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domingo, 11 de novembro de 2018

EXISTÊNCIA DO NATAL! - Antonio Nunes de Souza

Não foi à toa que foi escolhida e oficializada por Deus a data natalina no dia vinte e cinco de dezembro, encerrando as comemorações dos eventos religiosos, santificados e de uma solidariedade inigualável: Nosso querido Natal e, posteriormente, os comerciantes ávidos de vendas (dizem que foi a Coca Cola), complementaram com o meigo, doce e carinhoso PAPAI NOEL!

As pessoas, por mais céticas que sejam, duras, introvertidas, etc., mudam seus semblantes acompanhando o mundo com sorrisos, alegrias e, com certeza, também com as vontades de dar e receber presentes, ficando e fazendo outras bastante alegres e felizes!

Raras são as lojas que deixam de enfeitar com mestrias suas vitrines, shoppings que investem em árvores de Natal imensas e a presença de vários Papais Noel, mercados, etc., isso sem contar as ruas, praças e avenidas que ganham milhares de luzes em suas arvores frondosas, jardins e postes, nos proporcionando um visual alegre, divertido e bonito!

Comece a se preparar para celebrar com alegria essa festa religiosa, estando de bom humor, pedindo a Deus paz e tranquilidade e, principalmente, que esse novo governo, que é uma incógnita, seja eficaz, eficiente e voltado para o povo mais necessitado e sofredor!

Que todos sejam felizes, se amem como irmãos, ajudem no que for possível, pois, é dando de si sem pensar em si que nos faz cumpridores de nossa vinda a terra!


Antonio Nunes de Souza, escritor
Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL


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A NOVA MARIOLOGIA IGUALITÁRIA DO PAPA FRANCISCO – Luiz Sergio Solimeo


11 de novembro de 2018

O Papa Pio XII atribui a Maria Santíssima “a maior dignidade e santidade depois de Cristo”

♦  Luiz Sergio Solimeo

 O Papa Francisco acaba de confundir, escandalizar e desorientar mais uma vez os fiéis, ao invés de cumprir sua responsabilidade como Vigário de Cristo na Terra, que é de ensinar, santificar e guiar. Desta vez, ele o fez com a afirmação chocante de que Maria Santíssima teria sido uma moça comum, uma “moça normal”, em nada diferente das de hoje. Em livro-entrevista, cujos excertos foram publicados pelo jornal italiano “Corriere della Sera”,1 afirma que Maria Santíssima era “uma moça normal, normal, uma moça de hoje […] normal, normal, educada normalmente, disposta a casar-se, a constituir família. […] Depois, após a concepção de Jesus, ainda uma mulher normal. […] Sem nada de extraordinário na vida, uma mãe normal: mesmo no seu casamento virginal, casto no quadro da virgindade, Maria foi normal. Trabalhava, fazia as compras, ajudava o Filho, ajudava o marido: normal”.

O que vem a ser “uma moça de hoje”? Aquela que está em sintonia com o mundo paganizado e hedonista de nossos dias? A que segue as modas imorais e masculinizadas de hoje? Uma feminista que não tolera a menor diferença entre os sexos? A frase é extremamente ambígua, como é do seu estilo.

Ele explica o que entende por “normalidade”: “A normalidade consiste em viver no povo e como o povo”. Parece encontrar-se aí a chave para entender essa minimização da figura da Mãe de Deus, nitidamente impregnada do igualitarismo marxista presente na “Teologia da Libertação”.


Pecado de elite
Quando uma pessoa ou uma família se destaca por dons de liderança, tino administrativo, fortuna, capacidade intelectual ou artística, e mesmo espiritual, ela se torna pessoa ou família “de elite”. Ora, segundo o Papa Francisco, isso significa incorrer no “pecado máximo”, aquele que mais agrada a Satanás: o “pecado de ser elite”. São transcritas como palavras do ocupante da Cátedra de Pedro: o pecado que “agrada tanto a Satanás” é “o pecado da elite” […]. “A elite não sabe o que significa viver no povo, e quando falo de elite não entendo uma classe social: falo de uma postura da alma”.

