“Foi a experiência mais tenebrosa, desesperadora e solitária
da minha vida. Eu me sentia no fundo de um abismo. Tudo ao meu redor era
silêncio: silêncio dos amigos, da família e, aparentemente, até de Deus. Vivia
completamente sem esperança de que alguém me estenderia a mão para me
resgatar.”
Assim se inicia o artigo intitulado “Aprisionados pela
pornografia”, publicado no jornal “Correio Braziliense” (18-3-18), de autoria
de Gabriela Vinhal e Hellen Leite. As palavras são de “Sônia” (nome fictício),
uma viciada em sites de pornografia.
A matéria em nenhum momento aborda o aspecto religioso e
moral, sem dúvida o mais importante, mas abunda em referências cientificas,
opiniões de estudiosos e psicólogos. Esse lapso mostra o quanto ela é
“insuspeita”, pois alguém poderia dizer: “Aí vai mais uma opinião religiosa
sobre pornografia”…
Segundo Fábio Augusto Caló, especializado em terapia sexual
no Instituto de Psicologia Aplicada (Inpa), “esta trajetória se assemelha
à de pessoas que se tornam dependentes de substâncias químicas. Uma atividade
inicialmente prazerosa passa a ser buscada cada vez mais, até um ponto em que
prejudica a escola ou o trabalho e afeta os relacionamentos pessoais”.
Especialistas dizem o caminho tomado por Sônia não é raro e
pode levar a quadros de desespero quando a pessoa acha que perdeu o controle
sobre a própria vontade. “Não é incomum que o dependente enfrente sérios
riscos de suicídio e também se coloque em situações que podem afetar sua saúde
física”.
O tema está diretamente ligado à era digital. Impressiona a
afirmação de Caló: “Com a internet, a pessoa abre 15 vídeos de uma vez.
Ela pode adiantar cenas, ver diferentes tipos de sexo. A quantidade de
estímulos a que fica exposta em uma hora é muito maior do que a de um
indivíduo, há 40 anos, teria ao longo da vida inteira.”
Dados da revista americana “The Week” indicam que 12% dos
sites — cerca de 76 milhões de endereços — são dedicados a “conteúdo
explícito”. Um só site pornográfico recebeu por dia, em 2017, a visita de 81
milhões de pessoas (sic!) de todo o mundo. O Brasil é o 10º lugar no ranking dos
países que mais buscam esse mesmo portal.
A facilidade de acessar conteúdos assim na internet é tal,
que até crianças estão sujeitas ao consumo dessas imagens e vídeos.
Assim como acontece com todos os outros vícios, quanto mais
se afunda no consumo da pornografia, menos satisfação se recebe e mais difícil
se torna abandoná-lo. O que parecia um mundo de felicidades, um “paraíso”,
torna-se um inferno.
Nossa conclusão não é a mesma do “Correio Braziliense”, cujo
artigo aconselha a busca de ajudas meramente científicas e naturalistas.
Todo este assunto é novidade para quem não tem formação
religiosa verdadeira, mas não surpreende os que acompanham o desvario dos
acontecimentos anunciados por Nossa Senhora em Fátima.
Por sua vez, aqueles a quem incumbiria condenar, invectivar
e repreender, se calam, omitem-se, para dizer pouco.
Uma pergunta que inevitavelmente vem ao espírito é: até onde
nos conduzirá essa marcha de depravação em depravação? Segundo os autores de
vida espiritual, se o homem não colocar um basta nas suas tendências más, não
há limites aonde ele não possa chegar. Já se divisam no horizonte aberrações
que me poupo de citar aqui por respeito aos leitores.
O alerta em relação aos vícios, especialmente aos de
impureza, vem sendo abordado há dois mil anos. Aliás, até muito antes. O Antigo
Testamento está repleto de elogios à virtude da castidade. Nosso Senhor Jesus
Cristo e os Apóstolos a louvaram magnificamente; os primeiros Padres da Igreja,
os Santos, os Doutores, exaltaram-na de maneira toda especial.
Nada disto é novidade para um bom católico. Antes de tudo, a
Doutrina da Igreja nos ensina que sem a graça de Deus — que nunca falta a quem
pede — jamais conseguiríamos praticar a virtude da pureza, que nos faz
semelhantes aos Anjos do Céu.
Enquanto este mundo não se converter à totalidade da moral
ensinada pela única Igreja verdadeira do único Deus verdadeiro, não há abismo
em que não se precipite.
Peçamos Àquela que foi concebida sem pecado, a Imaculada Mãe
de Deus, que nos ajude a preservar essa santa virtude, ou a recuperá-la, para
que se realizem assim em nós as palavras do Divino Mestre “Bem aventurados
os puros de coração, porque eles verão a Deus”(Mt 5,8).
Continuando as nossas reflexões sobre o laicato, gostaria
deter-me de um fenômeno surgido nas últimas décadas na Igreja, de iniciativa na
maioria das vezes, dos leigos, em sintonia com o ensinamento da Igreja
que são as Novas Comunidades Cristãs.
O Espirito Santo continua agindo na Igreja. Se olharmos na
sua história podemos perceber a sua ação em cada época de forma diferente, mas
sempre como a resposta às necessidades no seu tempo. Assim vemos, por exemplo,
o surgimento das comunidades cristãs relatadas nos Atos dos Apóstolos. Depois
século II e IV surgiu o movimento chamado monarquismo, em defesa da Santíssima
Trindade, depois surgiu o movimento mendicante no século XIII. (O movimento foi
chamado assim por sua característica de “mendigar” humildemente ao apoio das
pessoas para viver o voto de pobreza e levar a cabo a missão evangelizadora.
Aqui se destacam São Francisco de Assis e São Domingos de Gusmão com grandes
famílias religiosas Franciscanas e Dominicanas. Estes santos tiveram a
capacidade de ler com inteligência “os sinais dos tempos”, intuindo os desafios
que a Igreja da sua época deveria enfrentar).
Depois, as congregações voltadas à caridade, nos séculos XV
e XVI; e nos séculos XVII e XVIII formam-se as congregações missionárias com
Santo Afonso, São Paulo da Cruz etc., e assim por diante.
E hoje o Espirito Santo se manifesta nas Novas Comunidades
Cristãs. (continuará).
