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sábado, 10 de junho de 2017

JUNHO - MÊS DE MACHADO DE ASSIS (IV)



O Folhetinista
  

Uma das plantas europeias que dificilmente se têm aclimatado entre nós, é o folhetinista.

Se é defeito de suas propriedades orgânicas, ou da incompatibilidade do clima, não o sei eu. Enuncio apenas a verdade.

Entretanto, eu disse — dificilmente — o que supõe algum caso de aclimatação séria. O que não estiver contido nesta exceção, vê já o leitor que nasceu enfezado, e mesquinho de formas.

O folhetinista é originário da França, onde nasceu, e onde vive a seu gosto, como em cama no inverno. De lá se espalhou pelo mundo, ou pelo menos por onde maiores proporções tomava o grande veículo do espírito moderno; falo do jornal.

Espalhado pelo mundo, o folhetinista tratou de acomodar a economia vital de sua organização às conveniências das atmosferas locais. Se o têm conseguido por toda a parte, não é meu fim estudá-lo; cinjo-me ao nosso círculo apenas.

Mas comecemos por definir a nova entidade literária.

O folhetim, disse eu em outra parte, e debaixo de outro pseudônimo, o folhetim nasceu do jornal, o folhetinista por consequência do jornalista. Esta íntima afinidade é que desenha as saliências fisionômicas na moderna criação.

 O folhetinista é a fusão admirável do útil e do fútil, o parto curioso e singular do sério, consorciado com o frívolo. Estes dois elementos, arredados como polos, heterogêneos como água e fogo, casam-se perfeitamente na organização do novo animal.

Efeito estranho é este, assim produzido pela afinidade assinalada entre o jornalista e o folhetinista. Daquele cai sobre este a luz séria e vigorosa, a reflexão calma, a observação profunda. Pelo que toca ao devaneio, à leviandade, está tudo encarnado no folhetinista mesmo; o capital próprio.

O folhetinista, na sociedade, ocupa o lugar de colibri na esfera vegetal; salta, esvoaça, brinca, tremula, paira e espaneja-se sobre todos os caules suculentos, sobre todas as seivas vigorosas. Todo o mundo lhe pertence; até mesmo a política.

 Assim aquinhoado pode dizer-se que não há entidade mais feliz neste mundo, exceções feitas. Tem a sociedade diante de sua pena, o público para lê-lo, os ociosos para admirá-lo, e a bas-bleus para aplaudi-lo.

Todos o amam, todos o admiram, porque todos têm interesse de estar de bem com esse arauto amável que levanta nas lojas do jornal a sua aclamação de hebdomadário.

Entretanto, apesar dessa atenção pública, apesar de todas as vantagens de sua posição, nem todos os dias são tecidos de ouro para os folhetinistas. Há-os negros, com fios de bronze; à testa deles está o dia... adivinhem? O dia de escrever!

Não parece? Pois é verdade puríssima. Passam-se séculos nas horas que o folhetinista  gasta à mesa a construir a sua obra.

Não é nada, é o cálculo e o dever que vêm pedir da abstração e da liberdade — um folhetim! Ora, quando há matéria e o espírito está disposto, a coisa passa-se bem. Mas quando, à falta de assunto se une aquela morbidez moral, que se pode definir por um amor ao farniente, então é um suplício...

Um suplício, sim.

Os olhos negros que saboreiam essas páginas coruscantes de lirismo e de imagens, mal sabem às vezes o que custa escrevê-las.

Para alguns não procede este argumento; porque para alguns há provimento de matéria, certos livros a explorar, certos colegas a empobrecer...

Esta espécie é uma aberração do verdadeiro folhetinista; exceções desmoralizadoras que nodoam as reputações legítimas.

Escritas, porém, as suas tiras de convenção, a primeira hora depois é consagrada ao prazer de desforrar-se de uma maçada que passou. Naquela noite é fácil encontrá-lo no primeiro teatro ou baile aparecido.