O sabor marxista da afirmação é seguido, portanto, de uma ressalva: o “pecado de elite” seria “uma postura da alma”. Mas a descrição que ele acabara de dar desse novo pecado é de molde sociológico: “não sabe o que significa viver no povo”. Como sempre, conceitos vagos, desconexos, tornando suas frases confusas e de difícil compreensão.

A consequência dessa série de afirmações confusas é que, ao tomar a categoria “povo” — entendido no sentido igualitário que o Papa Pio XII qualificava como massa2 — e atribuir a essa categoria um valor moral absoluto, ele está tirando uma conclusão teológica com base em uma interpretação sociológica marxista de povo, no mais puro estilo da “Teologia da Libertação”. Daí a nova eclesiologia igualitária de sabor marxista: “A Igreja é povo, o povo de Deus. E ao diabo agradam as elites”. Fica implícito que quem cometesse o tal “pecado de elite” deixaria de pertencer à Igreja, por não “viver no povo e como o povo”. Por isso não agradaria a Deus, mas ao demônio.

O atual Pontífice não afasta dos Sacramentos, nem de sua amizade e companhia, os adúlteros, homossexuais praticantes, transgêneros,3 portanto é muito paradoxal essa “excomunhão” dos que ele considera na situação de “pecado de elite”.

A consequência lógica dessa eclesiologia igualitária é uma nova mariologia antielitista. Maria Santíssima não poderia elevar-se acima das demais criaturas, pois assim se tornaria “elite”, portanto deixaria de “viver no povo e como o povo”. Em vez de agradar a Deus, agradaria ao demônio! Para o Papa Francisco, nada de excepcional ocorreu na vida de Maria Santíssima: “Depois, após a concepção de Jesus, ainda uma mulher normal. […] Nada de extraordinário na sua vida”. Ser a Mãe de Deus, conviver com seu Divino Filho e com São José, acompanhar a pregação de Jesus, interceder junto a Ele para o milagre nas Bodas de Caná, participar de sua Paixão e Morte aos pés da Cruz, não haveria nisso “nada de extraordinário”! Seria tudo “normal”!4 O canto do “magnificat” corresponderia então a uma “postura de alma” elitista.


“Uma moça disposta a casar-se”
Dizer que Nossa Senhora era “uma moça […] disposta a casar-se, a constituir uma família”, vai contra o sentir geral dos Santos e dos Doutores, os quais sustentam que, quando se deu a Anunciação, Maria já tinha feito voto de castidade perfeita. É o que deduzem da pergunta que Ela fez ao Anjo Gabriel, depois de informada de que seria a Mãe de Deus: “Como se fará isso, pois não conheço varão?”5

Explica o grande exegeta Cornélio a Lapide (+ 1637): “Porque não conheço varão […]. Nenhuma outra justa razão para esta desculpa e hesitação por parte da Virgem pode ser aduzida ou suposta aqui, senão a impossibilidade moral resultante do voto que a Santíssima Virgem fez antes da anunciação angélica: este é o ensinamento dos Santos Agostinho, Gregório de Nissa, Beda, Bernardo, Anselmo, Ruperto”.6 Santo Agostinho, no livro De virginitate, é inteiramente categórico: Maria não teria feito essa pergunta ao Anjo, “a não ser que se tivesse consagrado a Deus como virgem”.7 São Bernardo é igualmente claro em relação ao voto de virgindade feito por Maria: “Ele [Deus] concedeu-lhe a maternidade, tendo antes lhe inspirado o voto de virgindade, e a cumulado da virtude da humildade”.8


Negação implícita da divindade de Jesus
Como se pode afirmar que Maria, Mãe de Jesus Cristo, era uma “ragazza normale, normale” (uma moça normal, normal), una ragazza di oggi” (uma moça de hoje), una “donna normale” (uma senhora normal), e não tinha nada de extraordinário em sua vida? Como poderia “una ragazza normale”, “una ragazza di oggi”, que em nada se destacasse das demais, ter um filho como o próprio Verbo Encarnado? Não seria esta uma negação implícita de que seu Filho fosse Deus? Se Ela fosse inteiramente comum, seu Filho também o seria. Portanto, não se pode considerar a Santíssima Virgem como uma mulher comum, preocupada com coisas corriqueiras da vida.

