A Academia Brasileira de Letras abre seu ciclo de
conferências do mês de agosto de 2018, intitulado Cadeira 41, com palestra
do Acadêmico, professor, filólogo e lexicólogo Evanildo Bechara. A
coordenação será da Acadêmica e escritora Ana Maria Machado. O tema escolhido
foi Antenor Nascentes, um tardio na cadeira 41.
Serão fornecidos certificados de frequência.
A Acadêmica Ana Maria Machado é, também, a
Coordenadora-Geral dos ciclos de conferências de 2018.
Acadêmica Ana Maria Machado convida para o ciclo
"Cadeira 41"
A intitulação Cadeira 41 remonta aos tempos de
fundação da ABL, em 20 de julho de 1897. Criada nos mesmos moldes da Academia
Francesa, o máximo de Acadêmicos era de 40, o que continua até os dias de hoje.
Este ciclo, no entanto, pretende apresentar cinco nomes que poderiam ocupar, em
suas épocas, uma dessas cadeiras e, que, por razões diferentes e individuais,
não se tornaram membro da Academia: Antenor Nascentes, Domingos
Olympio, Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato e Osman
Lins.
Antenor de Veras Nascentes (1886/1972) foi um filólogo,
etimólogo e lexicógrafo de grande importância para o estudo da língua portuguesa. É considerado um dos mais
destacados estudiosos nessa área do Brasil século XX. Ocupou, como fundador, a
Cadeira nº 3 da Academia Brasileira de Filologia.
Entre a enorme lista de importantes obras produzidas ao
longo de sua vida, destaca-se seu Dicionário Etimológico da Língua
Portuguesa, de 1932, que o fez famoso no meio dos estudiosos deste idioma não
apenas no Brasil, mas também em Portugal.
Foi, também, autor do primeiro Dicionário de Português da
Academia Brasileira de Letras, de 1967, e suas ideias e proposições acerca da
ortografia da língua portuguesa influenciaram as bases da ortografia portuguesa
atual. Foi autor ainda de A saudade portuguesa na toponímia brasileira,
entre muitas outras obras. Em 1962, foi-lhe outorgado o Prêmio Machado de
Assis, concedido pela ABL.
Cadeira 41 terá mais quatro palestras, às
quintas-feiras, no mesmo local e horário, com os seguintes dias, conferencistas
e temas, respectivamente: dia 9, Maria Laura Viveiros de Castro
Cavalcanti, “Luzia-Homem”de Domingos Olympio: a criação de um mito mulher;
16, Acadêmico Antonio Carlos Secchin, Drummond: poesia e aporia; 23, Luís
Camargo, Cem anos de “Urupês”, de Monteiro Lobato: o primeiro best-seller nacional;
e 30, Hugo de Almeida, Osman Lins, 40 anos depois, mais atual.
O CONFERENCISTA
Quinto ocupante da Cadeira 33 da ABL, eleito em 11 de
dezembro de 2000, na sucessão de Afrânio Coutinho, Evanildo Bechara é
Professor Titular de Filologia Românica da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro, de Língua Portuguesa da Universidade Federal Fluminense e professor
Emérito da UERJ e da UFF, além de ter sido professor visitante da Universidade
de Coimbra e da Universidade de Colônia. Faz parte da Comissão Científica da Société
Linguistique Romane, com sede em Strasbourg, e pertence à Academia Brasileira
de Filologia e à Associação de Romanistas.
Diretor da revista Confluência, do Instituto de Língua
Portuguesa do Liceu Literário Português, Bechara publicou, pela mesma
instituição, obra coletiva intitulada Na ponta da língua. Integram a
publicação artigos de Silvio Elia, Gladstone Chaves de Melo, Antônio Geraldo da
Cunha, Maximiano de Carvalho e Silva, Antonio Basílio Rodrigues, entre outros.
Diretor da Revista Littera, preparou, junto com Segismundo Spina, a 1ª
edição da Antologia de Os Lusíadas, publicada pela Grifo. A 2ª edição,
melhorada, foi publicada pela Editora da Universidade de São Paulo.
Responsável por um dos capítulos no livro coletivo Trivium
e Quadrivium, em que escreve sobre a História da Gramática na Idade Média,
Bechara é autor, entre outros livros, da Moderna gramática portuguesa, Lições
de português pela análise sintática, Gramática escolar da Língua
Portuguesa, Língua e Linguagem, A nova ortografia, e Novo
dicionário de dúvidas da língua portuguesa.
