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quinta-feira, 15 de junho de 2017

JUNHO MÊS DE MACHADO DE ASSIS (IX)

Machado de Assis, em destaque, em meio a um grupo de intelectuais, políticos e escritores. Fotografia do acervo da Biblioteca Nacional

Carolina


Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores – restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.


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Wilson Martins

Leituras machadianas 



Gazeta do Povo, Curitiba, PR 

26 de Abril de 1999 

 

           Na imensa bibliografia machadiana, são raros e, por isso mesmo, tanto mais valiosos, os estudos críticos dignos de Machado de Assis. Situando-se entre os melhores e mais estimulantes, os de Alfredo Bosi (Machado de Assis: o enigma do olhar. São Paulo: Ática, 1999) abrem, de fato, novas avenidas de compreensão e análise do adjetivo "machadiano", sobre o qual, escreve com evidente ironia, "as interpretações variam", embora todos acreditem saber "mais ou menos" o que significa. Antes menos que mais, acrescento desde logo, a julgar pelo que andamos lendo nestes dias. É um pouco como o bom-senso, a coisa deste mundo mais bem distribuída, dizia Descartes com ironia não menor, porque ninguém jamais se queixou de não tê-lo em quantidade suficiente.

            Mas, justamente: incontáveis leitores de Machado de Assis acreditam que basta o bom-senso para julgá-lo, reduzindo-o ao nível intelectual da humanidade comum, treslendo-o com entusiasmo e retórica veemência, acrescentando-lhe glosas fantasistas e sugerindo que, afinal de contas, não foi ele quem escreveu as suas obras, mas sim a talentosa Dona Carolina. Os espíritos geométricos não se conformam com a ambiguidade, que era a sua maneira própria de afirmar, enquanto as almas sensíveis repudiam o darwinismo social que constituía o fundo do seu pensamento e visão do mundo.

            Alfredo Bosi observa, com agudeza, existir "algo de darwiniano" na sua concepção da existência humana: "é o universal animalesco que estaria dentro de cada um de nós, daí o embate contínuo pela preservação moldado sobre a luta biológica: quem não pode ser leão, seja raposa" (alusão a uma passagem clássica de maquiavel, "fundador da ciência política moderna;). A famosa filosofia do Humanitismo, na qual os leitores superficiais viram apenas a sátira do positivismo republicano então triunfante, é, na verdade, a transcrição machadiana do darwinismo social: os vencedores ficam com as batatas por serem os mais fortes, os mais qualificados para garantir a perpetuação da espécie.

            Não se limitou a essa exposição didática o pensamento machadiano. Nas palavras de Alfredo Bosi, "há no Memorial desses momentos que se abrem para aquelas vertigens de neatividade que nos acometem lendo as Memórias póstumas: Ronda Aires, como rondava Brás Cubas, a tentação impaciente, a tentação violenta de se identificar com a Sociedade e a Natureza tal como as figurava a ideologia terrível do 'darwinismo social'. Para esta, o morto é apenas matéria morta, e seu único destino é o esquecimento." Tudo isso em dois livros escritos sob o signo da memória, mas também sob o signo da Natureza indiferente, personagem emblemática em outros dois textos: o delírio de Brás Cubas e o poema "Uma criatura".

            O que tem faltado aos intérpretes fragmentários de sua obra (como os que se obstinam no inexistente "enigma de Capitu") é a leitura orgânica e remissiva da obra inteira, cuja coerência interior chega a ser surpreendente. Até a organicidade textual dos romances costuma passar despercebida. Assim, toma-se por declaração de misantropia a última linha do Brás Cubas (cap. CLX), quando ela apenas reflete o despeito e a nostalgia da paternidade do personagem que se encantara com a notícia da falsa gravidez de Virgìnia, chegando, como todos os pais putativos, a imaginar futuros brilhantes e vitoriosos para a criança que ia nascer. Só se pode realmente compreender essa página de um capítulo intitulado "Das negativas, [sic] se a lermos no contexto de quatro capítulos anteriores: "O mistério; (LXXXVI), "O velho colóquio de Adão e Caim, (XC), "A causa secreta; (XCIV) e "Flores de antanho; (XCV).

            Que Machado de Assis pertencia à família espiritual dos grandes moralistas fica documentado nos excertos que Alfredo Bosi teve a ideia tanto mais feliz de transcrever em apêndice quanto não será temerário supor que não são lidos entre nós com a assiduidade necessária. Entre eles o Matias Aires das Reflexões sobre a vaidade dos homens, de onde provém outra "camada" caracteristicamente machadiana, didaticamente representada no "mais célebre dos seus contos-teoria"; ("O espelho"): "Tirada a insígnia, o que fica é o homem simples; despida a toga consular, também fica o mesmo. Se tirarmos do capitão a lança, o casco de ferro, e o peito de aço, não havemos de achar mais do que um homem inútil, e sem defesa, e por isso tímido e covarde."

            Ora, a mesma situação de "alma exterior" encontra-se em Dom Casmurro, quando Capitu, "em plena lua-de-mel, mostra-se impaciente e quer descer da Tijuca para a cidade". A causa da impaciência, comenta o narrador, "eram os sinais exteriores do novo estado. Não lhe bastava ser casada entre quatro paredes e algumas árvores; precisava do resto do mundo também." Episódio corroborado por muitos outros, sem excluir a natureza de diversas figuras femininas, como Sofia e a Guiomar de A mão e a luva, novela em que se encontra o embrião de Dom Casmurro, além da "teoria matrimonial" do autor: temperamentos afirmativos (Luís Alves e Guiomar) fazem os casamentos felizes, o que não ocorre entre um temperamento afirmativo (Capitu) e um passivo (Bentinho). Daí o corolário do adultério: Capitu e Escobar viram-se atraídos um pelo outro, pelo tropismo irresistível das almas gêmeas. O próprio Bentinho se encarregou de esclarecê-lo: ela era mais mulher do que ele mesmo era homem.
 



