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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

HISTÓRIA DE ITABUNA: Pontes

Pontes de Itabuna


      As primeiras pontes de Itabuna, resultado da ousadia e liderança somadas ao espírito desbravador dos primeiros habitantes deste pedaço de chão. A mais folclórica, a ponte dos Velhacos, submersa nas águas do Cachoeira, tem história e data de 1940, quando começaram as obras. A colocação de módulos em cimento armado foi feita durante a administração do então prefeito Francisco Ferreira da Silva.
      
      Essa passagem, que ligava o bairro Nossa Senhora da Conceição ao centro da cidade, teve um grande momento na gestão do prefeito Miguel Fernandes Moreira, quando ganhou corrimão de madeira, sendo batizada com o nome de Ponte do Tororó em dezembro de 1954, com direito a festa e muitos fogos.

      Uma enchente, em 1955, levou o corrimão e parte de sua estrutura. Então o povo esqueceu o nome de Tororó e continuou a chamá-la de ponte dos Velhacos.

      A verdadeira primeira ponte, construída oficialmente em Itabuna, foi a do Góes Calmon (que liga o Conceição ao centro) e surgiu em 1920 no governo J.J. Seabra. A ponte veio dar suporte ao traçado da estrada de rodagem Itabuna-Macuco (hoje Buerarema).

      Sua inauguração, em 1 de março de 1928, contou com a presença do governador Francisco Marques de Góes Calmon e do Intendente de Itabuna na época, o coronel Henrique Alves do Reis.

      A terceira ponte, que liga o Centro ao São Caetano, a Francisco Lacerda, foi construída em 1955 pelo Dr. Abílio Caetano de Almeida, então dono de todos os terrenos do bairro. A ponte foi construída por iniciativa própria, a fim de valorizar os terrenos da área.

      Outra construída por particular, de iniciativa do fazendeiro Mário dos Santos Padre, foi a Miguel Calmon, também chamada de Marabá. A ponte leva desvantagem por ter sido construída no mesmo nível do rio e é a primeira a ficar submersa durante as cheias do Cachoeira.

      A ponte foi inaugurada em 1958 e foi considerada a responsável pela ruína de Mário Padre. Ele acreditava estar investindo em algo lucrativo. Tanto que conseguiu um empréstimo no então Banco da Bahia e usou o dinheiro para comprar terrenos e fazer a ponte. Não teve sucesso. Vendeu todos os seus bens de herança para pagar débitos e foi à falência.

      Finalmente vem a última e mais recente, que homenageia uma das grandes lideranças de Itabuna, Calixto Midlej Filho, construída na década de 80 pelo Estado. Com modernas técnicas, até mesmo para evitar problemas com o rio Cachoeira, a ponte liga a Vila Zara (que faz divisa com o São Judas) ao bairro de Fátima. Foi o atendimento de uma antiga reivindicação de moradores dos dois lados do rio.

      Um exemplo de resistência é a ponte 28 de Dezembro, usada por milhares de pessoas por dia, mas quase invisível aos olhos do público. Ela está lá há 77 anos e foi construída na administração do coronel Henrique Alves dos Reis.

      Sua inauguração ocorreu em grande estilo, justamente no dia 28 de dezembro de 1926, data em que se comemora o dia da padroeira do bairro Conceição. A placa, que simbolizou a inauguração, está centralizada no pilar que dá para o lado do rio. Bem escondida, suja e gasta pela ação do tempo, ainda assim é possível ler os dizeres.

      A ponte, com menos de 40 metros de comprimento e cinco de largura, foi erguida sobre um ribeirão, na Rua Felícia de Novaes (próximo à ponte Calixto Midlej Filho). À época, o ribeirão tinha suas águas escuras, mas limpas o suficiente para permitir que os poucos moradores que viviam próximos tomassem banho e pescassem belos robalos, como lembra um ex-morador, o aposentado Juracy Costa Oliveira.

      Ele conta que era menino e morava com sua avó e sua mãe na única casa existente no lado direito do rio, onde funcionou por muito tempo a Usina Luz e Força, ou a usina do Cajueiro, como era conhecida. "Isso aqui era muito bonito, tinha muito verde e poucas casas".

      Ela era uma importante via para quem partia do centro de Itabuna para a cidade de Ilhéus. Com mais de 75 anos, ela suportou por muitas décadas o tráfego pesado de caminhões carregados de cacau. Em tempos recentes passou anos sendo castigada pelos caminhões da Brahma, de tonelagem bem superior ao que ela foi projetada para aguentar, e hoje continua firme mesmo com o tráfego dos caminhões da Schincariol.

      Embora ainda resista ao tempo a ponte está mal conservada. As laterais de proteção estão quebradas, o piso gasto e o mato em volta toma conta. Já o piso, asfaltado há alguns anos, continua firme, assim como a placa colocada na lateral quando de sua inauguração.

      O que era um saudável ribeirão, hoje é um esgoto. De entulhos, matagal e insetos, tudo seguindo uma mesma direção: o velho Rio Cachoeira.

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Memoria Grapiuna - um projeto da Fundação Jupará com patrocínio da rádio Morena FM 98.7 e jornal A Região.

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VIDA – Eglê S Machado

Vida


Uma treva se desfez
Na vastidão da luz uma dor arrefeceu
Uma paz desvaneceu a solidão da cruz.
Arrebol que acariciou meu sorriso e me empolgou
Uma senda que conduz ao éden, terno frescor
Em redor do amor tão caro – Torrente e cálido abrigo
Ao encontrar-me contigo suave albor que me aquece
Harmonizando-me a vida,
Riqueza de sentimento, ideal evolução!

