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segunda-feira, 30 de abril de 2018

PORNOGRAFIA: ABISMO QUE ATRAI OUTROS ABISMOS! - Sergio Bertoli


5 de Abril de 2018
Sergio Bertoli

“Foi a experiência mais tenebrosa, desesperadora e solitária da minha vida. Eu me sentia no fundo de um abismo. Tudo ao meu redor era silêncio: silêncio dos amigos, da família e, aparentemente, até de Deus. Vivia completamente sem esperança de que alguém me estenderia a mão para me resgatar.”

Assim se inicia o artigo intitulado “Aprisionados pela pornografia”, publicado no jornal “Correio Braziliense” (18-3-18), de autoria de Gabriela Vinhal e Hellen Leite. As palavras são de “Sônia” (nome fictício), uma viciada em sites de pornografia.

A matéria em nenhum momento aborda o aspecto religioso e moral, sem dúvida o mais importante, mas abunda em referências cientificas, opiniões de estudiosos e psicólogos. Esse lapso mostra o quanto ela é “insuspeita”, pois alguém poderia dizer: “Aí vai mais uma opinião religiosa sobre pornografia”…

Segundo Fábio Augusto Caló, especializado em terapia sexual no Instituto de Psicologia Aplicada (Inpa), “esta trajetória se assemelha à de pessoas que se tornam dependentes de substâncias químicas. Uma atividade inicialmente prazerosa passa a ser buscada cada vez mais, até um ponto em que prejudica a escola ou o trabalho e afeta os relacionamentos pessoais”.

Especialistas dizem o caminho tomado por Sônia não é raro e pode levar a quadros de desespero quando a pessoa acha que perdeu o controle sobre a própria vontade. “Não é incomum que o dependente enfrente sérios riscos de suicídio e também se coloque em situações que podem afetar sua saúde física”.

O tema está diretamente ligado à era digital. Impressiona a afirmação de Caló: “Com a internet, a pessoa abre 15 vídeos de uma vez. Ela pode adiantar cenas, ver diferentes tipos de sexo. A quantidade de estímulos a que fica exposta em uma hora é muito maior do que a de um indivíduo, há 40 anos, teria ao longo da vida inteira.”

Dados da revista americana “The Week” indicam que 12% dos sites — cerca de 76 milhões de endereços — são dedicados a “conteúdo explícito”. Um só site pornográfico recebeu por dia, em 2017, a visita de 81 milhões de pessoas (sic!) de todo o mundo. O Brasil é o 10º lugar no ranking dos países que mais buscam esse mesmo portal.

A facilidade de acessar conteúdos assim na internet é tal, que até crianças estão sujeitas ao consumo dessas imagens e vídeos.
Assim como acontece com todos os outros vícios, quanto mais se afunda no consumo da pornografia, menos satisfação se recebe e mais difícil se torna abandoná-lo. O que parecia um mundo de felicidades, um “paraíso”, torna-se um inferno.
Nossa conclusão não é a mesma do “Correio Braziliense”, cujo artigo aconselha a busca de ajudas meramente científicas e naturalistas.

Todo este assunto é novidade para quem não tem formação religiosa verdadeira, mas não surpreende os que acompanham o desvario dos acontecimentos anunciados por Nossa Senhora em Fátima.

Por sua vez, aqueles a quem incumbiria condenar, invectivar e repreender, se calam, omitem-se, para dizer pouco.

Uma pergunta que inevitavelmente vem ao espírito é: até onde nos conduzirá essa marcha de depravação em depravação? Segundo os autores de vida espiritual, se o homem não colocar um basta nas suas tendências más, não há limites aonde ele não possa chegar. Já se divisam no horizonte aberrações que me poupo de citar aqui por respeito aos leitores.

O alerta em relação aos vícios, especialmente aos de impureza, vem sendo abordado há dois mil anos. Aliás, até muito antes. O Antigo Testamento está repleto de elogios à virtude da castidade. Nosso Senhor Jesus Cristo e os Apóstolos a louvaram magnificamente; os primeiros Padres da Igreja, os Santos, os Doutores, exaltaram-na de maneira toda especial.

Nada disto é novidade para um bom católico. Antes de tudo, a Doutrina da Igreja nos ensina que sem a graça de Deus — que nunca falta a quem pede — jamais conseguiríamos praticar a virtude da pureza, que nos faz semelhantes aos Anjos do Céu.
Enquanto este mundo não se converter à totalidade da moral ensinada pela única Igreja verdadeira do único Deus verdadeiro, não há abismo em que não se precipite.

Peçamos Àquela que foi concebida sem pecado, a Imaculada Mãe de Deus, que nos ajude a preservar essa santa virtude, ou a recuperá-la, para que se realizem assim em nós as palavras do Divino Mestre “Bem aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”(Mt 5,8).


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DOM CESLAU STANULA - O laicato > Novas Comunidades Cristãs


O laicato:Novas Comunidades Cristãs

23/4/2018

Continuando as nossas reflexões sobre o laicato, gostaria deter-me de um fenômeno surgido nas últimas décadas na Igreja, de iniciativa na maioria das vezes,  dos leigos, em sintonia com o ensinamento da Igreja que são as Novas Comunidades Cristãs.

O Espirito Santo continua agindo na Igreja. Se olharmos na sua história podemos perceber a sua ação em cada época de forma diferente, mas sempre como a resposta às necessidades no seu tempo. Assim vemos, por exemplo, o surgimento das comunidades cristãs relatadas nos Atos dos Apóstolos. Depois século II e IV surgiu o movimento chamado monarquismo, em defesa da Santíssima Trindade, depois surgiu o movimento mendicante no século XIII. (O movimento foi chamado assim por sua característica de “mendigar” humildemente ao apoio das pessoas para viver o voto de pobreza e levar a cabo a missão evangelizadora. Aqui se destacam São Francisco de Assis e São Domingos de Gusmão com grandes famílias religiosas Franciscanas e Dominicanas. Estes santos tiveram a capacidade de ler com inteligência “os sinais dos tempos”, intuindo os desafios que a Igreja da sua época deveria enfrentar).

