22 de maio de 2019
Paulo Henrique Américo de Araújo
Todos os anos, no dia 8 de março, uma enxurrada de
reportagens nas diversas mídias comemora o chamado “Dia Internacional da
Mulher”. O ano de 2019 não deixaria de trazer a cantilena de sempre, e o
sentido de revolta contra as normas católicas de comportamento se repete na
leitura de qualquer publicação sobre o tema.
Bem significativa, neste sentido, é a informação do “Correio
Brasiliense” sobre uma manifestação feminista no centro de Brasília,1 na
data mencionada. Jolúsia Batista, uma das organizadoras, ressaltou os objetivos
do ato: “É dia de expressar uma luta organizada. Mas a luta é diária. Somos contra o conservadorismo do
governo atual e contra o fundamentalismo cristão. Somos pró-legalização do
aborto e contra a reforma [da previdência] como está, pois agrava o cenário,
principalmente para as mulheres. Somos contra qualquer tipo de retrocesso”.
Não é meu intento analisar aqui o conteúdo da declaração (ou
a ausência dele), nem fazer comentários sobre a agenda das manifestantes.
Deixemos de lado esses aspectos, pois todos estamos saturados desse feminismo
tacanho, distorcido e anticatólico. Em face dos devaneios feministas, parece-me
a melhor iniciativa opor a eles exemplos de atitudes que ressaltam o real valor
das mulheres. Lembrar modelos contrários ao do feminismo tem o efeito salutar
de desintoxicar as pessoas do veneno que ele vem disseminando. E se as pessoas
se deixarem desintoxicar, é bem possível que no futuro as comemorações do dia
internacional da mulher realmente enalteçam as virtudes femininas
características.
Alta nobreza na atitude de uma mulher
Um desses exemplos me caiu recentemente nas mãos, com a
leitura das memórias da grã-duquesa Maria Pavlovna da Rússia,2 prima-irmã
do último czar Nicolau II. Nascida em 1890, ela viveu durante o auge da crise
do Império Russo, passando pela Primeira Guerra Mundial, e finalmente pelas
trágicas convulsões da revolução comunista. Com muita dificuldade ela conseguiu
escapar da Rússia, ao mesmo tempo que os bolcheviques massacravam os membros da
nobreza, inclusive seu próprio pai.
O período que nos interessa compreende a grande guerra de
1914-18. Como muitas mulheres da mais alta nobreza, a grã-duquesa Maria se
engajou como voluntária para o serviço de enfermaria das tropas russas. Exerceu
essa função com máximo empenho, durante quase todos os quatro anos do terrível
conflito. No início, como simples auxiliar de enfermagem, e depois como
enfermeira, procurando ocultar sua identidade para poder trabalhar em qualquer
tarefa que lhe fosse requisitada, além de evitar lisonjas ou louvores. Depois,
como seu prestígio e experiência aumentassem, assumiu o comando de um
importante hospital de campanha.
Um pequeno episódio revela como, apesar de ser prima do
imperador, Maria não procurava ostentar sua posição diante das tropas. No
início da guerra, em uma aldeia perto do front de batalha, acabara de
chegar um oficial com a mão ferida. Ao ver o grupo de enfermeiras, das quais
uma era a princesa, ele perguntou:
— Irmãzinhas, não tereis por acaso uma atadura limpa para
trocar o meu curativo?
O oficial não distinguia a grã-duquesa entre as enfermeiras.
O tratamento que ele usou (irmãzinhas) para se dirigir a elas se explica pelo
fato de as enfermeiras se trajarem à maneira de freiras. Maria se ofereceu de
imediato para trocar o curativo. Enquanto o fazia, outro militar se aproximou
sem que ela percebesse, e perguntou:
— Vossa Alteza Imperial permite que eu a fotografe?
Confusa, a princesa-enfermeira voltou-se, reconheceu o
militar, e suplicou:
— Não, não faça isso, pelo amor de Deus!
Logo ela notou que a mão ferida da qual cuidava começou a
tremer. O oficial ferido examinava-lhe atentamente o rosto, abaixando o olhar
mais de uma vez, antes que o curativo estivesse concluído. A princesa
permanecia em silêncio.
— Permite-me agora que lhe pergunte quem é? Indagou o
oficial.
Maria não via mais motivos para ocultar seu nome, e após a
revelação, o ferido outra vez lhe perscrutou o rosto em silêncio, e repentinamente
ajoelhou-se na calçada, diante de todos, tomou nas mãos a barra do vestido da
princesa e o osculou. Ela mesma conta que ficou perturbadíssima; e sem olhar
para o oficial, sem despedir-se, fugiu em direção à farmácia.