A túnica de Néssus caiu-lhe dos ombros por sete dias.

Como quase todas as coisas deste mundo o folhetinista degenera também. Algumas das entidades que possuem essa capa esquecem-se de que o folhetim é um confeito literário sem horizontes vastos, para fazer dele um canal de incenso às reputações firmadas, e invectivas às vocações em flor, e aspirações bem cabidas.

Constituindo assim cardeal-diabo da cúria literária, é inútil dizer que o bom senso e a razão friamente o condenam e votam ao ostracismo moral, ausência de aplausos e de apoio.

Não é este o único abuso que se dá. É costume de outros levantarem o folhetim como a chave de todos os corações, como a foice de todas as reputações indeléveis.

E conseguem...

Na apreciação do folhetinista pelo lado local temo talvez cair em desagrado negando a afirmativa. Confesso apenas exceções. Em geral o folhetinista aqui é todo parisiense; torce-se a um estilo estranho, e esquece-se, nas suas divagações sobre o boulevard e café Tortoni, de que está sobre um mac-adam lamacento e com uma grossa tenda lírica no meio de um deserto.

Alguns vão até Paris estudar a parte fisiológica dos colegas de lá; é inútil dizer que degeneraram no físico como no moral.

Força é dizê-lo: a cor nacional, em raríssimas exceções, tem tomado o folhetinista entre nós. Escrever folhetim e ficar brasileiro é na verdade difícil.

Entretanto, como todas as dificuldades se aplanam, ele podia bem tomar mais cor local, mais feição americana. Faria assim menos mal à independência do espírito nacional, tão preso a essas imitações, a esses arremedos, a esse suicídio de originalidade e iniciativa.

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Aquarelas

Texto-fonte:
Obra Completa, Machado de Assis,
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, V.III, 1994.

Publicado originalmente em O Espelho, Rio de Janeiro, 11 e 18/09 e 9, 16 e 30/10/1859.

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10 DE JUNHO - DIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Dia da Língua Portuguesa


O Dia da Língua Portuguesa é comemorado no dia 10 de junho, dia em que a morte de Luiz Vaz de Camões é lembrada. Autor de obras memoráveis como “Os Lusíadas”, Luis de Camões é considerado um dos maiores poetas da história lusitana.

A língua portuguesa é nosso patrimônio comum, além de ser a matéria-prima para nossa literatura e poesia, por isso a importância da comemoração da data. Vale lembrar, que o idioma tem sua origem no latim vulgar – o latim falado, que os romanos introduziram na Lusitânia, região situada ao sudoeste da Península Ibérica, a partir de 218 a.C.

Atualmente, segundo dados da ONU, pelo menos 235 milhões de pessoas têm o português como primeira língua, em oito países que vão das Américas à Ásia. Mais de 80% desses falantes são brasileiros. Entretanto, muitos falantes do português vivem fora dos países lusófonos em nações da Europa e nos Estados Unidos. Não oficialmente, o português é falado por uma pequena parte da população em Macau, no estado de Goa, na Índia, e na Oceania.

A língua portuguesa é a quinta língua mais falada do planeta e a terceira mais falada entre as línguas ocidentais, ficando atrás somente do inglês e do castelhano. Por toda a importância dada à  língua portuguesa, seu ensino agora é bastante valorizado nos países que compõem o Mercosul, e é a língua oficial em diversos países como: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe e, ainda, Timor-Leste após sua independência.




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Língua portuguesa
Olavo Bilac


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


 (POESIAS), Livraria Francisco Alves - Rio de Janeiro, 1964, pág. 262.

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O MALANDRO E O DELEGADO – Antonio Hygino

O malandro e o delegado


Após assumir sua nova comarca, o magistrado foi convidado pelas autoridades locais para almoçar em um hotel. De início pensou em declinar do convite, pois, a seu juízo, não ficava bem aparecer em público acompanhado de pessoas até então desconhecidas e comprometer, de certo modo, sua autoridade. Eram, em sua maioria, políticos.

