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terça-feira, 2 de julho de 2019

DUAS REAÇÕES DISTINTAS! - Antonio Nunes de Souza


Ah! Ah! Ah! Eu sabia e tinha certeza que ia ser assim!

A nossa genial seleção iria dar um banho nos nossos “Hermanos”, e nem iria dar chance a “vedete” deles, o tal do Messe, para brilhar em gramado brasileiro. Achei até que foi pouco o escore de 4 X 0, fora os dois gols que o WAR anulou sem que houvesse motivo justo. E eles deram sorte, pois, se Neymar estivesse jogando a goleada seria bem maior!

Lavamos nossa alma, e fizemos os mineiros esquecerem do traiçoeiro 7x1 que sofremos na copa do mundo. Agora vamos partir para a final tranquilamente, pois, com esse time, será impossível não levantarmos a taça!

Garçom, traga mais uma cerveja bem gelada, alguns salgadinhos e mande preparar um churrasco com picanha argentina bem mole, como foi esse jogo! Ah! Ah! Ah! Braaasiiiill!


Garçom limpe aqui a mesa, e traga uma rodada de conhaque Dreher e umas calabresas cortadas para tira-gosto. Quero tirar o gosto ruim dessa derrota desgraçada para esses argentinos miseráveis. Qualé “Hermanos” que nada!

Se não fosse o Gabriel de Jesus ter perdido o pênalti, o jogo teria empatado e, nos pênaltis, nosso goleiro é o melhor do mundo. Seria a sopa no mel!

Pior de tudo mermão, foi que apostei e ainda dei um gol. Perdi dois mil e vou tomar a maior gozação no trabalho!

Garçom traz mais cervejas meu filho! Quero afogar minhas mágoas antes de ir para casa. Essa foi uma grande decepção. Sempre achei que Tite não era bom técnico. Sinceramente, eu preferia que fosse Dunga que é guerreiro e tem garra!

Agora, com a cara mais cínica, esse timezinho de merda vai disputar o terceiro lugar. Grande porcaria e eu, retado como estou, vou torcer contra!

Essas são duas prováveis reações que veremos hoje a noite, depois do jogo Brasil x Argentina. Os brasileiros só aprenderam a ganhar o primeiro lugar, e não raciocinam que todas as seleções vieram participar com seus melhores e mais bem treinados jogadores, com o pensamento de vencer a competição!

Espero que a primeira reação seja a agraciada!


Antonio Nunes de Souza escritor
Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL

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DOMINAÇÃO E EMANCIPAÇÃO - Péricles Capanema


26 de junho de 2019

Péricles Capanema

Amigos me solicitaram que escrevesse de novo sobre o chamado marxismo cultural — de momento tão relevante e na moda em decisivos meios de esquerda e na direita — e, de forma congruente, pusesse no texto informações pertinentes à Escola de Frankfurt [foto acima], atemorizador negotium perambulans in tenebris para tantos e com bons motivos. Apenas como informação provavelmente inócua, o artigo anterior “Esclarecimentos sobre o marxismo cultural”, está em meu blog (periclescapanema.blogspot.com) desde 25 de fevereiro último.

Obediente, volto ao assunto. De passagem, o hoje denominado marxismo cultural foi também chamado de marxismo ocidental, aqui e ali é qualificado de Teoria Crítica, marxismo da Teoria Crítica, um dos fundamentos doutrinários da revolução cultural. Nem faz falta realçar a importância da revolução cultural (e a consequente necessidade de estudar doutrinas e métodos seus e como a eles fazer frente).

Para cortar caminho, deixar claro o desatino da escola, embarafusto antes por atalho pouco trilhado, pinceladas rápidas sobre dominação e emancipação, duas das obsessões da referida escola. Seus mais conhecidos representantes blasonavam (não custa lembrar, o marco inicial da escola poderia ser cravado em 1923, estamos em sua terceira e quarta geração) o ideal de extinguir a dominação e levar até limites ainda impensados a emancipação humana. E continuam a alardeá-lo. Não custa lembrar por cima, cada vez que líderes de orientação igual ou parecida afirmavam aplicar o marxismo à sociedade, na prática levavam a dominação e sufocavam a emancipação a extremos delirantes. A Coreia do Norte está aí, Cuba que o diga, a Venezuela sofre efeitos dantescos dos partidários da emancipação.

Sempre é bom lutar contra a dominação? Em todas as situações deve ser buscada a emancipação? Dominação vem de dominus, senhor. Dominação é o ato próprio do senhor. Se é má a condição de senhor, maus serão seus atos. Emancipação, o que é? Emancipação igualmente tem origem latina (mancipium, qualidade do proprietário). Emancipar é extinguir a tutela do proprietário sobre outro ser.