Depois, as congregações voltadas à caridade, nos séculos XV e XVI; e nos séculos XVII e XVIII formam-se as congregações missionárias com Santo Afonso, São Paulo da Cruz etc., e assim por diante.

E hoje o Espirito Santo se manifesta nas Novas Comunidades Cristãs. (continuará).

Com a minha oração e a benção. Uma boa noite.

Dom Ceslau.
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24/4/2018

As Novas Comunidades surgiram na década de 1970 na França e nos EUA. No Brasil, as primeiras Comunidades Novas apareceram na década de 80.  Hoje temos inúmeras Novas Comunidades. Alguns afirmam que são mais de 500.

O que são estas Novas Comunidades?

Primeiro não são religiosos como nós conhecemos, e não vivem nos conventos, nem atrás de clausura. São os grupos  compostos por homens e mulheres, por clérigos ou leigos, casados, celibatários ou solteiros, que seguem um estilo particular de vida sob a espiritualidade de um carisma particular. Eles vivem no mundo (não na clausura ou conventos) guiando-se com mesmo carisma e vivendo radicalmente o evangelho de Jesus. Quantos destes trabalham com você no escritório, consultório, no comercio, nas empresas etc., (trabalham com você, ao seu lado, sem você até perceber). Eles fazem, espontaneamente, depois de uma caminhada de preparação, as promessas, compromissos ou votos de obediência, pobreza e castidade, cada um segundo o seu estado de vida.

Este estilo de vida guiado por um carisma particular se chama: Novas Comunidades Cristãs (Continuaremos).

Com o desejo de uma repousante noite, com a minha humilde oração e a benção. Boa Noite.

Dom Ceslau.
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 25/4/2018

O Concílio Vaticano II pedia que a Igreja fosse inserida no mundo e capaz de atraí-lo para Cristo. Ao mesmo tempo que a Igreja desse a resposta aos desafios de seu tempo.

O Papa São João Paulo II, na Vigília de Pentecostes de 1998, chamou as Novas Comunidades de “providencial resposta do Espírito”. Isso porque, através das Novas Comunidades, leigos que se consagram a Deus a partir de um carisma vivem o seu Batismo de forma autêntica num mundo cada dia mais secularizado.

Foi precisamente o Papa São João Paulo II que sublinhou a importância das Novas Comunidades Cristãs no seio da Igreja. E o Papa Bento XVI deu continuidade à iniciativa de seu antecessor. Desde o Concílio Vaticano II, depois as Conferencias Latino Americanas, principalmente de Santo Domingo, nas Diretrizes da Ação Evangelizadora do Brasil da CNBB, Igreja proclama o protagonismo dos leigos. E tudo isto foi o incentivo para o surgimento das Novas Comunidades, e muitas vezes de iniciativa dos próprios leigos. (continuará). Com a benção e oração. Uma Boa Noite.

Dom Ceslau.
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26/4/2018

A Conferencia de Aparecida reconhece e valoriza as Novas Comunidades. Lemos: “Os novos movimentos e comunidades são o dom do Espírito Santo para a Igreja. Nelas, os fieis encontram a possibilidade de se formar cristãmente crescer e comprometer-se apostolicamente até ser verdadeiros discípulos missionários” (Ap. 311).

No sequencia fala: “Os movimentos e novas comunidades constituem valiosa contribuição na realidade da igreja particular” (nas dioceses). Por sua própria natureza, expressam a dimensão carismática da Igreja (...) “nova comunidades são uma oportunidade para muitas pessoas afastadas possam ter uma experiência de encontro vital com Jesus Cristo e assim recuperar a sua identidade batismal e a sua ativa participação na Igreja” (Ap. 312).

Assim as Novas Comunidades, são o sopro do Espirito Santo quando vivem o seu carisma, mas na unidade com a Igreja diocesana, não só de fé mas também de ação. Por isso, para que estas comunidades tenham maior força evangelizadora precisam do discernimento e a aprovação do bispo diocesano, e caso já saírem das fronteiras da diocese e até do país, da Santa Sé.

Com a minha benção e oração. Uma repousante noite.

Dom Ceslau.
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27/4/2018

Eis algumas Novas Comunidades mais conhecidas entre nós: A “Canção Nova”, de inspiração de Mons. Jonas Adib, que após o estudo  da Exortação Apostolica do Papa Paulo VI sobre a Evangelização: Evangeli Nuntiandi, e depois de ouvir o desejo do Dom Afonso de Miranda (hoje com 98 anos!), na época bispo de Lorena SP, de encontrar alguma forma para uma nova evangelização dos jovens, teve uma luz. Reuniu jovens, e lançou o desafio: Precisamos catequizar e evangelizar.

Desta decisão assumida corajosamente em 1978, por ele e pelo  grupo de jovens, nasceu, com o apoio de Dom Antônio Miranda, a Canção Nova, cujo carisma é evangelizar, usando os meios de comunicação acessíveis em cada época. Hoje a Canção Nova tem a disposição para anunciar o Evangelho: a rede de rádios Canção Nova, a TV Canção Nova, as revistas e livros da Editora Canção Nova.

A Comunidade foi reconhecida pela Santa Sé. A outra Comunidade é a Comunidade Shalon, fundada por Moysés Azevedo. A Comunidade nascida no meio da juventude, com o objetivo de evangelizar os jovens mais afastados de Deus.

O seu início se deu em Fortaleza em 1982. Várias pessoas vindas da Renovação Carismática Católica transformaram uma lanchonete em um meio de atração dos jovens a Deus. Hoje é a maior Nova Comunidade no país, com mais de 8 mil membros. Esta, já está espalhada pelo mundo inteiro. Tem o reconhecimento da Santa Se desde 2007.

Admirável é Deus em suas obras. Um boa noite. Com a minha benção e oração.

Dom Ceslau.
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28/4/2018

Encerrando estas reflexões dentro do tema do laicato, sobre as Novas Comunidades, constatamos que a maioria tem a origem na Renovação Carismática Católica.

