A Rosa de hoje foi uma Rosa radioativa, estúpida e inválida.
Foi a típica Rosa com cirrose. Uma antiRosa atômica, sem cor, sem perfume, sem
Rosa, sem nada.
Rosa traidora com a pequena esperança de uma nação.
Rosa do voto confuso, de retórica rebuscada, juridicamente
tendencioso, proferido sem vergonha.
Rosa que não pensou no povo, mudo e telepático.
Rosa que não honrou as bravas mulheres brasileiras rotas e
alteradas pelo descompromisso da justiça.
Rosa que não pensou nas crianças, cegas e inexatas pela
desesperança.
Rosa que não pensou nas feridas dos hospitais públicos, do
desemprego, do sofrimento.
Rosa que só pensou nos canalhas detratores da Pátria.
A Rosa de hoje não foi a Rosa Cálida. Foi a Rosa hereditária
de uma genética ruim.
A Rosa de Brasília, sem cor, sem perfume, não é de toda
estúpida e inválida. Há um lado positivo no seu voto perverso. Nesse julgamento
fica tácito que o sistema político brasileiro está podre pela necrose ética que
corrói deputados, senadores e outros funcionários públicos que lesam
impiedosamente sob a proteção espúria do terceiro poder.
A Rosa de Brasília, não tenho dúvida, engrossa o coro dos
críticos da indumentária presidencial na cerimônia de entronização de Sua
Majestade, o imperador japonês. O presidente, único líder americano presente,
resgatou as ordens honoríficas brasileiras, usadas junto a um fraque longo
impecável, sendo a Ordem Nacional do Mérito instituída em 1946 por decreto do
presidente Dutra, uma reedição da Ordem da Rosa de origem imperial.
Que fique claro que a Ordem da Rosa é um símbolo pátrio,
diferente da Rosa em questão, um símbolo nefasto do oportunismo jurídico contra
as ações heroicas da Lava-Jato. O presidente estava elegante, iluminado,
carismático e competente com as ações políticas desenvolvidas para choro
copioso da esquerda podre.
Engrossa também o coro dos que criticam Bolsonaro por ter
levado o seu indefectível Miojo para as horas em que a culinária local não o
agrada tanto. Os críticos, invariavelmente a esquerdalha caviar e a extrema
imprensa, fingem não se lembrar que o presidiário de Curitiba, a alma mais
honesta do mundo, em situação semelhante, frequentava os mais caros
restaurantes do mundo cujas iguarias eram regadas a Don Perignon, Petrus e
Mouton Rothschild que, horas depois, o faziam urinar nas calças, escornado num
canto qualquer, para delírio e aplausos frenéticos de seus asseclas, admiradores
e seguidores.
A sua substituta, não deixava por menos. A única diferença é
que não foi flagrada molhada.
Estou na dúvida com os destinos do Brasil com tanta
indignação acumulada e hoje culminada com o voto de Rosa.
A Rosa de Hiroshima nasceu de uma bomba atômica lançada
sobre inocentes indefesos. A Rosa de Brasília, mutatis mutandis, também.
Será que é hora dos caminhoneiros ligarem seus motores? Será
que é o momento pra quebra-quebra e caos? Talvez seja tudo que queira a
esquerda ardilosa numa tentativa orquestrada pelo Foro de São Paulo, apoiado
por dois dos três poderes da República, para desestabilizar a recente aprovação
da Nova Previdência, da competente atuação do presidente na Ásia e do
sucesso econômico que se descortina para 2020.
Um relógio pendulava dentro de sua cabeça, como pancadas de
martelo. Da sala onde se encontrava só, emanava cheiro de mofo misturado com o
odor da cera do assoalho; uma raja de luar infiltrava-se por uma fresta da
janela confrontada com o poente, formando uma claridade pálida, quase
imperceptível. Como sombra apareciam em sua imaginação os rostos de Elsa e
Catarina, renitentes, peculiares nos gestos, tonalidade de voz, os sorrisos,
agora distantes, sem pancadas intrigantes de um relógio antigo.
“Que culpa tenho em toda essa história? Tentaria uma solução?”
Tudo confuso. Receava maiores complicações. “Saltei muros, troncos e barrancos.
Só faltei roubar, coisa que meu pai nunca me ensinou. E agora? Toma aí, coisa
tonta, pau no lombo, tristeza, recalques, solidão que não acaba nunca, lágrimas
por dentro e até pela face, a alguns momentos; coração aflito, sem carinho ou
uma palavra de alento”. Abriu a janela por onde entrava um raio de luar; viu a
lua se escondendo entre nuvens espessas turvando a cúpula celeste, como se fora
um eclipse.
As pancadas do
relógio recrudesciam e um vento frio soprava vindo nem sabia de que lado. “Elza,
Catarina”. Era uma consumição em seu juízo. Vinha-lhe uma série de perguntas
sem nexo, sim sentido. Procuraria um médico, um psicólogo ou mesmo um
psiquiatra. “Os doutores não curam males da alma. Os espiritualistas também não”.
Era um cético. Fechou a janela, encolhendo-se ante a rajada do vento frio. “Minha
mãe estaria aflita com o meu tormento. Nem podia me ver calado: ‘Está sentindo
alguma coisa’, perguntava-me apalpando meu peito, afagando minha cabeça. Eu
sabia que ela rogava a Deus e aos santos de sua crença um socorro para mim.
Acalmava-lhe com um sorriso sutil: - não estou sentindo nada”.
As figuras de Elza e Catarina voltavam a sua cabeça
embaralhada, separadas, juntas, contrastando-se, resmungando, às vezes
ameaçando agredi-lo, soltando palavras ofensivas, investindo com dedo em riste,
frente a frente. Lembrava do carinho dedicado às duas, do sacrifício do
dia-a-dia, somando coisas, diminuindo outras, apertando a fronte às vezes
atormentada, arrepiando-se com deveres acumulados.
Elza, Catarina. “Você é um imbecil”, “Quero um vestido novo
para o aniversário do doutor Mário”, “Estou precisando de um colar de ouro e de
uma pulseira”.