Com a minha oração e a benção. Uma boa noite.
Dom Ceslau.
...
24/4/2018
As Novas Comunidades surgiram na década de 1970 na França e
nos EUA. No Brasil, as primeiras Comunidades Novas apareceram na década de
80. Hoje temos inúmeras Novas Comunidades. Alguns afirmam que são mais de
500.
O que são estas Novas Comunidades?
Primeiro não são religiosos como nós conhecemos, e não vivem
nos conventos, nem atrás de clausura. São os grupos compostos por homens
e mulheres, por clérigos ou leigos, casados, celibatários ou solteiros, que
seguem um estilo particular de vida sob a espiritualidade de um carisma
particular. Eles vivem no mundo (não na clausura ou conventos) guiando-se com
mesmo carisma e vivendo radicalmente o evangelho de Jesus. Quantos destes
trabalham com você no escritório, consultório, no comercio, nas empresas etc.,
(trabalham com você, ao seu lado, sem você até perceber). Eles fazem,
espontaneamente, depois de uma caminhada de preparação, as promessas,
compromissos ou votos de obediência, pobreza e castidade, cada um segundo o seu
estado de vida.
Este estilo de vida guiado por um carisma particular se
chama: Novas Comunidades Cristãs (Continuaremos).
Com o desejo de uma repousante noite, com a minha humilde
oração e a benção. Boa Noite.
Dom Ceslau.
....
25/4/2018
O Concílio Vaticano II pedia que a Igreja fosse inserida no
mundo e capaz de atraí-lo para Cristo. Ao mesmo tempo que a Igreja desse a
resposta aos desafios de seu tempo.
O Papa São João Paulo II, na Vigília de Pentecostes de 1998,
chamou as Novas Comunidades de “providencial resposta do Espírito”. Isso
porque, através das Novas Comunidades, leigos que se consagram a Deus a partir
de um carisma vivem o seu Batismo de forma autêntica num mundo cada dia mais
secularizado.
Foi precisamente o Papa São João Paulo II que sublinhou a
importância das Novas Comunidades Cristãs no seio da Igreja. E o Papa Bento XVI
deu continuidade à iniciativa de seu antecessor. Desde o Concílio Vaticano II,
depois as Conferencias Latino Americanas, principalmente de Santo Domingo, nas
Diretrizes da Ação Evangelizadora do Brasil da CNBB, Igreja proclama o
protagonismo dos leigos. E tudo isto foi o incentivo para o surgimento das
Novas Comunidades, e muitas vezes de iniciativa dos próprios leigos.
(continuará). Com a benção e oração. Uma Boa Noite.
Dom Ceslau.
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26/4/2018
A Conferencia de Aparecida reconhece e valoriza as Novas
Comunidades. Lemos: “Os novos movimentos e comunidades são o dom do Espírito
Santo para a Igreja. Nelas, os fieis encontram a possibilidade de se formar
cristãmente crescer e comprometer-se apostolicamente até ser verdadeiros
discípulos missionários” (Ap. 311).
No sequencia fala: “Os movimentos e novas comunidades
constituem valiosa contribuição na realidade da igreja particular” (nas
dioceses). Por sua própria natureza, expressam a dimensão carismática da Igreja
(...) “nova comunidades são uma oportunidade para muitas pessoas afastadas
possam ter uma experiência de encontro vital com Jesus Cristo e assim recuperar
a sua identidade batismal e a sua ativa participação na Igreja” (Ap. 312).
Assim as Novas Comunidades, são o sopro do Espirito Santo
quando vivem o seu carisma, mas na unidade com a Igreja diocesana, não só de fé
mas também de ação. Por isso, para que estas comunidades tenham maior força
evangelizadora precisam do discernimento e a aprovação do bispo diocesano, e
caso já saírem das fronteiras da diocese e até do país, da Santa Sé.
Com a minha benção e oração. Uma repousante noite.
Dom Ceslau.
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27/4/2018
Eis algumas Novas Comunidades mais conhecidas entre nós: A
“Canção Nova”, de inspiração de Mons. Jonas Adib, que após o estudo da
Exortação Apostolica do Papa Paulo VI sobre a Evangelização: Evangeli
Nuntiandi, e depois de ouvir o desejo do Dom Afonso de Miranda (hoje com 98
anos!), na época bispo de Lorena SP, de encontrar alguma forma para uma nova
evangelização dos jovens, teve uma luz. Reuniu jovens, e lançou o desafio:
Precisamos catequizar e evangelizar.
Desta decisão assumida corajosamente em 1978, por ele e
pelo grupo de jovens, nasceu, com o apoio de Dom Antônio Miranda, a
Canção Nova, cujo carisma é evangelizar, usando os meios de comunicação
acessíveis em cada época. Hoje a Canção Nova tem a disposição para anunciar o
Evangelho: a rede de rádios Canção Nova, a TV Canção Nova, as revistas e livros
da Editora Canção Nova.
A Comunidade foi reconhecida pela Santa Sé. A outra
Comunidade é a Comunidade Shalon, fundada por Moysés Azevedo. A Comunidade
nascida no meio da juventude, com o objetivo de evangelizar os jovens mais
afastados de Deus.
O seu início se deu em Fortaleza em 1982. Várias pessoas
vindas da Renovação Carismática Católica transformaram uma lanchonete em um
meio de atração dos jovens a Deus. Hoje é a maior Nova Comunidade no país, com
mais de 8 mil membros. Esta, já está espalhada pelo mundo inteiro. Tem o
reconhecimento da Santa Se desde 2007.
Admirável é Deus em suas obras. Um boa noite. Com a minha
benção e oração.
Dom Ceslau.
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28/4/2018
Encerrando estas reflexões dentro do tema do laicato, sobre
as Novas Comunidades, constatamos que a maioria tem a origem na Renovação
Carismática Católica.
“Na Igreja não há contraste ou contraposição entre o
dinamismo institucional e a dimensão carismática, da qual os movimentos são
expressão significativa, porque ambos são igualmente essenciais para a
constituição divina do Povo de Deus” (Bento XVI) Ap.312).