“Na Igreja não há contraste ou contraposição entre o dinamismo institucional e a dimensão carismática, da qual os movimentos são expressão significativa, porque ambos são igualmente essenciais para a constituição divina do Povo de Deus” (Bento XVI) Ap.312).

Da Carismática, nasceu em Itabuna a Comunidade Rainha da Paz. As jovens Gracinha, sua irmã Márcia e outro ajudavam ao Pe. Edvaldo. Com tempo elaboraram algumas orientações de ação. Com a minha chegada, ajudei a organizar a base da sua vivencia isto é o Estatuto – Regra de Vida. Estruturamos a comunidade, que hoje segue seu curso evangelizando por meio da música e trabalhos apostólicos na Diocese de Itabuna.

A Comunidade recebeu o reconhecimento e aprovação da Diocese. Assim já tem o seus “status” juridicamente definido. Da mesma forma ajudamos a estruturar a comunidade formada (em 1993) pelo Pe. Manuel Carlos de Jesus Cruz, a Comunidade chamada: Instituto Missionário Amigos de Cristo, Mensageiros da Paz. Tem como o objetivo e carisma evangelizar os ambientes (as famílias), e rezar pela paz. Já tem dezenas de membros espalhados pela Bahia e outros estados. Esta comunidade também tem a aprovação do Estatuto e Regra de Vida e recebeu o reconhecimento e aprovação diocesana.

Não podemos limitar as ações do Espirito Santo. Ele sopra quando e onde quer, sempre vai ao encontro das necessidades do povo de Deus. Com a minha oração e a benção. Boa noite. .

Dom Ceslau.
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Dom Ceslau Stanula - Bispo Emérito da Diocese de Itabuna-BA, escritor, Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL


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domingo, 29 de abril de 2018

CRITICA LITERÁRIA APLAUDE O POLEMICO E PREMIADO LIVRO 'O INFERNO É VERDE'

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Reginaldo Daniel da Silveira (R. D. Silveira) escreve para revistas científicas, veículos de comunicação e também é autor do livro técnico “Videoconferência: a educação sem distância”. Além de escrever, Silveira atua como psicólogo, ocasião em que avalia pessoas e trata pacientes. A formação cultural (graduação, especialização, mestrado e doutorado) é base de apoio na educação.
Silveira é professor de graduação/pós-graduação e pesquisador numa universidade federal. Já dirigiu instituições de ensino e desenvolveu projetos de EAD (um deles em execução em todo o Paraná). Seu histórico inclui ainda a atuação durante anos como jornalista, tendo dirigido emissoras de rádio e recebido prêmios na área de comunicação. O “Inferno é Verde”, seu livro atual e primeiro romance policial, vem sendo aclamado pela crítica como uma das obras mais interessantes do ano sem deixar nada a desejar aos grandes best-sellers.

“Conhecer o autor é tão importante como apaixonar-se ou irritar-se por este ou aquele personagem. O autor escreve por algo que quer dizer a quem puder lê-lo. O texto é o meio de união que leva à investigação, guia a interpretação; e o que sabemos fora dele ajuda a ampliar este entendimento.”
 Boa leitura!

Escritor R. D. Silveira, é um prazer contarmos com a sua participação na revista Divulga Escritor. Conte-nos, em que momento surgiu inspiração para o romance “O Inferno é Verde”?

R. D. Silveira - Ler, observar pessoas, ouvir músicas ou assistir a filmes foram momentos inspiradores, mas eu creio que a impulsão foi a ideia de produzir um texto como contraponto às notícias de espionagem americana de pessoas e países com o objetivo de dominação. Ao tentar juntar o que me vinha à mente a uma história de tráfico de drogas, não gostei do meu texto, parecia sintático e formal demais. Resolvi parar e fui ver televisão. No jogo de futebol, uma torcida verde gritava sem parar: Green hell! Green hell! Por instantes fiquei absorto nas imagens e então retornei ao computador, com um desejo intenso de escrever o que me viesse à mente, algo que me arrepiasse, que parecesse mágico. Foi então que criei a Agência Internacional de Inteligência 3-i, a “Operação Green Hell” e o tráfico de drogas na Amazônia. Acrescentei a isso tudo o olhar sobre o que acontecia no Brasil. 

Como foi a escolha do título? Quem veio primeiro, o título ou o enredo

R. D. Silveira - A escolha do título foi marcante neste trabalho. O nome “O Inferno é Verde” veio da Operação Green Hell e depois eu criei o enredo. O texto ganhou impulso quando a Lava Jato já estava em desenvolvimento. Sobre a ficção que na trama envolvia tráfico de drogas, guerrilhas, índios, animais, agentes especiais e tecnologias de apoio à inteligência internacional, ousei sobrepor um novo texto. Digamos que eu coloquei dentro do primeiro texto, o da ficção, recortes de um texto distinto, o da realidade brasileira de uma Lava Jato, que para uns era a redenção e para outros era o desastre. Uma parte a queria e a outra a temia. Na metáfora da dicotomia, o inferno pode se transformar no paraíso e o paraíso pode se transformar no inferno. O verde do encanto e da sedução pode ser também o inferno das drogas e da corrupção.

Apresente-nos a obra.

R. D. Silveira - Um carro é lançado ao precipício numa rodovia da Mata Atlântica. A Agência Internacional de Inteligência 3-i, apoiada por metade do planeta, dá início na Amazônia à mega operação Green Hell para investigar o tráfico de drogas. Refém de uma guerrilha dissidente das Forças Armadas Revolucionárias (FARC), o agente especial Nolan enfrenta guerrilheiros, traficantes, anacondas, onças e jacarés. O inusitado vai além quando ele toma como parceiro um animal selvagem; e como paixão, uma índia. Num cenário que inclui robôs virtuais e drones, o combate ao sistema de produção e distribuição de drogas vai da Amazônia à República de Curitiba, energizada pela Operação Lava Jato. Quando os fios da trama se unem ao homicídio na rodovia da Mata Atlântica, Moore, delegado executivo da 3-i precisa ajudar seus agentes a encontrar a central de distribuição de drogas. Do contrário a operação fracassará. Green Hell! Não dá para esquecer!

