Solenidade da Santíssima Trindade – Domingo, 27/05/2018
Anúncio do Evangelho (Mt 28,16-20)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, os onze discípulos foram para a
Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado.
Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim
alguns duvidaram. Então Jesus aproximou-se e falou: “Toda a autoridade me
foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus
todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu
estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Paulo
Ricardo:
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Trindade: "Deus é plural"
“...batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo” (Mt 28,19)
A Igreja celebra, neste domingo, a Festa da Trindade, cume e
compêndio de todas as festas do ano: do Deus que é Pai, é Filho e é Espírito.
Assim, a festa de hoje vem plenificar o tempo pascal, como
uma espécie de “síntese”. Síntese, não intelectual, mas “misterial”, ou seja,
celebração de nossa participação no fluxo amoroso das pessoas divinas; pois
a SS. Trindade não é uma questão especulativa, é, sobretudo, uma
experiência de um Deus amoroso.
A liturgia nos convoca a viver a experiência do Deus
“comunhão de Pessoas”; para isso, ela nos convida a fazer uma viagem ao
interior de Deus, como vida de amor que se revela na história da humanidade,
vida entendida como Pai, Filho e Espírito Santo.
A imensa maioria dos cristãos não sabe que, ao adorar a Deus
como Trindade, está confessando que Deus, em sua intimidade mais profunda, é só
amor, acolhida, ternura, misericórdia. Essa viagem ao coração da Trindade
culmina na grande comunhão humana, pois o Deus Pai, Filho e Espírito integra no
amor todos os povos da terra. Dessa forma, a viagem ao interior de Deus se
converte em movimento ao exterior, no encontro expansivo com todos os homens e
mulheres. Quanto mais mergulhemos em Deus, comunidade de Amor, mais poderemos
expandir-nos em solidariedade, amor e justiça para com todas as pessoas, porque
o interior de Deus é princípio de reconciliação e unidade (na diversidade) de
todos os povos e raças do mundo.
Foi-nos dito que o dogma da Trindade é o mais importante de
nossa fé católica; no entanto, a imensa maioria dos cristãos não consegue
compreender o que ele quer dizer. Com a Trindade, nós cristãos não queremos
“multiplicar” Deus. O que queremos é expressar a experiência singular de que
Deus é comunhão e não solidão. “No princípio está a comunhão dos TRÊS e não a
solidão do UM” (L. Boff).
Aproximar-nos do Deus de Jesus é descobrir a Trindade. E em
cada um de nós a Trindade deixa-se refletir. Nossa vida deveria ser um espelho
que em todo momento refletisse o mistério da Trindade. O grande ensinamento da
Trindade é que só vivemos, se convivemos.
Viver a experiência do Deus Trino implica saber com-viver;
fomos feitos para o encontro e a comunicação. Estamos, portanto, falando de uma
única realidade que é relação. Deus-Trindade é a relacionalidade por
excelência; Deus só existe como ser em relação; Deus é só relação, porque Deus
é so amor. “No princípio está a relação” (G. Bachelard). E sendo Deus
essencialmente relação, não poderia permanecer fechado n’Ele mesmo; num
gesto de pura gratuidade, essa relação se manifesta como transbordamento
de vida, chamando toda a Criação à existência e convidando a
humanidade a entrar no fluxo dessa relação trinitária.
Mas, para nos aproximar do Deus comunhão de Pessoas, temos
de superar o ídolo ao qual nos apegamos. Sim, o “falso deus” identificado com
um ser poderoso que se manifesta como um déspota, um tirano destruidor, um
ditador arbitrário; um ser onipotente que ameaça nossa pequena e limitada
liberdade. É muito difícil abandonar-nos a alguém infinitamente poderoso.
Parece mais fácil desconfiar, ser cautelosos e salvaguardar nossa
independência.
Mas Deus Trindade é um mistério de Amor. E sua onipotência é
a onipotência de quem só é amor, ternura insondável e infinita. É o amor de
Deus que é onipotente. E sempre que esquecemos isso e saímos do fluxo do amor,
nós fabricamos um Deus falso, uma espécie de ídolo que não existe. A Trindade
não é uma verdade para crer mas uma presença a ser acolhida, uma experiência a
ser vivida.