Quanto
compromisso, quanta humilhação ante olhares exigentes, tantas mãos exigentes!
“Por que faziam essas coisas comigo?” Num ímpeto, saltou pela janela e ganhou a
rua, como gente maluca. Pensou informar-se onde encontraria uma clínica. Queria
um médico urgente, um psicólogo, um psiquiatra competente que lhe afastasse
aqueles pensamentos, aquelas lembranças confusas, as sombras de Elza, de
Catarina. Pensou num sanatório bem aparelhado, com psiquiatras, medicamentos
eficazes que o tornassem lúcido e razoável. Não encontrou nenhum sanatório nem
psiquiatra. Sem uma alternativa retornou para casa; saltou novamente a janela
que ficara encostada e dirigiu-se para o quarto. “Se Elza e Catarina estivessem
aí!”. Quando saiu para a rua pensando em procurar um médico, as duas
afastaram-se de sua cabeça, daí imaginá-las esperando-o de volta, Elza sentada
nos pés da cama, Catarina do outro lado, encostada à cabeceira, nenhum diálogo
entre as duas que se odiavam, mas na espreita. Com essas ideias empurrou a
porta e entrou, acendeu a lâmpada, panhou um lençol fino, uma espátula e
começou a vedar as fendas da porta entre as dobradiças para aliviar-se das
pancadas do relógio na sala vizinha, badalando entre figuras que lhe
atormentavam o juízo.
Lembrando de suas trajetórias durante o dia, admitiu
encontrar-se atrapalhado; verdade que as pancadas do relógio agravavam a
situação que já era tensa ante as imagens de Elza e Catarina. Melhor seria dar
um fim ao relógio, trocar por outro sem pêndulo, silencioso. “Será que Elza tem
ainda aquele relógio de pulso?”. Pensou assim antes de saltar a janela, quando
saiu para a rua, à procura de um médico, de uma clínica. De volta, isolou o
relógio, abafando-o na sala vizinha. Panhou um espanador e sacudiu o leito da
cama forrada com um lençol azul florado de amarelo. Deitou-se depois, sutil,
sem vontade de dormir; queria, antes, esquecer Elza, Catarina. Se não
conseguisse dormir, sairia pela manhã à busca de um médico que iria exigir-lhe
detalhes, “conte sua história”.
O que iria contar? Somente falar sobre as duas, um histórico
comprido, aí por volta de dez anos entre atalhos e arrodeios, mais ou menos,
nunca no meio termo das coisas, como fazia sua mãe quando era menino,
repassando a farda enxovalhada da semana para ganhar tempo e sabão; esconder
mal feitos ante o pai cansado e às voltas com mil obrigações em casa.
Passou a noite se virando de um lado para outro, a cabeça
com sensação de zonzura, os ouvidos chiando, as pernas cansadas.
A primeira coisa a fazer depois que o sol saísse seria
procurar uma clínica especializada em assuntos sobre loucura. Tinha a certeza
que estava ficando doido.
Era uma vez um agricultor muito humilde, mas muito
sábio, que trabalhava arduamente a terra de sol a sol junto com seu
filho.
Um dia, o filho lhe disse: "Pai, uma
desgraça aconteceu conosco, o cavalo desapareceu".
O pai respondeu: "por que você acha que é uma desgraça?
Vamos ver o que o tempo traz."
Alguns dias depois, o cavalo voltou, acompanhado por outro
cavalo.
Então o filho disse: "pai, que sorte, nosso cavalo
trouxe outro cavalo".
O pai disse novamente "por que você acha que
é sorte? Vamos ver o que o tempo traz".
Depois de alguns dias, o rapaz quis montar o
cavalo recém-chegado e este, não acostumado ao cavaleiro, ficou furioso e o
jogou no chão. E o jovem quebrou a perna.
O rapaz exclamou: "Pai, que desgraça, quebrei minha
perna!"
E o pai, com sua experiência e sabedoria, disse: "Por que você chama isso
de desgraça? Vamos ver o que o tempo traz." O jovem não estava
completamente convencido da filosofia do pai, mas recolheu-se em sua cama.
Alguns dias depois, os enviados do rei atravessaram a
aldeia, procurando jovens para levá-los à guerra, chegaram à casa do camponês e
viram o jovem com a perna quebrada, deixando-o e continuando o caminho.
O jovem entendeu então que, em muitas ocasiões o que parece
um infortúnio é uma bênção disfarçada. Que sorte ou azar não acontecimentos
absolutos, e que é preciso dar tempo ao tempo.
A Academia Brasileira de Letras e a
Câmara dos Deputados lançam o livro Imortais: patronos e fundadores da
Academia Brasileira de Letras. O lançamento acontecerá na quinta-feira, dia
31 de outubro, às 17h30, na Sala dos Fundadores do Petit Trianon,
Avenida Presidente Wilson, 203 – Castelo, Rio de Janeiro. Entrada
franca.
Imortais: patronos e fundadores da
Academia Brasileira de Letras
A obra apresenta minibiografias dos
80 patronos e fundadores da ABL acompanhadas de ilustrações modernas de cada um
deles. Pretende-se, com a publicação, que os leitores conheçam um pouco mais
das significativas personalidades que registraram seus nomes em nossa história
literária. Com prefácio do presidente da ABL, Acadêmico Marco Lucchesi, o livro
busca preservar a identidade brasileira no âmbito literário por meio do resgate
da memória de grandes escritores.
O luxo mudou. Existe um novo conceito moderno do que é o
luxo supremo. Os antenados estão ressignificando não só a palavra, mas as suas
atitudes em relação a ela.
A mudança de comportamento nesse novo milênio mostra uma nova
consciência no mundo. E toda grande transformação começa quando ocorre uma
mudança de valores, e é isso que estamos vivendo.
Aos poucos, mesmo os mais desatentos, os mais conservadores,
mesmo os novos ricos, deslumbrados com sua escalada social, vão perceber que o
luxo agora é outro.
Então, o que significa luxo nessa era moderna
contemporânea?
