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quarta-feira, 6 de setembro de 2017

JUBA E UIARA CANTAM SEXTA NA AABB ITABUNA

Juba e Uiara na Cabana do Tempo da AABB.

Romantismo de Juba e Uiara de volta à AABB

A Sexta Super Musical da AABB Itabuna vai ser um prato cheio para quem gosta de música romântica. Juba Gonzaga e Uiara Oliveira vão acrescentar, como sempre, sabor de paixão a um bem selecionado cardápio de música brasileira e internacional.

O evento que resgatou o prazer de sair à noite acontece nesse dia 8 de setembro, a partir de 20h00. E será na Cabana do Tempo, o espaço que virou point musical da cidade.

Acompanhando a degustação musical, chegam à mesa as atrações culinárias do restaurante do clube: deliciosos petiscos preparados por competentes cozinheiras e servidos por uma ágil equipe de garçons.

“A administração do restaurante é própria para garantirmos a qualidade de tudo”, afirma Maruse Dantas, presidente do clube. Ao que o vice-presidente social Raul Vilas Boas acrescenta: “Não cobramos 10% de gorjeta nem couvert artístico, o que ajuda nossos fiéis clientes a vir toda sexta aqui pra Cabana”.

Além disso, a Sexta Super Musical é o único programa noturno em Itabuna que se pode fazer levando as crianças, já que elas contam com um parque bem equipado junto da Cabana. E pode estacionar dentro do clube que a AABB libera o acesso, sem qualquer restrição, a todos os apreciadores de um bom programa musical.

A AABB fica na Rua Espanha s/n, travessa da Av. Europa Unida, no bairro São Judas, em Itabuna. Vindo do litoral, o trajeto é pela Av. Juracy Magalhães e Ponte Nova (Vila Zara). E vindo do interior, pela Beira-Rio via Shopping e bairro Conceição. Os telefones do clube são (73) 3211-4843/2771 (Oi fixo).


Contato – Raul Vilas Boas: (73) 9.8888-8376 (Oi) / (73) 9.9112-8444 (Tim/WhatsApp).

Assessor de Imprensa – Carlos Malluta: (73) 9.9133-4523 (Tim) / (73) 9.8877-7701 (Oi)

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BARCAROLA - Geraldo Carneiro

Barcarola

Tenho ouvido muita gente dizer horrores sobre o tempo em que vivemos. Não é a primeira vez. Em 1979, me lembro que o Brasil também nos parecia insuportável, com ditadura e recessão. E não só o Brasil. John Lennon havia decretado o fim do sonho, no início da década, e a ambição havia vencido as utopias. Nós, sonhadores, estávamos mais por fora do que poupança de chacrete.

Como sempre, busquei consolação na poesia. Encontrei um poema de Ezra Pound, chamado “The Lake Island”, que traduzi assim:

“Ó Deus, ó Vênus, ó Mercúrio, protetor dos ladrões,
Emprestai-me uma pequena tabacaria,
Ou estabelecei-me em qualquer profissão,
exceto essa maldita profissão de escritor,
na qual a gente precisa do cérebro o tempo todo.”

Para completar, Antônio Callado tinha publicado alguns anos antes seu livro “Bar Don Juan”, inspirado nas histórias do Antonio’s, o bar mitológico que morava em certa esquina do Leblon. Na epígrafe do livro, Callado citava um texto de W.H Auden: “Quando se interrompe o processo histórico (...), quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para se abrir um bar.”

Inspirado em tão admiráveis exemplos, resolvi levá-los à prática. Meu bar se chamava Barcarola, em homenagem a um livro de Neruda. Ficava num pequeno terreno à beira-mar, em Rio das Ostras. Havia nele dois palcos, restos cenográficos do musical “Lola Moreno”, que eu escrevera com Bráulio Pedroso e John Neschling. Um deles deveria ser reservado à música, o outro, ao teatro. Em tese, seria um bar dedicado às artes. Um centro cultural alcoolizado.

Doce ilusão. O Barcarola foi um sucesso tão grande que jamais encenamos as peças e shows que pretendíamos. Já na inauguração, meus amigos beberam todo o estoque — confesso que com minha modesta colaboração. Meu sócio Manoel Reis e eu só fazíamos carregar caixas de cerveja, comprar vodca, tomar providências.
Minha irmã Elizabeth, que aceitara o cargo de gerente e que dividia as tarefas mais pesadas conosco, sabiamente pediu rebaixamento para garçonete.

Pior é que os bêbados desrespeitavam nossas funcionárias. E eu era o segurança, com meu corpinho de pré-tuberculoso. Apareciam bandidos municipais e estaduais perguntando: “Quem é o dono desta espelunca?” Eu tinha que dar uma de John Wayne, embora não tivesse o armamento, nem a valentia, nem o physique du rôle.
Quando me livrei do Barcarola, logo depois do carnaval, suspirei aliviado. Dali por diante, só entraria num bar como sócio-atleta.

Que lições extraí do Experimento Barcarola? Não sei. Talvez todo tempo tenha o seu horror e a sua graça. Pelo menos retrospectivamente. Ou, como disse Guimarães Rosa, viver é muito perigoso. E seja qual for o motivo, mesmo nas piores circunstâncias, precisamos comemorar a vida.

O Globo, 03/09/2017


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Geraldo Carneiro - Sexto ocupante da Cadeira 24, eleito em 27 de outubro de 2016, na sucessão de Sábato Magaldi e recebido em 31 de março de 2017 pelo Acadêmico Antonio Carlos Secchin.

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TEORIA DO CAOS – Maiakovski e outros

Maiakovski Poeta russo "suicidado" após a revolução de Lenin… escreveu ainda no início  do século XX:

Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.

...

 Depois de Maiakovski… 


Primeiro levaram os comunistas
Mas não me importei com isso
Eu não era comunista
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os sindicalistas
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou sindicalista
Depois agarraram uns sacerdotes
Mas como não sou religioso
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.

Bertold Brecht (1898-1956)

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Martin Niemöller

Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
 Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar...

Martin Niemöller, 1933 - símbolo da resistência aos nazistas.

...

Cláudio Humberto

Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho...

(Cláudio Humberto, em 09 FEV 2007)
......

O que os outros disseram, foi depois de ler Maiakovski.

Incrível é que, após mais de cem anos, ainda nos encontremos tão desamparados, inertes, e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições, e deixam aos cidadãos os ossos roídos e o direito ao silêncio: porque a palavra, há muito se tornou inútil… - Até quando?... 
(Desconhecido)



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NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI


Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

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NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI ( 1968 )
EDUARDO ALVES DA COSTA ( Niterói, RJ, 6 de Março de 1936... )
Editora Nova Fronteira, 1987, Brasil

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