Quais os principais objetivos a serem alcançados com a publicação e divulgação da obra?

R. D. Silveira - O objetivo do projeto literário é, em primeiro plano, entreter. Ao acrescentar ao entretenimento informações e olhares sobre a realidade, provoca-se a reflexão. Quando a ficção se mistura com a realidade é possível criar recortes de pensamento crítico, por exemplo, sobre um futuro menos corrupto e mais universalista do que imperialista. Dentro dos seus limites, o trabalho tem o efeito de produzir uma espécie de teaser de um enredo a ganhar corpo em outras obras. A ousadia é esperar o entretenimento reflexivo, a harmonia entre o passatempo genuíno e as cognições que nos fazem pensar sobre nós mesmos e o mundo.

“O Inferno é Verde” está sendo visto como uma das principais obras paranaenses. O que, em seu ponto de vista, levou o livro a ter tamanho destaque no mercado literário contemporâneo?

R. D. Silveira - Como diria Foucault, o que escrevi nesta obra é para mim hoje, o anterior e o exterior. Pergunto-me se como produtor do texto, cabe apenas a este autor definir o que fez. Para Roque Aloisio Weschenfelder em “O Inferno é Verde” há um nexo presente entre os episódios e a realidade contemporânea brasileira. O crítico literário destaca ainda a linguagem em capítulos iniciados sempre por uma palavra ou expressão, geralmente objeto direto da última frase do capítulo anterior. Nas palavras de Weschenfelder este modo “sui generis” de escrever é um meio de comprometer o leitor a não interromper a leitura. Eu não arriscaria explicar tudo por um único viés, mas acredito que há um pouco desta análise crítica na receptividade da obra.

Qual o momento, enquanto escrevia a obra, que mais o marcou? Comente.

R. D. Silveira - Um momento singular foi conceber a tentativa de fuga de Nolan, prisioneiro da guerrilha, em meio a guerrilheiros armados, índios selvagens, onças, cobras, insetos e plantas venenosas. Sobreposto a isto, o agente precisava decidir se deixava a 3-i e ficava com a índia Amaru, ou continuava na 3-i e deixava seu coração na selva. Em outros momentos, me assustei quando um prisioneiro foi jogado a duas gigantescas sucuris; me sensibilizei pelo amor incondicional de um pequeno quati a Nolan, me impressionei com a bravura da índia Amaru. Por fim, é bom lembrar que dei muitas risadas quando Nolan com diarreia procurou um chonto(buraco para necessidades fisiológicas). Preocupado com o asseio, ele recebeu de um guerrilheiro um pedaço de jornal colombiano. A foto estampada trazia uma manchete: Moro, o juiz que limpa as sujeiras do Brasil.

Onde podemos comprar o seu livro?

R. D. Silveira - O livro está à venda nas Livrarias Curitiba, Livrarias Cultura, Clube de Autores e outras importantes livrarias do Brasil. Nas livrarias Curitiba, a compra pode ser feita diretamente; nas demais, de modo virtual. Links para aquisição são:

Soube que você irá receber, em Minas Gerais, o prêmio Castro Alves. Comente a premiação.

R. D. Silveira - O Troféu Castro Alves 2018 faz parte do evento Excelência Literária de Minas Gerais, criado em 2016 pelo jornalista Eustáquio Felix. Como autor de “O Inferno é Verde”, o recebimento desta premiação é um reconhecimento à obra e à contribuição para a literatura brasileira. Importa registrar que para alguém que nunca participou de um concurso do gênero ou ambicionou um prêmio literário, é com surpresa e satisfação que tomei ciência do convite para receber o Troféu Castro Alves. O valor institucional desta experiência aumenta a responsabilidade e me incentiva a dar continuidade ao ato de escrever. Em 5 de maio às 23 horas no salão nobre do Real Campestre Clube de Itabira, também serão entregues os troféus Cecilia Meireles, Pedro Aleixo, Carlos Chagas, Guimarães Rosa e Mário Quintana.

Quais os seus principais objetivos como escritor?

R. D. Silveira - Comecei “O Inferno é Verde” instigado pelo desejo de contar uma história. Já nas primeiras linhas, o mítico da linguagem conotativa me entusiasmou. Ele me fazia fugir da lógica científica a que estava acostumado e me aproximava de uma verdade intuitiva. É como se eu me autorizasse a desejar eventos em que os sonhos fugissem do papel, transfigurassem a realidade e gerassem encantos. Este arrebatamento, contudo, não eliminou a minha vontade de estar atento ao ambiente à minha volta. Entendo que “O Inferno é Verde” ao propor a ficção num texto que acolhe um outro texto de realidade, expõe ambiguidade e dicotomia, criando na credulidade e na introspecção uma oscilação mental no autor e no leitor. Espero dar continuidade ao que já fiz, contando histórias sobre amores, medos, aventuras e experiências da existência humana.

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor R. D. Silveira. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

R.D. Silveira - Quero agradecer por esta participação, ao dizer que ela, como o livro, permite a criação de um processo interativo que une autores e possíveis leitores. Conhecer o autor é tão importante como apaixonar-se ou irritar-se por este ou aquele personagem. O autor escreve por algo que quer dizer a quem puder lê-lo. O texto é o meio de união que leva à investigação, guia a interpretação; e o que sabemos fora dele ajuda a ampliar este entendimento. No final de tudo, nos construímos como autores e leitores, e se virarmos a página estamos no suspense, pois não temos ideia de quem serão os personagens e como tudo vai acontecer. É como diz o texto de “O Inferno é Verde”:
Para criar personagens no tempo e no espaço Deus tem caixas de ferramentas. Cada vez que uma delas é aberta, inicia-se a montagem de um novo espetáculo. Deus não joga dados, como dizia Einstein, mas adora brincar com eles.

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“TER FILHOS NÃO É ÉTICO”, AFIRMAM OS ANTINATALISTAS - Jurandir Dias


29 de Abril de 2018
 

O homem é a “única criatura sobre a Terra que Deus quis por si mesma”[i], dotando-o de toda a dignidade a ponto de permitir que seu Filho se encarnasse e morresse na Cruz para resgatá-lo do pecado original. É por este motivo que o demônio se tem empenhado desde o início em destruí-lo. Compreendemos assim também o porquê da criação de doutrinas como a ideologia de gênero, o ambientalismo e, mais recentemente, o movimento chamado antinatalista.