O novo luxo é ter saúde. Liberdade. Tempo. Ter espaço nesse
planeta atulhado, ter hortas orgânicas, abelhas, animais livres, água limpa,
rios e mares limpos, matas nativas e florestas preservadas, biomas naturais.
E quem pode se dar esse luxo?
Quem pode cuidar de sua saúde física, mental, emocional,
psíquica e espiritual? Quem pode ter a liberdade de ser o que é, sem se
preocupar com a opinião de ninguém? Quem pode ter tempo de fazer o que
gosta e gostar do que faz?
Ter tempo de flanar, pensar, se dedicar a observar a beleza
das coisas, de criar beleza nas coisas, de descobrir o mundo? Tempo de dançar
sozinho, olhar demoradamente um pôr de sol? Cuidar dos bichos abandonados e ter
uns bichinhos pra chamar de seus? Tempo de cuidar de jardim e poder plantar
muitas árvores? Tomar um café no fim de tarde e ler um bom livro?
Tempo de conhecer, descobrir e amar as pessoas? De poder
fazer amor com todo o tempo do mundo? De acordar de bom humor e acreditar que é
possível, é sempre possível e que estamos aqui para presenciar pequenos e
grandes milagres?
O novo luxo é ter paz de espírito, consciência tranquila,
meditar e sentir aquela felicidade que nasce dentro de você, não importa o que
aconteça fora.
O novo luxo é saber que para ser feliz temos que desejar que
todos possam ser felizes também. Não carregar o peso de sentimentos ruins e
pensamentos negativos, mas deixar que eles passem como passam as nuvens escuras
pelo céu.
O novo luxo é saber ser gentil com pessoas que você não
conhece, com empregados, funcionários, subalternos. Respeitar o outro
independentemente de sua posição social, raça, cor ou credo.
Respeitar o ser humano que ele é.
O novo luxo é tentar entender quem pensa diferente, quem nos
é estranho e saber que violência sempre gera violência e esse beco não tem
saída.
O novo luxo é admitir sua fraqueza, perdoar seus erros e se
divertir com seus defeitos. Saber que nosso encanto é essa mistura de tudo,
muitas vezes confusa e desajeitada, mas sempre tentando ir pelo caminho do bem.
Todos temos falhas, todos fazemos bobagens, dizemos coisas
que não queríamos ter dito e saber pedir perdão é sempre libertador.
Uma das conquistas do novo luxo é essa plenitude.
O novo luxo é experienciar, vivenciar, aprender. O novo luxo
é conhecimento. Uma visão abrangente sobre o mundo em que vivemos e nossa
passagem por esse lindo planeta azul.
O novo luxo faz de você um novo ser humano, sua busca é
evoluir e ser melhor.
Além de sofrer estiagem, ter população mais carente, etc.,
vê agora suas lindas praias infestadas de borras de petróleo, aumentando suas
agruras, com privações da pesca, turismo, etc.
Neste triste episódio senti falta de manifestações de ajudas
da Noruega, França e Alemanha, notórias advogadas do meio ambiente do planeta!
É porque tu, Nordeste, é pobre, e pobre quase não tem
patrono.
Aposto que se essas borras de petróleo aparecessem no rio Amazonas,
logo, mais do que de repente, a Noruega, França e Alemanha ofereceriam ajuda
pra resolver o problema, porque segundo ditos países a Amazônia é de todos.
Bom dia... O céu esperando o aparecimento do seu
rei, o sol, avermelhou-se hoje cedo, para anunciar o grande Apóstolo e
mártir de Jesus Cristo, São Judas Tadeu.
Verdadeiro missionário. Desconhecido, até pelas Escrituras, falam
quase nada dele, mas a piedade popular o aclama como testemunha de Jesus Cristo
e protetor dos evangelizados, e isto basta. Que os apóstolos
nos conduzam com segurança pelos caminhos e sendas da fé.
Com a oração e a bênção matinal, Dom Ceslau.
Dom Ceslau Stanula – Bispo emérito da Diocese de Itabuna.
Escritor, membro da Academia Grapiúna de Letras - AGRAL.
“Jesus reuniu seus doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de
expulsar os espíritos imundos e de curar todo mal e toda enfermidade. Eis os
nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu
irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e
Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas
Iscariotes, que foi o traidor (Mt 10, 1-4).
Neste dia 28 de outubro a Igreja celebra a festa de São Judas Tadeu –
provavelmente irmão de Tiago Menor, de acordo com a Tradição pregou na
Mesopotâmia e teria sido martirizado com São Simão, na Pérsia. É autor de uma
Epístola, inserida no Novo Testamento, em que vitupera energicamente a soberba
e a luxúria, bem como os “falsos profetas”. Não há abundância de dados a
respeito da vida desse Santo Apóstolo, não obstante, por seu poder de
intercessão, seja objeto de extraordinária devoção popular.
Esta imagem de São Judas Tadeu — venerada na Basílica San
Giovanni di Laterano (obra do escultor Lorenzo Ottoni (1704-1709) — é uma das
poucas que o apresenta com traços próprios a um verdadeiro Apóstolo.
Normalmente a iconografia apresenta sua fisionomia adulterada e com aparência
de uma pessoa mole e sentimental; como um “santinho” e não como o grande e
heróico santo que foi.
A Academia Brasileira de Letras dá
continuidade à sua série de seminários “Brasil, brasis” de 2019 com o
tema Brasil, país sem futuro? A coordenação é do Acadêmico e
escritor José Murilo de Carvalho (sexto ocupante da Cadeira 5,
eleito em 11 de março de 2004) e conta com as participações do economista Armando
Castelar e do escritor Julio Ludemir. O coordenador-geral
dos seminários “Brasil, brasis” de 2019 é o Acadêmico e professor Domício
Proença Filho. O evento será realizado no dia 29 de outubro, terça-feira às
17h30, no Teatro R. Magalhães Jr. (Avenida Presidente Wilson, 203 –
Castelo, Rio de Janeiro.)
O Seminário Brasil, brasis, com
entrada franca e transmissão ao vivo pelo Portal da ABL, tem o patrocínio
do Bradesco.