Desponta letal ciúme
A empanar o perfume de tão gentil benquerer,
Mas em volta triunfal
Tal engano sucumbiu ao encanto do perdão
E em tão fremente lampejo
No impulso do desejo demos vazão à paixão
E o mais candente beijo antecedeu a explosão!


Eis que minh’alma se anima
E te tornei do meu verso a mais gloriosa rima
Da solidão emergiu alto astral sublimação
Na delicada emoção, melodia de canção!

É a vitória do amor!


Eglê S Machado

Academia Grapiúna de Letras-AGRAL 

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AO RIO CACHOEIRA - Antonio Maron Agle

Foto: ICAL

Ao Rio Cachoeira


Turvas águas que, outrora, triste,
E tão saudosamente contemplei:
Onde busco o amor que hoje existe
No coração, que de forjar hei?

Turvas manchas que o verde apagam
Ou o meu olhar, manchado, sangra:
Por que navegas nas minhas mágoas
E nos meus passos tão certas anda?

Por que a vida não me sacode
E solução não oferece mais,
Se tantas coisas formar tu podes?

Turvas águas dos temporais!!...
Da letra fria das minhas odes,
Dos sofrimentos e dos meus ais!!



ANTONIO MARON AGLE – Itabunense de sangue árabe, nascido a 08 de abril de 1929. Cursou o primário na cidade natal. Diplomou-se em Direito em 1951. Professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia. Presidente do Instituto dos Advogados da Bahia. Foi agraciado com a Ordem do Mérito Judiciário do Tribunal Superior do Trabalho. Secretário de Justiça da Bahia. Publicou “Sonetos e Canções de amor”, em 1982, e “Pareceres da Procuradoria Regional do Trabalho – 5ª Região”. - (Cyro de Mattos)

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BONECAS RUSSAS - Rachel de Queiroz

Bonecas russas


Não me lembro como se chamam as tais bonecas folclóricas russas: são as que são ocas e abre-se a boneca maior e dentro dela há uma menor, e dentro dessa outra menor ainda, e depois outra e mais outra, até chegar à última, que é uma simples miniatura de boneca. No mesmo gênero, também é aquele conto de fadas: “Lá no mar tem uma ilha, dentro da ilha tem um castelo, dentro do castelo tem uma torre, dentro da torre tem um quarto, dentro do quarto tem uma arca, dentro da arca tem uma caixa, dentro da caixa tem um cofre, dentro do cofre tem um frasco, dentro do frasco tem uma pomba, dentro da pomba tem um ovo, dentro do ovo tem uma chave e é essa chave que abre a porta da prisão onde está a princesa encantada”.

Pois a gente também é assim. A princípio eu pensava que, com a passagem das diferentes idades do homem, o maior ia substituindo o menor, quero dizer, o menino ficava no lugar do nenê, o adolescente no do menino, o moço no adolescente, o homem feito no do moço, o de meia-idade no do homem feito, o velho no lugar do de meia-idade e por fim o defunto no lugar de todos. Mas depois descobri que os indivíduos passados não desaparecem, se incorporam, ou, antes, o indivíduo novo incorpora os superados como se os devorasse, e uns vão ficando dentro dos outros, tal como as bonecas russas do começo da história.

E assim, dentro de cada um de nós, a gente procurando sempre encontra os perfis superpostos, encartados um por dentro do outro, sem se misturarem. É só saber como esgaravatar e você descobrirá fácil no sentencioso senhor de cinquenta anos o inseguro pai de família principiante que ele foi aos trinta anos ou o belo atleta descuidado que foi aos dezoito. Ali está cada um, aparentemente esquecido mas incólume. E estanques todos. Porque um não penetra no outro e aparentemente um não tem o mínimo em comum com o outro; nem sequer um influi no outro - as mais das vezes são antípodas e adversários.

Faça uma experiência: pegue um livro, uma foto, reveja um filme, encontre alguém, qualquer desses serve, contanto se refira especificamente a determinado tempo de sua vida. E então magicamente se suscita aquele instante perdido do passado, com uma força de momento atual. Espantado, você se indaga: então esse fui eu? Que tem em comum com o você de hoje aquele estranho que subitamente acordou ao apelo do seu nome, debaixo da sua pele? Terá em comum só mesmo o nome e a pele, porque o resto, no corpo e na alma, tudo é outro, deformado ou gasto, mas sempre diferente. Você é outro, outro. E quase não acredita ter sido você também aquele rapaz desvairado, ou sonso, ou bobo e terrivelmente inexperiente que de súbito emergiu de dentro dos seus ossos e das suas velhas lembranças.

Em sua avó venerável você também pode descobrir a rapariga inconsequente que ela foi um dia, e no seu severo confessor de hoje o seminarista em crise religiosa de trinta anos atrás. É só saber procurar. A gente diz disso: “ águas passadas” . Mas talvez seja melhor dizer águas represadas, águas recalcadas. Porque basta bater na pedra, a fonte emerge, o que não aconteceria se as águas fossem passadas realmente.

Publicado em: 23/09/00, Correio Braziliense – Brasília – DF




Rachel de Queiróz - Quinta ocupante da Cadeira 5 da ABL, eleita em 4 de agosto de 1977, na sucessão de Candido Motta Filho e recebida pelo Acadêmico Adonias Filho em 4 de novembro de 1977

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