Da Carismática, nasceu em Itabuna a Comunidade Rainha da
Paz. As jovens Gracinha, sua irmã Márcia e outro ajudavam ao Pe. Edvaldo. Com
tempo elaboraram algumas orientações de ação. Com a minha chegada, ajudei a
organizar a base da sua vivencia isto é o Estatuto – Regra de Vida.
Estruturamos a comunidade, que hoje segue seu curso evangelizando por meio da
música e trabalhos apostólicos na Diocese de Itabuna.
A Comunidade recebeu o reconhecimento e aprovação da
Diocese. Assim já tem o seus “status” juridicamente definido. Da mesma forma
ajudamos a estruturar a comunidade formada (em 1993) pelo Pe. Manuel Carlos de
Jesus Cruz, a Comunidade chamada: Instituto Missionário Amigos de Cristo,
Mensageiros da Paz. Tem como o objetivo e carisma evangelizar os ambientes (as
famílias), e rezar pela paz. Já tem dezenas de membros espalhados pela Bahia e
outros estados. Esta comunidade também tem a aprovação do Estatuto e Regra de
Vida e recebeu o reconhecimento e aprovação diocesana.
Não podemos limitar as ações do Espirito Santo. Ele sopra
quando e onde quer, sempre vai ao encontro das necessidades do povo de Deus.
Com a minha oração e a benção. Boa noite. .
Dom Ceslau.
...............
Dom Ceslau Stanula - Bispo Emérito da Diocese de Itabuna-BA,
escritor, Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL
Reginaldo Daniel da Silveira (R. D. Silveira) escreve para
revistas científicas, veículos de comunicação e também é autor do livro técnico
“Videoconferência: a educação sem distância”. Além de escrever, Silveira atua
como psicólogo, ocasião em que avalia pessoas e trata pacientes. A formação
cultural (graduação, especialização, mestrado e doutorado) é base de apoio na
educação.
Silveira é professor de graduação/pós-graduação e
pesquisador numa universidade federal. Já dirigiu instituições de ensino e
desenvolveu projetos de EAD (um deles em execução em todo o Paraná). Seu
histórico inclui ainda a atuação durante anos como jornalista, tendo dirigido
emissoras de rádio e recebido prêmios na área de comunicação. O “Inferno é
Verde”, seu livro atual e primeiro romance policial, vem sendo aclamado pela
crítica como uma das obras mais interessantes do ano sem deixar nada a desejar
aos grandes best-sellers.
“Conhecer o autor é tão importante como apaixonar-se ou
irritar-se por este ou aquele personagem. O autor escreve por algo que quer
dizer a quem puder lê-lo. O texto é o meio de união que leva à investigação,
guia a interpretação; e o que sabemos fora dele ajuda a ampliar este
entendimento.”
Boa leitura!
Escritor R. D. Silveira, é um prazer contarmos com a sua
participação na revista Divulga Escritor. Conte-nos, em que momento surgiu
inspiração para o romance “O Inferno é Verde”?
R. D. Silveira - Ler, observar pessoas, ouvir músicas
ou assistir a filmes foram momentos inspiradores, mas eu creio que a impulsão
foi a ideia de produzir um texto como contraponto às notícias de espionagem
americana de pessoas e países com o objetivo de dominação. Ao tentar juntar o
que me vinha à mente a uma história de tráfico de drogas, não gostei do meu
texto, parecia sintático e formal demais. Resolvi parar e fui ver televisão. No
jogo de futebol, uma torcida verde gritava sem parar: Green hell! Green hell!
Por instantes fiquei absorto nas imagens e então retornei ao computador, com um
desejo intenso de escrever o que me viesse à mente, algo que me arrepiasse, que
parecesse mágico. Foi então que criei a Agência Internacional de Inteligência
3-i, a “Operação Green Hell” e o tráfico de drogas na Amazônia. Acrescentei a
isso tudo o olhar sobre o que acontecia no Brasil.
Como foi a escolha do título? Quem veio primeiro, o título
ou o enredo
R. D. Silveira - A escolha do título foi marcante neste
trabalho. O nome “O Inferno é Verde” veio da Operação Green Hell e depois eu
criei o enredo. O texto ganhou impulso quando a Lava Jato já estava em
desenvolvimento. Sobre a ficção que na trama envolvia tráfico de drogas,
guerrilhas, índios, animais, agentes especiais e tecnologias de apoio à
inteligência internacional, ousei sobrepor um novo texto. Digamos que eu
coloquei dentro do primeiro texto, o da ficção, recortes de um texto distinto,
o da realidade brasileira de uma Lava Jato, que para uns era a redenção e para
outros era o desastre. Uma parte a queria e a outra a temia. Na metáfora da
dicotomia, o inferno pode se transformar no paraíso e o paraíso pode se
transformar no inferno. O verde do encanto e da sedução pode ser também o
inferno das drogas e da corrupção.
Apresente-nos a obra.
R. D. Silveira - Um carro é lançado ao precipício numa
rodovia da Mata Atlântica. A Agência Internacional de Inteligência 3-i, apoiada
por metade do planeta, dá início na Amazônia à mega operação Green Hell para
investigar o tráfico de drogas. Refém de uma guerrilha dissidente das Forças
Armadas Revolucionárias (FARC), o agente especial Nolan enfrenta guerrilheiros,
traficantes, anacondas, onças e jacarés. O inusitado vai além quando ele toma
como parceiro um animal selvagem; e como paixão, uma índia. Num cenário que
inclui robôs virtuais e drones, o combate ao sistema de produção e distribuição
de drogas vai da Amazônia à República de Curitiba, energizada pela Operação
Lava Jato. Quando os fios da trama se unem ao homicídio na rodovia da Mata Atlântica,
Moore, delegado executivo da 3-i precisa ajudar seus agentes a encontrar a
central de distribuição de drogas. Do contrário a operação fracassará. Green
Hell! Não dá para esquecer!
Quais os principais objetivos a serem alcançados com a
publicação e divulgação da obra?