Os Convidados
Armando CastelarPinheiro é
coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV)
e professor da Escola de Direito-Rio da FGV e do Instituto de Economia da UFRJ.
Anteriormente, trabalhou como analista da Gávea Investimento, pesquisador do
IPEA e chefe do Departamento Econômico do BNDES. Castelar é ph.D em economia
pela Universidade da Califórnia (Berkeley), mestre em administração pela
COPPEAD/UFRJ e em estatística pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada
(IMPA), e engenheiro eletrônico pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA). É articulista dos jornais Valor Econômico e Correio
Braziliense.
JulioBernardoLudemir nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criado em Olinda, Pernambuco.
Estudou jornalismo, mas nunca concluiu o curso. Tem dez livros
publicados, a maioria ambientados nas favelas cariocas. A reportagem “Rim por
Rim” foi finalista do Prêmio Jabuti de 2008. É um dos roteiristas de
“400 contra um”, que o cineasta Caco de Souza adaptou da autobiografia de
William da Silva Lima, um dos criadores do Comando Vermelho.
É um dos idealizadores da FLUP, Festa
Literária das Periferias, cuja principal característica é acontecer em favelas
cariocas. A iniciativa ganhou o prêmio Faz Diferença de 2012 do jornal O
Globo, o Excellence Awards de 2016 da London Book Fair e
Retratos da Leitura de 2016 do Instituto Pró-Livro.
É também um dos idealizadores da
Batalha do Passinho, que levou para Londres e Nova York. Com os dançarinos do
Passinho, criou o espetáculo “Na Batalha”, primeiro grupo de funk a
se apresentar no Teatro Municipal do Rio deJaneiro, tema de
documentário que estreou em 2016.
No dia 17 de março de 1887, um crime monstruoso ocorrido na
Rua Montaigne, em Paris, abalou a França. Num tríplice assassinato, uma
cortesã, sua criada e uma filha desta foram cruelmente mortas.
Quatro dias depois a polícia de Marselha anunciava a prisão
do suspeito, um italiano de nome Henrique Pranzini, que disse conhecer a
vítima, mas jurou inocência, apesar de a polícia ter encontrado roupas sujas de
sangue em suas acomodações.
À medida que as investigações prosseguiam, outras evidências
surgiam contra Pranzini. Contudo, ele continuava a negar o tríplice
assassinato, dizendo que passou a noite do crime com sua concubina, que
confirmou a história. Entretanto, ela encaminhou depois ao magistrado uma carta
na qual se retratava, afirmando que no dia seguinte ao assassinato fora
procurada por Pranzini, que lhe pediu dinheiro para poder deixar Paris, sendo
atendido. Assim, em vez de inocentá-lo, incriminava-o ainda mais.
Quem era Pranzini
Segundo as investigações da polícia, Pranzini nasceu em 1856
na colônia italiana de Alexandria, no Egito. Trabalhara no correio daquele
país, mas fora expulso por roubo. Depois serviu de intérprete na Rússia e no
Sudão. Girou também pelo Afeganistão e por Burma. Em todos esses lugares
circulavam rumores de crimes que ele teria cometido.
Pranzini chegou a Paris em 1886, sem um tostão. Mas aos
poucos foi se relacionando com várias mulheres, sobretudo no bas-fond,
entre as quais “Madame de Montille”ou Marie Regnault, uma de suas vítimas no
tríplice assassinato.
O Julgamento
O julgamento de Pranzini ocorreu em meados de julho, tendo
sido acusado de assassinar no dia 17 de março Marie Regnault, sua criada, que
procurara socorrê-la, e uma filha desta de doze anos. Como agravante, era
acusado também de roubo de jóias e dinheiro, e de tentativa de arrombar um
cofre.
No dia 13 de julho o júri deu seu veredicto: Pranzini foi
julgado culpado e condenado à morte. A sentença capital deveria ser executada
no final de agosto.Tanto a imprensa nacional quanto a internacional deram farta
cobertura a todo o caso.
Santa Teresinha e Pranzini
Por isso, o eco dessas trágicas notícias chegou até os
Buissonnets, em Lisieux, onde vivia a família Martin. E comoveu muito a
adolescente Teresinha, então com 14 anos [foto ao lado com 13 anos].
Ora, ela passava na época por uma grande experiência
mística, relatada em sua autobiografia como “a graça de Natal”, um de cujos
frutos é assim descrito: “Senti a caridade entrar em meu coração. […]
Jesus […] fez-me pescadora de almas. Senti o grande desejo de trabalhar pela
conversão dos pecadores, desejo jamais sentido tão vivamente”.
Esse desejo encontrou exatamente em todo o caso Pranzini uma
ocasião de se manifestar: “Para excitar meu zelo, Nosso Senhor mostrou-me
que meus desejos Lhe eram agradáveis. Ouvi falar de um grande criminoso que
acabava de ser julgado por crimes horríveis. Tudo levava a crer que ele
morreria na impenitência. Quis a todo custo impedir que caísse no inferno. Para
consegui-lo, empreguei todos os meios imagináveis. Sentindo que não podia nada
por mim mesma, ofereci a Deus todos os méritos infinitos de Nosso Senhor, os
tesouros da Santa Igreja, enfim, pedi a Celina [irmã de Sta. Teresinha] que
mandasse celebrar uma Missa nas minhas intenções”.
Acreditava, mas queria um sinal
Quando se aproximava o dia da execução de Pranzini,
Teresinha estava convicta de que seria atendida. Diz ela: “Sentia no fundo
do coração que nossos desejos [dela e de Celina] seriam satisfeitos. Mas, a fim
de aumentar minha coragem para continuar a rezar pelos pecadores, disse a Nosso
Senhor que estava certa de que Ele perdoaria o pobre e infeliz Pranzini. E que
eu cria, ainda que ele não se confessasse e não desse nenhuma prova de
arrependimento, de tal modo eu tinha confiança na misericórdia infinita de Jesus.
Todavia, eu pedia somente um ‘sinal’ de arrependimento, para minha simples
consolação”.
