civil, Osmar Terra, do Desenvolvimento Social e Agrário,
Alexandre Moraes, da Justiça, e José Serra, das Relações Exteriores, do
presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e dos governadores de São Paulo,
Geraldo Alckmin, e do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori.
Logo depois do pronunciamento, Temer deixou a sede do TRF e
voltou à Base Aérea de Canoas para embarcar de volta a São Paulo, onde passa o
fim de semana.
Após a manifestação de Temer, José Serra fez um pronunciamento. Segundo ele, a
morte do ministro Teori Zavascki é "uma perda para a família e para todo o
Brasil". Serra elogiou Teori, a quem chamou de "homem exemplar em
todas as funções que exerceu em sua vida na área jurídica".
Relator dos processos da Operação Lava Jato na Supremo
Tribunal Federal, Zavascki foi o terceiro ministro nomeado por Dilma
Rousseff para a Suprema Corte, em 2012, depois dos ministros Luiz Fux e Rosa
Weber. O ministro teve seu nome aprovado pelo plenário do Senado com 57 votos
favoráveis e 4 contrários.
Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a
gente caprichar no banho, porque a família toda iria visitar algum conhecido.
Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.
Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da
casa recebiam alegres a visita.
Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos
meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe
de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo
sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede,
duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa
singela e acolhedora.
A nossa também era assim.
Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era
também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo,
surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:
– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães,
bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa.
Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também.
Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no
café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade
nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e
amizade...
Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina.
Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem
carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida.
Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa... A
mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda,
à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.
O tempo passou e me formei em solidão.
Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, internet, e-mail, Whatsapp ...
Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a
gente combina encontros com os amigos fora de casa:
– Vamos marcar uma saída!... – ninguém quer entrar mais.
Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem
mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam
zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.
Casas trancadas.. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do
café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos
biscoitos do leite...
Que saudade do compadre e da comadre!...
Créditos: José Antônio Oliveira de Resende
Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras,
Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João del-Rei.
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a
Galileia. Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do
mar da Galileia, no território de Zabulon e Neftali, para se cumprir o que
foi dito pelo profeta Isaías: ”Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho
do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galileia dos pagãos! O povo
que vivia nas trevas viu uma grande luz, e para os que viviam na região escura
da morte brilhou uma luz”. Daí em diante Jesus começou a pregar dizendo:
“Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”.
Quando Jesus andava à beira do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado
Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando a rede ao mar, pois eram pescadores. Jesus
disse a eles: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”. Eles
imediatamente deixaram as redes e o seguiram.
Caminhando um pouco mais, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago, filho de
Zebedeu, e seu irmão João. Estavam na barca com seu pai Zebedeu consertando as
redes. Jesus os chamou. Eles imediatamente deixaram a barca e o pai, e o
seguiram. Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas,
pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do
povo.
“Eles, imediatamente deixaram as redes e o seguiram” (Mt
4,20)
Mudanças são a essência e o sabor da vida. O ser humano é um
ser de mudança; só é humano quem vive em “estado de mudança”. A mudança é o
elemento que traz energia, variedade, surpresa, côr e vida à vida. Trata-se de
um “hábito do coração”: descobrir, examinar, purificar e substituir os hábitos
inertes, os esquemas mentais fechados, as condutas petrificadas, os projetos
sem horizontes...
É saudável questionar-se, abrir-se e aventurar-se a ver as
coisas de maneira diferente e a responder às circunstâncias com espontaneidade
nova.
Deus não nos deu um espírito de timidez, de medo, de fuga,
de acomodação... mas de audácia, de criatividade, de luta, de participação...
Movidos por sua força, vemos a possibilidade de questionar toda nossa atitude
conformista, sacudir nossas convicções, ampliar nossos horizontes e animar
nossa vida.
Toda mudança implica sair de nós mesmos, de nosso estreito
mundo, de nossas práticas arcaicas, daquilo que nos protege e nos esteriliza
para que possamos avançar em direção às novas fronteiras do espaço sem limites,
que nos espera aberto e acolhedor.
Ser seguidor de Jesus, portanto, consiste em colocar-nos nos
seus “passos”, com suficiente visão da realidade para ir adiante, e com
bastante disponibilidade para mudar de caminho quando o sopro do Espírito assim
nos sugerir.
O texto do evangelho de hoje nos situa diante de um
denominador comum que é a mudança. O próprio Jesus vive um momento de mudança
radical: rompe com sua família, com seu ambiente, afasta-se da estrutura
religiosa centrada na Lei e no Templo e opta por deslocar-se para a margem
social e religiosa de seu tempo (Galiléia e terra de Zabulon). Sua mudança de
vida desencadeia um processo de mudanças nas pessoas, de maneira especial no
grupo dos primeiros seguidores.
O olhar e o chamado de Jesus ativam um movimento na vida dos
primeiros discípulos: deixam seu estreito mar e seu rotineiro trabalho para
fazer caminho com o Mestre. Tudo começou às margens do mar da Galiléia... Jesus
caminha e, ao passar ao longo do mar, viu aqueles homens que estavam retornando
da pesca e entra no espaço vital deles. Exatamente ali, naquela vida tão
normal, acontece algo novo. Jesus os chama do mar, os faz descer da barca e os
convida a segui-Lo, para mergulhá-los no Seu mar, para fazê-los subir noutra
barca, para atraí-los a uma vida diferente.