R. D. Silveira - O objetivo do projeto literário é, em
primeiro plano, entreter. Ao acrescentar ao entretenimento informações e
olhares sobre a realidade, provoca-se a reflexão. Quando a ficção se mistura
com a realidade é possível criar recortes de pensamento crítico, por exemplo,
sobre um futuro menos corrupto e mais universalista do que imperialista. Dentro
dos seus limites, o trabalho tem o efeito de produzir uma espécie de teaser de
um enredo a ganhar corpo em outras obras. A ousadia é esperar o entretenimento
reflexivo, a harmonia entre o passatempo genuíno e as cognições que nos fazem
pensar sobre nós mesmos e o mundo.
“O Inferno é Verde” está sendo visto como uma das principais
obras paranaenses. O que, em seu ponto de vista, levou o livro a ter tamanho
destaque no mercado literário contemporâneo?
R. D. Silveira - Como diria Foucault, o que escrevi
nesta obra é para mim hoje, o anterior e o exterior. Pergunto-me se como
produtor do texto, cabe apenas a este autor definir o que fez. Para Roque
Aloisio Weschenfelder em “O Inferno é Verde” há um nexo presente entre os
episódios e a realidade contemporânea brasileira. O crítico literário destaca
ainda a linguagem em capítulos iniciados sempre por uma palavra ou expressão,
geralmente objeto direto da última frase do capítulo anterior. Nas palavras de
Weschenfelder este modo “sui generis” de escrever é um meio de comprometer o
leitor a não interromper a leitura. Eu não arriscaria explicar tudo por um
único viés, mas acredito que há um pouco desta análise crítica na receptividade
da obra.
Qual o momento, enquanto escrevia a obra, que mais o marcou?
Comente.
R. D. Silveira - Um momento singular foi conceber a
tentativa de fuga de Nolan, prisioneiro da guerrilha, em meio a guerrilheiros
armados, índios selvagens, onças, cobras, insetos e plantas venenosas.
Sobreposto a isto, o agente precisava decidir se deixava a 3-i e ficava com a
índia Amaru, ou continuava na 3-i e deixava seu coração na selva. Em outros
momentos, me assustei quando um prisioneiro foi jogado a duas gigantescas
sucuris; me sensibilizei pelo amor incondicional de um pequeno quati a Nolan,
me impressionei com a bravura da índia Amaru. Por fim, é bom lembrar que dei
muitas risadas quando Nolan com diarreia procurou um chonto(buraco para
necessidades fisiológicas). Preocupado com o asseio, ele recebeu de um
guerrilheiro um pedaço de jornal colombiano. A foto estampada trazia uma
manchete: Moro, o juiz que limpa as sujeiras do Brasil.
Onde podemos comprar o seu livro?
R. D. Silveira - O livro está à venda nas Livrarias
Curitiba, Livrarias Cultura, Clube de Autores e outras importantes livrarias do
Brasil. Nas livrarias Curitiba, a compra pode ser feita diretamente; nas
demais, de modo virtual. Links para aquisição são:
Soube que você irá receber, em Minas Gerais, o prêmio Castro
Alves. Comente a premiação.
R. D. Silveira - O Troféu Castro Alves 2018 faz parte
do evento Excelência Literária de Minas Gerais, criado em 2016 pelo jornalista
Eustáquio Felix. Como autor de “O Inferno é Verde”, o recebimento desta
premiação é um reconhecimento à obra e à contribuição para a literatura
brasileira. Importa registrar que para alguém que nunca participou de um
concurso do gênero ou ambicionou um prêmio literário, é com surpresa e
satisfação que tomei ciência do convite para receber o Troféu Castro Alves. O
valor institucional desta experiência aumenta a responsabilidade e me incentiva
a dar continuidade ao ato de escrever. Em 5 de maio às 23 horas no salão nobre
do Real Campestre Clube de Itabira, também serão entregues os troféus Cecilia
Meireles, Pedro Aleixo, Carlos Chagas, Guimarães Rosa e Mário Quintana.
Quais os seus principais objetivos como escritor?
R. D. Silveira - Comecei “O Inferno é Verde” instigado
pelo desejo de contar uma história. Já nas primeiras linhas, o mítico da
linguagem conotativa me entusiasmou. Ele me fazia fugir da lógica científica a
que estava acostumado e me aproximava de uma verdade intuitiva. É como se eu me
autorizasse a desejar eventos em que os sonhos fugissem do papel,
transfigurassem a realidade e gerassem encantos. Este arrebatamento, contudo,
não eliminou a minha vontade de estar atento ao ambiente à minha volta. Entendo
que “O Inferno é Verde” ao propor a ficção num texto que acolhe um outro texto
de realidade, expõe ambiguidade e dicotomia, criando na credulidade e na
introspecção uma oscilação mental no autor e no leitor. Espero dar continuidade
ao que já fiz, contando histórias sobre amores, medos, aventuras e experiências
da existência humana.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom
conhecer melhor o escritor R. D. Silveira. Agradecemos sua participação na
Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
R.D. Silveira - Quero agradecer por esta participação,
ao dizer que ela, como o livro, permite a criação de um processo interativo que
une autores e possíveis leitores. Conhecer o autor é tão importante como
apaixonar-se ou irritar-se por este ou aquele personagem. O autor escreve por
algo que quer dizer a quem puder lê-lo. O texto é o meio de união que leva à
investigação, guia a interpretação; e o que sabemos fora dele ajuda a ampliar
este entendimento. No final de tudo, nos construímos como autores e leitores, e
se virarmos a página estamos no suspense, pois não temos ideia de quem serão os
personagens e como tudo vai acontecer. É como diz o texto de “O Inferno é
Verde”:
Para criar personagens no tempo e no espaço Deus tem caixas
de ferramentas. Cada vez que uma delas é aberta, inicia-se a montagem de um
novo espetáculo. Deus não joga dados, como dizia Einstein, mas adora brincar
com eles.
Divulga Escritor, unindo você ao mundo através da Literatura
Todo o nosso conteúdo pode ser publicado, por todos que
desejarem, em seus blogs, sites, jornais... é só manter os créditos. O nosso
muito obrigado a todos que compartilham literatura.
O homem é a “única criatura sobre a Terra que Deus quis
por si mesma”[i], dotando-o de toda a dignidade a ponto de
permitir que seu Filho se encarnasse e morresse na Cruz para resgatá-lo do
pecado original. É por este motivo que o demônio se tem empenhado desde o
início em destruí-lo. Compreendemos assim também o porquê da criação de
doutrinas como a ideologia de gênero, o ambientalismo e, mais
recentemente, o movimento chamado antinatalista.