O artigo Católicos LGBT organizam movimento para
reivindicar mais espaço na Igreja, deAnna Virginia Balloussier(folha.uol,
23-7-18), traz declarações de uma ativista homossexual que de tal maneira
deixou cair a máscara, que produziu o efeito da pedrinha de sal ao cristalizar
todo o líquido de um copo.
A árvore boa dá bons frutos, e a árvore má dá maus frutos,
pelos frutos conhecereis os homens, ensina o divino Salvador (Mt 7, 20). Toda a
árvore que não der bom fruto será lançada ao fogo. Portanto, as pessoas que não
produzem bons frutos querem transformar o ambiente católico numa atmosfera
concessiva ao pecado que clama a Deus por vingança.
Aprendi nas aulas de Catecismo que a Igreja Católica —
sociedade visível fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo — tem seus mandamentos,
sua doutrina, suas leis, suas regras, seus cânones.
Todo esse conjunto
fundamentado na Sagrada Escritura e na Tradição constitui um bloco do qual não
se pode aceitar apenas uma parte.
Mais ainda, pelos estudos feitos no Seminário, aprendi
também que os princípios da Religião católica são inegociáveis. Assim, entre o
ensinamento da Igreja e o homossexualismo, por exemplo, não existe aproximação
possível; são irreconciliáveis como a luz e as trevas, a verdade e o erro, a
virtude e o vício; há entre eles uma incompatibilidade total, pois são
excludentes.
Se a Igreja abrisse mão deste ponto, deixaria de ser a
Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois está no livro do Gênesis: “Porei
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua posteridade e a posteridade dela.
Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar”(Gen. 3, 15).
E essa inimizade é eterna.
Vejamos as palavras da ativista homossexual que se insurge
contra a autoridade eclesiástica: “Questionamos muito a atitude de esperar
que o Papa mude alguma coisa, como se tivéssemos de aguardar algum tipo de
autorização vinda do alto da Hierarquia para podermos ser Igreja. Isso nós já
somos”. Seria bom se essa ativista que diz “ser Igreja” soubesse
que, conforme afirma São Paulo na segunda epístola a Timóteo, autoridade alguma
na face da Terra pode mudar a doutrina de Cristo.
O Apóstolo ainda aconselha: “Prega a palavra, insiste,
quer agrade, quer desagrade; repreende, suplica, admoesta com toda a paciência
e doutrina. Porque, virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, e
contratarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pela curiosidade
de ouvir, e afastarão os ouvidos da verdade para os abrir às fábulas” (Tim.
4,1-8).
Afirmar ser igreja revela uma total deformação do
conceito de Igreja. São Pio X [foto ao lado] ensina que a Igreja é uma
sociedade visível composta de eclesiásticos e de leigos. Os primeiros pertencem
à Igreja docente, ou seja, têm o poder de ensinar, governar e santificar; os
leigos são da Igreja discente, isto é, devem ser ensinados, governados e
santificados pelos seus pastores. Para ser cristão é indispensável ser
batizado, crer e professar a doutrina e a lei ensinadas por Jesus Cristo e
contida no magistério da Igreja.
O ensinamento de Nosso Senhor na parábola do Bom Pastor e do
filho pródigo que volta à casa paterna ressalta o Seu amor para com as almas
afastadas da graça e da amizade divina. Ele faz de tudo para que elas voltem ao
redil, pois há mais júbilo no Céu por um pecador que faça penitência do que por
noventa e nove justos que não precisam dela.
Há mais alegria no Céu por um só pecador que se emenda e faz
penitência, do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se (Lc
15,7). A pior tragédia de uma alma é quando ela quer justificar sua má conduta
impondo-a aos demais. Ao reivindicar cidadania para o erro, o seu coração
endurece, dificultando a sua conversão.
Toda sociedade civilizada tem suas leis, seus princípios,
seus códigos. Seus membros devem aderir a esse conjunto normativo, pois são
afins com ele e existem para o bem comum. Assim, a Igreja como sociedade
visível de caráter espiritual não pode transigir em relação aos ensinamentos do
seu Fundador, o Filho de Deus encarnado.
O próprio Nosso Senhor nos alerta sobre os falsos profetas
que vêm a nós com pele de ovelhas e por dentro são lobos vorazes. Porventura se
colhem uvas de espinhos ou figos de cardos? São Paulo Apóstolo, na epístola aos
Romanos, afirma que quando somos livres do pecado e feitos servos de Deus,
temos por fruto a santidade e por fim a vida eterna.
