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quinta-feira, 3 de maio de 2018

CERCO CALCULADO - Sérgio Pardellas

13 de abr de 2018


No último sábado, [07/04] enquanto o Brasil acompanhava o desenrolar da rendição de Lula na sede do sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, agentes da PF envolvidos na operação permaneciam o tempo todo com um olho no presente e outro no passado. Mais precisamente, num trágico acontecimento histórico: o cerco de Waco — promovido em abril de 1993 em torno da sede da seita “Ramo Davidiano”, na cidade do Texas. Os davidianos eram liderados por David Koresh, autoproclamado Cristo reencarnado. A estimativa era de que cerca de cem pessoas estariam no local onde abrigavam 250 armas ilegais. Koresh havia prometido se entregar caso uma mensagem dele de 58 minutos fosse transmitida pelo rádio. A fala foi veiculada, mas ele não honrou a promessa, o que motivou a polícia a invadir o “bunker”. Não poderia ter sido pior. Uma ação destrambelhada do FBI fez com que a invasão fosse encerrada de forma catastrófica, com a morte de 75 pessoas, entre as quais 25 crianças.

De fato, há um parentesco irrefutável entre Waco e São Bernardo, com pitadas de psicopatia em ambos os casos. Ninguém duvida que, muitos dos que se espremiam nos arredores do sindicato, estariam dispostos a matar e a morrer por Lula. Era como se uma imensa aura de fanatismo permeasse o QG montado pelo PT. Para eles, o messias, ao lado do qual eles acreditaram um dia ter atravessado o mar Morto, não deveria retroceder nunca. Render-se jamais. Mesmo quem estava alheio à mesa de negociações, comendo pipoca em frente à TV, poderia vislumbrar a tragédia como desfecho óbvio de uma operação malsucedida — que atenderia aos interesses todos sabem de quem. Daí o cálculo e a frieza dos escalados para fazer valer a ordem judicial.

Os movimentos lembraram um jogo de pôquer, garante quem acompanhou de perto as tratativas. Em sua autobiografia, Bill Gates dizia que o pôquer foi para ele uma aula de estratégia e disciplina, mais do que qualquer outro curso acadêmico. Disfarçar a ansiedade e a insegurança, estudar o adversário e blefar são técnicas do carteado exigidas durante uma negociação.

Houve de tudo um pouco naquele dia que virou história. Para evitar a reedição do episódio funesto do Texas, cada palavra foi medida, cada passo traçado milimetricamente. Por exemplo, a possibilidade de a prisão preventiva ser decretada foi uma carta colocada na mesa só depois das 18h, o que arremessou o petista para uma encruzilhada. A partir de então, ou ele dispersava a militância e se entregava, ou poderia ser preso por obstrução de Justiça, ao se negar a cumprir uma ordem judicial. Em dado momento, para quem enxergava tudo a olho nu, o espetáculo parecia enveredar para a patifaria por aparentemente prenunciar uma afronta à Justiça sem precedentes na história republicana. Nos bastidores, porém, esse risco nunca existiu. Todos do lado de lá do balcão tinham a exata ciência de que qualquer desenlace diferente teria representado a consagração de Lula e a genuflexão do Judiciário. Para o bem da democracia, as instituições permaneceram retas e verticais.


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CATOLICISMO MOFADO - Por Fernando Altemeyer


28/04/2018

Andando por algumas cidades brasileiras é fácil encontrar jovens/adolescentes com uma espiritualidade doentia e alienante. Em certas dioceses e até com uma presumível cumplicidade de pastores brotam aos borbotões escravos de Maria”, “cercos de Jericó”, “missas de cura e libertação” “marchas em roupas medievais”, “exorcismos descontrolados e líderes autoritários”.

Já se vê dezenas de jovens com correntes nos braços, nas pernas e amarrando cilício nas pernas e barriga para sangrar em “nome de Maria (sic)”. Meninas jovens de véu na cabeça nas missas, gente rezando terço fora de hora, plenos de tiques nervosos e exigindo receber a Eucaristia na boca, pois a mão não seria santa o suficiente.

Antropologia doente. Mente doente. Corpo adestrado. Há ainda os que seguem cegos a padres autoritários evidentemente narcisistas.

É a Igreja Feudal voltando com tudo e destroçando a pastoral da Igreja comunidade de comunidades. As orientações da CNBB nem sequer são conhecidas. A pastoral é desvinculada da Palavra de Deus.

Tudo fica reduzido a crendices e amuletos. E as Televisões católicas e livrarias católicas vendendo ainda mais amuletos, textos demagógicos, roupas e túnicas douradas e muito perfume e incenso grego caro e supérfluo. Há até exércitos com roupas exóticas em comunidades e igrejas.

Quando acordarmos da letargia, o estrago será profundo. Os fungos continuam em ação comendo o pão da vida e fazendo-o morrer. É preciso ver a doença e prevenir.


Fernando Altemeyer é teólogo leigo, possui graduação em Filosofia e em Teologia, mestrado em Teologia e Ciências da Religião pela Universidade Católica de Louvain-La-Neuve, na Bélgica, e doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC. Atualmente é professor e integra o Departamento de Ciência da Religião, da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP.
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