Deus mostra a sua predileção pelo ser humano por se tratar da mais perfeita de suas criaturas e porque o criou “à sua imagem e semelhança”. O que as Escrituras descrevem poeticamente: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. E depois de tê-los criado, Deus os abençoou e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra” (Gênesis, 27 e 28).

Ter filhos, portanto, é um mandado divino. O casal que não quer ter filhos demonstra um egoísmo extremo e peca contra esse mandado.

Audrey Garcia, de 39 anos, casada, é uma dessas pessoas que dizem ter seus motivos para não ter filhos. Numa entrevista para a BBC Mundo em espanhol, ela afirma que  ter filhos “simplesmente não é ético em um mundo superpovoado, onde falta água e comida para muitas pessoas, onde estamos destruindo o meio ambiente, onde não paramos de consumir mais e mais recursos”.[ii]

Audrey Garcia pertence a um grupo de pessoas conhecidas como antinatalistas, que se inspiram nas ideias de David Benatar, diretor do Departamento de Filosofia da Universidade do Cabo, na África do Sul. Benatar é autor do livro Better Never to Have Been (Melhor Nunca ter Nascido). A obra começa com a seguinte dedicatória: “Aos meus pais, apesar de me terem dado a vida”.

Segundo Audrey, o antinatalismo está associado ao veganismo. “Como ativista, luto contra todo tipo de exploração animal. Se eu tivesse filhos, seria responsável por criar uma cadeia sem fim de humanos que vão consumir produtos animais, porque não posso garantir de forma alguma que meus filhos e netos sejam veganos” E continua: “Ter filhos significaria necessariamente aumentar o sofrimento animal”. Para Audrey, ser antinatalista também é ir contra o sistema estabelecido, que “supõe que a mulher está destinada a ser mãe”.

Audrey Garcia fez a cirurgia para se tornar estéril e afirma que “as pessoas costumam ficar chocadas porque veem a esterilização como uma mutilação, mas quando eu explico os motivos, elas entendem”.

Como os casais egoístas, que só pensam no prazer e não querem ter filhos, este é um problema que Audrey tem enfrentado nos seus relacionamentos. Por isso, justifica-se dizendo: “Não vejo o que há de egoísta em querer dedicar sua vida a outra coisa que não seja ter filhos. O que acho egoísta é tomar, de maneira unilateral, a decisão de trazer alguém a este mundo.”

Uma das razões que os antinatalistas citam para não terem filhos seriam os sofrimentos físico, psicológico e emocional. Assim, Audrey deixa transparecer o desejo de suicídios dessas pessoas: “Acho que muitas pessoas já pensaram em suicídio uma vez ou outra. Mas já que estou aqui, tento ser útil.”

Por causa do pecado original, esta vida é um “vale de lágrimas”. E é muitas vezes no sofrimento que encontramos a nossa consolação. Foi o exemplo que nos deu Nosso Senhor Jesus Cristo morrendo na Cruz. O suicídio é, portanto, a falsa solução que o demônio apresenta àqueles que se entregam ao egoísmo e aos prazeres.
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[i] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2001, p. 103


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PALAVRA DA SALVAÇÃO (76)


5º Domingo da Páscoa – 29/04/2018

Anúncio do Evangelho (Jo 15,1-8)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei.
Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim.
Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo, e acompanhe a reflexão do Padre Roger Araújo:
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Conectados à vida

“Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira...” (Jo. 15,4)

Se há algo que caracteriza nosso tempo é a nova consciência de ser rede-comunhão-interconexão-unidade. Todos já sabemos que tudo está interconectado: a globalidade é interação. Lentamente vai-se tomando consciência de que formamos parte de um todo. Há em nós uma necessidade básica de viver conectados com os outros, de entrar em relação com o mundo.

Este tempo pede de nós “uma espiritualidade da conexão”, da busca da experiência da Unidade, de estender pontes entre culturas, raças, sexos, crenças religiosas, ideologias, de romper fronteiras, de estreitar laços, de criar espaços acolhedores... Precisamos sair de nossos pequenos círculos para criar vínculos com tantas pessoas, grupos, organizações sociais e movimentos que buscam outra globalização, a globalização da solidariedade, da interconexão responsável, da comunhão universal.

O desafio que se apresenta diante de nossos olhos é o de sermos fiéis à realidade para poder descobrir nela a novidade de Deus, uma experiência “mística” que nos faça tocar o mais profundo de tudo, e como consequência, denunciar o que obstrui e mata este dom novo de Deus.

A imagem da videira e dos ramos, no Evangelho de hoje, nos revela a teia das relações, das interdependências e da comunhão de todos com a Fonte originária de tudo. Pertencemos a uma comunidade cósmica de vida tal como foi criada e sustentada por Deus. Somos quem somos somente na relação e por  nossa relação com todas as criaturas e com o próprio Criador; somos alimentados pela mesma seiva divina, que tudo sustenta com sua mão providente.

Isto significa que há uma unidade fundamental que perpassa todas as partes do universo, na forma de uma “rede”. Nós, seres humanos, também fazemos parte desta vasta rede de inter-relações, conectados a todos os elementos da natureza, desde a menor célula até a ecologia global.  Sentimo-nos impulsionados pela seiva do Espírito que alimenta as energias do universo e a nossa própria energia vital e espiritual. Conectar-nos com a Videira possibilita alcançar a seiva, o pulsar da vida e o equilíbrio nas relações; viver em profunda fusão com a videira desperta as energias criativas, todas as grandes motivações adormecidas, toda bondade aí presente.  Sem a seiva divina que nos atravessa nunca poderemos dar o verdadeiro fruto.