Acontece que é boa e nobre a condição de senhor. E assim, seus atos são bons. E são bons e nobres a condição de súdito e o ato de obedecer. Censuráveis, excessos e carências em ambos os casos, senhor e súdito.

Com efeito, a autoridade existe para o bem do súdito. Removê-la em determinadas circunstâncias lesa o inferior. De forma análoga, a emancipação prematura prejudica o emancipado. Enquanto dura em condições adequadas, favorece o tutelado. Retirar o filho menor da tutela do pai, emancipá-lo antes da hora, compromete presente e futuro. Mais ainda, a autoridade e a dependência prolongam bons efeitos vida afora, perfumam-na. Anos atrás, conversei com prima distante, três filhos criados, casada com advogado rico em Belo Horizonte. Aparentemente tudo ia bem. Uma queixa ia e vinha, a morte da mãe anos antes, fazia pouco o pai. Fechava e abria a mão direita. “Me sinto um cachorro sem dono”,espetou o dedo.

Em suma, é destruidor para o desenvolvimento pessoal arrebentar todas as formas de dominação e promover a desenfreada emancipação. Que o digam em lamentos lancinantes algumas regiões da pobre e devastada África. Aqui rui nas bases o edifício da Escola de Frankfurt, verdadeira Torre de Babel de incontáveis correntes de esquerda, laboriosamente edificado ao longo dos anos.

Em boa hora para a esquerda (péssima para nós) brotou a Escola de Frankfurt. Abriu-lhe horizontes, pôs em evidência matérias imprescindíveis que a doutrina marxista empurrava para o canto ou negava na bruta; enfim, fincou estacas doutrinárias a uma ação revolucionária de maior profundidade que latejava por se expandir.

Movimento intelectual, sobretudo filosófica e sociológica, passou longe do grande público, o que não significa que teve pouca importância. Lembro a propósito, cinco camadas envolvem a Terra: troposfera, estratosfera, mesosfera, termosfera e exosfera. Existem fenômenos nas quatro camadas superiores, que influenciam a troposfera, ainda que desconhecidos de nós nela imersos. Assim na sociedade humana. A Escola de Frankfurt influenciou a vida acadêmica e os estratos intelectualizados dos movimentos revolucionários no mundo inteiro. E daí seus conceitos embeberam meios de divulgação, a política, outros ambientes intelectualizados e, finalmente, a sociedade em geral. Apenas uma pequena ilustração, o maior guru do maio de 1968 e das agitações de Berkeley, um pouco antes, foi Herbert Marcuse (1898-1979), dos principais representantes da referida escola.

O marxismo, materialista, determinista e evolucionista procura explicar toda a realidade pela economia, de outro modo, pelas forças de produção. Afirmei no artigo acima mencionado: “Segundo o marxismo, o determinante na história é a economia. E na economia os meios de produção, […] base das relações de produção. As forças produtivas e as relações de produção dariam origem aos modos de produção. Existem sete modos de produção: primitivo, asiático, escravagista, feudal, capitalista, socialista e comunista. Um leva ao outro. Temos aqui a infraestrutura. A superestrutura são as ideias e instituições (entre elas, o Estado) que justificariam e garantiriam os modos de produção. O socialismo nasceria apenas depois de a sociedade capitalista estar bem desenvolvida. Por sua vez, o comunismo só depois do desenvolvimento do socialismo. Para o momento, o importante é o determinismo da doutrina marxista. Em doutrina, por ser determinista, desvaloriza o ato volitivo e relativiza por inteiro o bom, o mau, o belo, o feio, o justo e o injusto, colocados na superestrutura, dependentes das relações de produção. Até a ação política e o proselitismo. Na prática, os partidos comunistas nunca agiram segundo a pura doutrina marxista. Não foram deterministas, esperavam da ação partidária a aceleração do dia em que surgisse o homem novo sonhado pela utopia.”

Antes, tínhamos o marxismo focado em fatores econômicos. Não só deformava, limitava o horizonte. A Escola de Frankfurt propôs a revolução não só na sociedade, mas no interior do homem, privilegiou instintos, advertiu contra os perigos da razão
[em especial denunciou a razão instrumental, instrumento favorecedor da sociedade
capitalista em suas digressões]

Propugnou a liberação moral, como atividade emancipadora. Enfatizou o papel central dos hábitos, das mentalidades, das ideias. Enfim, do que se chamou a cultura e não apenas do econômico. Daí ser titulada de marxismo cultural. Era marxismo ainda? Nas bases, não. Mas era doutrina profundamente revolucionária, que servia como luva para o avanço do comunismo no interior do homem e na sociedade. Voltarei ao tema.




