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domingo, 25 de agosto de 2019

REALIZE SEUS SONHOS - Antônio Nunes de Souza


Sonhar é nada mais nada menos que projetar em nossas mentes (dormindo ou acordado) todos os desejos que queremos que sejam realizados.

O homem nasce com uma finalidade de vida determinada pela sociedade, onde precisa ser culto, razoavelmente poderoso, muito saudável, tremendamente feliz e bastante forte. Conquistando essas cinco coisas, certamente poderá dizer que realizou o seu sonho, integralmente, perante o mundo e a comunidade que vive.
E conquistar tudo isso é fácil?

Claro que não! É tão difícil que, na maioria das vezes, as pessoas nem tentam. Entregam-se nas mãos do destino, esperando que o que tem que ser será e, achando que as soluções cairão do céu, não dando conta que nós é que traçamos e somos responsáveis pelas trajetórias dos nossos destinos.

Por que digo que a realização dos nossos sonhos não é fácil?
Simplesmente baseado nos fatos do cotidiano, experiência de vida e a observação que constantemente faço com pessoas que conheço e convivo.

Por exemplo: O primeiro item que acho primordial é ser culto e bem informado! Como admirar as coisas belas sem saber os seus significados e suas origens?  Impossível! E cultura e conhecimentos aprendem-se frequentando boas escolas, lendo-se bons livros, frequentando bons ambientes, tendo amigos com bons níveis intelectuais, fazendo viagens, etc. E, para conseguir fazer isso, precisa que você seja bem nascido e tenha por trás de si um respaldo financeiro para apoiá-lo, senão você não passará de um medíocre alfabetizado, vivendo iludido pensando que sabe das coisas, ou conformado em ter adquirido o saber do “feijão com arroz”, limitando sua visão do que seja, verdadeiramente, o mundo.

O segundo parece ser até dispensável aos olhos dos tolos, mas, na verdade, é de uma importância brutal para uma boa sobrevivência em qualquer comunidade que você viva. Isto porque, por mais que você não queira admitir, o homem é mais respeitado pelo mal que pode fazer, do que pelo bem que pode realizar. É um raciocínio torpe, porém verdadeiro. E, tendo você um pouco de poder, as pessoas o olham com mais atenção e contam até dez antes de invadir os seus direitos. E como se pode ser razoavelmente poderoso, não tendo-se uma situação financeira definida? Creio que nunca!

O terceiro é literalmente vital: Ser saudável! Ter saúde é uma questão genética, entretanto mantê-la é o mais difícil, pois, para tanto, importante é que você tenha uma boa alimentação, frequente médicos e dentistas periodicamente, disponha de remédios quando forem necessários, possa hospitalizar-se quando preciso for e, basicamente, morar em uma casa que lhe ofereça condições adequadas de conforto e higiene. E como se consegue tudo isso?  Tendo-se condições financeiras compatíveis.

O quarto é para mim, talvez o mais difícil de todos os preceitos para a realização do nosso sonho. Simplesmente porque para se sentir bastante feliz, precisa-se de todos os outros itens e, às vezes, você tem todos os outros e não consegue alcançar a tão desejada felicidade. Como também, consegue-se a felicidade e a falta dos outros complementos, fazem com que ela seja tão rápida e efêmera que nos torna infelizes pela frustração de não termos condições de mantê-la. Quem pode sentir-se bastante feliz sem cultura, sem algum poder ou sem uma boa saúde, se essas coisas dependem categoricamente de dinheiro?   Portanto, mais uma vez a estabilidade financeira interfere em nossos sonhos, sendo que, desta feita, com força brutal, atingindo o que nos deixa mais fragilizado, que é nosso equilíbrio emocional.

O quinto e último é a característica predominante em qualquer circunstância de todos os itens, principalmente para aqueles que conseguem alcançar todos os outros. Pois, não sendo forte (refiro-me a fortaleza de caráter e a capacidade de receber as cacetadas da vida e levantar sempre para lutar), não consegue manter-se na lista daqueles que realizaram os seus sonhos. Isso porque deixou desmoronar-se rapidamente pela falta de competência de administrá-los. Esse fato ocorre muito com aqueles bem nascidos que já encontraram tudo praticamente pronto e não souberam o que fazer para continuarem bem. Vale dizer que, a característica de ser forte é nata em todos nós. Em alguns, para procurarem sempre sobreviver de bem com a vida. E em outros, para apanharem constantemente, achando que é isso mesmo, e é assim porque Deus quer e determinou. Esses últimos são os que têm grandes capacidades de serem fortes suficientes para serem mediocremente fracos.
Como se pode ver claramente, a situação financeira de todos está ligada, radicalmente, à realização dos nossos sonhos. Pode parecer que a minha conceituação seja dinheirista, mas, se você analisar com sensatez e frieza, no seu julgamento verá que, infelizmente, sem o vil metal pouco ou nada se consegue na nossa gloriosa vida. Terminamos passando por ela pensando que o mundo é somente o que está em nossa volta.