Deus mostra a sua predileção pelo ser humano por se tratar
da mais perfeita de suas criaturas e porque o criou “à sua imagem e semelhança”.
O que as Escrituras descrevem poeticamente: “Criou Deus o homem à sua imagem, à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. E depois de tê-los criado,
Deus os abençoou e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e
subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre
todos os animais que se movem pela terra” (Gênesis, 27 e 28).
Ter filhos, portanto, é um mandado divino. O casal que não
quer ter filhos demonstra um egoísmo extremo e peca contra esse mandado.
Audrey Garcia, de 39 anos, casada, é uma dessas pessoas que
dizem ter seus motivos para não ter filhos. Numa entrevista para a BBC
Mundo em espanhol, ela afirma que ter filhos “simplesmente não
é ético em um mundo superpovoado, onde falta água e comida para muitas pessoas,
onde estamos destruindo o meio ambiente, onde não paramos de consumir mais e
mais recursos”.[ii]
Audrey Garcia pertence a um grupo de pessoas conhecidas
como antinatalistas, que se inspiram nas ideias de David Benatar, diretor
do Departamento de Filosofia da Universidade do Cabo, na África do Sul. Benatar
é autor do livro Better Never to Have Been (Melhor Nunca ter
Nascido). A obra começa com a seguinte dedicatória: “Aos meus pais, apesar de
me terem dado a vida”.
Segundo Audrey, o antinatalismo está associado ao
veganismo. “Como ativista, luto contra todo tipo de exploração animal. Se
eu tivesse filhos, seria responsável por criar uma cadeia sem fim de humanos
que vão consumir produtos animais, porque não posso garantir de forma alguma
que meus filhos e netos sejam veganos” E continua: “Ter filhos
significaria necessariamente aumentar o sofrimento animal”. Para Audrey,
ser antinatalista também é ir contra o sistema estabelecido,
que “supõe que a mulher está destinada a ser mãe”.
Audrey Garcia fez a cirurgia para se tornar estéril e afirma
que “as pessoas costumam ficar chocadas porque veem a esterilização como
uma mutilação, mas quando eu explico os motivos, elas entendem”.
Como os casais egoístas, que só pensam no prazer e não
querem ter filhos, este é um problema que Audrey tem enfrentado nos seus
relacionamentos. Por isso, justifica-se dizendo: “Não vejo o que há de
egoísta em querer dedicar sua vida a outra coisa que não seja ter filhos. O que
acho egoísta é tomar, de maneira unilateral, a decisão de trazer alguém a este
mundo.”
Uma das razões que os antinatalistas citam para
não terem filhos seriam os sofrimentos físico, psicológico e emocional. Assim,
Audrey deixa transparecer o desejo de suicídios dessas pessoas: “Acho que
muitas pessoas já pensaram em suicídio uma vez ou outra. Mas já que estou aqui,
tento ser útil.”
Por causa do pecado original, esta vida é um “vale de
lágrimas”. E é muitas vezes no sofrimento que encontramos a nossa consolação.
Foi o exemplo que nos deu Nosso Senhor Jesus Cristo morrendo na Cruz. O
suicídio é, portanto, a falsa solução que o demônio apresenta àqueles que se
entregam ao egoísmo e aos prazeres.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
João.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: “Eu sou
a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não
dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais
fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei.
Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não
pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não
podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim.
Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em
mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis
fazer. Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e
secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. Se
permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que
quiserdes e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito
fruto e vos torneis meus discípulos.
Ligue o vídeo abaixo, e acompanhe a reflexão do Padre Roger
Araújo:
...
Conectados à vida
“Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não
permanecer na videira...” (Jo. 15,4)
Se há algo que caracteriza nosso tempo é a nova consciência
de ser rede-comunhão-interconexão-unidade. Todos já sabemos que tudo está
interconectado: a globalidade é interação. Lentamente vai-se tomando
consciência de que formamos parte de um todo. Há em nós uma necessidade básica
de viver conectados com os outros, de entrar em relação com o mundo.
Este tempo pede de nós “uma espiritualidade da conexão”, da
busca da experiência da Unidade, de estender pontes entre culturas, raças,
sexos, crenças religiosas, ideologias, de romper fronteiras, de estreitar
laços, de criar espaços acolhedores... Precisamos sair de nossos pequenos
círculos para criar vínculos com tantas pessoas, grupos, organizações sociais e
movimentos que buscam outra globalização, a globalização da solidariedade, da
interconexão responsável, da comunhão universal.
O desafio que se apresenta diante de nossos olhos é o de
sermos fiéis à realidade para poder descobrir nela a novidade de Deus, uma
experiência “mística” que nos faça tocar o mais profundo de tudo, e como consequência,
denunciar o que obstrui e mata este dom novo de Deus.
A imagem da videira e dos ramos, no Evangelho de hoje, nos
revela a teia das relações, das interdependências e da comunhão de todos com a
Fonte originária de tudo. Pertencemos a uma comunidade cósmica de vida tal como
foi criada e sustentada por Deus. Somos quem somos somente na relação e
por nossa relação com todas as criaturas e com o próprio Criador; somos
alimentados pela mesma seiva divina, que tudo sustenta com sua mão providente.
Isto significa que há uma unidade fundamental que perpassa
todas as partes do universo, na forma de uma “rede”. Nós, seres humanos, também
fazemos parte desta vasta rede de inter-relações, conectados a todos os
elementos da natureza, desde a menor célula até a ecologia global.
Sentimo-nos impulsionados pela seiva do Espírito que alimenta as energias
do universo e a nossa própria energia vital e espiritual. Conectar-nos com a
Videira possibilita alcançar a seiva, o pulsar da vida e o equilíbrio nas
relações; viver em profunda fusão com a videira desperta as energias criativas,
todas as grandes motivações adormecidas, toda bondade aí presente. Sem a
seiva divina que nos atravessa nunca poderemos dar o verdadeiro fruto.
