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domingo, 12 de setembro de 2021
PALAVRA DA SALVAÇÃO (241)
24º Domingo do Tempo Comum – 12/09/2021
Anúncio do Evangelho (Mc 8,27-35)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Marcos.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, Jesus partiu com seus discípulos para os
povoados de Cesareia de Filipe. No caminho perguntou aos discípulos: “Quem
dizem os homens que eu sou?”
Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista;
outros que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas”. Então ele
perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Messias”.
Jesus proibiu-lhes severamente de falar a alguém a seu
respeito. Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do Homem
devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e
doutores da Lei; devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias.
Ele dizia isso abertamente. Então Pedro tomou Jesus à parte
e começou a repreendê-lo. Jesus voltou-se, olhou para os discípulos e repreendeu
a Pedro, dizendo: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e
sim como os homens”.
Então chamou a multidão com seus discípulos e disse: “Se
alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois,
quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por
causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Roger Araújo:
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Seguir Jesus é esvaziar o
próprio 'ego'
Imagem: pexels.com
“...quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, salva-la-á” (Mc 8,35)
O relato deste domingo (24o domingo do Tempo comum) ocupa um
lugar central e decisivo no evangelho de Marcos. Jesus sempre teve uma presença
original e instigante no contexto social e religioso de seu tempo; sua atuação
provocava diferentes reações e ninguém podia ficar “indiferente” diante do seu
modo de ser e viver.
D’Ele se diziam muitas coisas contraditórias: que estava
“fora de si” (Mc 3,21), que era um endemoninhado (Mc 3,22), que era um “comilão
e beberrão” (Lc 7,34), “amigo dos pecadores” (Mt 11,19) e “blasfemo” (Mc 2,7),
um impostor (Mt 27,62), o profeta esperado, o mestre que ensinava doutrinas que
poderiam provocar uma rebelião (Lc 23,1), que era o “filho do Deus vivo”...
Até que um dia, longe do seu ambiente, longe do lago e de
Jerusalém, em Cesaréia de Filipe, Jesus fez aos discípulos perguntas decisivas,
que são aquelas do “meio do caminho”, perguntas adultas.
Os discípulos já levavam um bom tempo convivendo com Jesus;
não estavam mais no entusiasmo inicial: viram e viveram o suficiente para dar
uma resposta que não dependia daquilo que os outros diziam a respeito da
identidade de Jesus. “E vós quem dizeis que eu sou?”
Chegou o momento em que eles deverão se situar diante da
pergunta decisiva e que exige de todos uma tomada de posição, um ato de fé.
Perceberam que a pergunta do “meio do caminho” impele-os a ir mais longe, a
sondar o mistério profundo, não só da identidade de Jesus, mas da identidade de
cada um. Sentiram que a resposta a ser dada a esta altura do seguimento devia
iluminar o que lhes faltava percorrer, devia marcar a vida com o selo da
entrega: a quem estão seguindo? Que é o que descobrem em Jesus? Que impactos
causam em suas vidas a mensagem e o projeto do Mestre da Galiléia?
Desde o momento em que se deixaram impactar pelo primeiro
chamado, os discípulos vivem interrogando-se sobre a identidade de
Jesus. O que mais lhes surpreende é a autoridade com que fala, a força com que
cura os enfermos, o amor com que oferece o perdão de Deus aos pecadores, a
liberdade diante da religião e da tradição do seu povo... Quem é este homem tão
diferente e tão original?
Os Evangelhos anunciam que o modo de Jesus viver - suas atitudes, seus gestos, suas palavras –
revelava uma nova visão das coisas, um novo ponto
de partida, uma nova ordem, um novo projeto. Jesus
era livre e essa liberdade nos fascina até hoje.
Jesus encarnou-se num mundo fechado, dividido,
conflituoso... Fez-se presente no mundo da dor: enfermos, pobres, pecadores...
e a partir daí propôs um novo movimento de humanização.
Jesus vivia a partir de um sonho primordial: o Reino. A
riqueza original desse sonho primordial não se “encaixava” nos
esquemas dos fariseus ou saduceus, essênios ou zelotes, nem se deixava
instrumentalizar pela instituição do Templo ou sinagoga.
Diante do seu modo original de viver, Jesus quer verificar a
real motivação dos seus discípulos. “E vós, quem dizeis que eu sou?” Não
basta que entre eles haja opiniões diferentes mais ou menos acertadas. É
fundamental que aqueles que se comprometeram com sua causa, reconheçam o
“mistério” que se revela na vida d’Ele. Se não for assim, quem manterá viva sua
mensagem? Que será de seu projeto do Reino de Deus? Em que terminará aquele
grupo que se associou a um movimento de vida, desencadeado pelo mesmo
Jesus?
O horizonte de todo ser humano é precisamente a vida e
a plenitude. Isso é o que todos, sabendo ou não, buscamos. E o buscamos em tudo
o que fazemos e em tudo o que deixamos de fazer. Como acertar?
Jesus oferece uma resposta carregada de sabedoria, na linha
daquela que foi dada por todos os mestres e mestras espirituais: para caminhar
na direção da vida, é necessário “desapegar-se” do ego.
“Renunciar a si mesmo”: não se trata de negar o que
somos, mas o que pretendemos ser e não somos.
Este esvaziamento não significa nossa anulação enquanto
“pessoas”, mas nossa potenciação. Na medida em que os aspectos que nos limitam
diminuem, aumenta o que há em nós de plenitude. Só há seguimento de Jesus
quando se dá um processo permanente de esvaziamento do ego para viver a entrega
aos outros.
Só uma pessoa esvaziada de seu ego pode transformar-se e
transformar a realidade.
