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domingo, 23 de abril de 2017

O SILÊNCIO DE PLÁSTICO – Geraldo Maia


O silêncio de plástico


Mensalões, cartéis, propinas, caixas 2, lavagens de grana, fuga de capitais, trafico de influências, drogas, contrabandos, delações envolvendo os bilionários escândalos envolvendo a Petrobras, construção de metrôs e obras públicas federais, estaduais e municipais, inclusive no INSS, nos ministérios, secretarias e no emaranhado burocrático público-privado estão deixando para a população pagar um rombo nas contas públicas estimado pelo aplicativo 'corruptômetro' em torno de R$ 920 bilhões contabilizados por meio de superfaturamentos, ações de cartéis, concorrências fraudadas e montadas. 

No governo Collor bastaram alguns milhões desviados criminosamente para tirar o presidente do cargo. Foi quase um rito sumário, povo nas ruas, votação no Congresso, e tchau presidente 'play boy'. Mas nos governos do PT, são doze anos na tela, o mensalão correu solto, até hoje estão soltos, agora é a Petrobrás com 1 bilhão de prejuízo, e não acontece nada, depois chegam as delações, milhões são dedurados, e ainda assim não acontece nada.

A presidente reeleita chora no vídeo como se ditadura e tortura fossem monopólio da 'direita', sem se importar em chorar também pelos milhões de torturados e mortos pelas ditaduras militares implantadas nos países soacilistas considerados de 'esquerda'. Para esses a verdade continua sendo explicada na bala, na vala comum, nos campos de extermínio que só no Cambodja resultou na morte de 2/3 da população pelo 'bonzinho', porque de 'esquerda', Kmher Vermelho.

Mas por que Collor caiu logo e Lula , Dilma, Dirceu, etc, etc, continuam no poder, mesmo com as ruas gritando 'fora Lula', 'fora Dilma', 'fora PT'? Saiu quase despercebida e pouca gente notou, no auge na mais sórdida campanha eleitoral que se tem notícia no Brasil, uma declaração do Pedro Stédile, líder vitalício dos movimentos dos Sem Terra, Sem Teto, Sem Comida, sem Voz, sem Cabeça, sem Vontade, sem opinião, sem Decisão, sem liberdade para andar por seus próprios pés, pensar com o próprio cérebro, decidir segundo sua própria vontade. 

Pedro Stédile disse que se a presidente Dilma perdesse haveria guerra civil no país. Não usou outra palavra, foi guerra mesmo. Baseado em que Stédile, o monarca dos sem teto, fez tal afirmação? Observem um assentamento dos Sem Terra. A maravilhosa organização de caráter militar que ali existe. Geralmente liderados por mulheres, a organização dos Sem Terra no seu dia a dia não encontra similar no país ou no planeta. Dotados que são de disciplina digna de fazer inveja a qualquer dos mais bem treinados grupamentos das forças armadas. 

O MST também é extremamente organizado no que tange às suas ações produtivas, que são bem diversificadas. Agricultura, criatório, artesanato, cooperativas são utilizadas para produzir alimentos. O MST coordena mais de 100 cooperativas e mais de 1,9 mil associações situadas nos assentamentos trabalhando a construção de 96 agroindústrias. Os assentamentos do MST impactam a vida de um município tanto na esfera social como econômica. Em primeiro lugar, a terra ganha uma função social. Em segundo lugar, um conjunto de famílias ganha instrumentos para a sua sobrevivência. Depois de um período, constroem a casa, conquistam a escola e começam a produzir. A produção garante o abastecimento de alimentos aos moradores das pequenas cidades e gera renda às famílias assentadas. Mas o que existe por trás dos barracos de plástico preto que vai ser utilizado por Stédile em uma guerra civil? Alimentos Orgânicos? Armas automáticas? Munições de grosso calibre, veículos de combate, helicópteros e aviões. Misseis interestaduais? Tanques de lavar roupa ou tanques de guerra? Como Dilma ganhou o silêncio permeia os assentamentos dos Sem Terra.
  
Aguarda-se as próximas eleições. Quase um Bilhão foi tirado dos cofres públicos. Para comprar arsenal? Mas guerra contra quem, irmãos contra irmãos? Esquerda contra direita? Norte nordeste contra o sul sudeste? Ricos contra pobres? Luta entre as classes? Capitalismo contra comunismo? Muito bem, até agora do que valeram essas guerras ao redor do mundo?