No entanto, percebemos, no contexto atual, que o ser humano tem perdido o contato e a comunhão com o cosmos e com os seus semelhantes, recusando receber a seiva que a todos alimenta; ele está conectado com tudo e com todos e, no entanto, tal conexão não lhe nutre, nem lhe oferece sentido à sua existência. A compulsão dos meios eletrônicos o ameaça de superficialidade, de individualismo e de isolamento. Isto tem provocado nele toda espécie de mal-estar, de doenças, de conflito e divisão, de insegurança, de ansiedade, de solidão, de aridez existencial... É aguda a consciência de uma fragmentação do eu interior.

A verdadeira nobreza do ser humano consiste nisto: há nele “algo” de interior, decorrente de sua profunda conexão com a Videira, de onde recebe a seiva que o nutre e o faz entrar em relação com tudo e com todos; há nele uma força latente, como uma energia fundamental, que o impulsiona a viver, que o ajuda a crescer e a melhorar continuamente, aumenta a sua capacidade de resistência, estimula-o a alcançar aquilo que é o sentido de sua própria existência: a verdade, a liberdade, o bem, o amor...

Com a presença desta força interior, a pessoa se sente guiada pelo seu dinamismo, que lhe proporciona saúde física, lucidez mental e limpidez afetiva. É esta força que comanda os melhores momentos da vida humana como um princípio ativo, dinâmico, criativo... Tais forças primordiais, vitais, presentes nas diferentes etapas do crescimento, são essenciais ao ser humano, graças às quais ele se orienta diante das solicitações da vida pessoal e das múltiplas escolhas, constrói a sua vida pessoal, reforça as relações comunitárias e sustenta o seu compromisso solidário no caminho em direção à plenitude do seu ser. 

Quando esta “força vital” permanece bloqueada, o ser humano perde a direção, seca a criatividade e o gosto por viver, não faz progredir a sua potencialidade e demite-se da própria vida. Diante dessa situação existencial, faz-se urgente uma poda. A poda é constitutiva de nossa vida, sempre será necessária; temos a perma-nente tendência à acomodação, à rigidez em nosso modo de ser e proceder, ao fechamento em nossas idéias, aos afetos desordenados; constantemente experimentamos perdas, amputações, despedidas, limites...

Vivemos as perdas como autênticas mutilações do eu e da vida. Algo ligado à nossa identidade, à nossa imagem pública, com as quais nos identificamos, deve ser jogado ao fogo, pois já não serve mais para nada. Mas as podas abrem espaço à vida nova. À luz da Páscoa, toda poda revela-se nova possibilidade de vida. É certo que ela pode nos paralisar na queixa contínua, na saudade melancólica do passado ou em posturas defensivas; mas também nos possibilitam experimentar a chegada de uma vida inspirada que ativa nossa criatividade e nos enche de alegria. O decisivo não é fixar-nos no “por quê?” das perdas e podas, mas, à luz da Ressurreição, mudar o sentido da pergunta: “para quê” a poda aconteceu? No “para quê” descobrimos um novo sentido e uma nova força vital que brota das feridas e perdas existenciais. Na experiência da ressurreição nada é “descartado”, tudo é iluminado e a seiva de vida surge de onde menos se espera.

O Podador sabe que está preparando uma vida nova e de mais plenitude. Mas é doloroso, produz-se uma perda, é necessário fazer o luto e despedir-nos daquilo que inevitavelmente nós perdemos. Precisamos fazer descer da cruz o que em nós está caduco e morto, olhá-lo de frente, sepultá-lo e despedir-nos dele para que a vida nova possa expandir-se com liberdade. 

Só quando morremos e ressuscitamos podemos nos renovar e gerar muitos frutos, pois experimentamos em nossa própria carne a fragilidade humana, o que é efêmero e secundário, mas ao mesmo tempo ressuscitamos a partir de uma força que nos vem do mais profundo de nós mesmos, que transforma o que está morto em nós numa nova possibilidade ainda por ativar. Ninguém ressuscita no sentido de recuperação do antigo, mas como a acolhida de um dom inédito de Deus.

É decisivo religar-nos à Fonte e aproveitar, para o desenvolvimento integral da nossa personalidade, os abundantes nutrientes e recursos presentes nas profundezas do nosso coração. São forças construtivas e autônomas, livres de influências externas, que devem ser colocadas a serviço da construção de uma personalidade sadia, equilibrada e mais rica. Com isso, todo nosso interior se alarga e se dilata.

A seiva de nosso ser essencial constitui nossa autêntica vida. Descobri-la, abrir-nos a ela, fazer-nos trans-parentes a ela e vivê-la cada dia constituem a plenitude de nossa realização. É seiva divina, presente no “eu” mais profundo, que nos arranca de nosso fechamento e nos faz ir para além de nós mesmos; ela nos abre a uma Realidade maior que nos transcende; é ela que nos faz perceber que temos no coração um espaço que está feito à medida de Deus.

Precisamos viver mais nas raízes de nosso ser; precisamos aprender a viver de uma maneira mais profunda e autêntica, a partir do núcleo mais íntimo de nosso ser, a partir de nosso ser essencial. Trata-se de descer em profundidade, de achar o nosso centro, aquele ponto de gravidade por onde passa o eixo do nosso equilíbrio pessoal.  A oração nos ajuda a encontrá-lo e a ampliá-lo.

Texto bíblico:  Jo 15,1-8 

Na oração: A compulsão dos meios eletrônicos nos ameaça de individualismo e de solidão, mas a oração cristã é um grande corretivo, pois ela nos ajuda a descobrir nossa interioridade, nos dá “olhos interiores” para captar o mais profundo nas pessoas, a dimensão mais verdadeira de nossas vidas, a beleza escondida na realidade.

A oração é, também, um convite a sentir-nos com os outros, a conectar-nos com todos e a viver em comunidade; o “blog” da oração cristã é também com outros, junto aos outros, para outros.

- Qual é a seiva que alimenta e sustenta sua vida? Onde você a busca? 

