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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O QUE A MEMÓRIA AMA, FICA ETERNO - Adélia Prado




Quando eu era pequena, não entendia o choro solto da minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender. O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.

 É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.

Diante do tempo envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Porém, para a memória ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão perto, nossos pais ainda vivem.

Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.

 A capacidade de se emocionar vem daí: quando nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira. Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você – foi o fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de uma fossa – e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, àquela época...

Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos – já adultos ou até idosos – e voltando a se comportar como adolescentes bobos e imaturos. Encontros de turma são especiais por isso, resgatam as pessoas que fomos, garotos cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e debilóides, como éramos há 20 ou 30 anos. Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos... mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.

 A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem eles percebem que crescemos. Seremos sempre "as crianças", não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos. Prá eles a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das estórias contadas ao cair da noite... ainda são muito recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.

 Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas. Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na dor. Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando. Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme, uma música antiga, um lugar especial.

Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve, daqui seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram.

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Adélia Luzia Prado de Freitas (Divinópolis13 de dezembro de 1935), mais conhecida como Adélia Prado, é uma poetisaprofessorafilósofa e contista brasileira ligada ao Modernismo.
Sua obra retrata o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único. Em 1976, enviou o manuscrito de Bagagem para Affonso Romano de Sant'Anna, que assinava uma coluna de crítica literária no Jornal do Brasil. Admirado, acabou por repassar os manuscritos a Carlos Drummond de Andrade, que incentivou a publicação do livro pela Editora Imago em artigo do mesmo periódico.
Professora por formação, ela exerceu o magistério durante 24 anos, até que a carreira de escritora tornou-se a atividade central. Em termos de literatura brasileira, o surgimento da escritora representou a revalorização do feminino nas letras e da mulher como ser pensante, tendo-se em conta que Adélia incorpora os papéis de intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa.

(Wikipédia)

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QUAL A ATITUDE CATÓLICA FRENTE AOS ESCÂNDALOS NA IGREJA?


28 de Fevereiro de 2019

♦  Fonte: Revista Catolicismo, Nº 818, Fevereiro/2019
Resposta do Padre David Francisquini

Pergunta — A mídia vem noticiando, com frequência cada vez maior, casos escandalosos de abusos sexuais por parte de clérigos, o que leva alguns a duvidarem da Fé católica e se afastarem da Igreja, ou pelo menos da prática religiosa. Outros dizem que seria melhor eliminar o celibato sacerdotal, alegando que ele é o responsável por tais abusos. Qual a melhor defesa que um católico pode fazer da Igreja nessa situação constrangedora? Esses fatos podem ser denunciados, ou isso equivaleria a levar água para o moinho dos inimigos da Igreja?

Resposta — Começamos por esclarecer que nem todas as denúncias de abuso divulgadas pela mídia ou investigadas pela Justiça são verdadeiras. Sabe-se que em muitos países os veículos de divulgação, como também muitas autoridades da Justiça, são hostis à Igreja Católica, e vão acusando e condenando sacerdotes e prelados sem ouvi-los, desrespeitando assim a presunção de inocência de que goza qualquer acusado até o julgamento.

É inegável, contudo, que muitas das investigações confirmaram grande número de casos de abuso sexual por parte de clérigos, incluindo bispos e até mesmo um cardeal de muito destaque. Revelou-se ainda a existência de verdadeiras redes de corrupção dentro de alguns seminários e em organismos ligados à Igreja.

O celibato sacerdotal nada tem a ver com a difusão dessa praga moral do abuso sexual. Estudos estatísticos sérios provam que em mais de 80% dos casos trata-se de abusos de adolescentes ou de jovens de sexo masculino por parte de clérigos homossexuais. Um estudo, em particular, provou que o número desses abusos cresceu exatamente na mesma proporção em que aumentou o número de pessoas com atração homossexual nas fileiras do Clero.

A arca de Noé continha animais puros e impuros

A Arca de Noé, que continha animais puros e impuros
(Gn 7, 2; 1 Pd 2, 6; cfr. At 10, 9; 11, 4-18), era também
uma imagem e semelhança desta Igreja [militante].