Chegado o dia da execução, na manhã de 31 de agosto de 1887,
dois guardas e um capelão levaram o condenado ao pátio da prisão, onde estava
montada a guilhotina.
Sta. Teresinha reza pela conversão do condenado
Pranzini realmente não se confessou, nem deu mostras de
arrependimento. Entretanto, chegando ao pé do cadafalso, virou-se
inesperadamente para o capelão, pediu-lhe o crucifixo que levava, e o osculou
três vezes antes de receber o golpe fatal que lhe deceparia a cabeça.
Esse foi o “sinal”. Narra Santa Teresinha: “No dia
seguinte ao de sua execução, tomo o jornal ‘La Croix’, abro-o ansiosamente, e o
que vejo? […] Pranzini não se confessara. Subira ao cadafalso e estava prestes
a passar sua cabeça pelo lúgubre orifício da guilhotina quando, tomado por
súbita inspiração, volta-se de repente, toma o Crucifixo que lhe apresentava o
padre, e beija por três vezes as chagas sagradas!… Em seguida, sua alma foi
receber a sentença misericordiosa d’Aquele que declarou que haverá no Céu mais
alegria por um só pecador que faz penitência, do que por 99 justos que não
necessitam dela”.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, Jesus contou esta parábola para alguns
que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: “Dois
homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de
impostos.
O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu
te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos,
adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por
semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’.
O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se
atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus,
tem piedade de mim que sou pecador!’
Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o
outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.
Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Roger
Araújo:
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A impiedosa leveza
de sentir-se superior aos outros
“...porque não sou como os outros homens, ladrões,
desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos” (Lc 18,11)
Na pregação e na prática de Jesus nós nos deparamos com uma
espiritualidade que vem de “baixo”, que brota do encontro com a
fragilidade humana. Ele, conscientemente, se compromete com os publicanos e
pecadores, com os pobres e doentes... porque sente que eles estão abertos ao
amor de Deus. Os “justos” (praticantes da lei e observantes das normas
religiosas), pelo contrário, vivem centrados em si mesmos e são aqueles que
entram em permanente conflito com Jesus.
Os “fariseus” são os típicos representantes de uma
espiritualidade legalista, distante da realidade humana. Eles não percebem que,
observando detalhadamente todas as leis, não estão pensando em Deus, mas sim,
em si mesmos. No fundo, não tem necessidade de Deus. Acreditam que cumprindo
perfeitamente todos os mandamentos por suas próprias forças, tem o direito de
exigir de Deus uma recompensa. Não buscam viver o encontro com o Deus de
misericórdia; o que mais lhes interessa é o cumprimento minucioso das normas e
ideais que se impuseram a si mesmos. De tanto se fixarem sobres as leis,
esquecem o que Deus realmente deseja do ser humano, tornam-se frios,
insensíveis... e assumem o papel de juiz para julgar o comportamento dos
outros. Por isso Jesus os condena duramente, enquanto para os pecadores e fracos
Ele se apresenta manso e misericordioso.
A parábola do “publicano e do fariseu” é como o espelho
interior que nos desvela (tira o véu), nos ajuda a descobrir e acolher o que
somos na realidade. Os personagens são muito simples, somente dois, estilizados,
quase caricaturados: o “justo” e o “pecador”. Com os dois personagens e uma
eloquente imagem na qual se vê refletida a atitude de cada um na oração, Jesus
consegue nos colocar diante do espelho de nossa interioridade, desmascarando a
estupidez da prepotência e nos animando a ativar a atitude da humildade, a mais
humana das virtudes.
Cada um dos personagens se retrata a si mesmo em seu modo de
orar. Porque, diante de Deus, por um lado, vê-se com maior claridade o absurdo
de querer se colocar acima dos outros, e, por outro, a humanidade da humildade.
Mas o espelho mostra que os papéis estão invertidos. Aquele que afirma ser
“justo” e perfeito cumpridor das leis, na realidade é o desumano. E aquele que
se reconhece pecador, prostrando-se ao solo, na realidade é o mais humano.
Este, porque “desceu” do pedestal do ego, encontra a reconciliação.
Segundo Lucas, Jesus dirige esta parábola a alguns que se
apresentavam serem “justos” diante de Deus e desprezavam os outros. Os dois
protagonistas, que “subiram ao templo para orar”, representam duas atitudes
religiosas contrapostas e irreconciliáveis. Mas, qual é a atitude justa e
verdadeira diante de Deus? Esta é a pergunta de fundo.
Quando nos vemos demasiadamente legalistas, demasiadamente
perfeitos, exigentes, rígidos, ansiosos, agressivos, intolerantes..., agiríamos
bem perguntando-nos o quanto do “fariseu” nos habita. Na parábola acima
mencionada, os dois personagens correspondem a dois aspectos de nossa própria
pessoa. Vive em cada um de nós um eu prepotente, que se considera justo e
rejeita todo o imperfeito; é o eu rígido, fruto da super exigência, que se
identifica com a imagem idealizada de si mesmo e se alimenta do orgulho. Mas
junto a ele, e com frequência sufocado, vive “outro eu” que teve de esconder-se
porque não se sentiu reconhecido em sua verdade, nem aceito em seus limites.
Somente quando integrarmos e nos reconciliarmos com os
aspectos que tínhamos negado ou até rejeitado – o publicano - poderemos
alcançar a paz e a harmonia estáveis. Portanto, nosso grande empenho não
consiste em sermos “perfeitos”, mas “completos”. Na medida em que somos mais
“completos”, porque aceitamos de maneira integral toda a nossa verdade, vamos
nos tornando mais compassivos e humanos.
A parábola nos revela que a reconciliação virá por esse
lado. Precisamos abraçar toda a nossa frágil realidade em toda a sua verdade e,
a partir dessa humildade, começar a viver em gratuidade e em gratidão. Deus tem
mais facilidade de entrar em nossa vida pela porta da fragilidade e da limitação;
ao contrário, não encontra acesso à nossa vida quando estamos petrificados em
nosso perfeccionismo e fechados em nossa soberba.
