Total de visualizações de página

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

ABL ELEGE CARLOS (CACÁ) DIEGUES PARA A CADEIRA 7, NA SUCESSÃO DO CINEASTA NELSON PEREIRA DOS SANTOS



A Academia Brasileira de Letras elegeu, quinta-feira, dia 30 de agosto, o novo ocupante da Cadeira 7, na sucessão do Acadêmico e cineasta Nelson Pereira dos Santos, falecido no dia 21 de abril deste ano. O vencedor foi o também cineasta Cacá Diegues, que recebeu 22 votos. Participaram da eleição 24 Acadêmicos presentes e 11 por cartas (três não votam por motivo de saúde). Os ocupantes anteriores da cadeira 7 são: Valentim Magalhães (fundador) – que escolheu como patrono Castro Alves –, Euclides da Cunha, Afrânio Peixoto, Afonso Pena Júnior, Hermes Lima, Pontes de Miranda, Dinah Silveira de Queiroz e Sergio Corrêa da Costa.
 
O NOVO ACADÊMICO

Carlos (Cacá) Diegues nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 19 de maio de 1940, filho do antropólogo Manuel Diegues Jr. e de Zaira Fontes Diegues. Cinéfilo desde a adolescência, também era poeta e trabalhava como jornalista.
Em 1958, aos 18 nos de idade, teve seus poemas publicados no Jornal do Brasil pelo ensaísta e crítico Mario Faustino, que o apresentou como uma revelação na poesia brasileira. Por essa mesma época, participou ativamente do movimento cineclubista no Rio de Janeiro, quando se integrou à nova geração de cineastas que buscava registrar a verdadeira imagem do Brasil, num movimento que seria conhecido como Cinema Novo, sob a liderança de Nelson Pereira dos Santos.

Depois de realizar alguns curta-metragens, Cacá estreou profissionalmente em 1962, dirigindo um dos episódios do filme “Cinco vezes Favela”, produzido pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE – um filme que se tornaria uma das obras inaugurais do Cinema Novo.

Ao longo de sua carreira de cineasta, realizou mais de 20 filmes de longa-metragem, entre os quais “Ganga Zumba” (1964), “Os herdeiros” (1969), “Joanna Francesa” (1973), “Xica da Silva” (1976), “Chuvas de verão” (1978), “Bye Bye Brasil” (1980), “Quilombo” (1984), “Um trem para as estrelas” (1987), “Tieta do Agreste” (1995), “Orfeu” (1999), “Deus é brasileiro” (2003), “O maior amor do mundo” (2005) e agora “O grande circo místico” (2018), inspirado na obra do poeta Jorge de Lima. Todos esses filmes foram lançados comercialmente em diferentes países do mundo, nas salas de cinema e na televisão, além de sua presença e de prêmios nos festivais internacionais mais importantes, como Cannes, Veneza, Berlim, San Sebastian, Toronto, Nova York, Mar del Plata e outros.

Cacá publicou alguns livros, nem sempre sobre cinema, tendo começado com Ideias e Imagens, de 1988. Seus livros mais recentes são "Vida de Cinema”, mais de 600 páginas sobre o Cinema Novo, e “Todo Domingo”, uma coletânea de seus textos publicados semanalmente no jornal Globo. Recebeu homenagens de diversas naturezas, no Brasil e no mundo, entre as quais o titulo de Officier de l’Ordre des Arts et des Lettres, do governo francês; o Prix de la Célebration du Centenaire du Cinématographe, do Instituto Lumière de Lyon; o Golden Reel Award, do Grupo HBO; o Lifetime Achievement Award, concedido pela cidade de Chicago; o Prêmio Roberto Rosselini, pelo conjunto de sua obra, dado pela Associação Nacional dos Críticos de Cinema da Itália; eleito Personalidade do Cinema Latino-Americano, pela Associação Internacional de Críticos (Fipresci); Ordem do Mérito Cultural de Portugal; Comendador da Ordem de Rio Branco, do governo brasileiro; Comendador da Ordem do Mérito Cultural do Brasil; e outros.

Casado com a produtora de cinema Renata Magalhães, Cacá tem um filho e 3 filhas.