“Renunciar a si mesmo” supõe renunciar toda ambição
pessoal. O individualismo, o egoísmo, não tem lugar na vida de Jesus e
daquele(a) que busca segui-lo.
“Carregar a cruz” também não significa buscar a
dor e nem negar a vida. As palavras de Jesus não são uma exaltação do
sofrimento, mas expressam uma grande sabedoria: buscam “despertar” seus seguidores
diante das consequências frente ao compromisso com a vida. “Cruz”, no
seu sentido original significa “prontidão, estar de pé, preparado, mobilizado,
ser fiel até o fim...”. Essa é a Cruz assumida por Jesus e essa também deve ser
a cruz de quem entra no Caminho de Vida. Só essa Cruz é salvífica.
Como evitar que o nosso ego nos domine e determine
nossa vida? O primeiro passo será desvela-lo e desmascará-lo com todas as
suas maquinações e dubiedades.
Nós, seres humanos, somos uma realidade contraditória:
experimentamos em nosso interior como que uma “dupla identidade”: por um
lado, a identidade individual (o ego) e por outro a identidade profunda
(transpessoal), que constitui nosso verdadeiro ser.
Na realidade, o ego não é o meu verdadeiro eu, não
sou eu. É uma falsa imagem de mim. É a ilusão de que eu sou um indivíduo
separado, independente, isolado e autônomo. Essa ilusão me distancia da
comunhão com os outros e com a Criação, nega que faço efetivamente parte de um
universo imenso, em que tudo é interdependente e está intimamente ligado entre
si. O ego exacerbado quer controlar o seu mundo: pessoas, acontecimentos e
natureza. Daí a obsessão pelo poder e pelo domínio.
Sabemos que todas as divisões, conflitos e rivalidades
entres os seres humanos provém da ilusão do ego que quer se impor sobre os
outros.
Só na identificação com Jesus vamos
afastando as cinzas e reacendendo nosso verdadeiro eu, oblativo, aberto,
expansivo... No encontro com a identidade de Jesus descobrimos nossa verdadeira
identidade. Quando descobrimos a “boa notícia” (=evangelho) de quem somos,
seremos capazes de esvaziar a identificação com o ego e deixar-nos de viver para
ele. O anúncio do evangelho (boa-notícia) começa pelo nosso interior, levando
luz para estabelecer o “cosmos” em meio ao caos dos conflitos ali presentes.
O nosso verdadeiro eu está enterrado por baixo do
nosso ego ou falso eu. Segundo a afirmação de Jesus, a pessoa cresce e se
enriquece na entrega e na desapropriação. Podemos parafrasear as palavras de
Jesus deste modo: “aquele que quer salvar seu ego, perde a vida; mas
aquele que deixa de se identificar com seu ego, vive em plenitude”.
O Evangelho nos convida, mais uma vez, a alargar o círculo
de nossa interioridade, a olhar para fora, a descentrar-nos para encontrar o
outro, a Deus, e, provavelmente, por esse caminho, também o olhar mais
autêntico e completo sobre a nossa própria vida.
O modo mais simples de traduzir isso parece ser este: “deixa
de viver para teu eu estreito”, “não gira em torno ao teu ego, porque esse modo
de vida te aprisionará cada vez mais, e tua vida será vazia e estéril”.
Trata-se de um apelo a ir mais além do ego e descobrir nossa
verdadeira identidade, aquela “identidade compartilhada”, na qual o
próprio Jesus se encontrava.
Texto bíblico: Mc 8,27-35
Na oração: Como a Lua, todos nós também temos
nosso “lado oculto”: há sempre dimensões da vida que procuramos mantê-las
escondidas dos outros: feridas, fragilidades, sentimentos dissimulados, desejos
camuflados, limitações disfarçadas, pobrezas mascaradas...
Deus também conhece este lado oculto e o olha com compaixão.
A oração é a ocasião privilegiada para revisitar, a partir de Deus, esse lado
oculto, desvelá-lo e integrá-lo, para que nossa verdadeira identidade se
manifeste.
- Dê nomes ao seu “lado oculto”: como você reage diante
dele? Como torná-lo companheiro de estrada?
Pe. Adroaldo Palaoro sj
09.09.2021
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DERRAME DE DOR , por Cyro de Mattos
Derrame
de Dor
Cyro de Mattos*
Em
memória dos que morreram
no ataque terrorista às Torres Gêmeas
de Nova York, em 11/09/2001.
Ceifados os sonhos pela fúria do insano matador,
Dor e tristeza soluçam pelos que morrem sem defesa.
Tantos e nada podem fazer para provar a inocência.
Nessas duas torres da agonia. Nesse trágico voo cego
Partilhado com o pânico. Por mais que eu saiba
Os dias errantes e nefastos de duas guerras mundiais
Que se instalam com horror no inferno de nós mesmos.
Sinto de novo Guernica, Pearl Harbor, Hiroshima.
O quanto sou nos escombros. Todo esse peso terrestre
Levo nos ombros diluvianos. Inclino-me sem limites.
Escrevo-me às avessas deslocando sem dó e lágrima
A eterna aurora para o mais profundo dos abismos.
Ó peleja de traumas. Arde sem trégua. Vaza gritos
Que ferem. Sufoca-me no terror do outro e o mundo.
Os ritmos latejam a manhã sem sol nas algemas do ego.
Habito este som e não entendo. Este modo feito
medo.
Os gemidos da noite. O embate da fúria repetindo
negações.
Contra o amor e o riso. Como dói. Como dói tudo isso.
*Cyro de Mattos é escritor e poeta, premiado no Brasil e exterior.
Autor de mais de 50 livros pessoais. É também editado em Portugal, Itália, França, Alemanha, Espanha, Dinamarca, Rússia e Estados Unidos.
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