Será justamente a partir da consciência de nossa pobreza e
de nossa negatividade que poderemos nos abrir à experiência da gratuidade
divina; é quando nos encontramos sem nada que sentimos mais necessidade de nos
abrir para cumular-nos dos dons da graça divina.
A parábola nos fala da necessidade de acolher o desprezível
que descobrimos em nós, de receber amorosamente em nossos braços o pobre
“publicano interior”, de contemplá-lo com olhos compassivos e alimentá-lo.
Desse modo, iremos reduzindo nosso abismo interior e avançaremos para a
totalidade a que Deus nos chama em Jesus.
Em outras palavras, a transformação interior só pode
acontecer quando tudo quanto está em nós é referido a Deus, ao Deus que nos ama
e nos conduz à verdade de nossa existência. Tudo quanto pensamos e sentimos
acontece na presença de Deus, Aquele que nos olha com bondade e compaixão e que
vê até o fundo de nossos pensamentos e sentimentos.
A humildade é o coração mesmo da mensagem bíblica; ela é a
transparente verdade que enobrece e engrandece, porque dá a exata medida de
nossa fraqueza e limitação. Ela é o segredo da paz interior.
Sabemos que uma das fontes de angústia e ansiedade é
constatar a diferença entre o que pretendemos ser, o que gostaríamos de ser e o
que realmente somos.
“A humildade é a verdade” (S. Tereza d’Ávila); ser o que se
é, nada acrescentar, nada tirar, aceitar seu húmus, sua condição terrosa, suas
grandezas e seus limites; maravilhar-se de que esta argila infinitamente frágil
seja habitada pela santidade e seja capaz de amar. “Todo aquele que se
exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc. 18,14).
A humildade, portanto, implica reconciliar-nos com a nossa
condição terrena, com o mundo de nossos instintos e paixões, com o nosso lado
sombrio. Nós temos necessidade de bastante contato com o chão de nossa
existência para que o salto para Deus possa acontecer. O caminho para Deus
passa sempre pela experiência da própria fraqueza. Quando não conseguimos mais
nada, quando tudo nos foi retirado das mãos, quando somos forçados a constatar
que fracassamos, aí é também o lugar onde já não nos resta outra coisa senão
entregar-nos nas mãos de Deus, abrir nossas mãos e apresentá-las vazias a Deus.
A experiência de Deus nunca é uma recompensa pelo nosso
esforço, mas sim, a resposta à nossa própria indigência. Entregar-nos a Deus é
a meta de todo caminho espiritual.
Texto bíblico: Lc 18,9-14
Na oração: Na perspectiva cristã nada se perde; na
oração, aprendemos a acolher e a conviver com os cacos e fragmentos de nossa
vida, e a partir daí, com a graça de Deus, podemos construir algo novo e
surpreendente.
- Deixe-se “desvelar” por Deus: quanto há de “fariseu” em
seu coração? Quanto há de “publicano”?
Em quê circunstâncias de sua vida transparece o
“fariseu” ou o “publicano”?
Os jardins do Palácio de Versalhes foram usados pelos
nobres como banheiro.
Ao se visitar o Palácio de Versailles, em Paris, observa-se
que o suntuoso palácio não tem banheiros.
Na Idade Média, não existiam dentifrícios ou escovas de
dente, perfumes, desodorantes, muito menos papel higiênico. As excrescências
humanas eram despejadas pelas janelas do palácio.
Em dia de festa, a cozinha do palácio conseguia preparar
banquete para 1.500 pessoas, sem a mínima higiene.
Vemos, nos filmes de hoje, as pessoas sendo abanadas.
A explicação não está no calor, mas no mau cheiro que
exalava por debaixo das saias – que eram propositalmente feitas para conter o
odor das partes íntimas, já que não havia higiene. Também não havia o costume
de se tomar banho devido ao frio e à quase inexistência de água encanada. O mau
cheiro era dissipado pelo abanador.
Só os nobres tinham lacaios para abaná-los, para dissipar o
mau cheiro que o corpo e a boca exalavam, além de também espantar os insetos.
Quem já esteve em Versailles, admirou muito os jardins
enormes e belos que, na época, não eram só contemplados, mas “usados” como vaso
sanitário nas famosas baladas promovidas pela monarquia, porque não existia
banheiro.
Na Idade Média, a maioria dos casamentos ocorria no mês de
junho (para eles, o início do verão). A razão é simples: o primeiro banho
do ano era tomado em maio; assim, em junho, o cheiro das pessoas ainda era
tolerável.
Entretanto, como alguns odores já começavam a incomodar, as
noivas carregavam buquês de flores, junto ao corpo, para disfarçar o mau
cheiro.
Daí termos maio como o “mês das noivas” e a origem do buquê
de noiva explicada.
Os banhos eram tomados numa única tina, enorme, cheia de
água quente. O chefe da família tinha o privilégio do primeiro banho na água
limpa. Depois, sem trocar a água, vinham os outros homens da casa, por ordem de
idade, as mulheres, também por idade e, por fim, as crianças.
Os bebês eram os últimos a tomar banho. Quando chegava a vez
deles, a água da tina já estava tão suja que era possível “perder” um bebê lá
dentro.
É por isso que existe a expressão em inglês “don’t throw the
baby out with the bath water”, ou seja, literalmente “não jogue o bebê fora
junto com a água do banho”, que hoje usamos para os mais apressadinhos.
Os telhados das casas não tinham forros e as vigas de
madeira que os sustentavam era o melhor lugar para os animais – cães,
gatos, ratos e besouros se aquecerem. Quando chovia, as goteiras forçavam os
animais a pular para o chão. Assim, a nossa expressão “está chovendo canivete”
tem seu equivalente em inglês em “it’s raining cats and dogs” (está chovendo
gatos e cachorros).
Aqueles que tinham dinheiro possuíam pratos de estanho.
Certos tipos de alimento oxidavam o material, fazendo com
que muita gente morresse envenenada. Lembremo-nos de que os hábitos higiênicos,
da época, eram péssimos. Os tomates, sendo ácidos, foram considerados, durante
muito tempo, venenosos.