Este belo fato revela muito mais do que a manifestação do
respeito e admiração dos russos pelos membros da nobreza. Também não se trata
apenas de um episódio no qual a força militar — a força física, diríamos —
reconhece a superioridade de uma frágil enfermeira. Há no episódio algo mais
revelador da mentalidade do russo, que a própria grã-duquesa explicita em suas
memórias:
“A atitude dos soldados em relação a nós [enfermeiras] era
profundamente tocante. Dir-se-ia que personificávamos para eles tudo o que lhes
era caro, tudo o que lhes tocava o coração. Com nossas toucas brancas,
representávamos de certo modo esse ente feminino superior, no qual se
reúnem as qualidades de mãe e de esposa completadas pelas de religiosa,
concepção especialmente apreciada pelo povo russo”.
Aí está! A superioridade feminina se expressa justamente
naquilo que ela tem de autêntico. Superioridade essa invariavelmente rejeitada
pelas feministas radicais de hoje. Pergunto-me qual seria a reação daquelas
manifestantes do dia 8 de março, se alguém lhes propusesse realçar esse tipo de
elevação feminina…
Thomas Bruce o assassino de Jamie Schmidt (foto abaixo). No
fundo, o lugar do crime.
Ato heróico de uma mulher não feminista
Cito outro exemplo, agora dos dias atuais.3 Em novembro
de 2018, Jamie Schmidt entrou numa loja de artigos religiosos católicos na
cidade de Saint Louis, Estados Unidos. Duas funcionárias ali trabalhavam na
ocasião. Momentos depois, Thomas Bruce chegou ao estabelecimento, trocou
algumas palavras com as mulheres e saiu da loja. Depois tornou a entrar, mas
desta vez armado com uma pistola.
Diante da ameaça, as duas funcionárias foram obrigadas a se
despir, e em seguida foram abusadas sexualmente pelo canalha. Jamie – católica
praticante, casada e mãe de três filhos – forçada a permanecer num canto da
loja, testemunhou a horrível cena. Thomas então se aproximou, e apontando-lhe a
arma, ordenou que ela também se despisse. Tudo que havia ocorrido com as outras
duas mulheres se repetiria, mas…
Em momentos drásticos como esses surgem demonstrações de
força de alma e personalidade que impressionam. O mais fácil para Jamie seria,
talvez, tentar convencer o malfeitor com palavras meigas ou lágrimas
desesperadas, numa chance de apaziguar seu ímpeto tresloucado; ou simplesmente
ceder diante do perigo, e se deixar agredir sexualmente.
Não! Essa autêntica católica escolheu enfrentar a situação
com uma dignidade cheia de fé – uma nova mártir da pureza, a exemplo de Santa
Maria Goretti. A resposta à ordem do agressor foi pronta e irredutível:
— Em nome de Deus, eu não vou tirar minhas roupas!
Jamie Schmidt
O abusador deve ter percebido que ali não haveria meio termo
nem acordo. Só lhe restava um único recurso: a violência. Disparou à
queima-roupa contra o peito da mulher. Por mais paradoxal que possa parecer,
essa atitude covarde revela quem só tinha mais força física: Jamie, obviamente!
Ela morreu minutos depois, numa ambulância a caminho do hospital. Nos últimos
suspiros, testemunhas ouviram Jamie recitar o Padre-nosso. O monstro-agressor
foi preso após fugir, e responde pelo crime bárbaro diante dos tribunais.
Espera-se que seja condenado à pena de morte.
Algum movimento feminista se lembrou da atitude honrada de
Jamie Schmidt? Por que não exaltar o ato heroico daquela mulher, no dia
internacional da mulher? Não espere nada disso, pois há muita coisa distorcida
no movimento feminista…
Em razão de tudo isso, o site Returntoorder,
impulsionado pela TFP norte-americana, está ajudando a promover uma campanha de
substituição do dia internacional da mulher por outro muito diferente: o Lady
Day. “A alternativa católica é chamada de Lady Day [Dia da Senhora ou da
Dama]. O tema de 2019: ‘Comemorando a pureza e a coragem das mães’. […] Uma
resposta positiva, jubilosa e esperançosa no sentido de celebrar e honrar o
plano de Deus para as mulheres, enquanto mães puras e corajosas”.4
Nada melhor do que o atualíssimo exemplo de Jamie Schmidt
para contrapor à revolução feminista e ao seu fraudulento e midiático dia
internacional da mulher.
__________________
Notas
Memórias, Maria, grã-duquesa da Rússia, Livraria José
Olympio Editora, Rio de Janeiro, sem data de publicação.
* * *