Na verdade, o dinheiro não é o mais importante de tudo, entretanto, a falta dele nos priva das coisas mais significativas que o mundo oferece. Eu, particularmente, detesto dinheiro. Todas as poucas vezes que ele chega a minhas mãos, imediatamente troco-o por coisas que me deixa mais culto e bem informado, respeitosamente poderoso, mais saudável, muitíssimo feliz e suficientemente forte.
Portando, não espere nada cair do céu!  Rale muito, engula sapos, saiba escolher aquilo que melhor lhe oferece oportunidades e, com certeza, realizará seus sonhos.
Espero que você faça uma reflexão sobre essas regras básicas, coloque como primordial em sua vida a independência (sem essa você não é ninguém) e, dentro em breve, possa dizer sorrindo: Como está sendo bom realizar os meus sonhos!


Antonio Nunes de Souza, escritor
Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL


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PALAVRA DA SALVAÇÃO (145)


21º Domingo do Tempo Comum, 25/08/2019

Anúncio do Evangelho (Lc 13,22-30)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?”
Jesus respondeu: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’
Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’.
Então começareis a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!’
Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!’
Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, sendo lançados fora. Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Padre Roger Araújo:

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“Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita” (Lc 13,24) 

Segundo o relato de Lucas, um desconhecido interrompe o caminho de Jesus e lhe faz uma pergunta, tão frequente naquela sociedade religiosa: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?”  Tal pergunta, no fundo, é uma ofensa ao amor de Deus e, por detrás dela, já percebemos uma falsa imagem d’Ele, como se Deus fosse aquele que põe travas à salvação e não quer que este dom chegue a todos. Por isso, Jesus não responde diretamente à pergunta. O importante não é saber quantos se salvarão; não lhe interessa especular sobre este tipo de questões estéreis, mas vai diretamente ao essencial e decisivo: viver com atitude lúcida e responsável para acolher a salvação do Deus que é suma bondade e quer que todos se salvem. Quem está disperso e distraído não está em sintonia com o dom da salvação, perde a oportunidade de acolhê-la e deixar-se inspirar por ela. Por isso, Jesus insiste: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita”. 

Para entender corretamente o apelo a “entrar pela porta estreita”, é preciso recordar as palavras de Jesus encontradas no evangelho de João: “Eu sou a porta; quem entrar por mim será salvo” (10,9). Entrar pela “porta estreita” é fazer caminho com Jesus, aprender a viver como Ele, revestir-se do modo de ser e de viver d’Ele... O que Jesus pede não é rigorismo legalista, mas amor radical a Deus e aos outros. Por isso, seu chamado é fonte de exigência e não de angústia. Jesus é uma porta sempre aberta, para que, ao passar por ela, vivamos em plenitude. Ninguém pode fechá-la; só não conseguimos atravessá-la quando nos fechamos em nosso legalismo e moralismo. 

Ao longo da história da espiritualidade cristã esta frase – “esforçai-vos por entrar pela porta estreita” - foi entendida como “sacrifício”, “mortificação”, “renúncia”... Uma leitura mais serena destas palavras, no entanto, nos faz ver que não se pode confundir “porta estreita” com “conquista de méritos e recompensas”, inflando um “ego religioso e perfeccionista”. Não conhecemos nenhum mestre espiritual que tenha dito que a porta que conduz à Vida seja cômoda ou ampla. Espaçosa e plena é a própria Vida, mas a porta é estreita. A rigor, é tão estreita, que só pode ultrapassá-la quem está disposto a esvaziar sua pequena identidade egóica.

Sabemos que, um “ego inflado”, compulsivo, cheio de si, obeso...não tem como passar pela “porta estreita”. Para entrar por ela é preciso despojar-se de tudo aquilo que foi sendo acumulado ao longo da vida: posses, honras, consumismo, vaidades, poder, prestígio... “Entrar pela porta estreita” é desapropriação do ego, é desinflar-se, deixar transparecer a verdadeira identidade do próprio ser.

Para fazer o caminho com Jesus não se pode ter excesso de gorduras nas ideias, no coração, nas atitudes... Ser peregrino com Ele supõe leveza, flexibilidade, mobilidade... As portas do Reino estão sempre abertas; e estão abertas para todos. Mas, muitos “egos” vivem cheios de si mesmos e ocupam todo o espaço da entrada da porta. Eles não entram, porque estão bloqueando a porta, mas também não deixam entrar aqueles que querem passar por ela. Os “egos inflados” acreditam estar dentro, quando na realidade estão fora; acreditam ser donos da porta; não se atrevem a entrar por medo à verdade e preferem ter um pé dentro e outro fora.

