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sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

VENEZUELA VIVE IMPASSE, MAS INTERVENÇÃO EXTERNA NÃO DEVE SER DESCARTADA A PRIORI

4 de janeiro de 2018
O ex-ministro do Planejamento da Venezuela (1992-1993) e ex-economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Ricardo Hausmann, que é diretor do Centro para Desenvolvimento Internacional da Universidade Harvard, escreveu um polêmico artigo para a Project Syndicate esta semana considerando uma intervenção militar estrangeira na Venezuela como uma alternativa, uma vez que a ditadura socialista de Maduro vem destruindo o país e jogou a população no completo caos social. Diz ele:

No que se refere a soluções, por que não considerar a seguinte: a Assembleia Nacional poderia declarar o impedimento de Maduro e do vice-presidente Tareck El Aissami, narcotraficante e sancionado pelos EUA.

A Assembleia poderia indicar constitucionalmente um novo governo, que por sua vez poderia pedir ajuda militar a uma coalizão de países dispostos, incluindo latino-americanos, norte-americanos e europeus.

Essa força libertaria a Venezuela, assim como canadenses, australianos, britânicos e americanos libertaram a Europa em 1944-45. Mais perto de nós, seria como quando os EUA libertaram o Panamá da opressão de Manuel Noriega, instalando a democracia e o mais rápido crescimento econômico da América Latina.

Segundo o direito internacional, nada disso exigiria a aprovação do Conselho de Segurança da ONU (o que a Rússia e a China poderiam vetar), porque a força militar seria convidada por um governo legítimo buscando apoio para o cumprimento da Constituição do país. A existência dessa opção poderia até melhorar as perspectivas das atuais negociações na República Dominicana.

Uma implosão na Venezuela não é do interesse da maioria dos países. E as condições lá constituem um crime contra a humanidade que deve ser detido por razões morais.

O fracasso da Operação Mercado Jardim em setembro de 1944, imortalizada no livro e no filme “Uma Ponte Longe Demais”, levou à penúria nos Países Baixos no inverno de 1944-45. A fome na Venezuela hoje já é pior. Quantas vidas devem ser destruídas antes que chegue a salvação?

Hoje, a folha publicou dois textos em resposta. O primeiro foi a coluna de Matias Spektor, que considerou a proposta “estapafúrdia”. Ele apresenta três motivos: a falta de alternativa de poder, a limitação geopolítica de quem poderia realizar tal intervenção, e a falta de legalidade ou legitimidade a ela. Diz ele:
A Venezuela encontra-se em seu pior momento, mas ir à guerra contra o chavismo no que seria a primeira intervenção na América do Sul no século 21 não é solução. Há alternativas para lidar com o problema que não trazem o risco embutido de uma aventura militar questionável e de resultado incerto.

Resta perguntar: quais? Que alternativas são essas, se até hoje só vemos a Venezuela afundar mais e mais no caos ditatorial? Vamos acreditar em “diálogo” ainda? Há algo menos legítimo do que o regime atual? Gostaria de saber quais alternativas concretas o especialista apresenta, pois não consigo nem imaginar quais sejam.
O segundo texto é de Xabier Coscojuela, resposta direta ao original, e que rotula a proposta de Hausmann como “desesperada”. De fato. Mas a situação na Venezuela não é de desespero? “Os males desesperados são aliviados com remédios desesperados ou, então, não têm alívio”, disse Shakespeare em Hamlet. Coscojuela, porém, rejeita a ideia, e diz:

Considero-a uma alternativa totalmente inconveniente para o país. Uma possibilidade que só geraria mais anos de instabilidade para a Venezuela.

O sensato, o conveniente, é que as negociações que estão sendo realizadas na República Dominicana terminem com acordos nos quais se inclua a eleição presidencial com garantias de respeito à vontade popular ali expressada e que também se eliminem ou se imponham limites, muito precisos, à atuação da Assembleia Nacional Constituinte.

Não tenho nenhuma dúvida de que os que governam a Venezuela não são democratas, que utilizaram e utilizarão todas as alternativas ao seu alcance para manter-se no poder, sem importar a opinião da maioria dos venezuelanos, mas é preciso tirá-los do poder mediante o voto e constituir um governo de muita amplitude porque a crise nacional é das mais graves que a Venezuela teve em toda a sua história.

Se o próprio autor reconhece que Maduro não vai sair por livre e espontânea vontade, como ele será retirado por meio do voto? Se ele manipula as “eleições”, como os votos vão derruba-lo? Entendo o argumento dele, e também de Colette Capriles, de que propor essa intervenção já serve como arma para Maduro justificar a intensificação da opressão. Mas não é por isso que será um erro considerar esta opção.