Os copos de estanho eram usados para beber cerveja ou
uísque. Essa combinação, às vezes, deixava o indivíduo “no chão” – numa espécie
de narcolepsia induzida pela mistura da bebida alcoólica com óxido de estanho.
Alguém que passasse pela rua poderia pensar que ele estivesse morto, portanto
recolhia o corpo e preparava o enterro. O corpo era então colocado sobre a mesa
da cozinha por alguns dias e a família ficava em volta, em vigília, comendo, bebendo
e esperando para ver se o morto acordava ou não. Daí surgiu o velório, que é a
vigília junto ao caixão.
A Inglaterra é um país pequeno, onde nem sempre havia espaço
para se enterrarem todos os mortos. Então os caixões eram abertos, os ossos
retirados, postos em ossuários e o túmulo utilizado para outro cadáver.
Às vezes, ao abrir os caixões, percebia-se que havia
arranhões nas tampas, do lado de dentro, o que indicava que aquele morto, na
verdade, tinha sido enterrado vivo. Assim, surgiu a ideia de, ao se fechar o
caixão, amarrar uma tira no pulso do defunto, passá-la por um buraco feito no
caixão e amarrá-la a um sino. Após o enterro, alguém ficava de plantão ao lado
do túmulo durante uns dias. Se o indivíduo acordasse, o movimento de seu braço
faria o sino tocar. E ele seria “saved by the bell”, ou “salvo pelo gongo”,
expressão usada por nós até os dias de hoje.
Embora o que não esteja nos autos do processo não exista
tecnicamente, advogados, juízes e promotores são influenciados pelo que veem,
pelo que leem, pelo que conversam com amigos ou mesmo na família.
A faísca que desencadeou um processo de reversão de expectativas
no mundo jurídico e político contra a Operação Lava Jato foi provocada pelas
conversas roubadas do celular do procurador-chefe da Lava Jato Deltan Dallagnol
publicadas pelo site The Intercept Brasil.
As mensagens entre Dallagnol e o então juiz Sérgio Moro não
revelam nenhuma ilegalidade, mas a proximidade entre partes do processo, que
comum no cotidiano da Justiça, dá margem aos que já tinham a tendência de
criticar os procuradores de Curitiba, por razões de poder ou política, pretexto
para darem a suas críticas ares de verdade.
Vimos na semana passada três ministros do Supremo em contato
fora da agenda com o presidente Bolsonaro, às vésperas do julgamento mais
importante do ano, sobre o fim da prisão em segunda instância. Dois deles,
ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes, tomaram decisões recentes que
beneficiaram diretamente o senador Flavio Bolsonaro, filho do presidente,
reduzindo a possibilidade de investigações criminais financeiras.
Como já ressaltei aqui na coluna, há anos, desde o julgamento
do mensalão, advogados de defesa dos acusados de corrupção tentam manobras
jurídicas para beneficiar seus clientes. O então ex-ministro da Justiça, Marcio
Thomas Bastos, foi o coordenador das manobras que pretendiam levar para a
primeira instância da Justiça os réus do mensalão que não tinham foro
privilegiado. O relator Joaquim Barbosa defendeu a tese de que os crimes eram
conectados, e foi vitorioso, driblando uma tradição da Justiça brasileira de
desmembrar os processos.
Nos julgamentos do petrolão, diversas táticas foram tentadas
pelos advogados de defesa, mas nos primeiros anos, com o apoio popular da
Lava-Jato no auge, não houve ambiente para que teses diversas fossem aceitas.
Só recentemente, a partir das revelações do Intercept, o vento mudou, passaram
a ser aceitas teses que abrandaram a situação dos réus.
As diversas instâncias que existem de recursos, mesmo em
países de arraigada tradição garantista dos direitos individuais, não impedem o
cumprimento da pena, às vezes até mesmo na primeira instância.
O jurista e cientista político Christian Edward Cyrill
Lynch, editor da revista “Inteligência”, lembra que o se discute agora é se a
Constituição, quando fala que “ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado da sentença condenatória”, está ou não querendo dizer “ninguém
cumprirá pena de prisão decretada na sentença de primeira instância até o
trânsito em julgado da sentença condenatória”.
A provável mudança de maioria do plenário do Supremo, a
favor da prisão apenas ao final do processo, tem a ver com esse novo ambiente
político que está sendo revertido por um esquema profissional que envolve
grandes escritórios de advocacia, políticos poderosos, empresários já atingidos
pela Lava Jato ou que temem vir a ser, num trabalho de desmonte do novo
espírito de aplicação do Direito que veio sendo aprofundado desde o julgamento
do mensalão até agora no petrolão.
Os últimos cinco anos foram intensos na implantação de uma
nova visão da aplicação da Justiça que pretende dar consequência prática aos
processos envolvendo criminosos do colarinho branco, que voltarão a ser
protegidos se prevalecer o estado de coisas anterior ao mensalão.
Também os políticos aprenderam a se defender, através de
legislações como a lei de abuso de autoridade, e a retórica de que os
promotores e Moro estão “criminalizando a política”. Trata-se, ao contrário, de
denunciar e punir a utilização da política para praticar crimes.
É provável que haja um retrocesso, mas o resultado das
pesquisas mostra que a opinião pública continua com sede de Justiça. O ministro
Sérgio Moro continua o mais popular ministro do governo Bolsonaro e vence todos
os adversários num hipotético segundo turno para a presidência da República.
1 - Ao enumerar as diversas instâncias recursais do Antigo
Regime na coluna de sexta-feira, inclui o Supremo Tribunal de Justiça como uma
quarta instância. Na verdade, o STJ foi criado em 1828 para substituir a Casa
de Suplicação. A quarta instância era o desembargo do Paço.
2 – Saio por uns dias e volto a escrever no dia 5.
Vou tratar tema relevante, que já não transita nas
manchetes. Justifico-me, o assunto tem importância perene, vale mais que
notícias palpitantes, tantas vezes irrelevantes e efêmeras. Mais ainda, no
Brasil tem atualidade candente, por baixo desde uns 40 anos, infelizmente para
vergonha, desgraça e tristeza dos católicos.