Mais guerras, mais violência, mais intolerância, mais fome, miséria, doenças, abandono, indiferença. Dentro do plástico preto ecoa o silêncio impregnado nos paus de arara armados nos porões da direita e da esquerda. Qual deles tortura melhor? Qual tortura venceu condenando a outra a 'nunca mais'?


Geraldo Maia, poeta

Estudou Jornalismo na instituição de ensino PUC-RIO (incompleto)
Estudou na instituição de ensino ESCOLA DE TEATRO DA UFBA
Coordenou Livro, Leitura e literatura na empresa Fundação Pedro Calmon Trabalha na empresa Folha Notícias,
Filho de Itabuna/BA/BRASIL, reside em Louveira /SP.


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ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA ACADEMIA GRAPIÚNA DE LETRAS - AGRAL

O entrevistado dessa edição do DIREITOS, é o presidente da Academia Grapiúna de Letras (Agral), Ramiro Soares de Aquino.


“Nova diretoria promete reestruturar entidade” 

A nova diretoria da Academia Grapiúna de Letras (AGRAL), empossada em 14 de março passado, promete reestruturar a academia cultural, segundo informa, em entrevista concedida ao Jornal DIREITOS, o presidente eleito, Ramiro Soares de Aquino, um dos fundadores da entidade e o segundo no cargo. O novo presidente é democrático, costuma dizer que “fica rouco de ouvir” e não toma decisões que não sejam por consenso. 

Experimentado jornalista, com vivência de cinquenta e quatro anos no ramo, completados neste mês de abril, Aquino fez algumas exigências para aceitar o cargo: 
1- Respeitar todas as decisões do seu antecessor, Ivann Krebs Montenegro, que dirigiu a entidade nos cinco primeiros anos; 2- Submeter à diretoria, sob consulta aos interessados, a destituição de todos os membros que não frequentam as reuniões, alguns somente comparecendo às suas posses; 
3- Admitir novos sócios exigindo um rígido controle de frequência e propondo a estes a possibilidade de assumir cargos diretivos, inclusive a presidência; 
4- Criar a categoria de Sócios Honorários Fundadores e
5- Manter relacionamento de alto nível com as entidades similares. Eis a íntegra da entrevista:

DIREITOS - O que o levou a aceitar essa incumbência, que para muitos é tão espinhosa?
Ramiro Aquino - O comprometimento do grupo. Perguntei a cada um se aceitava o cargo na diretoria, se topava trabalhar e demonstrei minhas exigências dizendo que o não atendimento a elas me dava o direito de renunciar. Todos foram unânimes em me apoiar, tudo isso de forma democrática. Isso me deu a segurança necessária para aceitar a presidência.

DIREITOS - Quando você fala de reestruturação isso significa que, mesmo fazendo parte da diretoria, não estava satisfeito com os rumos que a AGRAL estava tomando?
Ramiro Aquino - Pelo contrário. Aprendi muito com os companheiros que compõem a AGRAL, especialmente com Ivann Montenegro, um líder inconteste, ficando inclusive com a recém-criada Presidência de Honra. O que eu não me conformava era com a tese da imortalidade, que nos tornava vitalícios na entidade. Ora, ninguém foi forçado a aceitar o seu ingresso. Sempre quisemos a contribuição que todos poderiam oferecer. Se tomou posse e não frequenta ou pede para sair ou será afastado. Estou propondo a saída de oito confrades e o que é curioso, quatro desses foram indicação minha. Isso não quer dizer que todos eles poderão ser afastados. Se resolverem se enquadrar, serão mantidos. Se reincidirem nas faltas cumpriremos os estatutos.

DIREITOS - Quais as suas propostas?
Ramiro Aquino – Além das exigências fundamentais, a frequência às reuniões, a programação em cima de um calendário de eventos consistente, a participação ou o apoio da entidade a todas as atividades artístico-culturais da cidade, admissão de novos sócios (já temos 5 em vista) e nos tornarmos, não só a primeira, mas a mais ativa Academia de Letras da região.

DIREITOS - E a sede não se inclui em seus planos?
Ramiro Aquino - Não considero a sede social, no momento, como uma prioridade. O Ivann Montenegro já colocou a casa dele à nossa disposição, o Lions Grapiúna também, estamos em entendimentos com a FICC para reocupar a Sala Zélia Lessa, se quisermos construir a Confreira Eglê Santos Machado nos doou um terreno. A falta de teto ainda não é um problema para a AGRAL.