Maria Santíssima é a obra-prima da Criação. Tendo sido escolhida por Deus para ser a Mãe do Redentor, foi preservada de toda mancha ou pecado, sendo Imaculada desde o seu primeiro instante, como diz Pio IX.9 Ela é a Theotokos (Mãe de Deus), como definiu o Concílio de Éfeso. Diz o Papa Pio XII que não pode haver ofício maior do que esse, pois ele “pede a plenitude da graça Divina”, portanto confere “a maior dignidade e santidade depois de Cristo”.10

Os Padres da Igreja, os Santos Doutores, os Sumos Pontífices, sempre A consideraram um “vaso de eleição”. Abismados diante de tanta perfeição, santidade e dignidade, exclamavam “de Maria nunquam satis” — de Maria nunca diremos o suficiente, nunca saberemos o suficiente. Por mais que A contemplemos, por mais que estudemos seus privilégios, muito ainda restará por conhecer e por dizer.

Ao referir-se à Mãe de Deus como uma mulher comum, “normal”, o Papa Francisco rompe com essa tradição e contraria o sentido dos Evangelhos. Contradiz ainda a forma lapidar do Papa Pio XII, acima apresentada, que atribui a Maria Santíssima “a maior dignidade e santidade depois de Cristo”.


Gloriosa Senhora, exaltada sobre as estrelas
Bem outro é o sentimento geral dos fiéis. A tradição teológica católica e a Liturgia assim louvam a Virgem Santíssima no Breviário Romano:

Ó gloriosa Senhora do mundo,
Excelsa princesa do céu e da terra,
Formosa batalha de paz e de guerra,
Da santa Trindade segredo profundo
Santa esperança, ó Mãe de amor,
Ama discreta do Filho de Deus,
Filha e Mãe do Senhor dos Céus[…]
Do que Eva triste ao mundo tirou
Foi o teu fruto restituidor;
Dizendo-te Ave o embaixador,
O nome de Eva te significou.
Ó porta dos paços do mui alto Rei,
Câmara cheia do Espírito Santo,
Janela radiosa de resplendor tanto,
E tanto zelosa da divina lei!
Ó mar de ciência, a tua humildade
O que foi, senão porta do céu estrelado?
____________ 
Notas:
2. Cf. Radiomessaggio di Sua Santità Pio XII ai Popoli del Mondo Intero* Domenica, 24 dicembre l944,http://w2.vatican.va/content/pius-xii/it/speeches/1944/documents/hf_p-xii_spe_19441224_natale.html, Out. 18, 2018.
4. O Papa usa a palavra strano. Um dicionário de italiano online apresenta os seguintes sinônimos para strano(plural feminino,strane): 1 stravagante, insolito, 2 poco comune, eccezionale, 3 misterioso. Dizionario Italiano, https://www.dizionario-italiano.it/dizionario-italiano.php?parola=strano, Out. 19, 2018.
5. São Lucas 1, 34.
6. The Commentary of Cornelius a Lapide– Saint Luke Chapter one, Loreto Publications, Fitzwilliam, New Hampshire, 2008, p. 158.
7. Of Holy Virginity, nº 4, http://www.newadvent.org/fathers/1310.htm, Out. 18, 2018.
8. St. Bernard of Clairvaux (Sermo2: Opera omnia, Edit. Cisterc. 5 [1968], https://www.crossroadsinitiative.com/media/articles/mary-a-virgin-full-of-grace-and-virtues-bernard-of-clairvaux/, Out. 18, 2018.
9. Pope BI. Pius IX – 1854, Bull Ineffabilis Deus -The Immaculate conception,http://www.papalencyclicals.net/pius09/p9ineff.htm, Out. 18, 2018.
10. Pope Pious XII, Encyclical Fulgens Corona,nº 11, http://w2.vatican.va/content/pius-xii/en/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_08091953_fulgens-corona.html, Outubro 18, 2018.