Foi dissuadido pelo Pároco local. E lá se foi a comitiva. Chegando ao hotel foi calorosamente recepcionado pelo Gerente e funcionários do estabelecimento. Entre uma conversa e outra, um drink e outro, percebeu a simplicidade daquelas pessoas, daquela gente humilde. Servidos foram frutos do mar e pratos exóticos. Ao se servir, observou do outro lado o Presidente da Câmara colocando em seu prato um pouco de tudo (moqueca de peixe, carne, camarão, feijão, arroz, salada) que se avolumava à medida que ia se servindo. A certa altura já se encontrava ele na parte da sobremesa. Quando ia colocar um pouco de farinha sobre o macarrão, o gerente dele se aproximou e disse-lhe discretamente: Presidente, é açúcar! Ao que ele respondeu disfarçando: lá em casa eu só como macarrão com açúcar! O juiz fingiu nada ter presenciado. Depois do almoço, a comitiva retornou. O tempo foi passando e novas pessoas foram conhecendo. Ficou familiarizado com os jurisdicionados, sem perder a sua autoridade. Era muito respeitado. Certa feita, o Delegado de Polícia o convidou para almoçar em um restaurante pitoresco da cidade. Lá foi apresentado a “Capado”, o proprietário do estabelecimento. Era uma figura engraçadíssima.

O Delegado, apesar de boa gente, era cismado. Para se ter uma ideia, cismava até da própria sombra. E “Capado” sabia disso. Num dia de sábado, o delegado comprou um cambiasse de cerca de 8 quilos e levou o bicho para “Capado” fazer uma moqueca que seria servida, no dia seguinte, aos seus convidados. Na manhã de domingo, o juiz antes de viajar para cidade vizinha onde iria almoçar com seus pais, resolveu passar no quiosque de “Capado”. Lá chegando, viu alguns tururins assando, ardendo na brasa e um cheiro gostoso se espalhava pelo ar. Pediu-lhe que lhe fosse servido um pouco para experimentar da iguaria. “Capado”, então, virou-se e disse: “Dotô, não compre a carne, porque eu fiz uma moqueca de peixe para o sinhô almoçar com seus pais”. O juiz aceitou o presente e seguiu viagem. Afinal, não podia fazer uma desfeita ao amigo diante de tamanha gentileza. 

Mais tarde, chega o Delegado e seus convidados. Uns dez. Todos sedentos e famintos. Passaram a comer churrasco, regado a cerveja e outros aperitivos.

Lá para às tantas, felizes e alcoolizados, o Delegado pediu a “Capado” para servir a esperada moqueca, ao que “Capado”, malandramente, respondeu: “olha, o juiz esteve aqui e disse que cambriassú é peixe de autoridade e que ia levá-la, e assim o fez. Não podia fazer nada”... E rematou: “ele é quem manda, não é?”. 

O delegado ficou embrabecido. O ocorrido se espalhou pela cidade. Houve resenhas e deboches que irritavam o delegado cada vez mais. Queria prender qualquer pessoa que comentasse o assunto, inclusive a “Capado”. 

“Capado” para se livrar das garras do Delegado procurou o juiz e lhe contou a verdade. O Juiz sorriu e em seguida chamou o Delegado. Esclarecida a pegadinha, deram o assunto por encerrado.


Antônio Carlos de Souza Hygino
Juiz de Direito titular da 5ª Vara Cível da Comarca de Itabuna – Bahia.


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JAQUEIRAS - Ritinha Dantas


Jaqueiras


             Ninguém podia pensar que naquele quintal  houvesse tantas jaqueiras, principalmente aquele tipo de jaqueira. Elas pareciam nascidas todas gêmeas, erguendo-se do solo com troncos finos e paralelos que pareciam estacas onde se tivessem incrustado folhagem no topo. Gostávamos delas principalmente pelas histórias que Vó contava sobre as aventuras vividas lá.

