Jorge Amado e o fantasma de Corisco
Sabedor da
amizade e do carinho de Jorge por Dadá, tempos depois do enterro de Corisco um
cidadão telefonou: queria, em nome de Dadá, falar com Jorge Amado um assunto da
maior importância. Sendo em nome de Dadá, Jorge marcou entrevista com o
cavalheiro. Ele apareceu, a vigarice estampada no rosto:
— Seu Jorge Amado — foi dizendo —, tenho uma proposta a lhe fazer, empreitada que pode nos dar muito dinheiro.
Jorge não mostrou curiosidade pela proposta, perguntou-lhe:
— Como vai Dadá? Esteve com ela?
— Não é bem isso — confessou o cara. — Andei entrevistando Dadá...
Não foi preciso ouvir mais nada, Jorge entendeu tudo, foi levantando. O sujeito estava ansioso para explicar a que vinha.
— Veja bem, seu Jorge — insistiu —, tenho um belo material, material precioso das entrevistas com Dadá e das pesquisas que fiz sobre o bando de Lampião, de Corisco, o amor de Dadá. Pode dar um livro e tanto.
— Já está escrevendo o livro? — perguntou Jorge
— Bem, a minha participação no livro será apenas de pesquisador, essa é a minha especialidade. Pensei que o senhor poderia, com a prática que tem escrevê-lo em três tempos. Nós dois o assinaríamos. Que tal?
Vendo Jorge calado, cara de poucos amigos, ele ainda ousou:
— A gente pode até dar uma coisinha à Dadá, o que acha? Jorge já não achava mais nada, perdera a paciência. Levantou-se, despediu-se:
— A sua proposta não me interessa. Desculpe-me, tenho o que fazer. — Chamou Aurélio, pediu que acompanhasse o cidadão até a porta.
Dias depois, o "pesquisador" voltou à carga, uma, duas, três vezes, tentando, por telefone, convencer o escritor a ser seu sócio no livro. Cansados dos repetidos telefonemas, resolvemos não atender mais, deixamos que a secretária eletrônica gravasse as mensagens. Uma delas, creio que a última, porque depois ele desistiu, foi tarde da noite. Uma voz de além-túmulo dizia:
— Seu Jorge Amado — foi dizendo —, tenho uma proposta a lhe fazer, empreitada que pode nos dar muito dinheiro.
Jorge não mostrou curiosidade pela proposta, perguntou-lhe:
— Como vai Dadá? Esteve com ela?
— Não é bem isso — confessou o cara. — Andei entrevistando Dadá...
Não foi preciso ouvir mais nada, Jorge entendeu tudo, foi levantando. O sujeito estava ansioso para explicar a que vinha.
— Veja bem, seu Jorge — insistiu —, tenho um belo material, material precioso das entrevistas com Dadá e das pesquisas que fiz sobre o bando de Lampião, de Corisco, o amor de Dadá. Pode dar um livro e tanto.
— Já está escrevendo o livro? — perguntou Jorge
— Bem, a minha participação no livro será apenas de pesquisador, essa é a minha especialidade. Pensei que o senhor poderia, com a prática que tem escrevê-lo em três tempos. Nós dois o assinaríamos. Que tal?
Vendo Jorge calado, cara de poucos amigos, ele ainda ousou:
— A gente pode até dar uma coisinha à Dadá, o que acha? Jorge já não achava mais nada, perdera a paciência. Levantou-se, despediu-se:
— A sua proposta não me interessa. Desculpe-me, tenho o que fazer. — Chamou Aurélio, pediu que acompanhasse o cidadão até a porta.
Dias depois, o "pesquisador" voltou à carga, uma, duas, três vezes, tentando, por telefone, convencer o escritor a ser seu sócio no livro. Cansados dos repetidos telefonemas, resolvemos não atender mais, deixamos que a secretária eletrônica gravasse as mensagens. Uma delas, creio que a última, porque depois ele desistiu, foi tarde da noite. Uma voz de além-túmulo dizia:
Jooorge
Amaaado, hóóó Jooorge Amaaado! Quem fala aqui é a alma de Corisco... Ouviu bem?
Coooriiiscooo... Faça o livro de Dadáaaa, Jorge Amado! Faça o livro de Dadáaaa...
Ouviu bem? Hó! Jorge Amado... Senão eu vou aí com Lampião te puxar os pés...
(A CASA DO RIO VERMELHO)
Zélia Gattai
* * *