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A CONVERSA DESFIADA - Péricles Capanema


2 de julho de 2019

Péricles Capanema

Provocada pelo clima de Brasília, despenca sobre nós, sem fim, a saraivada do escarcéu, desgoverno, desorientação, boçalidade e baixaria. Debaixo do granizo, difícil perceber o impulso decisivo de toda boa ação política, o agudo senso do bem comum.

Em outra comparação, a vida pública brasileira já de há décadas vem rolando em precipícios dos quais não se vê o fundo. A previsão de Ulisses Guimarães tem se verificado doloridamente, foi mais ou menos assim: “Está achando ruim essa composição do Congresso? Então espera a próxima, vai ser pior”. Imaginem, a atual já apavora, a pífia consolação é que a próxima virá pior. Toda profissão depende da qualidade de seus membros. Com tais atores, a peça não vai ter sucesso. Mas não vou jogar tudo no cangote dos políticos no Planalto Central. Fomos nós, os eleitores, que os mandamos para lá.

Não pretendo prescrever panaceias para tal situação. Faço outra coisa, da remedama necessária, tiro do estoque e ponho na vitrine só um vidrinho, cujo recheio tanto serve para a vida pública quanto para a particular. Assim, não abandono inteiramente a matéria, mas trago à baila modesta contribuição para a solução do problema, útil igualmente para a vida de todos os dias de qualquer brasileiro.

Passo a desfiar o assunto. Em política, quem sabe conversar, já tem meio caminho andado. E dou o primeiro passo com frase conhecida, política é conversa, o resto é conversa fiada, da lavra, parece, de Otávio Mangabeira. Política e tanta coisa mais é conversa, o resto é conversa fiada. Número enorme de atividades humanas descansa na conversa.

O começo é ouvir. A língua faz muita gente surda. Nada escuta, tomada pelo gosto da parolagem compulsiva e oca; quem muito fala, muito erra e muito enfada. Ouvir supõe interesse, paciência, compreensão. Benevolência. As duas primeiras estacas, interesse e paciência, seguram o andar superior, a compreensão, entender até o fundo e em todos os matizes o que está dizendo ou está querendo expor o outro. Se queres ser bom juiz, ouve o que cada um diz.

Qualquer um, qualquer outro, até os mais simples. O interesse no pequeno é estrada para entender o grande. “Aperfeiçoa-te na arte de escutar, só quem ouviu o rio pode ouvir o mar”, advertência de Altino Caixeta de Castro, o Leão de Formosa, bom poeta do Triângulo Mineiro. Nelson Rodrigues marcou o Brasil e até hoje não foi esquecido (morreu em 1980) em especial porque entre outras qualidades sabia escutar: “Posso não ter outras virtudes, e realmente não as tenho. Mas sei escutar. Direi, com a maior e mais deslavada imodéstia, que sou um maravilhoso ouvinte. O homem precisa ouvir mais do que ver. Qualquer conversa me fascina […]. E, se duas pessoas se falam, a minha vontade é parar e ficar escutando. Uma simples frase, ainda que pouco inteligente, tem a sua melodia irresistível”.

Sentir as ocasiões dos silêncios, modular a ênfase, o timbre da voz, ter maestria nas pausas são tão ou mais eloquentes que a o impacto da palavra. Fala o olhar, o gesto fala, a atitude fala, pode valer mil palavras o sorriso. O bocejo ou um gesto brusco tantas vezes cortam mais que refutações veementes. A presença, enfim. Existem presenças estimuladoras, presenças sabotadoras, presenças opacas. Dizia-se do príncipe de Metternich que a conversa dele fazia os interlocutores se sentirem mais inteligentes.

Deixei o miolo para o fim. O anterior ajudava a realçar o principal, o conteúdo. Como enriquecê-lo? Alguns recursos, observação, explicitação das impressões, leituras, bem como, sob outro aspecto, nas ocasiões adequadas, formação sistemática e estudos. Tudo isso enobrecido pelo caráter. Aí a pessoa tem muita coisa a dizer e é útil a todos a disposição de comunicá-la.

Desfio o assunto um pouco mais. A vida política tem aspecto pouco comentado, a exemplaridade. O rei, sob tantos aspectos o mais importante político de uma nação, é naturalmente modelo para o povo, objeto de sua atenção, aprendizado e entretenimento. Basta ver a atenção que provoca a rainha Elisabeth II. O político, a seu modo e proporção, é um pequeno rei. Tem também o dever da exemplaridade. E saber conversar bem o ajudaria a cumprir tal missão.



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