No entanto, percebemos, no contexto atual, que o ser humano
tem perdido o contato e a comunhão com o cosmos e com os seus semelhantes,
recusando receber a seiva que a todos alimenta; ele está conectado com tudo e
com todos e, no entanto, tal conexão não lhe nutre, nem lhe oferece sentido à
sua existência. A compulsão dos meios eletrônicos o ameaça de superficialidade,
de individualismo e de isolamento. Isto tem provocado nele toda espécie de
mal-estar, de doenças, de conflito e divisão, de insegurança, de ansiedade, de
solidão, de aridez existencial... É aguda a consciência de uma fragmentação do
eu interior.
A verdadeira nobreza do ser humano consiste nisto: há nele
“algo” de interior, decorrente de sua profunda conexão com a Videira, de onde
recebe a seiva que o nutre e o faz entrar em relação com tudo e com todos; há
nele uma força latente, como uma energia fundamental, que o impulsiona a viver,
que o ajuda a crescer e a melhorar continuamente, aumenta a sua capacidade de
resistência, estimula-o a alcançar aquilo que é o sentido de sua própria
existência: a verdade, a liberdade, o bem, o amor...
Com a presença desta força interior, a pessoa se sente
guiada pelo seu dinamismo, que lhe proporciona saúde física, lucidez mental e
limpidez afetiva. É esta força que comanda os melhores momentos da vida humana
como um princípio ativo, dinâmico, criativo... Tais forças primordiais, vitais,
presentes nas diferentes etapas do crescimento, são essenciais ao ser humano,
graças às quais ele se orienta diante das solicitações da vida pessoal e das
múltiplas escolhas, constrói a sua vida pessoal, reforça as relações
comunitárias e sustenta o seu compromisso solidário no caminho em direção à
plenitude do seu ser.
Quando esta “força vital” permanece bloqueada, o ser humano
perde a direção, seca a criatividade e o gosto por viver, não faz progredir a
sua potencialidade e demite-se da própria vida. Diante dessa situação
existencial, faz-se urgente uma poda. A poda é constitutiva de nossa vida,
sempre será necessária; temos a perma-nente tendência à acomodação, à rigidez
em nosso modo de ser e proceder, ao fechamento em nossas idéias, aos afetos
desordenados; constantemente experimentamos perdas, amputações, despedidas,
limites...
Vivemos as perdas como autênticas mutilações do eu e da
vida. Algo ligado à nossa identidade, à nossa imagem pública, com as quais nos
identificamos, deve ser jogado ao fogo, pois já não serve mais para nada. Mas
as podas abrem espaço à vida nova. À luz da Páscoa, toda poda revela-se nova
possibilidade de vida. É certo que ela pode nos paralisar na queixa contínua,
na saudade melancólica do passado ou em posturas defensivas; mas também nos
possibilitam experimentar a chegada de uma vida inspirada que ativa nossa
criatividade e nos enche de alegria. O decisivo não é fixar-nos no “por quê?”
das perdas e podas, mas, à luz da Ressurreição, mudar o sentido da pergunta:
“para quê” a poda aconteceu? No “para quê” descobrimos um novo sentido e uma
nova força vital que brota das feridas e perdas existenciais. Na experiência da
ressurreição nada é “descartado”, tudo é iluminado e a seiva de vida surge de
onde menos se espera.
O Podador sabe que está preparando uma vida nova e de mais
plenitude. Mas é doloroso, produz-se uma perda, é necessário fazer o luto e despedir-nos
daquilo que inevitavelmente nós perdemos. Precisamos fazer descer da cruz o que
em nós está caduco e morto, olhá-lo de frente, sepultá-lo e despedir-nos dele
para que a vida nova possa expandir-se com liberdade.
Só quando morremos e ressuscitamos podemos nos renovar e
gerar muitos frutos, pois experimentamos em nossa própria carne a fragilidade
humana, o que é efêmero e secundário, mas ao mesmo tempo ressuscitamos a partir
de uma força que nos vem do mais profundo de nós mesmos, que transforma o que
está morto em nós numa nova possibilidade ainda por ativar. Ninguém ressuscita
no sentido de recuperação do antigo, mas como a acolhida de um dom inédito de
Deus.
É decisivo religar-nos à Fonte e aproveitar, para o
desenvolvimento integral da nossa personalidade, os abundantes nutrientes e
recursos presentes nas profundezas do nosso coração. São forças construtivas e
autônomas, livres de influências externas, que devem ser colocadas a serviço da
construção de uma personalidade sadia, equilibrada e mais rica. Com isso, todo
nosso interior se alarga e se dilata.
A seiva de nosso ser essencial constitui nossa autêntica
vida. Descobri-la, abrir-nos a ela, fazer-nos trans-parentes a ela e vivê-la
cada dia constituem a plenitude de nossa realização. É seiva divina, presente
no “eu” mais profundo, que nos arranca de nosso fechamento e nos faz ir para
além de nós mesmos; ela nos abre a uma Realidade maior que nos transcende; é
ela que nos faz perceber que temos no coração um espaço que está feito à medida
de Deus.
Precisamos viver mais nas raízes de nosso ser; precisamos
aprender a viver de uma maneira mais profunda e autêntica, a partir do núcleo
mais íntimo de nosso ser, a partir de nosso ser essencial. Trata-se de
descer em profundidade, de achar o nosso centro, aquele ponto de gravidade por
onde passa o eixo do nosso equilíbrio pessoal. A oração nos ajuda a
encontrá-lo e a ampliá-lo.
Texto bíblico: Jo 15,1-8
Na oração: A compulsão dos meios eletrônicos nos ameaça de
individualismo e de solidão, mas a oração cristã é um grande corretivo, pois
ela nos ajuda a descobrir nossa interioridade, nos dá “olhos interiores” para
captar o mais profundo nas pessoas, a dimensão mais verdadeira de nossas vidas,
a beleza escondida na realidade.
A oração é, também, um convite a sentir-nos com os outros, a
conectar-nos com todos e a viver em comunidade; o “blog” da oração cristã é também com outros, junto aos
outros, para outros.
- Qual é a seiva que alimenta e sustenta sua vida? Onde você
a busca?