DIREITOS - E como sobrevive uma Academia?
Ramiro Aquino - Toda instituição dessa natureza tem que sobreviver com a contribuição dos seus confrades e confreiras. É um valor mínimo de apenas R$ 30,00, que multiplicados por 39 (quadro atual depois do falecimento da Confreira Jasmínea Benicio Midlej) representam uma receita mensal de R$ 1.170,00. Sem considerar uma pequena inadimplência de 15%, temos considerável saldo mensal em caixa. Avalie bem: na nossa posse fizemos uma festa com despesas mínimas, onde só pagamos a filmagem, apenas um dos quatro fotógrafos, só os ingredientes do buffet (o Saborearte doou o serviço) e o vigilante. O local foi cedido pela Loja 28 de Julho, a MM Studios forneceu o som e o Coral Cantores de Orfeu nos brindou com a música.



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TERRAS DE ITABUNA - Nascimento de Tabocas

Clique sobre a foto, para vê-la no tamanho original
Nascimento de Tabocas


            Já dizia Mares de Sousa no seu almanaque de 1911: “Ponto algum do Estado, nesses últimos anos, há tido maior desenvolvimento em comércio, lavoura, aumento de população, de construções, de que Itabuna, que há quatro anos e dois meses era um simples arraial. Daí bem se pode calcular a ascensão que esta localidade tem feito ao progresso, ficando, portanto, sem razão de ser o mau juízo que porventura ainda façam aqueles que de longe somente a conhecem pelas correspondências políticas ou pelos telegramas e notícias alarmantes transmitidas à imprensa”.

            O seu primeiro nome foi Tabocas. Muitas vezes Carlos Sousa contou a sua história ao Tourinho da farmácia, que era bom para escrever desaforos, mas não possuía as letras do outro farmacêutico Artur Nilo de Santana, que fazia uns discursos bonitos nas reuniões da filarmônica e ainda o público recordava o discurso que pronunciou no dia da instalação do termo da vila e comarca em 8 de novembro de 1906.

            Tabocas começou propriamente a nascer no ano de 1860. Alguns ranchos, toscos casebres, colocados ao lado da estrada, à margem direita do rio, habitados, uns por posseiros das matas próximas, outros por pequenos comerciantes que vendiam aos boiadeiros, que desciam, ou subiam ao sertão da vila de Conquista, cinquenta léguas distante, no poente.

            Moravam no local, conhecido hoje pelo nome de Marimbeta, Félix Severino do Amor Divino, Militão Francisco de Oliveira, José Severino de Oliveira, Faustino Jovita de Santa Fé, José Alves da Silva, João Antônio do Nascimento, Maximiano de Oliveira, Manuel Apolinário Batista, João Pinheiro do Nascimento e Anacleto Alves da Silva.

            Por muitos anos esses homens trabalharam, anonimamente, humildemente, bravamente, derrubando matas, fazendo roças, plantando cacau, acumulando riquezas.

            Verdadeiros heróis das selvas, isolados do mundo, da civilização adoeciam e morriam sem remédio, sem conforto, sem assistência.

            Entravam nas matas para trabalhar e muitas vezes, delas não saíam senão mortos por picadas de serpentes venenosas.

            É a história daquele velho que disse à mulher: “vou à roça buscar uns temperos para o feijão”. Foi e não voltou. A mulher também foi e não voltou. Os filhos começaram a chorar. Choraram o dia todo, os pais não apareceram, o fogo apagou-se a comida não cozinhou. Já à tardinha chegou um vizinho, perguntou aos meninos que choravam, pelos pais, e lá se foi com os meninos ao roçado, onde encontraram, caídos e mortos, o homem e a mulher, um quase por cima do outro.

            Ficaram surpresos, ficaram espantados, não ficaram com medo, porque nas matas do cacau o homem perde o medo, cria coragem e se torna indiferente.

            De repente ouviram qualquer coisa batendo no chão, e viram qualquer coisa se movimentando, uma coisa roliça, como uma corda grossa, e gritaram: Uma cobra, duas cobras! Realmente, duas cobras enormes de remexiam, irritadas, assanhadas, agressivas. Os meninos correram, o homem atirou numa cobra e depois na outra, com uma pistola de dois canos, calibre 44. Os dois tiros ecoaram forte na mata e os seus estampidos foram de quebrada em quebrada desaparecendo. O homem aproximou-se cauteloso. Havia matado dois “surucucus pico de jaca” cobra venenosa e terrível, que cresce dois metros e mora nas selvas. Um naturalista as classificou de cascavel da terra do cacau. Sua dentada é mortífera, não tem remédio, nem a reza cura...