            As jacas compridas cresciam pelo tronco afora e muitas vezes nos impediam de escorregar, pernas abertas, pés separados, cada um em um tronco diferente, sentindo então uma dominação alucinante do espaço natural. Velhas jaqueiras tão rijas a suportarem o peso ingênuo das crianças nas suas brincadeiras! Os mais afoitos subiam tão depressa que por vezes rompiam as calças sob um riso geral.

            Vó nesses momentos era apenas olhar. Vibrava com nós todos, mas, impedida, apenas relembrava velhos tempos de liberdade infernal.

            Às vezes conseguia arrastar-se até debaixo das árvores amigas e com seu cachimbo parecia que ali iria recriar alguma lenda, iria trazer para nós os seus duendes e caiporas.

            Vó sempre falava das jaqueiras com uma saudade dolorida e aprendemos logo cedo a diferenciá-las nos quintais. Quase que podíamos contar as suas folhas e os seus frutos com que intimamente convivíamos. E bago mais doce não havia por aquelas bandas!

            Vó, jaqueira só, tão rija e tão querida naqueles quintais...


(“Bença, Vó!”)

RITINHA DANTAS

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RITINHA DANTAS – Licenciada em Letras pela Universidade Federal da Bahia. Ensinou na Universidade de Brasília. “Curriculum Implementation in the “First Grade”: a case study from Bahia” é a sua tese defendida no Instituto de Educação da Universidade de Londres como requisito para a concessão do título de Mestre em Filosofia – área de Educação.Nasceu em Itabuna a 14 de maio de 1939. Autora de “Bença Vó”, relatos de oitiva e de vida, que foram vivenciados pela autora em torno da avó Zefa. Pequeno e comovente livro que se inscreve, de maneira significativa, na memória lírica da região cacaueira da Bahia. Emoção e prosa ágil na linguagem simples são elementos presentes no texto. Densidade poética emerge dos capítulos breves, sugere um teor literário rico, alcança vibrações líricas na narrativa que transmite emoções, verdades e sentimentos. Bons momentos dessa narrativa podem ser destacados nos capítulos “Bordando Vó”, “Zombando até o Fim” e “Bença, Vó”, este último fecha o livro em tons oníricos com impressionante calor de vida.


Da coletânea ITABUNA, CHÃO DE MINHAS RAÍZES de Cyro de Mattos

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AFRONTA E INDIGNAÇÃO - Ana Maria Machado


Afronta e indignação


Estamos perplexos, chocados, estarrecidos diante de tanta desfaçatez. Um acinte, uma afronta ao cidadão. Faltam palavras para descrever como nos sentimos.

Indignação, raiva, vergonha, desalento, tristeza, nojo, descrença. Também faltam palavras para dar conta do nosso estado de espírito. Não dá para passar por cima dos horrores acumulados. Nem minimizar ou relevar coisa alguma. Já chega estarmos sendo forçados a mudar de assunto e tirar o foco de Odebrecht, OAS, Bumlai, Guarujá, Atibaia, e da expectativa do que diria Palocci, como se tudo isso tivesse deixado de existir de uma hora para outra.

Essa gente está querendo demais.

Estão há um tempão querendo que acreditemos que presidentes e seus cúmplices são honestos, não sabem de nada — e mesmo com essa incapacidade e incompetência, estão aptos a governar. Também seus auxiliares e apoiadores em todos os níveis. E mais seus opositores e adversários, como se constata nesse pântano onde estão todos atolados e com cujo fedor nos estão obrigando a conviver.

Esperam que aceitemos que não há nada de reprovável em que um presidente receba favores de empresários, com os mais variados pretextos, e em troca esses “amigos” tenham privilégios especiais.

Esperam que possamos engolir que não há nada condenável em receber dinheiro, a qualquer pretexto, com cuidados para não declarar nem pagar imposto. Até em espécie, em malas e mochilas cheias. Ou travestidos de tríplex, sítios, terrenos, guarda de bens, joias, obras de arte. E ainda querem nos empurrar goela abaixo a noção de que não faz mal algum obsequiar altas figuras da República para conseguir se isentar das leis que valem para todos os outros.