Essa infiltração se deu de modo especial a partir da década de 1960, devido ao relaxamento nas condições para a admissão nos seminários e na disciplina destes, bem como pela relativização da Moral nos estudos de Teologia após o Concílio Vaticano II. Contribuiu também a difusão da chamada “homo-heresia”, ou seja, o erro de afirmar que a atração homossexual não é contrária à natureza, e que as relações homossexuais são lícitas.
  
Não é a primeira vez na história da Igreja que a heresia e a corrupção moral se espalham como câncer entre os que são chamados a ser “o sal da terra” e “a luz do mundo” (Mt 5, 13-14). Mas, em cada circunstância, os Papas e os Santos conseguiram reformar o Clero e restaurar tanto a disciplina eclesiástica como a pureza dos costumes, que deve caracterizar os ministros de Deus. No tenebroso período que atravessamos hoje, essa necessária reforma moral das fileiras do Clero e da Hierarquia nem sequer começou.

Diante desses escândalos, e para fortalecer a nossa fé, convém relembrar que, de acordo com o Catecismo do Concílio de Trento, a Santa Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo não é como a imaginavam Lutero e seus sequazes, ou seja, como uma comunidade puramente espiritual e constituída somente por justos que têm fé.

Ao falar da Igreja militante — “o conjunto dos fiéis que ainda vivem na Terra” —, diz o referido Catecismo: “Há na Igreja militante duas categorias de homens: bons e maus. Certo é que os maus participam, com os bons, dos mesmos Sacramentos, professam a mesma fé, mas não lhes são semelhantes nem na vida, nem nos costumes”. Mais adiante, ainda repete: “A Igreja comporta não só os bons, mas também os maus. Assim o demonstra o Evangelho por muitas parábolas, quando diz, por exemplo, que o Reino dos céus – isto é, a Igreja militante – se compara a uma ‘rede lançada ao mar’ (Mt 13, 47); a um ‘campo semeado em que se espalhou joio’ (Mt 13, 24); a uma ‘eira, na qual o trigo se acha misturado com a palha’ (Mt 13, 12; Lc 3, 17); a ‘dez virgens’, umas loucas, outras prudentes (Mt 25, 1). Muito antes [de tais parábolas], a Arca de Noé, que continha animais puros e impuros (Gn 7, 2; 1 Pd 2, 6; cfr. At 10, 9; 11, 4-18), era também uma imagem e semelhança desta Igreja [militante]. A fé católica sempre ensinou, expressamente, que à Igreja pertencem bons e maus; não obstante, devemos explicar aos fiéis cristãos, em virtude das mesmas normas de fé, que entre ambas as partes há grande diferença de condição. Os maus assistem na Igreja, à semelhança da palha que na eira se mistura com o trigo; ou, como os membros quase mortos, às vezes continuam ligados ao corpo”.

Pagãos, hereges, cismáticos e excomungados não pertencem à Igreja

Henrique VIII, negando a supremacia do Papa,

se distanciou da Igreja Católica até cair em heresia,
dando origem à igreja anglicana.
Retrato de Henrique VIII (detalhe)
Hans Holbein, O Jovem, séc. XVI.
Walker Art Gallery, Liverpool, Reino Unido


Em consequência, conforme continua o mesmo Catecismo, somente três classes de homens estão excluídas da comunhão com a Igreja: os pagãos, que nunca estiveram no seu seio; os hereges e cismáticos, porque apostataram; e os excomungados que foram excluídos judicialmente, enquanto não se reconciliarem com Ela. E acrescenta sabiamente, referindo-se de modo específico aos pastores que levam vida má, mas nem por isso perdem sua autoridade dentro da Igreja: “Quanto aos demais, não há dúvida que continuam ainda no grêmio da Igreja, apesar de maus e perversos. Sejam os fiéis bem instruídos neste ponto, para que tenham a firme convicção de que os prelados da Igreja continuam no grêmio da mesma, não obstante qualquer deslize moral; e que nem por isso lhes fica diminuída a jurisdição [eclesiástica]”.