Com efeito, CNBB, CPT, CIMI e entidades afins têm sido
pertinazes companheiros de viagem das mais radicais correntes revolucionárias
que sem trégua trabalham para arruinar o Brasil. As entidades acima referidas,
nascidas no seio da Igreja Católica, de há muito bamboleiam pateticamente atrás
das bandeiras de luta do PT, PC do B, MST. Lá na ponta, se tiverem êxito, vão
conseguir transformar o país numa Cuba, numa Venezuela, numa Coréia do Norte,
paraísos, como todos sabem, dos pobres (e dos quais, por razões desconhecidas,
lutam por todos os meios para escapar).
Tem muito de misterioso essa obstinação de amplos, por vezes
decisivos, setores eclesiásticos por causas gritantemente ateias e flagelo
contínuo para os pobres. Presenciamos décadas de terrificante opção
preferencial pela miséria (moral e material). Não espanta, muitos anos atrás,
Paulo VI denunciou que a Igreja padecia “misterioso processo de autodemolição”
(1968) e que “por alguma fresta, a fumaça de Satanás” (1972) havia penetrado
n’Ela.
Vou tratar de tema relevante, disse acima, está no sermão de
12 de outubro último, proferido por Dom Orlando Brandes, arcebispo de
Aparecida. As palavras do Arcebispo, permitam-me o desabafo, despejadas sobre
os ouvintes em cambulhada, são um charivari desconexo. Em nada evocam o Padre
Antônio Vieira, “o imperador de nossa língua”, na bonita afirmação de Fernando
Pessoa, nem ecoam os ditos do inteligente e culto Dom Geraldo Penido, cuja mesa
frequentei, antecessor seu na sede episcopal.
Recordam contudo, é quase forçoso o paralelo, a confusão
mental da ex-presidente Dilma Rousseff quando se metia em improvisos. Aqui vai
uma proposta dela, exposta em Nova York, para auditório que a ouvia com horror
divertido. “Até agora, até agora, a energia hidroelétrica é a mais barata.
Em termos do que ela dura, da sua manutenção e também pelo fato da água ser
gratuita. I da genti podê istocá. Cê, o vento podia sê isso também, mas ocê num
conseguiu ainda tecnologia pra istocá vento. Então se a contribuição dos outros
países, vamos supô que seja, desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na
eólica istocá, ter uma forma docê istocá, porque o vento ele é diferente em
horas do dia, então vamos supô que vente mais à noite, cumé queu faria pra
istocá isso. Hoje nós usamos as linhas de transmissão, cê joga de lá pra cá, de
lá pra lá, pra podê capturá isso, mais si tivé uma tecnologia desenvolvida
nessa área, todos nós nos beneficiaremos, o mundo inteiro”
Transcrevo alguns extratos do sermão do arcebispo de
Aparecida para não pensarem que exagero (a íntegra está na rede): “Primeira
leitura: órfã, adotada, pobre e principalmente, vivendo fora do seu país,
exiliada, e se tornou rainha, esperança para os pobres. […] Pequenina, eu sou a
pequena serva do Senhor, se tornou então rainha do Brasil. […] . Mãe Aparecida,
precisamos sim da vida ecológica, da vida natural, da casa comum, bendito seja
o Sínodo da Amazônia, que está pensando na vida daquelas árvores, daqueles
rios, daqueles pássaros, mas principalmente daquelas populações. […] A mãe quer
vida intrauterina, porque ela é a Imaculada Concepção.” Chega, né?
Coloco agora o texto que desejo em particular reproduzir e
comentar rapidamente: “A segunda leitura mostrou o dragão. É claro que nas
escrituras o dragão é o demônio, é o dragão, é o diabo, é o mal que se organiza
no mundo. […] Temos o dragão do tradicionalismo. A direita é violenta, é
injusta, estamos fuzilando o Papa, o Sínodo, o Concílio Vaticano Segundo.
Parece que não queremos vida, o Concílio Vaticano segundo, o evangelho, porque
ninguém de nós duvida que está é a grande razão do sínodo, do concílio, deste
santuário, a não ser a vida, como já falei.” Como se vê, o orador empilha
numa montoeira confusa várias realidades distintas, mas o objetivo fica claro:
odeia o tradicionalismo, odeia a direita.
Contrasto o texto perturbador do confuso arcebispo de
Aparecida com a clareza apaziguadora de um bispo como ele — São Pio X
(1835-1914) — que ascendeu ao Trono de São Pedro e de lá iluminou o mundo com
seus ensinamentos e santidade: “De todos os tempos, a Igreja e o Estado,
em feliz acordo, suscitaram para isto organizações fecundas; que a Igreja, que
jamais traiu a felicidade do povo em alianças comprometedoras, não precisa
livrar-se do passado, bastando-lhe retomar, com o auxílio de verdadeiros
operários da restauração social, os organismos quebrados pela Revolução,
adaptando-os, com o mesmo espírito cristão que os inspirou, ao novo ambiente
criado pela evolução material da sociedade contemporânea; porque os
verdadeiros amigos do povo não são revolucionários, nem inovadores, mas
tradicionalistas”. Constam da “Notre Charge Apostolique”, orientação atemporal
para todos os fiéis, em especial para os católicos franceses.
Os revolucionários, adverte o Papa santo, não são amigos do
povo, oportuna lembrança para a CNBB. O Pontífice não queria ver os bispos
traindo a “felicidade do povo em alianças comprometedoras”. A admoestação
seguinte contrasta com o que proclamou Dom Orlando Brandes: “os
verdadeiros amigos do povo não são revolucionários, nem inovadores, mas tradicionalistas”.
Contudo, para decepção nossa, parece que Dom Orlando deu as costas para São Pio
X.
Termino. Tema relevante? Da maior importância. Tivéssemos
entre nós vivo o ensinamento do santo Pontífice e, para felicidade do povo,
seria inteiramente outra a história do Brasil.