O seguimento só se realiza quando alguém se deixa conduzir
para águas profundas num novo mar. Partindo do lugar e das coisas que
representam as esperanças, as dificuldades, as decepções, os sucessos, as
derrotas daqueles homens pescadores, Jesus pronuncia sua Palavra mobilizadora:
“Segui-me e farei de vós pescadores de homens”, ou seja, compartilhar Sua mesma
missão, “pescar” o que há de mais humano e nobre nas pessoas, ajudá-las a viver
com sentido, tirando-as do mar da desumanização.
E Jesus tem a capacidade de extrair o maior bem possível do
outro, de garimpar a autêntica qualidade humana de cada um, sem necessidade de
dar-lhe lições ou arrastá-lo com argumentos racionais. “Eles deixaram as redes
e o seguiram”: seguir Jesus é uma libertação. Na realidade, o que eles deixam
não são só redes, mas tudo aquilo que aprisiona, enreda e que impede a vida ter
uma dimensão maior.
Tocados pelo dinamismo de Sua voz e de sua Palavra, os
pescadores se dão conta d’Aquele que estava passando: eles já tinham sido
vistos, conhecidos, amados, escolhidos. Aquela Palavra que vibra forte, abre os
olhos, a mente e o coração daqueles homens rudes do lago. Sentem-se chamados
pelo nome, conseguem compreender melhor a si mesmos e redescobrem um sentido
novo, um significado inimaginável para a própria existência. Eles descobrem o
quão estreito era o seu mar cotidiano e entram no dinamismo da vida de Jesus,
deslocando-se para o vasto oceano do Reino.
A experiência do encontro com a pessoa de Jesus, seu olhar
compassivo e terno, a proposta ousada e desafiante que Ele nos faz... despertam
dinamismos profundos e desejos nobres em nosso interior, sacodem nossa rotina e
ampliam nosso atrofiado olhar.
Ao “fixar seu olhar” em cada um de nós, chamando-nos pelo
nome, seremos movidos a assumir opções mais radicais e integrais pelo Reino,
segundo o modo de ser, de viver e de fazer do próprio Jesus.
São grandes os riscos de se viver em horizontes tão
estreitos. Tal estreiteza aprisiona a solidariedade e dá margem à indiferença,
à insensibilidade social, à falta de compromisso com as mudanças que se fazem
urgentes. O próprio lugar se torna uma couraça e o sentido do serviço some do
horizonte inspirador de tudo aquilo que se faz. Ampliar os espaços do coração implica
agilidade, flexibilidade, criatividade, solidariedade e abertura às mudanças e
às novas descobertas.
Vivemos um tempo caracterizado por constantes mudanças e
pelo movimento. No entanto, de uma maneira dissimulada, percebemos a presença
de uma paralisia que perpassa nossa condição humana. E paralisia é o que ocorre
quando algo que deveria mover-se e fluir, não se move, nem flui. Esse “algo”
são processos, projetos, relações, aspirações, causas... E é essa mudança
verdadeira que, quando não ocorre, nos faz sentir estancados, angustiados e sem
brilho, embora aparentemente as coisas parecem andar bem.
Uma pergunta que normalmente costuma protagonizar nossas
conversações com amigos e parentes é: “por quê você vai mudar?” Aumenta a
curiosidade quando alguém que gosta muito do que está fazendo, sobretudo no
campo profissional, decide mudar: “é verdade que você vai deixar? A gente
percebia você tão feliz!”
Acontece que, às vezes, não há nada “mau” com o que estamos
fazendo, mas sem entender muito bem por quê, há algo dentro de nós que nos
impulsiona a sair, a ir além de nós mesmos, a levantar novo vôo. Alguém poderia
nos perguntar: “Mas, se estava bem, para quê complicar-se ao começar algo
novo?”.
A resposta que damos nunca poderá ser totalmente racional.
Porque disso se trata: toda mudança nos leva a desatar nossa essência, isso que
somos na verdade e que clama por sair.
O certo é que avançar supõe fazer opções, renunciar à
comodidade do conhecido e dar lugar à mudança. Mas mudar nos dá medo e o medo,
às vezes, paralisa. Temos medo de nossas próprias capacidades; tememos nossas
máximas possibilidades; assusta-nos chegar a ser aquilo que vislumbramos em
nossos melhores momentos. No entanto, não podemos ser “bonsais” de nós
mesmos”, atrofiando nossos recursos internos e tirando o brilho de nossa vida.
Desprender-nos do antigo e dar lugar ao novo implica um
processo sempre enriquecedor mas também doloroso. Muitas vezes, para escapar do
sofrimento, preferimos evitar os riscos em vez de assumir o fato de que, para
dar à luz algo novo, necessariamente devemos tomar a decisão de soltar o que
nos mantém ancorados no nosso estreito mar e não nos permite singrar os vastos
oceanos.
Texto bíblico: Mt 4,12-23
Na oração: No fundo do seu coração cheio de velhas barcas,
redes inúteis, mar estreito... é aí que o Senhor passa... e com sua Palavra
provocante o acorda para uma ousadia maior. Compete a você dar-lhe acolhida.
- Seguir o Desconhecido do lago significa aceitar a vida
como sacramento do encontro, onde ressoa a Palavra d’Aquele que passa, vê,
conhece, ama, chama pelo nome... Aos poucos você vai intuindo que a vida não é
questão de certezas, mas de busca e de desejos, de caminhar com Aquele que o
chama para ficar com Ele e com Ele constituir a grande comunidade de
servidores.