Cacá Diegues está voltando em breve a Cannes com seu “Grande
circo místico”, 54 anos depois de participar do XVIII Festival de Cinema — ele,
com “Ganga Zumba”; Glauber Rocha, com “Deus e o diabo na Terra do Sol”; e
Nelson Pereira dos Santos, com “Vidas secas”. Eu estava lá nesse ano em que os
três funcionaram como uma espécie de compensação pela vergonha do golpe militar
de 1964. Pelo menos duas surpresas aguardavam Nelson. A primeira foi logo após
a exibição de “Deus e o diabo”. Sem saber que cineastas como Fritz Lang e Luis
Buñuel haviam adorado seu filme, Glauber estava muito nervoso, a ponto de ter
um súbito desarranjo intestinal. “Não estou aguentando”, disse pra mim a seu lado,
“pede ao Nelson pra me substituir na coletiva”. E voltou correndo para o hotel.
Assim foi que o amigo teve que responder a jornalistas do mundo todo perguntas
como esta “Quem é Deus e quem é o diabo? Será Antonio das Mortes (o matador do
filme) a representação da ditadura?” quis saber um alemão. Nelson teve de
explicar também que Dadá era a mulher de Corisco, não tinha nada a ver com
dadaísmo, o movimento artístico.
A outra surpresa deu mais trabalho a Nelson, que chegou a
ser acusado de assassinato de animais. É que uma condessa italiana ficou
furiosa com a cena em que a cadela Baleia encena a sua morte graças a
soníferos. “Só mesmo um povo subdesenvolvido para fazer filme em que se mata
animal”, ela vociferou. A notícia da “morte” viralizou, como se diria hoje, e
criou uma certa má vontade contra o filme. Foi preciso que o produtor e
fotógrafo Luiz Carlos Barreto conseguisse da Air France a oferta de uma
passagem de primeira classe para Baleia, que desembarcou como celebridade.
Ainda assim, a tal condessa não se conformou e espalhou que, como os
“vira-latas são todos iguais”, os brasileiros teriam arranjado uma cachorra
qualquer para substituir a grande intérprete que, por não falar francês, não
podia garantir aos repórteres presentes no aeroporto: “C’est moi-même”.
Não seria esse o único mal-entendido. À noite, na sessão de
gala, Cacá atrasou-se e quando começou a subir a escadaria do Palácio do
Festival, Glauber, lá em cima, começou a gritar: “Cacá, ô, Cacá, anda logo”.
Uma gargalhada explodiu. “Foi a maior vergonha da minha vida”, disse depois o
diretor de “Ganga Zumba”. É que Cacá em francês quer dizer “cocô”. “Sozinho,
não dava para fingir que não era comigo”. Glauber continuava gritando: “Cacá,
ô, Cacá”, e a turma do sereno repetindo: “Cacá, ô, Cacá”, ou seja, “cocô, ô,
cocô”.
Por via das dúvidas, Cacá deve ser agora o primeiro a subir
as escadarias do Palácio, junto e misturado com o público
Zuenir Ventura - Sétimo ocupante da Cadeira n.º 32 da ABL, foi
eleito no dia 30 de outubro de 2014, na sucessão do Acadêmico Ariano Suassuna,
e recebido no dia 6 de março de 2015, pela Acadêmica Cleonice Berardinelli.
Mesmo assim, os negros continuaram a não conseguir entrar na
faculdade:
O que o PT fez?
Melhorou a qualidade do ensino médio?
Não, destinou 30% das vagas nas universidades públicas aos
negros que entram sem fazer as provas. Querendo dizer que eles não têm capacidade.
O analfabetismo era grande:
O que o PT fez?
Incentivou a leitura?
Não, passou a considerar como alfabetizado quem sabe
escrever o próprio nome.
A pobreza era grande:
O que o PT fez?
Investiu em empregos e incentivos à produção e ao empreendedorismo?
Não. Baixou a linha da pobreza e passou a considerar classe
média quem ganha R$300,00.
O desemprego era pleno:
O que o PT fez?
Deu emprego?
Não. Passou a considerar como empregado quem recebe o ‘bolsa
família’ ou não procura emprego.
A saúde estava muito ruim:
O que o PT fez?
Investiu em hospitais e em infraestrutura de saúde, criou
mais cursos na área de medicina?
Não. Importou um monte de cubanos que sequer fizeram a prova
para comprovar sua eficiência e que aparentemente nem médicos são. (Um já foi identificado
como capitão do exército cubano)
Alguém ainda duvida que esse governo é uma tremenda mentira?
Quando eu era pequena, não entendia o choro solto da
minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu
não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela
eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de
compreender. O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada
por pequenos milagres do cotidiano.
É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora
como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando
momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente.
Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o
quanto a infância é impregnada de eternidade.
Diante do tempo envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte.
Porém, para a memória ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos
filhos são crianças, nossos amigos estão perto, nossos pais ainda vivem.
A frase do título é de Adélia Prado: "O que a memória ama, fica
eterno". Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente.
Quando nos damos conta nossos baús secretos porque a memória é dada a segredos estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da
conta, do que permaneceu além do tempo.
A capacidade de se emocionar vem daí: quando nossos compartimentos são
escancarados de alguma maneira. Um dia você liga o rádio do carro e toca uma
música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você foi o
fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de uma fossa e mesmo que tenham
se passado anos, sua memória afetiva não obedece calendários, não caminha com
as estações; alguma parte de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele
momento, aquela época.
Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É
comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos já adultos ou
até idosos e voltando a se comportar como adolescentes bobos e imaturos.
Encontros de turma são especiais por isso, resgatam as pessoas que fomos,
garotos cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e
debiloides, como éramos há 20 ou 30 anos. Descobrimos que o tempo não passa
para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos... mesmo que por
fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.
A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem eles
percebem que crescemos. Seremos sempre "as crianças", não importa se
já temos 30, 40 ou 50 anos. Pra eles a lembrança da casa cheia, das brigas
entre irmãos, das estórias contadas ao cair da noite...ainda são muito
recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.
Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por
algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas. Dizem que o tempo cura
tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca
um band-aid na dor. Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das
profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando. Como disse na
introdução do blog, somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser
facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme,
uma música antiga, um lugar especial.
Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges,
ex-amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve daqui, seremos
eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram.