A mencionada ativista homossexual, pelo contrário, se
considera acima dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja a
ponto de querer impor condições à autoridade eclesiástica: “Questionamos
muito a atitude de esperar que o Papa mude alguma coisa”… É bom lembrá-la
da lição divina de que nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor” entrará no
reino do Céu, mas quem faz a vontade de meu Pai que está no Céu, e a vontade de
Deus está contida nos Mandamentos.
A ativista vai mais longe. Para ela, “essa linguagem
progressista do papa não é precisa, ‘não faz sentido’ a Igreja excluir e ferir.
‘Cristo andava com os piores pecadores, os maiores párias da sociedade”. Os
apóstolos e discípulos seriam pecadores péssimos, párias da sociedade? Da mesma
forma que Lázaro, José de Arimateia e Nicodemos, que comprou 100 libras de
mirra e aloés para os funerais do Homem-Deus? (Jo 19-33).
Qual o conselho do Divino Mestre à mulher adúltera,
senão “vai e não peques mais”? [representação ao lado] Se nas
palavras de uma ativista homossexual não faz sentido a Igreja excluir e ferir, então
o Papa Leão X deveria ter “incluído” os erros de Lutero no Magistério da
Igreja? A Igreja deveria ter aceitado o divórcio e “incluído” Henrique VIII e
todo o anglicanismo como enriquecimento do magistério? São Pio X deveria ter
aprovado e “incluído” os erros modernistas, em vez de condená-los?
A Igreja deveria acatar e “incluir” Frei Boff e os
“teólogos” da Teologia da Libertação em seu seio? Talvez essa ativista inclua
na sua agenda a reabilitação de Lúcifer e sua “inclusão” no reino celeste, um
verdadeiro absurdo, mas é a conclusão que se pode tirar de seu ‘princípio
inclusivo’. Na verdade, ela nega o princípio metafísico da contradição, a
incompatibilidade do vício com a virtude.
Convém lembrar o que diz São Pio X no Catecismo Maior: “A
sodomia está classificada em gravidade logo depois do homicídio voluntário,
entre os pecados que clamam a Deus por vingança. Desses pecados se diz que
clamam a Deus por vingança, porque o Espírito Santo assim o diz, e porque a sua
iniquidade é tão grave e evidente, que provoca a punição de Deus com os
castigos mais severos.”
Por sua vez, São Pedro Damião afirma: “Este vício não
pode jamais ser comparado a nenhum outro, pois ultrapassa a enormidade de todos
os vícios. Ele corrompe tudo, mancha tudo, polui tudo. Por sua própria
natureza, não deixa nada puro, nada limpo, nada que não seja imundície. A carne
miserável arde com o calor da luxúria; a mente fria treme com o rancor da
suspeita; no coração do homem miserável o caos ferve como o inferno.”
E prossegue: “Depois que essa serpente venenosa
introduz suas presas na infeliz alma, o senso é retirado, a memória se
desgarra, a clareza da mente é obscurecida. Ele não se lembra mais de Deus, até
se esquece de si mesmo. Essa praga solapa os fundamentos da fé, enfraquece a força
da esperança, destrói o laço da caridade; afasta a justiça subverte a
fortaleza, expulsa a temperança, entorpece a perspicácia da prudência” (Homem
e Mulher Deus os Criou, Artpress, S. Paulo, 2011, p. 26).
Protestemos contra essa rebeldia, que é também uma
ingerência e um insulto à Santa Igreja de Deus. Aconselharia a tal ativista que
lesse meu livro Homem e Mulher Deus os Criou — As relações homossexuais à
luz da doutrina católica, da Lei natural e da ciência médica.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
João.
— Glória a vós, Senhor!
Naquele tempo, Jesus foi para o outro lado do mar da
Galileia, também chamado de Tiberíades.
Uma grande multidão o seguia, porque via os sinais que ele
operava a favor dos doentes. Jesus subiu ao monte e sentou-se aí, com os
seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus.
Levantando os olhos e vendo que uma grande multidão estava
vindo ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que
eles possam comer?” Disse isso para pô-lo à prova, pois ele mesmo sabia
muito bem o que ia fazer.
Filipe respondeu: “Nem duzentas moedas de prata bastariam
para dar um pedaço de pão a cada um”.
Um dos discípulos, André, o irmão de Simão Pedro,
disse: “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o
que é isso para tanta gente?”