Pe. Adroaldo Palaoro sj

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sábado, 28 de abril de 2018

COM O BRASIL EM CANNES por Zuenir Ventura


Cacá Diegues está voltando em breve a Cannes com seu “Grande circo místico”, 54 anos depois de participar do XVIII Festival de Cinema — ele, com “Ganga Zumba”; Glauber Rocha, com “Deus e o diabo na Terra do Sol”; e Nelson Pereira dos Santos, com “Vidas secas”. Eu estava lá nesse ano em que os três funcionaram como uma espécie de compensação pela vergonha do golpe militar de 1964. Pelo menos duas surpresas aguardavam Nelson. A primeira foi logo após a exibição de “Deus e o diabo”. Sem saber que cineastas como Fritz Lang e Luis Buñuel haviam adorado seu filme, Glauber estava muito nervoso, a ponto de ter um súbito desarranjo intestinal. “Não estou aguentando”, disse pra mim a seu lado, “pede ao Nelson pra me substituir na coletiva”. E voltou correndo para o hotel. Assim foi que o amigo teve que responder a jornalistas do mundo todo perguntas como esta “Quem é Deus e quem é o diabo? Será Antonio das Mortes (o matador do filme) a representação da ditadura?” quis saber um alemão. Nelson teve de explicar também que Dadá era a mulher de Corisco, não tinha nada a ver com dadaísmo, o movimento artístico.

A outra surpresa deu mais trabalho a Nelson, que chegou a ser acusado de assassinato de animais. É que uma condessa italiana ficou furiosa com a cena em que a cadela Baleia encena a sua morte graças a soníferos. “Só mesmo um povo subdesenvolvido para fazer filme em que se mata animal”, ela vociferou. A notícia da “morte” viralizou, como se diria hoje, e criou uma certa má vontade contra o filme. Foi preciso que o produtor e fotógrafo Luiz Carlos Barreto conseguisse da Air France a oferta de uma passagem de primeira classe para Baleia, que desembarcou como celebridade. Ainda assim, a tal condessa não se conformou e espalhou que, como os “vira-latas são todos iguais”, os brasileiros teriam arranjado uma cachorra qualquer para substituir a grande intérprete que, por não falar francês, não podia garantir aos repórteres presentes no aeroporto: “C’est moi-même”.

Não seria esse o único mal-entendido. À noite, na sessão de gala, Cacá atrasou-se e quando começou a subir a escadaria do Palácio do Festival, Glauber, lá em cima, começou a gritar: “Cacá, ô, Cacá, anda logo”. Uma gargalhada explodiu. “Foi a maior vergonha da minha vida”, disse depois o diretor de “Ganga Zumba”. É que Cacá em francês quer dizer “cocô”. “Sozinho, não dava para fingir que não era comigo”. Glauber continuava gritando: “Cacá, ô, Cacá”, e a turma do sereno repetindo: “Cacá, ô, Cacá”, ou seja, “cocô, ô, cocô”.

Por via das dúvidas, Cacá deve ser agora o primeiro a subir as escadarias do Palácio, junto e misturado com o público

O Globo, 25/04/2018

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Zuenir Ventura - Sétimo ocupante da Cadeira n.º 32 da ABL, foi eleito no dia 30 de outubro de 2014, na sucessão do Acadêmico Ariano Suassuna, e recebido no dia 6 de março de 2015, pela Acadêmica Cleonice Berardinelli.


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A ERA PT - João Alves


A era PT  

O pobre não entrava na faculdade:
O que o PT fez?
Investiu na Educação?
Não, tornou a prova mais fácil.

Mesmo assim, os negros continuaram a não conseguir entrar na faculdade:
O que o PT fez?
Melhorou a qualidade do ensino médio?
Não, destinou 30% das vagas nas universidades públicas aos negros que entram sem fazer as provas. Querendo dizer que eles não têm capacidade.

O analfabetismo era grande:
O que o PT fez?
Incentivou a leitura?
Não, passou a considerar como alfabetizado quem sabe escrever o próprio nome.

A pobreza era grande:
O que o PT fez?
Investiu em empregos e incentivos à produção e ao empreendedorismo?
Não. Baixou a linha da pobreza e passou a considerar classe média quem ganha R$300,00.

O desemprego era pleno:
O que o PT fez?
Deu emprego?
Não. Passou a considerar como empregado quem recebe o ‘bolsa família’ ou não procura emprego.

A saúde estava muito ruim:
O que o PT fez?
Investiu em hospitais e em infraestrutura de saúde, criou mais cursos na área de medicina?
Não. Importou um monte de cubanos que sequer fizeram a prova para comprovar sua eficiência e que aparentemente nem médicos são. (Um já foi identificado como capitão do exército cubano)

Alguém ainda duvida que esse governo é uma tremenda mentira?

(Texto de João Alves)


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sexta-feira, 27 de abril de 2018

O QUE A MEMÓRIA AMA, FICA ETERNO por Fabíola Simões


Quando eu era pequena, não entendia o choro solto da minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender. O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.

 É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.

 Diante do tempo envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Porém, para a memória ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão perto, nossos pais ainda vivem.

 A frase do título é de Adélia Prado: "O que a memória ama, fica eterno". Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta nossos baús secretos porque a memória é dada a segredos estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.

 A capacidade de se emocionar vem daí: quando nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira. Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você foi o fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de uma fossa e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não obedece calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, aquela época.

 Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos já adultos ou até idosos e voltando a se comportar como adolescentes bobos e imaturos. Encontros de turma são especiais por isso, resgatam as pessoas que fomos, garotos cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e debiloides, como éramos há 20 ou 30 anos. Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos... mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.

 A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem eles percebem que crescemos. Seremos sempre "as crianças", não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos. Pra eles a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das estórias contadas ao cair da noite...ainda são muito recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.

 Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas. Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na dor. Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando. Como disse na introdução do blog, somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme, uma música antiga, um lugar especial.

 Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve daqui, seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram.

Fabíola Simões de Brito Lopes 


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PEQUENO DETALHE - Saul Brandalise Jr.



Normalmente, os pequenos detalhes fazem uma enorme diferença em nossas vidas. Conheço pessoas que leem muito e pouco ou nada aplicam em suas vidas do que efetivamente sabem.

O Universo não cobra a nossa ignorância. Somos verdadeiramente responsáveis pelo destino que damos ao conteúdo que existe dentro de nosso cérebro. 