Normalmente, os pequenos detalhes fazem uma enorme diferença
em nossas vidas. Conheço pessoas que leem muito e pouco ou nada aplicam em suas
vidas do que efetivamente sabem.
O Universo não cobra a nossa ignorância. Somos
verdadeiramente responsáveis pelo destino que damos ao conteúdo que existe
dentro de nosso cérebro.
Conheço pessoas que pregam a igualdade entre os seres
humanos, mas são efetivamente os que criam, em suas relações, as maiores
desigualdades. Seu corpo físico atual é apenas reflexo de suas emoções,
mente e alma. Uma vida feliz e regrada precisa obedecer, necessariamente,
aos seguintes princípios e relativas condutas: Espírito, Amor e Matéria.
Muitas pessoas são amigas de nossa facilidade e do eventual
poder material que temos. Só descobrimos isso quando ambos vão embora. Quando
as facilidades deixam de existir é quando o poder passa a ser efêmero.
A doença no corpo físico sempre é consequência de dissabores
emocionais. Saber controlar nossos sentimentos é o principal segredo de uma
vida consciente e regrada.
O verdadeiro amigo é aquele que nos diz o que não gostamos
de ouvir. Aquele que está próximo quando todos se vão.
Quando o amor é real, nós não ficamos felizes com o que a
pessoa nos dá, mas, efetivamente, pelo que nos tornamos quando estamos juntos e
dividindo a mesma energia.
Se você trabalha para ganhar dinheiro jamais irá acumular
fortuna. O dinheiro é sempre consequência de como o conseguimos. Ele é sempre
acessório e nunca principal.
Somos hoje a consequência de todas as decisões que tomamos
em nossa vida.
Você estar lendo este texto Acredite: Não é um pequeno detalhe.
Saul Brandalise Jr - Nascido em Videira - Santa Catarina, empresário
que durante muito tempo controlou e também presidiu um dos grupos empresariais
mais expressivos do país, que inclui a Perdigão.
Em 2003 recebeu o título de Cidadão Emérito de sua cidade Natal e em 2000 o
Titulo de Cidadão Honorário de Uberaba - MG.
Preside atualmente a Central Barriga Verde, que compõe a TV Barriga Verde, Rede
Bandeirantes em SC e a Rádio Band FM Florianópolis, além de outras treze
emissoras de rádio espalhadas pelo território Catarinense.
Quantos anos
passaram! A minha casa continua a mesma. Pintada de amarelo com as janelas
verdes. Há muitas janelas em minha casa, acompanhando o estilo normando.
O colorido
dos vidros, verde, rosa, champagne, azul, dá muita beleza àquelas janelas de
vários tamanhos. A escada em espiral vinda do jardim, continua dando muita
graça àquela casa da Independência. O jardim, lá está, não com as flores da
minha infância, mas, muito bem cuidado com a sua ramagem e gramado tornando-o
ainda belo.
Entrei. Tudo
na mais perfeita ordem. Os mesmos móveis. A mobília estilo Luiz XVI, dá uma onipotência
à sala de visita com suas paredes rigorosamente conservadas. Uma guirlanda de
rosas contorna aquela sala. Saindo das guirlandas, traços de caminhos sem fim
dourados completava assim a belezadaquela pintura.
A sala de
música, o piano importado da Alemanha, lá está, mudo. A mobília oriental, era
pintada de vermelho com dragões dourados. Agora, modificada, pintada de preto e
com assento de palhinha, continuava linda. As paredes pintadas de azul com
traços dourados. Em cima, contornando-as, instrumentos musicais artisticamente
desenhados; bandolim, violino, tambor. As paredes da sala de jantar eram verdes
e no alto, frutos como, caju, maçã, cerejas estavam pintados.
Fiquei ali
parada, com o olhar fixo naquilo que via.
Quanta recordação!
Parecia ouvir as risadas gostosas de mamãe. O corre-corre da criançada subindo
e descendo a escada de jacarandá. Tenho a impressão de que todos estão ali e
que o passado tornou-se presente.
Olho o
piano mudo. De repente parecia ouvir tocar. Resolvi continuar a visita. Subo a
escada. Há lá em cima, os quartos, um monte de recordação. Vou ao quarto de
meus pais, ao vestíbulo onde meu pai costumava ficar lendo ou escrevendo. A sua
escrivaninha, lá está. Abro-a e encontro um caderno com a sua letra. Vejo um
soneto de sua autoria. Faço questão de transcrevê-lo:
O ORÁCULO
Mal me quer... Bem me quer...
Ela dizia e a flor despetalava
E no seu eterno sonho de mulher
Uma por uma, as pétalas arrancava.
Num sorriso meigo e
contrafeito
Esperava do oráculo a sorte linda,
Comprimindo o coração dentro do peito,
Numa ansiedade atroz infinda...
E neste engano tão belo e ledo
Ao cair da última pétala o segredo:
Bem me quer a flor lhe diz.
E ela numa alegria delirante
Vai dizendo e cantando saltitante
Ai! Como serei feliz!
(Francisco
Benício)
O meu
coração está cheio de saudades. Abro a janela. A noite estava muito fria. No céu
não havia estrelas. Céu sem estrelas. Foi assim que identifiquei minha casa
naquele momento. Continua para mim um céu, mas sem estrelas.
Fui deitar-me.
Não conseguia dormir. As lembranças vinham à minha presença. Naquele exato
momento, ouvi o ranger da escada. Meu Deus, quem será? Levantei-me e fui até
lá. Não era ninguém. Lembrei-me de Sílvio, meu irmão, que ao voltar da farra,
apesar de todo o cuidado, o ruído da escada o denunciava. Cheguei a vê-lo,
encaminhando-se para o seu quarto. Era muito bonito, com os seus cabelos lisos
penteados para trás.
Voltei para
o meu quarto. Cheguei à janela novamente. A noite continuava escura.
Depois de melhor refletir, ponderei: não é o
céu sem estrelas. Elas estão ali por trás da escuridão. Em minha casa também,
os meus pais, os meus irmãos que já se foram estão também ali. Estão,
sobretudo, em minha lembrança, em meu coração.
Deitei-me
e dormi profundamente. Acordei com o sino chamando para a missa. É domingo. Louvado
seja Deus. A vida continua.