            Assim como aqueles, se findavam muitos desbravadores, muitos fazendeiros de roça de cacau.

            E o paludismo, o tifo, a umidade das matas, os assaltos dos índios, mas tocaias traiçoeiras?

            Carlos Sousa sabia de tudo, isso contado pelos velhos moradores da terra. Tinha assim a noção de como a riqueza daquela terra, que Mares de Sousa falava no seu almanaque, se havia construído, com sacrifício, com martírio de uma geração, com trabalho audacioso e luta sem quartel.

            Hoje tudo se apresentava diferente.

            Até um médico vindo de Minas, de nome Coriolando Antunes, fazia consultas a prestação, recebendo de cada cliente, para assisti-lo e à família vinte cruzeiros por mês.


(TERRAS DE ITABUNA Capítulo V)

Carlos Pereira Filho


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PALAVRA DA SALVAÇÃO (24)

2º Domingo da Páscoa - 23/04/2017


Anúncio do Evangelho (Jo 20,19-31)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor.

Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”.

Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.

Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”.

Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe depois: “Vimos o Senhor!” Mas Tomé disse-lhes: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”.

Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”.

Depois disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel”. Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” Jesus lhe disse: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!”

Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.


— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.


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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a encenação do evangelho:

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Sinais da presença do Ressuscitado


 “Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor” (Jo 20,20).


As Aparições são a maneira mais convincente de transmitir a vivência daquilo que Jesus Cristo significou para os(as) primeiros(as) seguidores(as), depois da desoladora experiência de Sua paixão e morte. O que a primitiva comunidade quis transmitir foi a experiência de que Jesus Vive e, além disso, continua comunicando-lhes aquela mesma Vida da qual tantas vezes Ele lhes havia falado. E, ao tomarem consciência de que possuíam a verdadeira Vida, o medo da morte não lhes preocupava mais. A Vida que o Cristo Ressuscitado lhes comunicou, permanece. Esta é a mensagem de Páscoa.

Com o conceito de Ressurreição quer-se expressar, então, a mensagem de que a morte de Jesus não foi o final. Sua morte não foi a meta, senão que sua meta foi a Vida, uma Vida em Deus, a mesma Vida de Deus, como nos diz João: “O Pai que vive me enviou e eu vivo pelo Pai”.

Jesus não volta à vida. Está já na vida. Por isso os relatos pascais insistem em que Jesus não é uma recordação do passado, mas que está vivo e ativo entre os seus.

João usa o verbo “soprar sobre eles” para expressar a comunicação do dom da Vida, através do Espírito do Ressuscitado. É o mesmo verbo que aparece em Gen. 2,7: com aquele sopro o ser humano de barro se transformou em ser vivente. Agora Jesus lhes transmite o Espírito que dá verdadeira Vida. Trata-se de uma nova criação do ser humano. Sem essa Vida que vai mais além da vida, nada daquilo que diz o Evangelho teria sentido.
  
O Espírito recebido é o critério para discernir as atitudes e as ações que derivam dessa Vida. Essa nova Vida é capacidade de amar como Jesus amou; é “passar pela vida fazendo o bem” (At. 10,38); é força que arranca de tudo aquilo que desumaniza e oprime; é impulso para “estar entre os seus como aquele que serve” (Lc. 22,27).

Dando seu Espírito, Jesus quer que seu Projeto seja também realizado por todos os seus(suas) seguidores(as). Ele desvela no ser humano todas as suas possibilidades: transcender-se a si mesmo e ativar todas as potencialidades de vida ainda latentes.
  
“Viver como ressuscitados” implica esvaziar-nos do “ego”, para deixar transparecer o que há de mais divino em nosso interior. É preciso destravar portas e janelas de nossos estreitos lugares para que o novo Sopro do Ressuscitado areje nossa interioridade, ainda envolvida na sombra e no medo. Todos nós temos de passar e superar o mesmo processo vivido pelos discípulos e discípulas, se quisermos entrar na dinâmica da experiência Pascal. A fé no Ressuscitado não significa nada se nós mesmos continuamos vivendo uma vida atrofiada e sem horizontes.