Conheço pessoas que pregam a igualdade entre os seres humanos, mas são efetivamente os que criam, em suas relações, as maiores desigualdades.  Seu corpo físico atual é apenas reflexo de suas emoções, mente e alma.  Uma vida feliz e regrada precisa obedecer, necessariamente, aos seguintes princípios e relativas condutas: Espírito, Amor e Matéria. 

Muitas pessoas são amigas de nossa facilidade e do eventual poder material que temos. Só descobrimos isso quando ambos vão embora. Quando as facilidades deixam de existir é quando o poder passa a ser efêmero.

A doença no corpo físico sempre é consequência de dissabores emocionais. Saber controlar nossos sentimentos é o principal segredo de uma vida consciente e regrada.

O verdadeiro amigo é aquele que nos diz o que não gostamos de ouvir. Aquele que está próximo quando todos se vão.

Quando o amor é real, nós não ficamos felizes com o que a pessoa nos dá, mas, efetivamente, pelo que nos tornamos quando estamos juntos e dividindo a mesma energia.

Se você trabalha para ganhar dinheiro jamais irá acumular fortuna. O dinheiro é sempre consequência de como o conseguimos. Ele é sempre acessório e nunca principal.
  
Somos hoje a consequência de todas as decisões que tomamos em nossa vida.  

Você estar lendo este texto  Acredite: Não é um pequeno detalhe.


"Gotas de Crystal" gotasdecrystal@gmail..com

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Saul Brandalise Jr - Nascido em Videira - Santa Catarina, empresário que durante muito tempo controlou e também presidiu um dos grupos empresariais mais expressivos do país, que inclui a Perdigão.
Em 2003 recebeu o título de Cidadão Emérito de sua cidade Natal e em 2000 o Titulo de Cidadão Honorário de Uberaba - MG.
Preside atualmente a Central Barriga Verde, que compõe a TV Barriga Verde, Rede Bandeirantes em SC e a Rádio Band FM Florianópolis, além de outras treze emissoras de rádio espalhadas pelo território Catarinense. 

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quinta-feira, 26 de abril de 2018

CÉU SEM ESTRELAS – Marília Benício dos Santos


Céu sem estrelas 


            Quantos anos passaram! A minha casa continua a mesma. Pintada de amarelo com as janelas verdes. Há muitas janelas em minha casa, acompanhando o estilo normando.

            O colorido dos vidros, verde, rosa, champagne, azul, dá muita beleza àquelas janelas de vários tamanhos. A escada em espiral vinda do jardim, continua dando muita graça àquela casa da Independência. O jardim, lá está, não com as flores da minha infância, mas, muito bem cuidado com a sua ramagem e gramado tornando-o ainda belo.

            Entrei. Tudo na mais perfeita ordem. Os mesmos móveis. A mobília estilo Luiz XVI, dá uma onipotência à sala de visita com suas paredes rigorosamente conservadas. Uma guirlanda de rosas contorna aquela sala. Saindo das guirlandas, traços de caminhos sem fim dourados completava assim a beleza  daquela pintura.

            A sala de música, o piano importado da Alemanha, lá está, mudo. A mobília oriental, era pintada de vermelho com dragões dourados. Agora, modificada, pintada de preto e com assento de palhinha, continuava linda. As paredes pintadas de azul com traços dourados. Em cima, contornando-as, instrumentos musicais artisticamente desenhados; bandolim, violino, tambor. As paredes da sala de jantar eram verdes e no alto, frutos como, caju, maçã, cerejas estavam pintados.

            Fiquei ali parada, com o olhar fixo naquilo que via.

            Quanta recordação! Parecia ouvir as risadas gostosas de mamãe. O corre-corre da criançada subindo e descendo a escada de jacarandá. Tenho a impressão de que todos estão ali e que o passado tornou-se presente.

            Olho o piano mudo. De repente parecia ouvir tocar. Resolvi continuar a visita. Subo a escada. Há lá em cima, os quartos, um monte de recordação. Vou ao quarto de meus pais, ao vestíbulo onde meu pai costumava ficar lendo ou escrevendo. A sua escrivaninha, lá está. Abro-a e encontro um caderno com a sua letra. Vejo um soneto de sua autoria. Faço questão de transcrevê-lo:

            O ORÁCULO

Mal me quer... Bem me quer...
Ela dizia e a flor despetalava
E no seu eterno sonho de mulher
Uma por uma, as pétalas arrancava.

 Num sorriso meigo e contrafeito
Esperava do oráculo a sorte linda,
Comprimindo o coração dentro do peito,
Numa ansiedade atroz infinda...

E neste engano tão belo e ledo
Ao cair da última pétala o segredo:
Bem me quer a flor lhe diz.

E ela numa alegria delirante
Vai dizendo e cantando saltitante
Ai! Como serei feliz!

                    (Francisco Benício)

            O meu coração está cheio de saudades. Abro a janela. A noite estava muito fria. No céu não havia estrelas. Céu sem estrelas. Foi assim que identifiquei minha casa naquele momento. Continua para mim um céu, mas sem estrelas.

            Fui deitar-me. Não conseguia dormir. As lembranças vinham à minha presença. Naquele exato momento, ouvi o ranger da escada. Meu Deus, quem será? Levantei-me e fui até lá. Não era ninguém. Lembrei-me de Sílvio, meu irmão, que ao voltar da farra, apesar de todo o cuidado, o ruído da escada o denunciava. Cheguei a vê-lo, encaminhando-se para o seu quarto. Era muito bonito, com os seus cabelos lisos penteados para trás.

            Voltei para o meu quarto. Cheguei à janela novamente. A noite continuava escura.

            Depois de melhor refletir, ponderei: não é o céu sem estrelas. Elas estão ali por trás da escuridão. Em minha casa também, os meus pais, os meus irmãos que já se foram estão também ali. Estão, sobretudo, em minha lembrança, em meu coração.

            Deitei-me e dormi profundamente. Acordei com o sino chamando para a missa. É domingo. Louvado seja Deus. A vida continua.

(CARROSSEL)
Marília Benício dos Santos

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