Jesus disse: “Fazei sentar as pessoas”. Havia muita relva
naquele lugar, e lá se sentaram, aproximadamente, cinco mil homens.
Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que
estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes.
Quando todos ficaram satisfeitos, Jesus disse aos
discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!”
Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras
dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido. Vendo o sinal que Jesus
tinha realizado, aqueles homens exclamavam: “Este é verdadeiramente o Profeta,
aquele que deve vir ao mundo”.
Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo para
proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte.
Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a encenação do Evangelho:
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O pão mais saboroso é
aquele que compartilhamos
“Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que
estavam sentados...” (Jo 6,11)
No domingo passado, o relato evangélico de Marcos nos deixou
às portas da multiplicação dos pães. Em seu lugar, a liturgia insere, a partir
deste domingo, todo o capítulo 6 do evangelho de João. É o mais longo e denso
capítulo de todos os evangelhos, e que vai ocupar os próximos cinco domingos.
Em seus 71 versículos, partindo da multiplicação dos pães, João elabora toda
uma teologia do seguimento. No fundo trata-se de um processo de iniciação
catequética, que na primitiva comunidade cristã durava vários anos e que, no
final inspirava o catecúmeno a tomar uma decisão definitiva: o batismo.
João, o evangelista dos detalhes, começa trazendo um dado
interessante: “Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia”. Ao passar para
a outra margem, Jesus desencadeia um movimento inspirador: não podemos nos
limitar a ver as coisas a partir das margens conhecidas. É preciso deslocar-nos
para a outra margem, para ver as coisas sob outra perspectiva, com um olhar
mais amplo.
Jesus desvela o perigo de fechar-nos no próprio grupo, nas
próprias ideias, doutrinas e considerar-nos como donos da verdade; somos sempre
tentados a instalar-nos no conhecido e custa abrir-nos a outras percepções. É
preciso fazer a travessia para deixar-nos interpelar pelo novo, colocar em
questão nossa própria visão e compreensão da vida e enriquecer-nos com outros
pontos de vista: a dos pobres e marginalizados. O Evangelho não é para
acomodados ou para aqueles que tem medo de fazer a travessia; o Evangelho é
para fazer estrada, viver em atitude de saída. Sair dos lugares conhecidos,
rotineiros, estreitos e abrir-nos às surpresas dos lugares novos.
Outro dado instigante, apresentado no evangelho deste
domingo: não basta ver a fome nas fotos, embora as fotos costumam “doer”. O
importante é ver os rostos famintos. Jesus não é daqueles que, quando passa
junto ao faminto, baixa os olhos para não ver. Jesus “levantou os olhos e viu
uma grande multidão”. Segundo a versão de João, Jesus é o primeiro que pensa na
fome daquela multidão que acudiu para escutá-lo. Ela precisa comer e é preciso
fazer algo. Assim era Jesus. Vivia pensando nas necessidades básicas do ser
humano.
Jesus é daqueles que, quando descobre que a multidão tem
fome, busca respostas, busca soluções. “Onde vamos comprar pão para que eles
possam comer?” A solução de Felipe é aquela que a maioria tem às mãos: só vê a
dificuldade e, inclusive, a impossibilidade de encontrar uma saída para a
situação. Ele recorda que o grupo não tem dinheiro. Entre os discípulos, todos
são pobres: não podem comprar pão para tantos.
Jesus sabe disso. Os que tem dinheiro não resolverão nunca o
problema da fome no mundo. É preciso algo mais que dinheiro. A solução de Jesus
é abrir outra possibilidade: Ele vai ajudá-los a vislumbrar um caminho
diferente. Antes de mais nada, é necessário que ninguém monopolize o seu
alimento para si mesmo, quando há outros que passam fome. Seus discípulos terão
que aprender a pôr à disposição dos famintos o que têm, mesmo que seja só
“cinco pães de cevada e dois peixes”.
Jesus ensina que a dinâmica do Reino é a arte de
compartilhar. Talvez todo o dinheiro do mundo não seja suficiente para comprar
o alimento necessário para todos os que passam fome... O problema não se
soluciona comprando, o problema se soluciona compartilhando. O pão nas mãos de
Jesus era pão para ser partido, repartido e compartilhado. O pão armazenado,
como o maná no deserto, se corrompe, apodrece.
Também hoje Ele precisa de nossas mãos para multiplicar os
grãos; precisa de nossas mãos para triturar esses grãos, amassar a farinha e
fazer o pão. E precisa de nosso coração para que o pão seja repartido.