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PALAVRA DA SALVAÇÃO (104)


32º Domingo do Tempo Comum – 11/11/2018

Anúncio do Evangelho (Mc 12,38-44)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, Jesus dizia, no seu ensinamento a uma grande multidão: “Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação”.
Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias.
Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. Jesus chamou os discípulos e disse: “Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Roger Araújo:

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As moedas do coração não fazem ruído

“Esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que depositaram no cofre” (Mc 12,43) 

Encontramo-nos nos últimos versículos do cap. 12 de Marcos; só temos, pela frente, o discurso escatológico do cap. 13 e o relato pascal. Jesus, mais uma vez nos ensina. Embora o relato deste domingo se reduz a poucos versículos, tem uma profundidade enorme. É o melhor resumo que se pode fazer do evangelho. A simplicidade do relato esconde a mensagem mais profunda de Jesus: toda a parafernália religiosa externa não tem nenhum valor espiritual; o único que importa é o interior de cada pessoa. 

Vivemos a cultura da superficialidade e da aparência e perdemos o caminho do coração; carecemos de interioridade, carecemos de humanidade. 

Este simples relato deixa clara a crítica de Jesus à religião de seu tempo (e a de todos os tempos). N’Ele destaca-se a diferença entre religião e religiosidade, entre cumprimento de normas e vivência interior, entre os ritos programados e a experiência de Deus. Ainda não aprendemos a lição. Hoje continuamos dando mais importância ao externo que a uma atitude interior. À religião continua interessando-lhe mais que sejamos fiéis à doutrina, aos ritos e às normas. E a verdade é que nós mesmos continuamos dependentes da vaidade e da aparência e não de atitude vital, de onde flui nossa vida. 

A crítica de Jesus aos escribas é dura, pois desmascara a falsa religiosidade deles.  Em vez de orientar o povo a buscar a glória de Deus, atraem a atenção das pessoas para si mesmos, buscando sua própria honra. Mas há algo que, sem dúvida, dói mais ainda em Jesus que este comportamento fantasioso e pueril de ser contemplados, saudados e reverenciados. Enquanto aparentam uma piedade profunda em suas longas orações em público, aproveitam-se de seu prestígio religioso para viver à custa das viúvas, as pessoas mais fracas e indefesas de Israel segundo a tradição bíblica. 

É inútil querer fazer bela figura diante de Deus, pensando que Ele se deixa impressionar pelas grandezas humanas. O Reino de Deus subverte as categorias humanas. Assim, o que é grande aos olhos humanos, é desprezível para Deus. E vice-versa: o que o mundo desvaloriza, encontra valor aos olhos de Deus. Mas Jesus, que acaba de criticar tão duramente os “controladores” do Templo e da Religião, descobre também a riqueza espiritual que uma pobre viúva manifesta, e reconhece que a maneira dela atuar deve ser referência para todos, porque é reflexo de sua atitude para com Deus. Distante de todo cálculo mesquinho, ela se deixa levar pelos sentimentos mais nobres. Jesus descobriu naquela mulher uma atitude esplêndida: o comportamento de alguém que espera tudo de Deus. 

Precisamente, esta viúva vai desvelar (tirar o véu) da religião corrupta dos dirigentes religiosos. Seu gesto passou desapercebido a todos, mas tocou a sensibilidade de Jesus. O Evangelho nos diz muito pouco sobre ela; diz-nos somente que, enquanto para muitos olhos ela passa desapercebida, o olhar de Jesus, pelo contrário, a descobre e a eleva. 

Encontramo-nos aqui diante de uma mulher sem nome, não sabemos se jovem ou idosa, somente sabemos que era viúva, que viveu perdas. E Jesus nos faz olhar a magnitude, a generosidade desta mulher em meio à sua pobreza e como ela se envolve no dom da entrega. Seu atrevido gesto torna-a aberta, vazia e disponível para deixar-se conduzir por uma Vida maior, para confiar na bondade do Mistério.

Não é uma mulher que anda escondida no anonimato, para que ninguém a veja colocar sua oferenda. Não está se esquivando do olhar dos outros. Não lhe dá vergonha colocar pouco no cofre, nem se sente grandiosa por depositar tudo o que tinha. Esta viúva não buscou honras nem prestígio algum; age de maneira calada e humilde. Não pensa em explorar ninguém; pelo contrário, dá tudo o que tem porque outros podem precisar. Segundo Jesus, ela deu mais que todos, pois não dá do que lhe sobrava, mas “ofereceu tudo o que tinha para viver”. 