Numa perspectiva psicológica, conhecemos a imagem da porta nos nossos sonhos. Quando sonhamos com uma porta trancada, isso significa que perdemos o contato com nosso interior, com nosso coração, com nossa essência e vivemos apenas na exterioridade. 

No evangelho deste domingo, as pessoas que o dono da casa afirma não conhecer, vivem apenas na superfície de si mesmas. Elas não têm uma vida ruim, mas tudo o que fazem acontece apenas no mundo exterior e não tem nenhuma relação com seu coração. Até mesmo sua fé é meramente exterior. Elas vão à Igreja, são rígidas com as leis morais e cumprem com os deveres religiosos. Mas ao fazer isso não entram em contato com seu coração. Elas até se lembram que seguem Jesus, dizem ter comido e bebido com ele e ter ouvido seu ensinamento. Mas seu coração está fechado. A proposta de vida plena, apresentada por Jesus, não desperta ressonância no “eu profundo” delas. 

O dono da casa ao dizer -“não sei quem sois” - simplesmente está afirmando que tais pessoas não se parecem em nada com Ele. A dureza destas palavras ressoa como um chamado realista a nos despertar para reconhecer-nos na Vida. Quem não entra em contato com sua dimensão mais profunda, não participa da vida, aquela revelada pelo  “Reino do Pai”. Afinal, “o Reino de Deus está dentro de vós” Lc 17,21). Portanto, a parábola deste domingo nos convida a fazer a travessia do exterior para o interior, restabelecendo o contato com nosso coração. Na verdade, a porta estreita conduz a um horizonte mais amplo; atravessá-la significa alcançar a harmonia conosco e fazer emergir o que é mais nobre em nós: recursos, dons, criatividade... Se nos contentarmos em seguir o modo de viver dos outros, não viveremos a verdade de nós mesmos. Nosso processo de humanização só poderá se ampliar se encontrarmos nossa porta pessoal e passarmos por ela.

Indubitavelmente, passar pela “porta estreita” significa uma experiência de “morte” àquilo que não somos para que possa viver o que somos. Só assim nossa vida, ao atravessar a porta, se expandirá. E essa morte não acontece sem dor: ao ego lhe dói morrer a seus apegos, suas gratificações, suas necessidades, suas expectativas; ao ego lhe dói fazer uma “lipoaspiração” de suas gorduras; ao ego lhe dói deixar o que lhe dá uma sensação de segurança. Por isso, quando ele se sente frustrado, começam a aparecer sensações degradáveis e uma série de mecanismos de defesa entram em ação. 

Com sua mensagem forte, Jesus nos convida a procurar e encontrar a chave para abrir a porta da casa do nosso “eu verdadeiro”, a entrar em contato com nosso coração, o lugar onde habitam os aspectos benéficos da nossa personalidade, as boas tendências, as qualidades positivas, os dons naturais, as riquezas do ser, as beatitudes originais, as aspirações de grande fôlego, as ideias-força, os dinamismos da vida... O “tesouro do ser”, ainda que pareça esquecido, permanece armazenado e pode tornar-se a força que orienta toda a vida, um lugar de fecundidade, de criatividade, fonte de renovação... 

O símbolo da “porta” não se define em si como um espaço, não é um lugar, mas é o “limite” entre um lugar e outro, é o interstício entre dois espaços, é o que divide dois modos de ser e viver. “Passar a porta” significa ir ao encontro do novo, do futuro, do diferente, do “fora do normal”... O “outro lado” é um espaço não conhecido, é um lugar ainda não explorado. 

Somos “seres de travessia”; é próprio do ser humano ousar, romper, ir além... Para isso é preciso arriscar para viver uma experiência transformadora, aproximando-nos do diferente: abrir portas de mundos que desconhecemos; viver situações às quais não estávamos acostumados; sentir coisas que nunca havíamos sentido; conhecer segredos que tornarão mais autêntica nossa vida... 

Texto bíblico:  Lc 13,22-30 

Na oração: A porta estreita que atravessamos representa a nossa porta pessoal, que precisamos encontrar e atravessar, para deixar o rastro da nossa própria vida neste mundo. A porta espaçosa representa a que todos usam; a porta estreita é a passagem original que Deus preparou para cada um de nós: ela aponta para nossa identidade única e é por ela que Deus acessa ao nosso interior. É nas fendas de nossos limites e fragilidades que Deus encontra mais facilidade para entrar em nosso coração e não pela porta da perfeição.

- A “porta” da sua vida dá acesso ao novo e diferente ou está travada pelo medo e preconceito? 

Pe. Adroaldo Palaoro sj

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