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sábado, 22 de setembro de 2018

A QUESTÃO DA JUSTIÇA – Dom Ceslau Stanula


Falta menos de um mês das importantes eleições no Brasil.

Um dos  estudiosos da Bíblia , Pe.Luis Alonso Schokel, espanhol, na sua introdução ao Livro da Sabedoria, da Bíblia do Peregrino, (Edição Paulus) chama este livro como "Tratado da teologia política". Não deixa de ser. A questão da justiça dos governantes é o tema bastante meditado nos livros sapienciais a qual pertence o da Sabedoria.

O discurso sobre justiça está provocado pela  injustiça praticada por eles e os grupos influentes, (partidos na época). O livro aponta e lembra que qualquer pessoa que tem autoridades e governa tem como obrigação de exercer e garantir a justiça entre o povo. O poder que recebem, seja governantes ou reis, recebem de Deus a quem deverão prestar conta nesta vida e na outra. "Escutai Reis e entendei! Instruí-vos juízes  dos confins da terra! Prestar atenção vós que dominais a multidão  e vos orgulhais de ter muitos súditos. O domínio vos vem do Senhor é o poder,  do Altíssimo , que examina às vossas obras e sonda as vossas intenções, se pois não governareis retamente, não observastes a Lei (....) Ele cairá sobre vós, terrível, repentino....." Sab.6,1ss).

Como seria bom e proveitoso para os nossos candidatos para os postos chaves da nação,  lessem e refletissem sobre estes textos, e a nós também, para que tivéssemos a consciência a quem entregamos o poder.

Bom dia. Com a oração e a minha benção.

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Dom Ceslau Stanula - Bispo Emérito da Diocese de Itabuna-BA, escritor, Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL

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UMA VOZ LÍMPIDA - Marco Lucchesi



Uma voz límpida

A edição da poesia escolhida de Vera Duarte Pina não podia ser mais tempestiva. Primeiro porque recolhe, na forma de arquipélago, as partes dispersas das ilhas de Cabo Verde, apontando para um sentido de unidade, um rosto, com o desenho de suas próprias mãos.

Em segundo lugar, porque uma antologia pessoal produz nova leitura, mais que um déjà-vu, causada pela vizinhança dos poemas – que agora dialogam face a face, e produzem uma terceira impressão –, pelo balanço entre os conjuntos ausentes e reconvocados.

A reinvenção do mar traduz variados níveis de leitura, a poética luso-brasileira e cabo-verdiana, formando um sistema, ao mesmo tempo, expandido e concentrado, único e plural.  Contudo, é a navegação de cabotagem que importa, nas águas internas de seu mediterrâneo, lírico e lúcido, feito de remoinhos e águas calmosas. Há muita vida nessas páginas, sob uma perfeita economia de meios, que não perde a voz: a morabeza das palavras, esse tratado de armistício e cultura da paz, que não esconde, muito embora, as armas da denúncia:  
  
“Em África nasce uma rosa/ Uma rosa entre cadáveres/ E dela brota um sol de sangue. / Rosa única de dor e revolta
E dela queda o sol de sangue”.

Uma geografia como ponto de partida, não de chegada, rosa áspera, cujo Sol deita sangue, em sua vertente misteriosa, espelho de povos que aderem ao novo estado de coisas. Sinto algo de Corsino Fortes, meu saudoso amigo, as lições de Maiakovski e Nazim Hikmet, acerca da generosa disposição anímica, onde o animal político não diminui o animal poético.

Não podia ser diferente, pois sua vocação vem de longe, ao sul de tudo, como lemos em poema manifesto, em que Vera deixa as impressões digitais sobre a página onde apresenta uma filosofia da composição:

“Não morri jovem, nem poeta
Mas não quero que o meu sorriso se esvaia/ E o meu coração deixe de bater./ O fascínio vem-me de longe,
De tão longe que lhe perdi o começo”.

Perder o começo, pois esse mar é feito de abismos de sentido, distintas camadas de significação.  Como disse Jorge de Lima, “há sempre um copo de mar para um homem navegar”.  Eis a metáfora transversal de seu país, que também divide este livro, em que o leitor respira os ventos que varrem as ilhas, num copo de mar, onde flutuam versos afortunados.

Mas é também sabido que nenhuma ilha é apenas, e em si mesmo, uma ilha, um descontínuo fechado, perdida num tempo infinito que não passa. Toda ilha é latência, espera e destino.

Os poemas de Vera encarnam uma profunda solidariedade entre os fenômenos, um descortino de analogias. Uma parte que vai de si para o mundo, e me refiro a uma erótica política, espécie de corpo métrico voltado para as dores do mundo e aos tempos que se cruzam justamente entre micro e macrocosmos. O abraço que cria e protege o universo, diante da metáfora, humana e real, que uma vez mais aponta para a África, cujo futuro não cessa de crescer,  olhos abertos para o novo, Pasárgada latente e necessária. Aqui a grandeza de Vera, uma das vozes mais límpidas e claras da poesia em língua portuguesa:

“Neste momento em que te amo/ Na Namíbia e no Zimbábue,/ Violam-se a cor dos feitos nas capitais dos impérios.
Neste momento em que te amo/ Eu e tu, sentados na ilha, no banco da praça, olhando o mar,/ Saberemos ser amor e no nosso abraço aquecer o mundo”.

Comunità Italiana, 20/09/2018


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Marco Lucchesi - Sétimo ocupante da cadeira nº 15 da ABL, eleito em 3 de março de 2011, na sucessão de Pe. Fernando Bastos de Ávila , foi recebido em 20 de maio de 2011 pelo Acadêmico Tarcísio Padilha. Foi eleito Presidente da ABL para o exercício de 2018.

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