Quem se experimenta a si mesmo como “Vida” é já uma pessoa “ressuscitada”. Nós vivemos já ressuscitados porque o Ressuscitado está em nosso meio, através do seu Espírito que dá a Vida. A Vida definitiva já está alentando nossa vida.

A Ressurreição de Jesus nos convida e nos convoca a um sentido maior de nossa existência e uma maior qualidade de vida em nossas relações. Há “sinais” de Ressurreição perpassando todas as experiências humanas. Da mesma forma como há sinais de morte, também há inúmeros sinais de vida saltando por todos os lados. Cabe a nós, portanto, prestar atenção a esses “sinais” para deixar-nos impactar por eles.

Os sinais da Ressurreição não são diferentes daqueles da Paixão, mas os mesmos: os cravos e a lança. Não nos enganemos, trata-se do Crucificado; Ele é o Ressuscitado. Não há outro modo de encontrá-lo e verificá-lo a não ser tocando a marca dos cravos e o seu lado traspassado. Só que agora quem o vê e o toca, sente a força que o Crucificado/Ressuscitado tem para libertar e curar, para sanar e levantar, para dar vida e vencer a morte. Suas cicatrizes são curativas e sanam aqueles que O contemplam e O descobrem no cotidiano da história. “Tocar” no Ressuscitado é “tocar” a carne dos feridos e excluídos de nosso meio.

Jesus Ressuscitado continua carregando em suas mãos, pés e lado, a ferida da história; não só as chagas dos cravos e o corte da lança em seu próprio corpo, mas a chaga dos enfermos e expulsos, dos famintos e oprimidos... e de todos aqueles que continuam sofrendo ao nosso lado.
  
Experimentamos a Ressurreição quando somos capazes de acreditar que a boa semente precisa morrer para dar frutos, isto é, que a vida bem vivida é aquela que está a serviço e que deve ser bem cuidada. A Ressurreição acontece quando alimentamos a pequena chama que ainda fumega nos corações desanimados, mas esperançosos; quando acreditamos no ser humano e em suas possibilidades de mudança; quando transformamos escuridão em luz, choro em dança, sofrimento em crescimento.

Vivemos a Ressurreição quando ajudamos os outros a encontrar razões para viver e alimentamos os sonhos por dias melhores, com pão na mesa de todos e com dignidade garantida. A Ressurreição acontece nos pequenos e simples gestos de partilha, de perdão sincero e de confiança alegre. Ela está presente nos corações que mantêm viva a novidade da vida. E se revela na capacidade de ver o mundo e as pessoas com olhar de misericórdia, que reconstrói a existência fragmentada.

Eis por que é fundamental o exercício do olhar transparente, da escuta atenta, da sensibilidade antenada... Importa contemplar o amor entre as pessoas, o cuidado do planeta, o sorriso das crianças, o sofrimento e as limitações humanas, a festa e a alegria, os rostos marcados pelo desgaste do caminho, bem como as lutas e as conquistas cotidianas. Tudo é mensagem, tudo se reveste de sentido.


A Ressurreição de Jesus toca nossa existência e nos possibilita experimentar o céu enquanto caminhamos pela terra, viver o divino misturado com o humano. Assim, o bem, a bondade e a solidariedade nos colocam na perspectiva do paraíso. A Ressurreição nos eleva e nos orienta para o Transcendente e para os valores mais altos, sem perder a simplicidade e complexidade de cada dia.

Ao entrarmos no mistério das coisas, pessoas e acontecimentos, somos banhados pela onda vital que emana de Deus. Dessa maneira, a vida nova resplandece e ilumina a escuridão da humanidade. A perspectiva da Ressurreição nos permite, portanto, dar um salto em direção à vida plena, ainda que marcada pela dor, pela cruz e pelos sinais de derrota.

Para os semeadores do bem, a vida é recompensa e fruto. E tem a última palavra...

Texto bíblico:  Jo 20,19-31

Na oração: 
* Preste atenção aos sinais de vida ao seu redor: gestos simples, iniciativas de pessoas e comunidades, posturas éticas e coerentes na política e na Igreja, solidariedade, perdão, acolhimento, voluntariado, cuidado de pessoas e do meio ambiente, etc...
 * Faça, diariamente, uma “leitura orante” dos acontecimentos pessoais, sociais, ecle-siais...
 * Quê mensagem de Ressurreição você encontra neles? Quê apelos você reconhece nessas experiências?


Pe. Adroaldo Palaoro sj


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