* * *

PROSA CORRIQUEIRA, por Ellen Pederçane


Foto: da autora

Sem firulas, assumamos, a gente sofre mesmo por amor. Tanto quando ele vai, quanto quando ele demora em demasia para chegar. Demora essa que seja de 10 horas ou 5 anos, parece eterna. E quem é que quer esperar? Quem gosta? Não importa. Esperar é parte da existência e ninguém está sozinho nessa doce loucura de ansiar um amor.


Ei você, olha aqui. Sua espera não é só. Tem uma galera no mesmo barco que você. Não é fácil mesmo essa coisa de esperar um amor. Veja só quantas pessoas estão por aí caminhando e querendo tropeçar nele? Ah, um amor dos grandes, viu? Eu sei, bem lá no fundo todo mundo sonha com isso. Conheço essa ansiedade que não deixe seu coração sossegar. Aquelas noites mal dormidas chorando amores que pareciam tanto ser aquele que você sonhou. É uma tarefa árdua seguir acreditando. Coração tantas vezes iludido, mas pensemos desta forma: é melhor acreditar e dar chance as oportunidades do que vê-las passando e nada fazer.

Alguns dias são pesados, eu sei. Bate aquela carência e você começa a inventar qualidades para aquele ser que não teve a decência de olhar você com verdade, com vontade de se deixar ver o mundo dentro dos seus olhos. Não fique aí pensado que você é exigente demais só porque querer alguém que queira mergulhar fundo como você. Alguém que queira estar (presente) contigo. Tem gente se contenta com o raso e você não precisa fingir ser essa pessoa para passar menos tempo só. Tenha calma. Erre. Se perdoe. Viva. Sonhe. Faça. Voe. Se jogue. Tudo isso faz parte, vá com calma! Essa pressa toda foi algo que colocaram na sua cabeça.

É... dá um vazio. Às vezes. A casa vazia, a cama vazia e você não sabe quando vai chegar esse alguém que é tão esperado. O coração fica fragilizado, alguns dias o amor que você carrega no peito vira lágrima. Tudo bem esses dias também passam. Ok, isso não diminui essa agonia que é ter que passar por cada um deles. Não há muito o que se fazer, é um dia de cada vez, não é mesmo?

Tem aquele dia que você corre para sua melhor amiga e queria só um “bora ali se afogar as mágoas”, mas ela vem como um sermão que você não quer ouvir. Não que você não precise ouvir, mas naquele momento é verdade demais, você queria esquecer por um breve espaço de tempo o que seu coração anseia. E também aquele outro dia em que amigo que te ajudou tanto a amar a vida de solteiro, de repente, se apaixona e você volta a sentir aquela pontinha de vazio que estava adormecido em algum lugar do seu novo mundo. É aquela hora de encarar e conviver com essa realidade que está dentro de você. Lembre-se: é um estado de espírito, não te faz um solitário.

Pode não ser agradável ouvir, mas aquele papo de amor-próprio funciona muito mais do que a gente imagina. Já começa diminuindo aquele vazio que teima a aparecer vez outra. Fora que você está esperando aquela pessoa animada, cheia de vida, logo você quer ser o tipo de pessoas que gostaria de atrair, correto? E a melancolia a gente vive no silêncio, quem queremos que esteja a nossa espera também gosta de um sorriso no rosto. Um sorriso é um belo convite pra vida. O amor-próprio é algo tão bom, sabe-se lá o que nos acontece para protelar tanto ele. É o melhor que você fará por você. Sabe essa gente sem noção que você pede aos céus todo dia para não cair mais nas garras? Acredite, elas não vão mais mexer tanto com você.

Vai olhar no mundo, vivendo cada pôr-do-sol, dançando na pista da vida(como canta Tó Brandileone) e sorrindo para todas as oportunidades que surgirem pelo caminho. Ama teu sorriso e lembre-se que você é a pessoa mais linda do seu mundo. A espera ficará mais leve, prometo! Os dias nublados virão, mas o céu azul e pleno fará toda diferença. Ele está lá mesmo quando você só enxerga as nuvens. O barco tá cheio mesmo. Nessa espera ninguém fica só. Há um mar de gente compartilhando dessa sua inquietação. Seque as lágrimas, transborda o coração no rosto e vá ser feliz. O caminho é só esse. O caminho é todo seu.


ELLEN PEDERÇANE



Fotógrafa que largou o escritório(e a Arquivologia) para se encontrar. Amo o amor e tudo que ele me traz. Tenho um coração meio nômade, com espaço pro mundo inteiro. Sonho despretensiosamente que minha brincadeira com as letras alcance corações por aí. Respiro para não pirar, medito para melhor sorrir. . .



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CORPUS CHRISTI 2017 – Eglê S Machado

Clique sobre a foto, para vê-la no tamanho original
Adoração

Hóstia Santa,
Pão Sagrado,
Eu te adoro
És  minha vida!
Minha alma enfraquecida
Busca em ti haurir vigor!

Doce paz,
Ternura  amiga,
Terno abrigo, fortaleza...
Luz dos Céus,
Suma grandeza,
Harmonia,
Dom de Deus!

Eglê S Machado
Academia Grapiúna de Letras-AGRAL 


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