Uma profunda experiência da mensagem cristã será sempre uma
aproximação ao mistério Trinitário.
A festa da Trindade deve nos libertar do “Deus Ser todo
poderoso” e empapar-nos do Deus Ágape que nos identifica com Ele. A imagem do
“Deus todo poderoso” não expressa bem a experiência do “Deus trino”. Deus é
amor e só amor. Só na medida que amemos, poderemos conhecer a Deus. Esta é
talvez a conversão que muitos cristãos mais precisam: fazer a passagem de um
Deus considerado como Poder a um Deus adorado alegremente como Amor.
Felizes aqueles que descobrem que a Trindade não é um mistério
incompreensível, mas a cotidiana experiência do Amor, a partir de uma vida
encarnada em nossa história, com um respiro, um ânimo e uma paixão especial por
continuar vivendo cada dia com os mesmos sentimentos de Jesus, junto a tantas
pessoas que trabalham por outro mundo mais fraterno, justo e solidário. A
Trindade é o espelho que nos mostra como devemos ser e viver à luz da “melhor
Comunidade”.
Ora, tal Mistério fonte de todo ser, constitui o modelo
ideal de todo e qualquer convívio humano. Somos feitos à “imagem e semelhança
da Trindade”. Trazemos em nós impulsos de comunhão. Sempre que
construirmos relações pessoais e sociais que facilitem a circulação da vida, a
comunhão de diferentes à base da igualdade, estaremos tornando visível um pouco
do mistério íntimo de Deus.
Deus quer inserir-nos nesta sua comunhão eterna, como no-lo
disse Jesus: “Que todos sejam um como Tu, Pai, estás em mim, e eu em Ti. Que
eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que Tu me enviaste” (Jo.
17,21).
Portanto, Trindade é a glória de Deus que se expressa na
vida da humanidade; é o Amor mútuo, a comunhão pessoal, de Palavra (Filho) e de
Afeto (Espírito Santo) que sustenta as relações entre os seres humanos. Assim é
a Trindade na terra: quando todos compartilham a vida e se amam. Não crê na
Trindade quem simplesmente professa que há “em Deus três pessoas”, ou quem faz
mecanicamente o sinal da Cruz, mas aquele que vive o impulso e a expansão do
Amor Redentor, que se expressa como compaixão, reconciliação e compromisso.
Crer na Trindade é amar de um modo ativo, como dizia S. Agostinho. Contempla-se
a Trindade ali onde nos amamos e nos comprometemos com a libertação do próximo.
Estamos envolvidos pelo mesmo movimento do Amor sem fim que parte do Pai, passa
pelo filho e se consuma no Espírito. Só quem tem coração solidário adora um
Deus Trinitário, pois no compromisso libertador torna-se visível a presença
trinitária.
Texto bíblico: Mt 28,16-20
Na oração: Como homem e como mulher trazemos uma força
interior que nos faz “sair de nós mesmos” e criar laços, construir
fraternidade, fortalecer a comunhão.
Fomos criados “à imagem e semelhança” do Deus Trindade,
comunhão de Pessoas. (Pai-Filho-Espírito Santo). Quanto mais unidos somos, por
causa do amor que circula entre nós, mais nos parecemos com o Deus Trindade.
- Em quê aspectos concretos de sua vida se manifesta o
mistério do Deus trinitário como amor e vida?
- Como poderia abrir-se mais à ação do Espírito da Verdade
em sua vida, para que o(a) leve a um conhecimento existencial e atualizado do
Evangelho de Jesus?
- Com quais iniciativas concretas você poderia contar para
que sua comunidade cristã seja cada dia mais imagem da comunidade de amor
infinito que é a Trindade divina?
- Quais diferenças estão criando divisões e intolerâncias em
sua comunidade? Quais elementos da vida comunitária são fatores de união,
fazendo-os crescer como irmãos(ãs) e fortalecendo a missão evangelizadora?
- Sua comunidade é sinal e instrumento de salvação de Deus
Trindade, através da iniciativa do amor (Pai), da entrega radical (Filho) e da
abertura à novidade dos caminhos de Deus (Espírito)?
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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