“Muitos ricos depositavam grandes quantias”. As moedas eram depositadas em uma espécie de funis enormes, colocados ao longo do muro do Templo. A ampla boca do funil de bronze permitia lançar as moedas de uma certa distância, fazendo muito ruído ao caírem. Os ricos podiam ouvir, com orgulho, o som de suas moedas ao se chocarem com o metal no interior do cofre. O que a viúva depositou foram duas moedinhas do mais baixo valor da época e que não emitiam sons ao passarem pela boca do funil. 

Era preciso ter um ouvido bem apurado para descobrir esse gesto silencioso de uma mulher que vive como oferenda, porque não retém nada para si. Mas Jesus, com sua sensibilidade aguçada, chama os seus discípulos para observá-la, pois dificilmente encontrarão no ambiente do Templo um coração mais generoso e mais solidário com os necessitados. Gente simples que poderá ensiná-los a viver o Evangelho. 

Por que o gesto da viúva chamou tanto a atenção de Jesus?  É que Ele tem outra lógica para olhar os acontecimentos, não tem uma visão gananciosa, nem mercantilista. Ele vê além das aparências e descobre a generosidade e o desprendimento dessa pobre mulher que entrega tudo o que tinha. Jesus fica impactado pela gratuidade do gesto: ela tinha entre as mãos duas moedas e não duvidou, nem calculou quanto lhe dariam a prazo fixo se investisse em um seguro de velhice ou na poupança da Caixa. Pareceu-lhe que era melhor investir tudo em uma só cartada, a da entrega, a da totalidade, e toda ela estava inteira em sua eleição tão arriscada. Toma a decisão temerária de depositar no cofre do templo, e de uma só vez, as duas moedinhas que era tudo o que tinha para viver. 

Dizia S. Ambrósio: “Deus não se fixa tanto no que damos, quanto no que reservamos para nós”. Aquilo que se guarda acaba se perdendo. A viúva, ao renunciar a menor segurança, manifesta a verdadeira grandeza. Oferecendo aquilo que lhe restava para viver, a mulher colocava-se toda nas mãos do Pai e fazia sua vida depender totalmente d’Ele. Reconhecia que tudo, em sua vida, era dom de Deus. Por isso, com toda a liberdade e sem a ânsia de possuir, foi capaz de arriscar tudo. Esta é a oferta que tem valor diante de Deus. 

“Ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”. Para captar toda a força desta frase final, temos que levar em conta que em grego “bios” significa não só vida, mas também modo de vida, recursos, sustento; seria o conjunto de bens imprescindíveis para a subsistência. Nós temos uma palavra que poderia se aproximar bastante da expressão grega: “víveres” ou “sustento”. Deu tudo o que constituía sua possibilidade de viver. Equivaleria a pôr sua vida nas mãos de Deus. 

Eis a questão: passar de nossas mãos possessivas às mãos que se estendem para oferecer e partilhar. Aquilo ao qual estamos apegados nos ata, e o que retemos nos possui. Para viver uma sadia relação com os bens precisamos ser capazes de tomar, de abraçar e de soltar. O que nos impede estar disponíveis para Deus vai sendo afastado, e pouco a pouco vamos nos aproximando cada vez mais de nosso centro, ou seja, o nosso coração, onde as moedas não fazem barulho; são moedas cunhadas no silêncio do encontro com Aquele que é fonte de todas as nossas riquezas; e é no silêncio que essas moedas se expressam através dos gestos despojados do serviço, do compromisso e da partilha... 

E, assim, a vida se faz uma oferenda contínua. 

Texto bíblico: Mc 12,38-44
Na oração: Esta cena tão simples do Evangelho nos desafia mais uma vez, e nos vemos retratado nela; simplesmente temos que nos deixar interpelar pelo relato e tentar descobrir se nossa atitude de vida está mais próxima da dos escribas ou mais próxima daquela da viúva.

* o quê prevalece em mim: uma religião de aparência, de ritualismos, de moralismos (própria dos doutores da lei) ou uma religião do coração (simplicidade, generosidade, despojamento...) própria da viúva?


Pe. Adroaldo Palaoro sj


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