Para uma plateia entusiasmada de duas mil pessoas, o
historiador israelense Yuval Noah Harari falou durante quase duas horas, no
Teatro Municipal do Rio de Janeiro, arrancando demorados aplausos. Abordou suas
experiências acadêmicas com o trato dos algoritmos modernos, passou pela
educação (citando o exemplo da China) e chegou à importância da meditação,
segundo ele uma ferramenta que serve para observar a mente de forma direta, um
instrumento precioso para enfrentarmos as mudanças contínuas da humanidade.”
“A meditação nunca entrou em conflito com a pesquisa
científica. Não se deve confundir a mente com o cérebro, pois são coisas muito
distintas. O cérebro é uma rede material feita de neurônios, sinapses e
substâncias bioquímicas. Já a mente é um fluxo de experiências subjetivas, como
a dor, o prazer, a raiva e o amor. A clareza do autoconhecimento é essencial
para o controle efetivo da própria vida, numa era em que a maioria das decisões
sobre nós será tomada por algoritmos” – disse o cientista, autor do livro “21
lições para o século 21”. O evento carioca foi promovido pelo Projeto Ler, com
o apoio, entre outras instituições, das Secretarias de Estado e Municipal de
Educação do Rio de Janeiro, além do SESC.
Harari ganhou notoriedade internacional ao trazer à tona
reflexões mais aprofundadas sobre os problemas enfrentados pelas quebras de
paradigmas da contemporaneidade. Voltando dois milhões de anos no tempo, o
historiador sabra explicou que, no início, o ser humano se agrupava em torno de
pouquíssimas pessoas, evoluindo, em seguida, para tribos e aldeias, onde todos
se conheciam, só chegando ao surgimento das primeiras nações há cerca de cinco
mil anos. Neste sentido, o conceito de “nacionalismo” se tornou necessário.
Alertou sobre a relevância de debatermos as características da cidadania
globalizada, balanceando os interesses nacionais com as regras globais. Só
assim seremos capazes de impedir as forças destrutivas que ameaçam o planeta.
No final, afirmou que não se pode adivinhar como será o ano de 2050: “Só tenho
uma certeza: 50 pessoas juntas valem mais do que 500 separadas”. Fez, ainda, um
alerta à plateia atenta: “Devemos compreender a nossa mente antes que os
algoritmos assumam a tarefa por nós.” Tem toda razão.
Tribuna do Sertão,18/11/2019
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Arnaldo Niskier - Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da ABL,
eleito em 22 de março de 1984, na sucessão de Peregrino Júnior e recebido em 17
de setembro de 1984 pela acadêmica Rachel de Queiroz. Recebeu os acadêmicos
Murilo Melo Filho, Carlos Heitor Cony e Paulo Coelho. Presidiu a Academia
Brasileira de Letras em 1998 e 1999.
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