Não sei se a ideia é exequível, se há como colocá-la em prática mesmo, se haveria coordenação de vários países, ou se o governo americano tomaria uma decisão dessas de forma unilateral. Só sei que o “diálogo” não vai resolver nada, e acreditar nisso é uma quimera perigosa, típica de românticos pacifistas, os mesmos que vibraram quando Chamberlain assinou um pacto com Hitler, ou quando Obama assinou um pacto com o Irã.

A Venezuela vive um grande impasse. Não há saída fácil. É sempre assim com experimentos socialistas: todos terminam em miséria, terror e escravidão. E a imensa maioria só caiu com luta, com intervenção externa, com muita pressão. Com “diálogo” realmente não temos caso na história para contar…

Rodrigo Constantino

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Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.
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OS DESBRAVADORES DO SUL - José Pereira da Costa

Os desbravadores do Sul


           Desbravada com amor e sangue, a região do cacau tem sido a maior entre as demais do nosso Estado através das rendas, basta dizer que ela contribui com 70% da receita estadual. Desta região sai a maior parcela de divisas para os cofres da Nação, através da exportação do cacau. Foi desta região que partiram as sementes do cacau para outros estados de nossa federação e o Espírito Santo está produzindo cerca de 500.000 arrobas deste produto nascido na Bahia, através dos municípios de Linhares, São Mateus e Colatina, daquelas sementes levadas daqui no ano de 1918, pelos colonos Filigônio Peixoto e Antonio Negreiro Pego,  onde será muito breve  a cifra elevada para um milhão de arrobas, ou seja, 250.000 sacas, visto a existência ali de grande área de terra, ainda devolutas, prestável para o cultivo do cacau, e mais ainda com a ajuda financeira da Ceplac.

            É de se esperar também que para o crescimento da lavoura cacaueira naquele estado, se acaba uma vez por todas com aquela hereditária questão de limites com Minas Gerais, para sossego dos colonos que tanto têm sido prejudicados. Quanto a nós, os colonos do passado, como hoje os de Vitória do Espírito Santo, fomos também bafejados por esta entidade de crédito, embora já bem tarde poucos dos desbravadores fossem beneficiados em suas propriedades, entretanto gozarão em nosso os nossos sucessores. A meu ver, se o cacau não desaparecer com as estações incertas como estamos vendo, será amanhã a Ceplac  a maior casa bancária do país, com esta renda fabulosa de 15% entre uma produção de 3.500.000 sacas de cacau por ano, ou seja, de sete em sete anos, 3.500.000 sacas de cacau, livres de todas as despesas, esta entidade receberá de mãos beijadas produto do cacau nestes últimos setenta anos nas terras incultas da antiga capitania do São Jorge dos Ilhéus, que estiveram em sua maioria, cerca de quatro séculos em franco abandono inclusive a cidade de Ilhéus apontada como tapera pelo coronel Antonio Pessoa da Costa e Silva no seu discurso de posse na Intendência naquela cidade em 2 de janeiro de 1900, hoje, cidade modelo bem como mais cidades, vilas, 12 arraias uma cidade de primeira grandeza, Itabuna, com cerca de 150 mil habitantes, vila da espécie de Jussari, e a arraias como São José não falando da produção de cacau que naqueles tempos passados estava estagnada em 250 mil sacas de 60 quilos. Tudo isso devemos à guerra de Canudos que, por sua causa, abriram-se os caminhos para esta região onde o povo dos demais estados do Brasil se avizinharam, principalmente os de Sergipe, hoje a colônia de maiores possibilidades.

            Entre os desbravadores estava João Pedro de Sousa Leão. João Pedro aportou em Tabocas no ano 1906 onde se estabeleceu como negociante grossista em molhados e grande comprador de cacau, dentre todos os compradores de cacau existente na época, fora João Pedro de Sousa Leão o mais destacado, no que diz respeito ao capital como Antônio Soledade, Astério Rebouças, Everaldino Assis, Manoel Ferreira Carneiro, João Pestana Branca, Antônio Emídio, João franco e Ambrosino. Seu poderio monetário junto com o seu irmão padre Olímpio, e do usineiro Tomé Dantas da Costa, seu genro, ajudavam a triplicar a sua fortuna adquirindo muitas propriedades rurais e vários prédios da cidade. Honestamente aqui viveu  até 1930 voltando depois para Sergipe, sua terra natal, para construir uma Igreja Católica Apostólica Romana na cidade onde nasceu. Depois que inaugurou a obra em 1940 veio a falecer. Sua grande família aqui residente a esta hora, é homenageadas por esta minha história, recordando o grande amigo de Itabuna e de todos os que o conheceram, principalmente a sua freguesia.


(TERRA, SUOR E SANGUE – LEMBRANÇA DO PASSADO – HISTÓRIA DA REGIÃO CACAUEIRA - Cap. XVIII)
José Pereira da Costa


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