O pão sem coração é pão “monopolizado”. Pão indigesto, que
engorda o egoísmo. O pão sem coração gera divisões e conflitos. Quantas guerras
fraticidas provoca o pão sem coração! Deus precisa de nosso coração para que o
pão leve o sinal da fraternidade, seja vitamina de solidariedade, alimento de
comunhão, para que possamos comungar. No pão compartilhado, encontramos a luz
da vida. “Se partes teu pão com o faminto... brilhará tua luz como a aurora”
(Is. 58,7-8).
Uma refeição fraterna foi servida por Jesus a todos, graças
ao gesto generoso de um menino, com seus cinco pães de cevada (pão dos pobres)
e dois peixes.
Para Jesus, isso é suficiente. Esse menino, sem nome e
desconhecido, vai tornar possível o que parece ser impossível. Sua
disponibilidade para partilhar tudo o que tem é o caminho para alimentar aquela
multidão. Jesus fará o resto. Toma em suas mãos os pães, dá graças a Deus e
começa a “reparti-los” entre todos. Esta refeição compartilhada era, para os
primeiros cristãos, um símbolo atrativo da comunidade nascida do movimento de
Jesus para construir uma humanidade nova e fraterna. Esta cena, evocavalhes, ao
mesmo tempo, a eucaristia, celebrada no dia do Senhor, para que todos pudessem
se alimentar do espírito e da força de Jesus, o Pão vivo vindo de Deus.
Mas, os seguidores de Jesus nunca esqueceram o gesto
despojado daquele menino. Se há fome no mundo, não é por escassez de alimentos,
mas por falta de solidariedade. Há pão para todos, falta espírito generoso para
partilhar. Temos deixado a marcha do mundo nas mãos do poder financeiro, nos dá
medo partilhar o que temos, e as pessoas morrem de fome devido ao nosso egoísmo
irracional.
A dinâmica do mundo neo-liberal é precisamente o dinheiro.
Cremos que sem dinheiro nada se pode fazer e procuramos converter tudo em
dinheiro, não só os recursos naturais, mas também os recursos humanos e os
valores: o amor, a amizade, o serviço, a justiça, a fraternidade, a fé, etc.
Neste mundo capitalista nada é dado gratuitamente, tudo tem seu preço, tudo é
taxado e comercializado. Esquecemos que a vida acontece por pura gratuidade,
por puro dom de Deus.
Jesus, nesta multiplicação dos pães e dos peixes, partiu
daquilo que as pessoas tinham no momento. O milagre não foi tanto a
multiplicação do alimento, mas o que aconteceu no interior de seus ouvintes:
sentiram-se interpelados pela palavra de Jesus e, deixando de lado o egoísmo,
cada um colocou o pouco que ainda tinham; maravilharam-se, depois, ao verem que
o alimento se multiplicou e sobrou.
Compreenderam, então, que se o povo passava fome e
necessidade, não era tanto pela situação de pobreza, mas pelo egoísmo dos
homens e mulheres que, conformados com o que tinham, não lhes importava que os
outros passassem necessidades. O gesto de compartilhar marcou profundamente a
vida das primeiras comunidades que seguiram a Jesus. Compartilhar o pão se
converteu num gesto para prolongar e manter a vida, um gesto pascal. Ao partir
o pão descobriam a presença nova do Ressuscitado.
Nós seguidores(as) de Jesus, não devemos esquecer o gesto de
partilhar é a chave para tornar realidade a fraternidade e para nos reconhecer
como filhos e filhas do mesmo Pai. Quando se compartilha com gosto e com
alegria, o alimento se multiplica e sobra.
Texto bíblico: Jo 6,1-15
Na oração: Nosso próprio interior é dotado de pães que devem
ser acolhidos, abençoados, repartidos e distribuídos.
O alimento vem de nossa própria interioridade: poucos pães e
peixes, mas o suficiente para saciar a fome de muitos. Há um menino interior
que aponta para a presença dos pães e peixes e nos instiga a partilhar.
- A atitude de Jesus é a mais simples e humana que podemos
imaginar. Mas, quem vai nos ensinar a compartilhar, se só sabemos comprar? Quem
vai nos libertar de nossa indiferença frente àqueles de morrem de fome? Há algo
que possa nos fazer mais humanos?
Será que algum dia acontecerá esse “milagre” da
solidariedade real entre todos?
- Quais são seus pães e peixes do seu interior que devem ser
apresentados e partilhados?