30/08/2018



* * *

BOLSONARO FOI BOLSONARO – Adriano Soares da Costa




29/08/ 2018

Adriano Soares da Costa é um grande doutrinador de direito eleitoral. Olha o que ele escreveu, que resume com exatidão a entrevista de ontem:

 Ligue o vídeo abaixo:




Jair Bolsonaro foi entrevistado no Jornal Nacional por Bonner e Renata Vasconcelos. Mais uma vez, os entrevistadores se portaram como escoteiros que acham que o politicamente correto do Leblon vale para o Brasil e que eles, empregados da Rede Globo - embora contratados como pessoas jurídicas - seriam representantes do povo brasileiro.

Bolsonaro foi Bolsonaro. Diferentemente de Ciro Gomes, Bolsonaro se apresentou de cara limpa, sendo quem é, conservando o mesmo discurso e o defendendo sem meias palavras. Disse que policial que matasse bandido armado mereceria medalha; falou com firmeza contra a erotização de crianças nas escolas e contra o kit-gay; expôs a hipocrisia do discurso de igualdade de gêneros quando disse que os salários dos dois apresentadores do Jornal Nacional era maior para Bonner (Renata Vasconcelos se perdeu totalmente nessa hora...); citou textualmente as palavras de Roberto Marinho sobre a “revolução democrática de 1964 feita pelos militares” (os filhos de Roberto Marinho não honraram as suas palavras como Bolsonaro o fez); sobre Paulo Guedes, diante da insistência de Bonner sobre problemas eventuais na relação de ambos, Bolsonaro alfinetou o entrevistador falando sobre casamento, juramento de fidelidade eterna e separação, invocando indiretamente no imaginário feminino a figura de Fátima Bernardes; e fez um encerramento redondo com todos os valores que defende.

Com mais uma entrevista dessas, Bolsonaro ganha no primeiro turno, eleito com a ajuda da Rede Globo e de seus editoriais tolos. Como eu disse ontem, a melhor estratégia era tirar aquele ar de superioridade da dupla do JN, quebrar a falsa neutralidade, atacar a hipocrisia do discurso politicamente correto. Bolsonaro fez com sobras o dever de casa: não se combate criminosos armados com rosas..., não se sai bem de uma sabatina dessas sem tratar os entrevistadores como adversários que querem sangrar a sua imagem. Bolsonaro fez isso e saiu muito bem.

É simplista a afirmação que a criminalidade se combate na bala. Bolsonaro diz algo que a intelectualidade tenta fazer cara de horror, mas que a indignação das vítimas da violência armada pedem: em épocas brutais, pulso. Bolsonaro se porta como macho alfa em um cenário político de invertebrados, de discursos empolados ou de conversa econômica cansativa, de números estranhos à realidade das dores dos viventes em favelas, subúrbios e grotas.

Sinceramente, Bolsonaro saiu maior do que entrou no estúdio do JN. Devorou Bonner e Renata, simplesmente porque os tratou como infantes engomadinhos. E é o que a maioria pensa e acha. Deu certo!

(Recebi via WhatsApp)

* * *

“EU NÃO VOU DIZER UMA PALAVRA SOBRE ISSO”

31 de agosto de 2018 
♦  Roberto de Mattei *

“Eu não vou dizer uma palavra sobre isso.” Com esta frase, pronunciada em 26 de agosto de 2018 no voo de volta de Dublin a Roma, o Papa Francisco [foto abaixo] reagiu às impressionantes revelações do arcebispo Carlo Maria Viganò [foto acima], que o colocavam diretamente em causa. Para a jornalista Anna Matranga (NBC), que lhe perguntara se era verdade o que foi escrito pelo ex-núncio nos Estados Unidos, o Papa respondeu: “Li essa declaração esta manhã. Eu a li e sinceramente tenho que lhe dizer isso, para você e para todos aqueles que estão interessados: leia, cuidadosamente, a declaração e faça seu próprio julgamento. Não vou dizer uma palavra sobre isso. Eu acredito que a declaração fala por si, e você tem capacidade jornalística suficiente para tirar conclusões. É um ato de confiança: quando tiver passado algum tempo e você tiver tirado conclusões, talvez eu fale. Mas eu gostaria que sua maturidade profissional fizesse esse trabalho: vai te fazer bem, de verdade. Fica bem assim.”