Acrescenta ainda o Catecismo que o fato de haver no seio da Igreja membros maus, e até pastores que dão escândalo, não lhe diminui em nada a santidade, porque a santidade lhe vem do fato de ser “consagrada e dedicada a Deus” (Lv 27, 28-30); de estar “unida como corpo a uma Cabeça santa, a Cristo Nosso Senhor (Ef 4, 15-6), fonte de toda a santidade (Dn 9, 24; Is 41, 14; Lc 1, 35); e da qual dimanam os dons do Espírito Santo e as riquezas da bondade divina (Ef 2, 7; 3, 8; 3, 16-19)”; e também do fato de Ela ser a única a possuir “o culto legítimo do Sacrifício e o uso salutar dos Sacramentos”, que são “os meios eficazes, pelos quais Deus opera a verdadeira santidade”. O Catecismo ainda acrescenta: “É impossível haver verdadeiros santos fora desta Igreja”.

A Igreja é santa, apesar dos numerosos pecadores

O Catecismo conclui: “não é de estranhar que a Igreja tenha o nome de santa, apesar de haver nela muitos pecadores. Pois são chamados santos os fiéis que se fizeram povo de Deus (1 Pd 2-9; Os 2, 1), e que pela fé e a recepção do Batismo se consagraram a Cristo, embora sejam fracos em muitos pontos e não cumpram o que prometeram”.

Sendo de fé que a Igreja é santa, mas nela há muitos pecadores junto aos bons, não é preciso cobrir com um manto de silêncio os pecados de seus membros que se tornaram públicos, e que dão escândalo aos fiéis (e até aos infiéis). Nas situações históricas em que a imoralidade do Clero se generaliza, e às vezes é até aceita como normal pelas autoridades eclesiásticas, a denúncia pública desse câncer por parte dos fiéis é benéfica e pode tornar-se até obrigatória, por ser o primeiro passo para a necessária reforma.

A esse respeito, no livro Igreja e homens de Igreja o teólogo passionista Pe. Enrico Zoffoli escreve: “Não temos nenhum interesse em cobrir as culpas dos maus cristãos, dos sacerdotes indignos, dos pastores vis e ineptos, desonestos e arrogantes. Seria ingênuo e inútil o intento de defender sua causa, atenuar suas responsabilidades, reduzir o alcance dos seus erros ou fazer uso do ‘contexto histórico’ e de ‘situações específicas’, com a pretensão de tudo explicar e tudo absolver”.


A Igreja Triunfante – Fra Angélico, 1423. National Gallery, Londres.


Como dissemos, a veracidade e a santidade da Igreja Católica não dependem da virtude dos seus filhos, os quais, por fraqueza ou por maldade, podem tornar-se infiéis ao seu Batismo, à sua ordenação sacerdotal, à sua sagração episcopal, ou até mesmo ao seu ministério petrino (a história registra, infelizmente, não poucos casos de Papas que deram grande escândalo). E isso porque a santidade da Igreja provém da sua condição de Corpo Místico de Cristo. Basta, portanto, que um “pequeno rebanho” (Lc 12, 32-34) permaneça inteiramente fiel aos ensinamentos de Nosso Senhor em meio à corrupção geral – como já aconteceu, por exemplo, nos séculos IV e XI –, para que a Igreja não só permaneça santa, mas cresça ainda em graça e santidade, como o Divino Mestre na sua vida terrena.

Nas aparições de 1848, Nossa Senhora afirmou em La Salette que os sacerdotes tinham se tornado cloacas de impureza. Peçamos a Ela o envio de almas generosas, que dia e noite implorem misericórdia e perdão para o povo, a fim de que Deus se reconcilie com os homens e Jesus Cristo seja novamente servido, adorado e glorificado.
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1 comentário

José Antonio Rocha
28 de Fevereiro de 2019

Amém. Os escravos de satanás não vencerão. Não tenhamos medo. Deus é mais forte que todo o mal. Jesus Cristo venceu o mundo, a morte e o pecado. O imaculado coração da Virgem Maria triunfará. Amém.


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