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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

PADRE OSMAR SE AFASTA TEMPORARIAMENTE DA DIOCESE DE ITABUNA

jan 2, 2018

O padre e monsenhor Osmar Raimundo Mateus se  afastou do cargo de pároco da Paróquia São Judas Tadeu, situada na Avenida Ilhéus em Itabuna (BA), onde atuava desde 2006.

Nesta primeira segunda-feira do ano, o  Bispo da Diocese de Itabuna, Dom Carlos Alberto dos Santos, esteve na Igreja Matriz de São Judas Tadeu, às 18h,  para a celebração religiosa juntamente com o padre Osmar Raimundo e os diáconos José Araújo e Trajano Osvaldo.

Na oportunidade, o Bispo falou o que é o Ano Sabático e explicou que a saída de padre Osmar estava sendo conversada há algum tempo. Segundo ele, existe na Igreja Católica o período conhecido como “Ano Sabático” em que os sacerdotes, a cada dez anos, têm o direito de afastar-se de sua missão paroquial por razões diversas, como estudos, orações e reflexão, até mesmo para o descanso e renovação de sua vida sacerdotal. É um tempo de parada, de escuta da voz de Deus e tem o único objetivo: estudar para que possa revisar a sua vida, silenciar, ouvir a voz de Deus, rezar mais um tempo, revigorar as forças para depois retornar ao trabalho, continuando a obra da evangelização e depois de um ano o sacerdote retornará para a sua diocese de origem.
  
Padre Osmar, muito emocionado, também prestou conta ao Bispo de algumas coisas como: entrega do carro da Paróquia, chaves, documentos entre outras obrigações e deveres para com a igreja e a diocese.

O Padre Osmar Raimundo Mateus foi ordenado sacerdote em 05/08/1991, totalizando 27 anos de serviço ao Senhor. O pedido de afastamento foi comunicado ao Bispo Dom Carlos Alberto no mês de setembro de 2017, através de uma Carta escrita pelo próprio padre. Padre Osmar segue para a cidade de Barbacena no interior de Minas Gerais, onde reside seus familiares. O bispo informou para os membros de pastorais, comunidades, paroquianos e fieis que as missas vão continuar acontecendo  nos mesmos horários.

Reportagem e fotos: Valdeni Elias
Edição de texto: Anara Passos (Comunicóloga- DRT 7574)
Confira as fotos em nossa pagina do Facebook. Clique aqui
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SENHORA DO AMANHECER - Rosiska Darcy de Oliveira

Senhora do amanhecer


O vento em Delfos zunia e eu pensava como é antigo e aflito o desejo de adivinhar o futuro. Deve ter sido esse barulho do vento que parecia uma voz contando ao Oráculo o que ninguém ainda sabia que levava os poderosos de então a buscar conselho de quem podia prever o amanhã. Tantos erros, tantas guerras, quem sabe levadas pelo errático conselho dos ventos. Fiz essas anotações no meu diário de bordo na primeira viagem que fiz à Grécia.

O desvalimento humano, a angústia diante da incerteza atravessaram os séculos, tão doloridos que, em todos os cantos da terra, uma bola de cristal ou uma simples vidente de subúrbio trazem um parco alívio a quem se pergunta o que vem por aí.
Diante do absurdo da morte há até mesmo quem aceite a promessa da vida eterna.

O que será de nós, questão fatal nesse limiar do Ano Novo, perguntam-se os brasileiros, jogando flores brancas ao capricho das ondas, esperando uma resposta amiga da Rainha do Mar.

A incerteza fez-se a regra do mundo, o princípio que rege todas as coisas e conviver com ela é o verdadeiro purgatório contemporâneo, sem que nenhum céu mais adiante seja de fato garantido, abandonados que somos ao jogo incerto do acaso e da necessidade. O destino se cumpre na medida em que se escreve, afirma um dos meus autores preferidos, o prêmio Nobel de medicina Jacques Monod.

O futuro não é uma história pronta que um vidente vai buscar em algum lugar secreto ou que o vento sussurra. O futuro não está em lugar nenhum, ele não existe senão como expectativa presente.
O futuro não está escrito senão na ilusão de jogadores que multiplicam apostas, ele é uma página em branco onde um autor imaginativo pode, a qualquer momento, escrever o improvável.

O jogo mais desafiante e paradoxal é o calculo das improbabilidades. Nada nos resta pois senão, a cada dia, fazer escolhas assumindo a autoria de nossos destinos. Não há que temer as encruzilhadas de um labirinto. Elas não são a certeza de um beco sem saída, são a oportunidade de fazer a boa escolha.

É pelas frestas da incerteza que se infiltra a esperança. A esperança não é um sentimento abstrato, uma prece passiva a um Deus silencioso e opaco. Se fosse, seria paralisante. Tampouco tem a ver com otimismo ou pessimismo. Estes estão mais próximos das certezas, do sim ou do não.

A esperança habita a terra de ninguém da incerteza onde o improvável não está excluído. A esperança tem vida própria e nos expulsa das cavidades da memória onde se escondem fundadas decepções. É ela que, quando um cansaço imenso busca o testemunho das desilusões, vira as costas e anuncia que viaja nua para o futuro. Afirma que os otimistas podem se enganar e que os pessimistas já se enganam no ponto de partida. Antes de partir, alerta: “tenho uma boa notícia”. E é ela que todos querem ouvir.
Ela, a senhora do amanhecer.

A esperança é arquiteta de destinos, é recusa de aceitar o mal como inexorável vitorioso, é teimosa e insolente. Não faz previsões otimistas ou pessimistas, constrói realidades, faz acontecer. A desesperança, sua irmã gêmea, também é construtora de realidades.
Ao reverso. É cúmplice do inimigo, ajuda a derrota.

Nesse fim de ano tenho sentido os brasileiros desesperançados. O momento presente é desanimador. Porém, projetar o presente no futuro é um equivoco que congela o tempo e ignora o legado do passado. Já vivemos dias piores, anos de chumbo e sombra. De lá para cá refundamos a democracia, vencemos a inflação, diminuímos as desigualdades.

Caímos em um pesadelo histórico. Não deixamos por isso de ser mais de 200 milhões de habitantes, vivendo em um imenso território, donos de bens naturais inestimáveis como a Amazônia e bacias hidrográficas de dar inveja a um mundo assombrado pela carência de água e de ar puro.

Uma cultura em que desaguaram três cosmogonias tão estranhas uma a outra, que há quinhentos anos negociam essas contradições com um sentimento de incompletude, buscando uns nos outros o que não somos e nos reconhecendo nessa gente original que nos tornamos, sedimentada por séculos de miscigenação, cuja identidade é um paradoxo, diversidade que se fez identidade e que conhece bem “a dor e a delícia de ser o que é”.

É essa cultura que nos une, esse país que nos irmana e essa identidade que nos salva. Que o ódio não abra suas asas mórbidas sobre nós. Que justiça seja feita reparando todo o mal que nos foi feito. Que todos os deuses do Brasil nos ajudem a preservar essa “estranha mania de ter fé na vida” e a construir um Ano Novo mais feliz. Feliz Ano Novo.

O Globo, 30/12/2017


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Rosiska Darcy de Oliveira - Sexta ocupante da cadeira 10 da ABL, eleita em 11 de abril de 2013, é escritora e ensaísta. Sua obra literária exprime uma trajetória de vida. Foi recebida em 14 de junho de 2013 pelo Acadêmico Eduardo Portella, na sucessão do Acadêmico Lêdo Ivo, falecido em 23 de dezembro de 2012.

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