6 de dezembro de 2018
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Padre David Francisquini *
Tanto pelo seu cerimonial quanto pelo sacrifício que nela se
realiza — a renovação e perpetuação do próprio holocausto do Calvário —, a
Santa Missa é um mistério tão sublime, que sua grandeza e esplendor, sua
santidade e profundidade, sua nobreza e excelência ultrapassam o conhecimento
dos mortais. No entanto, tudo isso está contido nessa celebração que é o centro
da Igreja Católica Apostólica Romana enquanto instituição divina.
A Missa, por sua ação sacrifical, representa simbolismo
único ao indicar que o próprio Deus enviou a Vítima para redimir e salvar o
gênero humano. No Gólgota, Jesus Cristo morreu uma só vez por todos, com o
derramamento de seu sangue e de sua morte física. No altar, essa imolação é
renovada diariamente de forma incruenta, e os seus infinitos frutos são
aplicados aos membros da Igreja, misticamente, sob as espécies do pão e do
vinho.
O santo sacrifício tem por finalidade honrar a Deus como
convém num ato de adoração, render-Lhe graças pelos benefícios recebidos,
aplacá-Lo e dar-Lhe a devida satisfação pelos nossos pecados,a fim de
alcançarmos todas as graças necessárias à nossa eterna salvação.
Missa significa enviada, de acordo com São Tomás
de Aquino. “Ide, o envio está feito”, ou, no sentido literal, “ide,
foi enviada”. Daí deriva o nome de missa. “Ite missa est“, a Vítima é
enviada por meio de um Anjo para que seja aceita por Deus.
Nesse ato litúrgico adornado e enriquecido por sinais,
gestos, orações, reverências e cruzes há uma beleza encantadora para a piedade
cristã. O que se realiza não são apenas simbolismos, mas uma realidade, pois o
próprio Cristo é sacerdote e vítima, através da ação ministerial do celebrante.
Até as alfaias sacerdotais utilizadas nesse cerimonial embelezam a Missa, pela
variedade de simbolismos. O sinal da cruz na casula do paramento românico [foto
acima] indica tratar-se de um sacrifício que está sendo renovado.
Cabe salientar que a Missa tradicional é de uma riqueza
incomparável no campo litúrgico, exegético, moral e teológico, constituindo um
verdadeiro tratado dessas matérias. Ela invoca a intercessão dos santos, da
Virgem Maria e dos santos exponenciais do sacrifício do Antigo Testamento, que
se perpetua ao longo dos séculos.
Com efeito, não há um ato mais excelente na Terra do que a
Missa, por se tratar do sacrifício do Homem-Deus que se renova em nossos
altares debaixo das espécies do pão e do vinho, sendo o sacrifício da antiga
Lei prefigura do sacrifício de Cristo. Por isso exclamava o Salmista que suas
delícias estavam na casa de Deus, a alegria da sua juventude.
Então, o júbilo dos filhos de Deus é o de se encontrar com o
Senhor dos Exércitos, que Se imola e Se oferece a Deus Pai. Ao estarem na casa
do Senhor, seus pés não param, porque a casa de Deus está edificada como uma
cidade cujas partes estão em perfeita e mútua união.
Em seu livro As excelências da Santa Missa, São
Leonardo de Porto-Maurício, da Ordem dos Frades Menores, narra que Santo
Isidoro, simples lavrador [ao lado, sua imagem em azulejos] , tomava o cuidado
de nunca faltar à Missa pelas manhãs. Deus, para demonstrar-lhe o quanto
prezava essa devoção, mandava seus anjos lavrar o campo de Isidoro enquanto ele
se encontrava na igreja.
Não é de esperar que Deus faça para o comum dos fiéis
milagres tão sensíveis e de tal monta, mas de muitas maneiras irá Ele
recompensá-los por esse ato de piedade.
Outro exemplo citado na mesma obra é o de São Venceslau, Rei
da Boêmia, que com muita humildade fazia questão de acolitar diariamente a
Missa. Além de presentear as igrejas com joias preciosas de seu tesouro,
costumava confeccionar com as próprias mãos as hóstias destinadas ao Santo
Sacrifício. E sem diminuir em nada a sua dignidade real, cultivava um trigal, e
desde a preparação da terra até a colheita, ele próprio moía os grãos,
preparava a farinha e as hóstias e as apresentava aos sacerdotes para se
tornarem o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Jesus Cristo.
Como é bom o Senhor, que fez maravilhas e Se entregou a nós
em sacrifício para expiação dos nossos pecados! Não há como explicar e nem
sequer realçar a grandeza do sacerdócio católico, porque é outro Cristo que
imola em união com Ele esse sacrifício perene que liga Deus aos homens. Com
efeito, nem os Anjos possuem tal poder.
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(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria (RJ).
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