Esperam que, quando isso vem à tona subitamente, aproveitemos para tirar do cargo o bandido da vez, afastar o possível bandido de amanhã e nos deixemos manipular para lá recolocar o bandido de ontem ou anteontem, fingindo que a manobra para lhe garantir impunidade é um ato patriótico para salvar o país.

Esperam distrair a pátria mãe com discursos veementes, slogans e firulas de todo tipo, para que, mais uma vez, as tenebrosas transações possam continuar a nos subtrair sob qualquer forma.

Esperam que desviemos o olhar ou fiquemos cegos às variadas tentativas de criar obstáculos para obstruir a Justiça, atrapalhar investigações, fazer sangrar a Lava-Jato, desmoralizar o Ministério Público.

Os exemplos vêm a público diante de um país estupefato. Não dá para esquecer. Já ouvimos as manobras mais escandalosas, na própria voz dos envolvidos. A começar pela nomeação de Lula por Dilma para a Casa Civil, publicada em edição especial do Diário Oficial na madrugada, com termo de posse sem assinatura levado em mãos pelo “Bessias” para ficar como salvo-conduto e lhe garantir foro privilegiado. Em seguida, veio a revelação captada no áudio feito pelo filho de Nestor Cerveró — em que Delcídio transmitia a preocupação de Lula com eventual colaboração e incluía oferta de fuga em jatinho. Ouvimos ainda, com riqueza de detalhes, as conversas gravadas por Sérgio Machado dando conta do complô de parlamentares de alto coturno para deter a investigação. Acompanhamos diferentes tentativas no Congresso para driblar a legislação — como anistia a caixa 2, ou projetos até eventualmente necessários, mas inoportunos, contra abuso de autoridade, abrangentes a ponto de pretender criminalizar juiz que interprete a lei. E chegamos agora às fanfarronices e confissões do Joesley Safadão, gabando-se de controlar juízes e infiltrar procurador — ouvidas sem reação pelo presidente da República, da boca de alguém que o procurara conforme combinado, no porão, na calada da noite, com o cuidado de não deixar rastros, sob nome falso e sem ser revistado.

Meninos, ouvimos!

Esperam também que a nação, estupefata, faça como eles e se disponha a ignorar as leis que nos regem. Apostam na escalada de violência e confronto, como se a depredação fosse um direito democrático irreprimível. Fala-se em PEC para mudar rapidinho a Constituição e permitir diretas-já sem levar em conta que, para evitar casuísmo, a Carta Magna impõe, em seu artigo 16: “A lei que alterar o processo eleitoral só entrará em vigor um ano após sua promulgação”.

E mais: advogados isentos têm opinado que a Lei 12.850/13, que possibilita colaborações premiadas, limita sua aplicação no caso de quem chefie a organização criminosa. Portanto, não admitiria que para pegar os líderes políticos se passasse uma borracha prévia tão radical em líderes criminosos, como a que permitiu que os irmãos Batista se mudem incólumes para os EUA, a gastar o nosso dinheiro, obtido graças a favores especiais do BNDES e outras fontes públicas. Ainda mais agora, depois de especularem com os efeitos de sua delação sobre ações e câmbio. Leves e soltos. Fica no ar a irreverente pergunta de um motorista de táxi carioca, a encarnar com expressividade a reação do comum dos mortais:

— E no tornozelinho? Nada?

O Globo, 27/05/2017




Ana Maria Machado - Sexta ocupante da Cadeira nº 1 da ABL, eleita em 24 de abril de 2003, na sucessão de Evandro Lins e Silva e recebida em 29 de agosto de 2003 pelo acadêmico Tarcísio Padilha. Presidiu a Academia Brasileira de Letras em 2012 e 2013.

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