Um arcebispo rompe o clima de silêncio e conivência e denuncia, com nomes e circunstâncias específicos, a existência de uma corrente filo-homossexual favorável a subverter a doutrina católica em relação à homossexualidade” e a presença de “redes de homossexuais difundidas atualmente em muitas dioceses, seminários, Ordens religiosas, etc.”, que “encobrem o segredo e a mentira com o poder dos tentáculos de um polvo e esmagam vítimas inocentes, vocações sacerdotais e estrangulam toda a Igreja”. Diante dessa voz corajosa que rompe o silêncio, o Papa Francisco se cala e confia aos meios de comunicação de massa a tarefa de julgar segundo seus critérios políticos e mundanos, muito diferentes dos critérios religiosos e morais da Igreja. Um silêncio que parece ainda mais grave do que os escândalos revelados pelo arcebispo Viganò.

Esta lepra se desenvolveu após o Concílio Vaticano II [foto abaixo, à dir.], como resultado de uma nova teologia moral que negava os absolutos morais e reivindicava o papel da sexualidade fora do casamento, hétero e homossexual, considerada como um fator de crescimento e desenvolvimento da pessoa humana. A homossexualização da Igreja se espalhou nos anos setenta e oitenta do século XX, como testemunha o livro, meticulosamente documentado, do padre Enrique Rueda, The Homosexual Network: Private Lives And Public Policy [A rede homossexual: vidas privadas e políticas públicas], publicado em 1982 [foto abaixo, à esq.].

Para se entender como a situação não fez desde então senão agravar-se, é essencial ler o estudo Homossexualidade e sacerdócio — O nó górdio dos católicos? (PoznańTheological Studies, 31, 2017, pp. 117-143), pelo Prof. Andrzej Kobylinski, da Universidade Cardeal Stefan Wyszynskide Varsóvia (https://journals.indexcopernicus.com/api/file/viewByFileId/261531.pdf). Kobylinski cita um livro intitulado The Changing Face of the Priesthood: A Reflectionon the Priest’sCrisis of Soul [A face mutante do sacerdócio: uma reflexão sobre a crise de alma do sacerdote], de Donald Cozzens, Reitor do Seminário em Cleveland, Ohio, onde o autor diz que, no início do século XXI, o sacerdócio tornou-se uma “profissão”, eminentemente exercida por homossexuais, podendo-se falar de um “êxodo heterossexual do sacerdócio”.

Há um caso emblemático que Kobylinski recorda — aquele do arcebispo de Milwaukee (Wisconsin), Rembert Weakland, aclamado expoente da corrente progressista e “liberal” americana: “Weakland encobre, há décadas, casos de abuso sexual de padres, apoiando uma visão da homossexualidade contrária à do Magistério da Igreja Católica. No final do exercício episcopal, ele também deu um desfalque enorme, roubando quase meio milhão de dólares dos cofres de sua arquidioce separa pagar seu ex-parceiro que o acusava de assédio sexual. Em 2009, Weakland fez o seu ‘coming out’, publicando uma autobiografa intitulada A Pilgrimin a Pilgrim Church [Um peregrino em uma Igreja peregrina], na qual ele admitiu ser homossexual e ter tido durante décadas relações sexuais seguidas com muitos parceiros. Em 2011, a Arquidiocese de Milwaukee foi forçada a declarar falência, devido ao alto custo das indenizações devidas às vítimas de padres pedófilos”.

Em 2004 apareceu o John Jay Report [título baseado no nome da seção especializada em justiça penal da Universidade da Cidade de Nova Iorque, que o preparou], documento preparado a pedido da Conferência Episcopal Americana, no qual foram analisados todos os casos de abuso sexual de menores por padres e diáconos católicos nos EUA nos anos 1950-2002. “Este documento de quase 300 páginas tem um valor informativo extraordinário — escreve Kobyliński. O John Jay Report demonstrou a ligação entre a homossexualidade e o abuso sexual de menores pelo clero católico. De acordo com o relatório de 2004, na grande maioria dos casos de abuso sexual, não é uma questão de pedofilia, mas de efebofilia, ou seja, uma perversão que não consiste em atração sexual pelas crianças, mas por adolescentes na puberdade. O John Jay Report mostrou que cerca de 90% dos padres condenados por abuso sexual infantil são padres homossexuais”.

