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sábado, 16 de junho de 2018

O PROBLEMA É NOSSO - Murillo de Aragão


O problema é nosso

Basta alguns dias fora do Brasil para notar o tamanho dos nossos problemas. Basicamente, bem menores do que parecem e fruto de um imenso desamor pelo País. Em especial, por parte dos políticos e das elites, responsáveis por nosso sucesso meia-boca, pela demora em produzir resultados e por permitir que imensas corporações se apoderarem do Brasil. Traficantes e milícias controlam as favelas. Burocratas controlam a administração pública. Políticos controlam as verbas. Jornalistas controlam narrativas enviesadas. A universidade foi capturada por corporativistas de uma esquerda arcaica.

A cidadania sofre e nem sabe direito por quê. Sabe apenas que está ruim e, se pudesse, se mandava daqui. No final das contas, Thomas Hobbes está certo. O homem é o lobo do homem e o que o homem quer é paz e sossego para obter e desfrutar os ornamentos da vida. No Brasil não há nem paz nem sossego. Salvo se você pagar taxas extras de segurança. Os riscos vão desde os riscos físicos até os jurídicos e burocráticos – o velho conhecido “risco Brasil”. O Brasil é um risco e a agenda política e midiática está toda errada, já que ela não trabalha a favor da cidadania visando a minimizar os riscos. Trabalha em favor de projetos de poder que misturam ideologia, corporativismo, fisiologia e clientelismo.

As eleições de 2018 não devem resolver tais problemas. Continuaremos a ter ilhas de excelência em meio a um mar de mediocridade. Elas hoje não estão nem na política nem na imprensa, setores críticos para que um país seja livre, forte e democrático. A política, como disse, está capturada por projetos de poder. A imprensa, em parte expressiva, padece de um esquerdismo infantilóide em sua memória residente que corre atrás de um sonho juvenil. Para se salvar do tsunami das redes sociais, tende a ficar mais sensacionalista e superficial e, lamentavelmente, menos relevante.

Por que, no final das contas, digo que nossos problemas são menores do que parecem? Em primeiro lugar, porque são nossos problemas não estão submetidos a condições externas. Em segundo lugar, porque existem ilhas de excelência no País que podem contaminar positivamente os demais setores. Em terceiro lugar, porque somos um povo resiliente e trabalhador. Por fim, porque Deus é brasileiro e nos colocou ao lado dos argentinos e venezuelanos. Imaginem se fôssemos vizinhos da China, da Rússia, da Síria ou da Coreia do Norte? Imaginem se fôssemos palco de lutas religiosas entre sunitas e xiitas? Ou se tivéssemos encravados em nós uma disputa milenar entre judeus e muçulmanos? Os problemas estão postos e são nossos. Apenas nossos. Já é bem mais do que a metade do caminho.


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DE COMO O MUNDO É UM ESPELHO - Paulo Coelho


O encontro esquecido

- O mullah Nasrudin, personagem central da tradição sufi, marcou um encontro com um importante filósofo de sua aldeia - mas terminou distraindo-se com outra coisa, e não chegou na hora marcada.

O filósofo, depois de esperar algum tempo, escreveu na porta da casa de Nasrudin: "Irresponsável!". E foi embora.

Horas depois, Nasrudin apareceu na casa dele.

- Então, você esqueceu nosso compromisso? - bradou o homem.

- Sim, esqueci, e peço desculpas. Mas, ao chegar em casa, vi que você deixara seu nome no portão, e vim imediatamente.

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Generosidade e recompensa

Compadecido com a pobreza do rabino Jusya, Ephraim colocava diariamente algumas moedas debaixo da sua porta. E reparou que, quanto mais dava para Jusya, mais dinheiro ganhava.
Ephraim lembrou-se que o rabino Baer era mestre de Jusya, e pensou: "se sou bem recompensado ao dar para o discípulo, imagine o quanto ganharei se resolver apoiar o seu mestre".

Viajou para Mezritch, e cobriu de presentes o rabino Baer. A partir daí, sua vida começou a piorar, e quase perde tudo.

Intrigado, procurou Jusya e contou o ocorrido.

- É muito simples - disse Jusya. - Enquanto você dava sem pensar a quem recebia, Deus também fazia o mesmo. Mas quando você começou a procurar gente ilustre para fazer suas doações, Deus também passou a fazer a mesma coisa.

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Enchendo o copo alheio

Durante um jantar no mosteiro de Sceta, o padre mais idoso levantou-se para servir água aos outros. Foi de mesa em mesa com muito esforço, mas nenhum dos padres aceitou.

"Somos indignos do sacrifício deste santo", pensavam.

Quando o velho chegou na mesa do abade João Pequeno, este pediu que enchesse seu copo até a borda.

Os outros monges olharam horrorizados. No final do jantar, repreenderam João:

- Como pode julgar-se digno de permitir-se ser servido por um homem santo? Não percebeu o quanto lhe custou levantar a garrafa? Não notou como suas mãos tremiam?

"Como posso impedir que o bem se manifeste?" - respondeu o João. - Vocês, que se acham perfeitos, não tiveram humildade de receber, e o pobre homem não teve a alegria de dar.

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O aluno que furtava

Durante uma das aulas do mestre zen Bankei, um aluno foi pego roubando. Todos os discípulos pediram a expulsão do aluno.

Bankei não fez nada. Na semana seguinte, o aluno roubou de novo, mas Bankei o manteve em sua classe. Irritados, os outros escreveram uma petição exigindo que o ladrão fosse punido.

- Como vocês são sábios, - disse Bankei, ao ler o pedido. - Conhecem a diferença entre o que é certo e o que está errado. Podem estudar em qualquer outro lugar. Mas este pobre irmão - que não sabe o que é certo ou errado - só tem a mim para ensiná-lo, e continuarei fazendo isto.

Uma torrente de lágrimas purificou o rosto do ladrão: o desejo de roubar havia desaparecido.

Diário do Nordeste , 09/06/2018

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Paulo Coelho - Oitavo ocupante da Cadeira nº 21 da ABL, eleito em 25 de julho de 2002 na sucessão de Roberto Campos e recebido em 28 de outubro de 2002 pelo Acadêmico Arnaldo Niskier.

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