Portanto, o escândalo de McCarrick não é senão o último ato de uma crise que vem de longe. No entanto, na Carta do Papa ao Povo de Deus, e ao longo de sua jornada na Irlanda, o Papa Francisco nunca denunciou essa desordem moral. O Papa acredita que no abuso sexual pelo clero o principal problema não é a homossexualidade, mas o clericalismo. Referindo-se a esses abusos, o historiador progressista Alberto Melloni escreve que “Francisco finalmente confronta o crime no plano eclesiológico: e o confia àquele agente teológico que é o povo de Deus. Ao povo Francisco diz sem rodeios que é o‘clericalismo’ que incubou essas atrocidades, não um excesso ou uma insuficiência de moral” (La Repubblica, 21 de agosto de 2018).

“Lecléricalisme, voilà l’ennemi!” — “O clericalismo, eis o inimigo!” A famosa frase pronunciada em 4 de maio de 1876 na Câmara de Deputados francesa por Léon Gambetta (1838-1882), um dos expoentes máximos do Grande Oriente da França, poderia ser adotada pelo Papa Francisco. Essa frase, no entanto, é considerada a palavra de ordem do laicismo maçônico do século XIX e foi por sua aplicação que os governos da Terceira República Francesa realizaram nos anos seguintes um programa político “anticlerical” que teve como etapas a laicização completa do ensino, a expulsão dos religiosos do território nacional, o divórcio, a abolição da concordata entre a França e a Santa Sé.

O clericalismo de que fala o Papa Francisco é aparentemente diferente, mas no final das contas ele corresponde àquela concepção hierárquica tradicional da Igreja, que foi combatida ao longo dos séculos pelos galicanos, pelos liberais, pelos maçons e pelos modernistas. Para reformar a Igreja, purificando-a do clericalismo, o sociólogo italiano Marco Marzano sugere ao Papa Francisco este caminho: Pode-se, por exemplo, começar a retirar completamente dos párocos o governo das paróquias, privando-os das funções de governo (financeiro e pastoral) absoluto e monocrático das quais se beneficiam hoje. Introduzindo um elemento importante de democracia, poder-se-ia tornar os bispos elegíveis. Poder-se-ia fechar os seminários, instituições da Contra-Reforma nas quais o clericalismo como espírito de casta é ainda hoje exaltado e cultivado, substituindo-os por estruturas de formação abertas e transparentes. Pode-se, sobretudo, suprimir a regra sobre a qual o clericalismo na maioria das vezes se funda hoje (e que é também a base da grande maioria dos crimes sexuais do clero), que é o celibato obrigatório. É justamente a suposta castidade do clero, com todo o corolário de pureza e sacralidade sobre-humana que a acompanha, que estabelece a premissa principal do clericalismo” (Il Fatto quotidiano, 25 de agosto, 2018).

Quem quer eliminar o clericalismo, quer de fato destruir a Igreja. E se, em vez disso, se entende o clericalismo como o abuso de poder exercido pelo clero quando abandona o espírito do Evangelho, não há clericalismo pior do que o daqueles que renunciam a estigmatizar pecados gravíssimos como a sodomia e deixam de recordar que a vida cristã deve necessariamente terminar no céu ou no inferno.

Nos anos seguintes ao Vaticano II, grande parte do clero abandonou o ideal da realeza social de Cristo e aceitou o postulado da secularização como um fenômeno irreversível. Mas quando o Cristianismo se submete ao laicismo, o Reino de Cristo é transformado em um reino mundano e reduzido a uma estrutura de poder. O espírito militante é substituído pelo espírito do mundo. E o espírito do mundo impõe silêncio sobre o drama que a Igreja está vivendo atualmente.
____________
(*) Fonte: “Corrispondenza romana”, 29-8-2018. Matéria traduzida do original italiano por Hélio Dias Viana.

http://www.abim.inf.br/eu-nao-vou-dizer-uma-palavra-sobre-isso/#.W4lzR85KjIU

* * *